sábado, março 19, 2005

Jornal O Beco


Luís Henrique
Luís henrique

Lançamento do jornal O Beco, 14 de Março de 2005

Luís Henrique
Luís Henrique
Lançamento do jornal O Beco, 14 de Março de 2005


Jornal O Beco

Luís Henrique
Luís Henrique
Lançamento de O Beco, 14 de Março de 2005


Faces do Grande Ponto

Canindé Soares
Canindé Soares

Alexandro Gurgel

Foi pelas mãos do meu avô Arnaldo, homem forte de pele avermelhada, sertanejo de Caraúbas do Apodi, que conheci a rua Laranjeiras, na Cidade Alta, e que tanto me encantou no início dos anos setenta. Vivi boa parte da minha vida naquela casa de número quatorze, ouvindo o galo da igreja Santo Antônio cantar, anunciando as horas do Grande Ponto.
Sempre pensei que o Grande Ponto era toda a área da Cidade Alta. Mas, muita gente tem certeza em afirmar que o Grande Ponto é o trecho que implica o cruzamento da rua João Pessoa com a rua Princesa Isabel, estendendo-se, culturalmente, da calçada do Café São Luiz ao Sebo Vermelho, e ainda com seus tentáculos alcançando o Beco da Lama, reduto etílico do Grande Ponto.
Na verdade, não há maneira de medir onde começa e onde termina o Grande Ponto. A Cidade Alta é o próprio Grande Ponto, onde artista popular pode fazer sua performance e é lá, que os poetas devem declamar seus versos. É o espaço perfeito para cantigas de cordel, onde os repentistas se enfrentam em desafios de viola e a multidão forma uma grande roda, todos ansiosos pela peleja da música sertaneja.
A avenida Rio Branco é via preferida por todo aquele que quer exprimir seu descontentamento com o governo. Seja estudante ou grevista, ele faz seu protesto em pleno Grande Ponto e a repercussão é sentida por toda a cidade. O calçadão da rua João Pessoa sempre foi uma arena ao ar livre, um termômetro vivo, medindo todo tipo de manifestações que há no centro.
Quando eu freqüentava o catecismo na Igreja Matriz de Santa Terezinha, o point era o Grande Ponto. Quando não havia shoppings e o Alecrim – muito além da feira aos sábados – era um comércio alternativo, a Cidade Alta se convertia em uma espécie de “estacional jovem”.
Nas tardes de domingo, as meninas usavam roupas do tipo “cocotas” e os rapazes vestiam calças “boca-de-sino”. Toda aquela juventude era embalada pela banda Impacto Cinco nos salões da ASSEN, dançando de rosto colado ao som de Love Hurts. John Travolta e Olívia Newton John, nos tempos da brilhantina, encantavam a galera nas telas do Cine Rio Grande.
As noites natalinas, na avenida Rio Branco, eram cheias de glamour, a paquera rolava solta. A loja Quatro Quatrocentos era a grande atração, com sua escada rolante – a única na cidade – entupida de gente para as compras de final de ano.
Os encontros mais descabidos sempre foram marcados nas cercanias do Grande Ponto. A calçada atrás da Lobrás, na rua Princesa Isabel, era o “pedaço” mais festejado. De lá, ao entardecer, as pessoas buscavam o pôr-do-sol na Pedra do Rosário, para contemplar a beleza daquele momento, vendo o sol cair mansamente, escondendo-se nas dunas da Redinha, do outro lado do rio Potengi.
O vinho Jurubeba, de mão em mão, era bebido na boca da garrafa, embriagando aquelas testemunhas do crepúsculo aos pés da Santa.
Ao lado da Pedra do Rosário, no Largo da Misericórdia, as quadrilhas improvisadas de São João sempre foram uma tradição na Cidade Alta. Atraíam toda a vizinhança dos outros bairros – reunia mais gente do que na procissão de Nossa Senhora da Apresentação, em novembro.
Das Rocas até as Quintas, todos esperavam o ano inteiro por duas semanas de festejos juninos, uma espécie de confraternização entre xarias e canguleiros. A festança seguia dia e noite com muita pamonha, canjica, milho assado e forró de pé-de-serra.
Hoje em dia, com o crescimento natural da cidade, os valores se transformam, nascem, em cada esquina, outros pontos de agitação juvenil. A Cidade Alta continua se adaptando a uma nova realidade, vivida por comerciantes e moradores que permitem a transição constante do Grande Ponto. Já não há mais as festas juninas no Largo. Os namorados preferem as praias e lugares mais longínquos. A moçada jovem, do novo milênio, quer sair pulando atrás do trio elétrico no Carnatal, esquecendo os blocos carnavalescos e tribos de índios que desfilavam na avenida Deodoro da Fonseca. O centro resiste, camelôs e lojistas dividem glórias e amarguras na disputa pelo freguês habitual.
O badalar do sino da Igreja do Galo continua preciso e atento às mudanças da Cidade Alta.
O centro de Natal, apesar dos shoppings centers, ainda é o coração financeiro da cidade. Os grandes bancos, lojas de roupas, magazines, sapatarias e lojas de eletrodomésticos, estão reunidos nas adjacências do Grande Ponto, formando um setor comercial importante para Natal.
Durante a noite, quando a cidade adormece, o Grande Ponto abriga todos os problemas de uma cidade em crescimento.
Os “sem-teto”, que, na sua maioria são imigrantes do sertão, procuram as marquises das lojas para se protegerem da chuva e do vento frio que vem do mar.
Os notívagos, em busca de aventuras e prazeres desordenados, encontram nas meninas de vida fácil companhia momentânea para preencher a alma. Vigias circulam entre os prédios com seus apitos, guardando as vitrines para mais um sábado.
Ao amanhecer, somente os vendedores de cachorro-quente podem lhe salvar da fome e da sede, testemunhando juntos a vida no Grande Ponto, que nunca dorme.
A cultura natalense é mais expressiva no centro da cidade, de onde surge o encontro de intelectuais e artistas, os quais perambulam, entre livrarias e sebos, em busca de inspiração e conhecimento. A calçada do Café São Luiz sempre foi o lugar preferido do meu avô Arnaldo, aonde as principais “resenhas” dos acontecimentos da cidade chegavam primeiro.
Atualmente, o Sebo Vermelho reúne, em dias de sol forte, os homens mais relevantes da nossa cultura. Entre goles de café e a busca pelo bom livro, enquanto discutem idéias, eles escrevem a história viva do Grande Ponto.


Cantões, Cocadas Grande Ponto Djalma Maranhão


As feridas expostas do velho centro


Praça André de Albuquerque

Ana Cristina Cavalcanti Tinôco

Quem hoje passa pelo Centro da Cidade Alta não imagina o glamour dos tempos idos. Particularmente não presenciei grandes acontecimentos no Centro da Cidade, mas, tenho ciência de como suas ruas, em especial determinados pontos como o Café São Luiz, o Cinema Rex e até mesmo o Nordeste quando era menos especializado, representaram para a memória dos mais maduros que eu.
Lembro, contudo, no início da adolescência, da Sorveteria Tip Top. Era o ponto de encontro da rapaziada, onde os pães (rapazes) e as cocadinhas (moças) se encontravam. Eu, menina ainda, apenas ansiava por aquela fase tão alegre e colorida. Foi passando por lá que escutei pela primeira vez Raul Seixas cantando pela mosca e enaltecendo a sombra sonora do disco voador. Tempos depois, o point foi transferido para Jaecy Fotografias. Desde aquela época, já havia aqui em Natal esta coisa abominável da efemeridade dos pontos de encontros. Hoje, quando aparece um local interessante para freqüentarmos, me pergunto: Até quando?
O Beco da Lama, e em especial, o Bar do Pedrinho, é um desses points antológicos. Lembro da transferência da entrada principal para a Gonçalves Ledo. O esmero e carinho com que fora decorado. Os célebres clientes em seus horários específicos; os acordes de blues e MPB em longas noites de improviso, que terminavam virando um grande show. Memórias sonoras guardadas nas fibras da alma e do coração. Hoje, o Bar tem sua entrada novamente transferida para o Beco da Lama, que ganha agora nova proposta e apresenta-se como espaço cultural com galeria para exposições e murais com pinturas de artistas contemporâneos.
Esta roupagem boêmica e cultural não esconde, entretanto, as chagas expostas do velho Centro.
Convivendo com intelectuais e pseudos, encontramos todos os naipes da humanidade. Tipos que ao serem olhados despertam a mais profunda condolência, dó, piedade mesmo. Velhas meninas desdentadas que mendigam um real para o cachorro-quente, que, na realidade, será queimado e fumado. Outras, pensando-se sensuais em shortinhos mínimos e encardidos, expõem, junto com o corpo, a pobreza da alma e a falta de perspectivas que encontra em seu habitat. É a cidade com suas feridas abertas. Gente com problemas de difíceis soluções, que de tão pessoais e coletivos passam a ser municipais.
Pergunto-me por que o Centro, tão enfermo e abandonado, tão importante para a preservação da história da cidade, sempre cheio de possibilidades turísticas a serem exploradas, continua tão esquecido?
Recentemente, em meio a uma acirrada disputa pela gestão da Sociedade dos Amigos do Beco da Lama e Adjacências – SAMBA – descortinou-se uma proposta de trabalho social para ser executado no Beco e seu entorno: Programas com palestras sobre higiene na manipulação de alimentos; qualidade no atendimento ao cliente; sexo seguro; coleta seletiva e reciclagem do lixo, dentre outras facilmente trabalháveis e de grande impacto ambiental, social e visual, que seriam ministradas caso a chapa concorrente fosse vencedora. Mas o sonho foi efêmero e tudo não passou de proposta.
E a pergunta que não deve calar mantém-se no ar: A quem importa as feridas expostas do velho centro? Quem as cuidará?


Cantões, Cocadas Grande Ponto Djalma Maranhão


Notícias do Machadão

Machadão faz festa para lembrar 30 anos de inauguração
Tribuna do Norte
04/06/02



Dia 25 de novembro de 1960, o governador Dinarte Mariz assinava a Lei número 2.707 doando à Federação Norte-rio-grandense de Desportos uma área de 170.759 metros quadrados para que a entidade construísse um novo estádio para Natal. Nove anos antes, o governador Sylvio Pedroza anunciava um projeto para construir uma praça de esportes no bairro das Rocas, autorizando que assessores seus procurassem um bom terreno para esse fim. O assunto morreu ali.
Eleito Agnelo Alves para a prefeitura de Natal, em maio de 1967 fez um discurso quando as máquinas iniciaram a terraplanagem de toda área. Cinco anos depois, o governador Cortez Pereira pronunciava a frase que ficaria famosa: "Estádio Castelão, um poema de concreto".
Era o dia 04 de junho de 1972, uma semana antes de iniciados os jogos da Mini Copa, sendo Natal uma das sub-sedes. Na abertura, aconteceu ABC 1 x 0 América e um empate sem gol entre Seleção Olímpica do Brasil x Vasco da Gama.
Nesses 30 anos, os natalenses que compareceram ao estádio de Lagoa Nova serviram como testemunhas oculares de milhares de jogos, outros milhares de gols, de placa e gols de bico. Viram também desfilar pelo seu gramado pés de gente famosa como Pelé, Edu, Carlos Alberto Torres, Tostão, Jairzinho, Marinho Chagas, Nonato, Clodoaldo, Lula, Manga, Figueroa, Denílson, Romário, Edmundo, Ricardinho, Reinaldo, Zico, Roberto Dinamite, Serginho, Leão, Zinho, Marcelinho Carioca, Roger, Rogério Ceni, e tantos outros.
Além dos craques de Seleção Brasileira, tiveram aqueles que fizeram a alegria do nosso futebol, entre vários não podemos esquecer, nomes como os de Alberi, Hélcio, Reinaldo, Erivan, Danilo Menezes, Anchieta, Hélio Show, Jorge Demolidor, Odilon, Aluísio, Marinho Apolônio, Dedé de Dora, Baíca, os "matadores" Leonardo, Sérgio Alves, Claudinho e Robgol.
No Machadão, torcedores de todas as facções viram Vasco, Flamengo, Fluminense, Corinthians, Inter e Grêmio, São Paulo e Coritiba, até um Vasco x Flamengo fora do Maracanã, coisa rara, sendo realizado no estádio de Lagoa Nova. Viram também caírem esses grandes clubes diante de ABC e América, nos jogos pela série "A", como também testemunharam o América campeão do Nordeste em 98.
Infelizmente, nem sempre o Machadão foi palco de emoções, pois teve seu lado trágico com um suicídio e o assassinato de um torcedor e algumas quedas das arquibancadas, mas tudo isso faz parte e serve para enriquecer a história da praça esportiva mais importante do Rio Grande do Norte.

Entrevista Jornal Dois Pontos
José Alexandre Garcia

MARCOS - Você também foi um dos responsáveis por uma fase áurea do Lions Clube em Natal, quando eram promovidas as famosas quermesses da Lagoa Manoel Felipe. Fale sobre essa fase de sua vida.
JOSÉ ALEXANDRE - Mas antes de entrar nesse assunto, eu gostaria de dizer que encerrei minha presença como dirigente esportivo prestando um serviço a Natal. No final do seu governo, Dinarte Mariz - como todo político que está em campanha - chamava as diversas entidades classistas para perguntar quais eram as necessidades de cada uma. E procurava atendê-las, contanto que seus dirigentes se comprometessem a apoiá-lo. Quando ele reuniu os desportistas para saber quais eram as nossas reivindicações, nós respondemos: “Governador, nós queremos um estádio”. Ele então se comprometeu: “Eu prometo a vocês fazer um estádio”. Como já estava em fim de mandato, nós sabíamos que ele não tinha condições de realizar aquela obra. Decidimos então pegar o homem na palavra e conseguir dele pelo menos um bom terreno para o estádio. Foi quando escolhemos este terreno onde hoje é o Castelão. Nossa comissão era composta por Salatiel Silva, então presidente da Federação, Aluísio Menezes, eu, Antônio Soares Filho, João Machado e Moacir Gomes da Costa. Quando nós escolhemos aquele terreno, no dia seguinte um jornal de oposição nos brindou com um editorial nos chamando de lunáticos, malucos, imbecis e outros adjetivos desse quilate, porque, em vez de fazermos um estádio para Natal, nós íamos fazer um estádio para Parnamirim. O pessoal não tinha a menor visão de futuro... Conseguimos aquele terreno mandando Moacir Gomes ao Rio de Janeiro conversar com o velho Saturnino de Brito, que era então o dono da Companhia de Saneamento de Natal, a quem pertencia o terreno. O Estado se propunha a permuta de terrenos com a Companhia, com aquele, mas a direção local era contra. Saturnino encantou-se com Moacir e reviu nele o Saturnino de Brito da juventude. Graças a isso, conseguimos sua concordância e o terreno foi doado a Federação.
TICIANO - A bem da verdade, você que acompanhou a história desde o começo, diga-nos quais foram as figuras da cidade que realmente contribuíram para que Natal tivesse aquele estádio ?
JOSÉ ALEXANDRE - Primeiro, a gente tem que citar Dinarte Mariz, que fez a doação do terreno à então Federação Norte-riograndense de Desportos. Coincidentemente, no último dia de governo de Dinarte, encerra-se também o mandato de Salatiel à frente da Federação. Salatiel, então, sem consultar ninguém, baixou um ato onde dizia: “Denominar-se-á Dinarte de Medeiros Mariz o estádio a ser construído em Lagoa Nova”. Vocês hão de convir que Aluísio Alves, naquele clima de radicalismo que existia, jamais poderia contribuir para que o estádio fosse construído e servisse para homenagear seu adversário. Depois de Dinarte, nós tivemos a figura de Djalma Maranhão, que tinha em seus planos à frente da Prefeitura de Natal, construir o estádio. Mas só na gestão de Agnelo Alves foi que se partiu objetivamente para realizar a obra. Foi então criada a FENAT (Fundação de Esportes de Natal), que encontrou o terreno parcialmente cercado por Djalma Maranhão, que também tinha mandado construir umas salas que serviram como canteiro de obra. Assim, devemos a construção principalmente a Agnelo Alves, que era o prefeito; a Ernani Silveira, que foi o primeiro presidente da FENAT;
e, posteriormente, ao prefeito Ubiratan Galvão. Na fase de Agnelo, nós construímos as gerais e as intermediárias, em regime de administração direta. Eu, como diretor-adiministrativo, Ernani como presidente da FENAT, Rossini Azevedo como diretor-financeiro, fizemos um pacto pelo qual nenhum documento referente a despesas deixaria de passar sem a assinatura dos três. Levamos muitas cantadas, mas nenhum de nós cedeu. É tanto que, quando Agnelo foi cassado e foi criada a comissão de inquérito sobre o Castelão, a própria comissão reconheceu a lisura com que a FENAT trabalhou. O estádio acabou sendo inaugurado pelo governador Cortez Pereira que também era um entusiasta da obra, e pelo prefeito Jorge Ivan, mas, sem dúvida, o grande trabalho foi de Agnelo Alves e de Ubiratan Galvão. Ainda coube a mim organizar toda a parte administrativa do estádio. Organizei as portarias, as bilheterias... Mas depois verifiquei que aquele trabalho estava ficando pesado demais, pois ao meio-dia já estava tomando conta do estádio. Isso foi na época do primeiro Campeonato Brasileiro, quando passaram por Natal as maiores equipes de futebol do Brasil. Quase sempre o estádio lotava. Era um trabalho incrível! Lembro ainda que, na condição de diretor da FENAT, evitei que fosse consumada uma grande injustiça. Na época da construção do estádio, nós vendemos cadeiras cativas a Cr$ 1.500 cada, para serem pagas em 30 prestações de Cr$ 50. Foi quando Agnelo Alves comprou cinco cadeiras: uma para ele, outra para a mulher e as demais para os filhos. Cassado e na “lona”, ele atrasou o pagamento das prestações. No dia da inauguração do estádio, a administração de então não convidou Ernani Silveira nem Agnelo. Eu então fui autor de uma proposta: Agnelo tinha pago diversas prestações das suas cinco cadeiras, que, se somados os valores dessas prestações, daria para quitar duas. Por que então não considerar pagas duas das cinco cadeiras que ele havia comprado? Depois de uma luta, a proposta foi aceita e Agnelo não perdeu de todo o que tinha pago. É provável até que ele não saiba disso, mas fui eu o responsável por ele ter ficado com duas cadeiras cativas no estádio, hoje impropriamente chamado “Castelo Branco”.


Odoiá, minha mãe, Santa dos Navegantes



Eduardo Alexandre

Senhora dos Navegantes e de quem dela se acerque pedindo proteção, do topo da igreja de pedras escuras talvez trazidas dos arrecifes do outro lado do rio, da praia de Santa Rita ou Jenipabu, vizinhas, deita seus olhos sobre o mar: recomenda ao Senhor a dádiva dos peixes para os que se aventuraram na imensidão das águas, rogando retorno feliz.
Zelosa, também estende proteção aos que ficam, e todos, agradecidos diante de sua imensa bondade, fazem dengo, aprontando a Festa de Nossa Senhora dos Navegantes, no último domingo de janeiro, sobre águas corredouras do Potengi e solo da paciente Redinha, por assim se chamar pelas extensas redes-de-pesca dependuradas e a fazer voltas, labirintos, para a secagem, limpeza e reparos da malha, em varas bifurcadas fincadas em meio ao areal branquinho que recebe, não se recordam os anos, manso, o vento que renova o chão que é quase pó, da ponta de céu azul, claro, de poucas nuvens, onde se misturam águas doces, de pra lá dos igapós, aos sargaços desaguados do mar atlântico, imenso e verde, quase sereno.
O rio, Grande por nominação de conquistadores lusitanos, mercenários de El-Rey, tomado de barcos decorados em bandeirolas coloridas por todos os lados, comemora. O velho mercado, nativo da vila originária de antigos pescadores, também, no seu cheiro de dendê e cachaça, ginga tostando no óleo da caçarola, à frente dos fiéis, fogão já não mais à lenha, parece templo, quase silêncio.
Em derredor do Redinha Clube, herança de primitivos veranistas, armam-se barracas para a venda de comidas e bebidas - grude de Extremoz, tapioca, fuba embutida em barquinhos feitos artesanalmente em palitos de palha, linhas e papel-seda de cores vivas, vermelho, amarelo, azul; quentão na ordem do dia, quando a caipirinha, a de dois dedos (mindinho e indicador), a cerveja, falam mais alto e ajudam o canto e os acordes do violão. Em operação, carrossel, roda-gigante, balanços de barcos pesados, estandes de tiro, jogos-de-argola, e até alto-falante, a oferecer músicas às bem-amadas. Desejo.
No palanque montado de véspera, em frente à capelinha branca, oratório de pescadores, de poucos bancos, humilde como eles, será encenado o boi-de-reis, uma chegança, quiçá um fandango, participantes excitados, gajeiro encantado pela presença e beleza das pastorinhas - cordões azuis, encarnados, espíritos de velha etnia. Tradição.
O povo fará procissão. O padre, em paramentos cuidados, dirá missa e, feito batista, sacramentará os pagãos; moças casadouras ganharão aliança em vestes bem brancas; novenas anteciparão maior proteção.
- Viva Nossa Senhora dos Navegantes !
- Viva !
As Imagens são duas, que importa, se a festa é única como a crença do povo?
- Odoiá!
Apinhado de fervor à espera das bênçãos que vêm do rio, o trapiche que serve ao embarque e desembarque da Santa, o mesmo usado pelos que fazem a travessia fluvial, hoje no Albacora Azul - pintado de verde e branco - estará pleno, e os rojões espoucarão à passagem da boa mãe poderosa, tranqüila e terna, eterna na memória católica.
- Vai um alfinim, moço? Cuscuz ao leite-de-coco?
A praia, da ponta do cemitério dos ingleses - hoje ancoradouro da balsa do Pipes - ao quebra-mar do farol da barra, estará toda tomada por uma multidão de devotos. Bugres, a circular, trazendo gente bonita, bronzeada ao sol do passeio pelas dunas móveis, fazem a alegria dos turistas. Os donos de bar, os balaieiros de pitombas, serigüelas e cajás, os meninos do picolé, o sorveteiro Clóvis, festejarão lucros, e das ruas da vila, junto ao prefeito e indefectíveis pedintes de voto, sorridentes e prometedores, virá a procissão de terra trazendo a Santa dos mesmos milagres, mais humilde, não menos gentil, saída da capelinha branca e erguida, ninguém sabe quando, na mais elevada duna, acompanhada de cantorias e rezas entoadas ao ranger de terços de velhas senhoras, muitas, filhas de finados caçadores-de-caranguejo dos mangues seculares da lamacenta Camboa, para onde não se dirigirão Os Cão, aguardo de terça-gorda de carnaval.
Tudo será alegria, e o encontro das Imagens é a fé renovada a cada fim do mês do caju.
Alegria tanta que se desdobra em novidades, fazendo o insistente Baiacu na Vara antecipar a quarta-de-cinzas e de tristeza, lembrança de que o ano nosso começa na quinta, ainda devagar, para se firmar na segunda-feira de fim de folia.
Na margem oposta, da Pedra do Rosário, local onde a Padroeira Nossa Senhora da Apresentação foi deixada por colonizadores impositores de religiosidade, ao quebra-mar do Forte, protetor da Povoação dos Reis, depois cidade Natal, contra corsários do norte e indiada em revolta, sem querer entregar-se, virar escrava, ceder o chão, na boca da barra, a gente acotovela-se, aplaudindo a passagem da Santa da igreja de pedra, renovando súplicas por dias melhores.
No cais do porto, o navio apita e a tripulação acena, agitando lenços ou bandeirolas que enfeitarão de gestos multicores os nautas da procissão embarcada. Os ioles descerão as rampas dos clubes da rua Chile, outrora importante a ponto de abrigar sede de governo provincial, o ex-todo-poderoso Lloyde inglês, grandes frigoríficos da indústria da pesca, famílias de tradição e labuta, e singrarão o rio soberbos como em memoráveis regatas, ao lado de lanchas modernas e velozes, algum iate porventura ancorado no clube da Limpa, jet skis em manobras lépidas e mergulhos radicais, velas coloridas das pranchas do wind surf da paisagem mais jovem, uma ou outra quase extinta jangada de praia do litoral norte, mais distante do progresso, Maracajaú, Pitangui, Muriú, ou, quem sabe, um paquete como os que subiam a praia do Maruim sobre rolos de troncos de coqueiro, nos fins de tarde, entupidos de mistérios e de lulas, polvos, tartarugas, ciobas fresquinhas, cavalas, ariocós, galos-do-alto, xaréu, e até o pegajoso cangulo de apreciado e, dizem, milagroso caldo.
Os timoneiros estarão em festa. Os ultra-leves, como as gaivotas, pairando, seguindo a frota, também. Os pescadores contarão estórias, falarão das tormentas e cerrações, nortadas, e recordarão comemorações de outrora, ritual de anos sem conta, antecipando o 2 de fevereiro de Iemanjá, de Iara, rainhas das águas, quando teria festa no mar.
Uma imagem pelo rio, outra pelos becos e ruas da chamada e amada prainha, esquina à venda do cansado Deífilo, rua do Cruzeiro, cemitério às homenagens dos póstumos, Pé-do-Gavião, calçadas profanas do povo novo, de profissões hoje diversas. Todos confundem-se à passagem das Senhoras do navegante, são todos iguais nesse momento, na fé e na festa, no aplauso aos rogos atendidos, na crença na Santíssima Unidade, dogma de bem-querer.
Como começou essa festa, não se sabe. Vem de antes da virada do século, diziam os mais idosos repuxando memórias que vinham dos pais, referências de avós, de tios que enfrentaram os mares e os ventos de antigamente, embarcações diminutas contra o tenebroso oceano e que só retornavam se guardados pelas súplicas da Boa Senhora.
A procissão de duas imagens é recente, dos tempos da construção da igreja dos veranistas, época na qual os nativos insurgiram-se contra a posição da Imagem voltada para a vila, de costas para o mar, de onde vinham as orações mais recorrentes, salgadas de perigo e medo de morte medonha, incerta, muitas vezes sem choro de corpo presente.
Atendido o apelo, a paz voltou à vida da velha vila e estância gostosa e romântica de veraneio, cativante, acolhedora, balneário a amealhar boêmios e corações mais despojados, amantes de violões que cantavam praieiras de doces e revelados amores, e que falavam de ventos que assobiam em telhados, assanham cabelos da morena e encrespam ondas do mar... tempos que jamais voltarão, é verdade, mas que materializam-se em sonhos no dia da festa santa.
- Saravá !




sexta-feira, março 18, 2005

Natal antiga



A Natal que eu amei não mais existe.
Era pobre, era humilde, era singela.
Recordo tudo ainda... E como é triste
A saudade que estou sentindo dela!

Visões celestiais da meninice
Devaneios febris da mocidade,
Ressurgem-me na ingênua garridice
Desse viver antigo da cidade.

Passava mansamente cada dia.
O tempo não mudava, e ainda havia
Que às maneiras d’agora semelhasse.

A própria natureza era serena,
Nossa existência transcorria amena
Como um sonho que nunca acabasse.

Esmeraldo Siqueira


O choro de Capinam



Amigos do Beco,
Eu penso que o maior momento (com valor histórico, inclusive) do Dia da Poesia foi quando Capinam chorou!
Não sei se por pudor ou distração, não houve muita conversa em torno disto.
Porém, aquele choro denotou certamente toda uma realidade vivida por um dos maiores poetas do Brasil e que pode retratar um pouco de cada um de nós, brasileiros, poetas.
O choro foi além, foi desabafo de anos, décadas de Brasil.

Eu bati as fotos, mas guardei-as por ética. Quem sabe, um dia possam ser publicadas, quando não houver mais choro no Brasil!
Abraços

Lívio Alves


A partir daquele momento, a palestra, melhor dizendo, a conversa, tomou um outro rumo. O poeta de alma nua. Ali, era um falando aos seus iguais. Quem esperava acirramento de ânimos, grandes teimas literárias trazidas à baila, "o papel do poeta no mundo", "a influência de poesia de fulano de tal na de sicrano de tal" e que tais, perdeu seu tempo.
Gosto daquele tipo de papo.
Não gosto daquele outro tipo, onde o palestrante parece dizer: vejam, é por aqui o caminho. O tom professoral. O academicismo. O ismo. O ismo.
Capinam falou coisas importantes, todavia. Quem ouviu, soube pescar o momento da sua carpintaria poética, o que ele faz (ou melhor, não faz) para a ocorrência do poema. Falou — aí já com o sincretismo que lhe é inerente — da função premonitória da palavra. Falou da decisão que tomou na vida, médico de formação, pelo rumo da palavra, da poesia. E chamou o seu parceiro Mirabô para cantar com ele: a poesia voltando para o seu berço: a música.

Um abraço,
Antoniel Campos


E eu perdi tudo isso ...

Meire Gomes


Ainda a poesia


Por Woden Madruga

Tribuna do Norte
18/03/05

O pessoal do Beco anda chiando - e com razão - porque a Academia Norte-rio-grandense de Letras não abriu suas vetustas portas para comemorar o Dia Nacional da Poesia. Um telegrama sequer passou. Tampouco um quadrinha. Um verso bastava. Nonada. O pessoal do Beco não perdoa e lembra, no rastro desta condenação, o exemplo da Academia de Letras de Pernambuco, registrado pelos jornais de Recife, homenageando em sua sessão de segunda-feira, a Poesia. A Poesia e o poeta Castro Alves. Cujo nascimento num 14 de março de 1847 (era domingo), no sertão da Bahia, foi a inspiração para se criar o Dia da Poesia. Verdade que em Natal o grande poeta nem apareceu na vitrine. Mas houve muita festa e muita badalação. Até no alegre colunismo social, desta brava aldeia de Poti mais bela, o evento aconteceu com muita lantejoula.

Na sessão da Academia Pernambucana de Letras, ouviu-se a voz vibrante, bem empostada, límpida, do poeta Marcus Accioly que, além de belo poeta - dos maiores destes trópicos - é um excelente declamador, um verdadeiro ator. Em matéria de declamação, Marcus Accioly faz parelha com o nosso Ticiano Duarte. Poucos por estas brenhas sabe dizer um poema como Ticiano sabe. E a sua memória é ali como a do poeta pernambucano. Sabem de cor uma antologia inteira. Já presenciei muito auditório, por este Brasil afora, fazer silêncio profundo para ouvir Marcus Accioly dizer seus poemas e de outros poetas. Uma noite, em Maceió, Ticiano parou a rua do Sol, para dizer os poemas de Manuel Bandeira e Augusto dos Anjos, ele pelejando com o compadre Gilberto Avelino, também grande poeta e declamador: “Não me transfiras,/para o novo domingo, /o teu claro amor,/os teus longos ais.”

Imagino Marcus Accioli na Academia, alteando a sua voz para dizer como o poeta baiano cantou nos camarins do Teatro Santa Isabel para a sua amada Eugênia Câmara: “Tens a beleza de uma Vênus grega!/ Tens o gênio de Safo, ardente, mística! / De um anjo o coração! / Só tu cinges o tríplice diadema - /- A beleza nas formas, - n’alma o gênio / - E no seio - a paixão!...”

Bons tempos aqueles da exclamações em plural. Das paixões ardentes, rolando no seio da Madona pálida...


Nota da SAMBA
Não sabemos de onde Woden colheu a informação, mas saber que o Beco faz e a Academia se desfaz, dá até para confirmar: academia é isso mesmo, só serve a vaidades.


14 de Março, Dia da Poesia em Natal

Alexandro Gurgel
Alexandro Gurgel
O Dia da Poesia começou com o café da manhã no Beco da Lama

Alexandro Gurgel
Alexandro Gurgel
Viva, coma e ria! Este é o Fome Zero da Poesia! era a palavra de ordem

Alexandro Gurgel
Alexandro Gurgel
Prefeito Carlos Eduardo pega O Beco na Capitania das Artes

Alexandro Gurgel
Alexandro Gurgel
De volta ao Beco, recital foi iniciado por Marcia Maia e Eduardo Alexandre...

Alexandro Gurgel
Alexandro Gugel
... enquando era servido sarapatel...

Alexandro Gurgel
Alexandro Gurgel
... e chegavam visitas como as de Olga Aranha, Ivonete Albano, Candinha Bezerra, Dácio Galvão, Volontê, Ítalo Trindade...

Alexandro Gurgel
Alexandro Gurgel
... Moacy Cirne, aqui com o poeta Bianor Paulino.

Luís Henrique
Divulgação O Beco
Já noite, depois de atividades musicais e poéticas no Sebo
de Jácio, é lançado pelo conselho editorial, o jornal O Beco...


Luís Henrique
Divulgação O Beco
... para, depois do Sopão de Nazaré, termos o encantamento da voz
de Cida Airam e tudo terminar mais tarde, com recitais no Lorota's.


Lançamento de A Esfera, de Antoniel Campos

Argemiro Lima
Argemiro Lima
No Lançamento de Antoniel, sua poesia foi interpretada em recital


Argemiro Lima
Argemiro Lima
Antoniel autografa para Oswaldo Ribeiro e Bené Chaves

Argemiro Lima
Argemiro Lima
Antoniel autografa para Ivan Offset Júnior e Moacy Cirne


Argemiro Lima
Argemiro Lima
Pintura ao vivo no lançamento de a esfera




terça-feira, março 15, 2005

Instalação de Areia Preta continua repercutindo

Terça-feira, 15 de março de 2005.
Diário vespertino - Ano VIII - Edição Nº 2198 de terça-feira - Natal, RN - Brasil
O Jornal de Hoje


ABANDONO EM AREIA PRETA
Quebra-mar está sendo destruído
Semov garante que erosão não compromete os espigões. Caern assegura ainda para este ano a solução para evitar os esgotos na praia

Elaine Vládia Oliveira
Repórter

O abandono na praia de Areia Preta é tão acentuado que além do esgoto derramado no mar, alvo de críticas sábado passado por poetas, o quebra-mar construído há cerca de três para evitar transtornos como o afundamento do calçadão e do asfalto já está praticamente destruído, sem qualquer providência do poder público. No entanto, a Caern e a Secretaria Municipal de Obras e Viação (Semov), responsáveis pela rede de esgotamento e espigões, respectivamente, se defendem.
O secretário municipal de Obras e Viação, Damião Pita, tranqüiliza a população com relação ao quebra-mar. Segundo explica, as pedras estão se acomodando e até o momento não há qualquer problema em decorrência disso. Apesar de uma parte já estar sendo destruída, o secretário frisa que o obstáculo não foi feito para o passeio de pedestres e desde que foi construído o mar passar sobre a “parede”.
Damião Pita observa que há uma intenção da prefeitura transformar a região dos “espigões” de Areia Preta em uma área urbanizada - a exemplo do que foi feito na praia da Redinha. Mas por enquanto, comenta, isso não é possível por causa da falta de recursos. "Estamos tentando dinheiro junto ao Ministério da Integração, mas ainda não conseguimos. É muito dinheiro, cerca de cinco milhões de reais e a prefeitura não tem", enfatiza. O secretário ressalta que passou pelo local esta manhã e garante que não existe nenhum risco aparente de desabamento do quebra-mar.
Já o gerente da Regional Natal/Sul da Caern, Isaías de Almeida Costa Filho, destaca que a solução definitiva para o problema de água servida no mar deve acontecer este ano. Ele observa que a questão será resolvida quando o órgão começar a construir o restante da rede de esgotamento sanitário do bairro de Mãe Luiza (faltam 92%).
Isaías comenta que a reclamação dos moradores de que água servida é jogada no mar durante à noite é pertinente, mas faz uma ressalva. Ele observa que a Caern tomou uma medida paliativa para amenizar a situação, usando sua estação de bombeamento, localizada debaixo do relógio do sol (no calçadão), para receber além de água de esgoto, água servida que vem das galerias pluviais. O problema, alega, acontece quando chove e o volume de água aumenta exageradamente. Com isso, a estação não tem condições de receber essa quantidade e um operador da companhia desfaz a manobra hidráulica, fazendo com que essa água vá toda para a praia.
Isaías Filho destaca, no entanto, que essa água não é de esgoto, mas sim de lavagem de roupa, pratos e banhos. O fato acontece, segundo o funcionário da Caern, por causa da situação financeira difícil dos moradores de Mãe Luiza, que temem despejar a água servida nas fossas pequenas, deixando escorrendo nas ruas, invadindo as galerias pluviais, que deveriam ser apenas para a água de chuva.
Isaías ressalta, no entanto, que ainda no primeiro semestre deste ano começa a fazer o restante da rede de esgotamento sanitário e avisa que quem colocar água servida nas galerias pluviais após esse investimento será autuado pela Covisa, Ministério Público e será fiscalizado pela Caern. Sobre o fato dos moradores dizerem que a Caern deixa a água servida escorrer todas as noites para o mar, ele desmente. Segundo ressalta, a orientação é de que esse procedimento só seja feito quando chover. "Eu não sei se isso acontecer. Em fevereiro eu estava de férias, mas pode ter acontecido do funcionário entender que ia chover e ter feito a manobra hidráulica porque estava neblinando", opina.
O gerente também garante que os prédios localizados na orla não estão enviando esgoto e água servida para o mar, mesmo porque estes já estão ligados à rede coletora (saneamento). Ele também desmente que estejam ocorrendo problemas com relação aos hotéis da Via Costeira. A única situação mais visível, disse, é próximo ao hotel Pirâmide e mesmo assim Isaías frisa que acontece também por causa da água de lavagens de roupa e pratos, que descem do bairro de Mãe Luiza naquela altura da via costeira. Isaías Filho enfatiza ainda que os hotéis estão constantemente sendo fiscalizados pelo Idema e Semurb.
A assessoria de comunicação da Caern informou que os recursos para completar a rede de esgotamento de Mãe Luiza já estão assegurados dentro das verbas do pró-saneamento e o convênio com a Caixa Econômica Federal já foi assinado. Os recursos são da ordem de R$ 2.226.779,00, para a construção de 5.900 metros de rede de esgotamento.


Melhorias
Caern investirá R$ 450 mi em dois anos
Dinheiro será utilizado na ampliação da rede de água, na construção de adutoras e no saneamento de Natal e de cidades do interior
Após alinhar as dívidas de R$ 312 milhões, "herdadas" pelo governo passado, a Caern vai incrementar os investimentos em ampliação da rede de água, construção de adutoras e obras que deverão aumentar até 2006 a área saneada na capital e no interior. Segundo o diretor-presidente da companhia, Pedro Augusto Lisboa, a expectativa é aplicar nos últimos dois anos da administração Wilma de Faria cerca de R$ 400 milhões.
"Nos dois primeiros anos, tínhamos um passivo na ordem de R$ 312 milhões, publicados no balanço da Caern. Primeiro tivemos de equilibrar as finanças, tornar nossa economia administrável e, depois, correr atrás dos financiamentos para as obras", justificou Lisboa, ressaltando que essa dívida que a companhia contraiu ao longo dos anos e deixou para o atual governo daria para construir duas pontes Forte-Redinha.
Do total disponível para investimentos, parte vem do Programa de Desenvolvimento do Turismo (Prodetur II), do Programa Pró-Saneamento, feito com a Caixa Econômica Federal , e também com o banco alemão KFW. Esse último vai garantir a implantação do sistema de esgotamento sanitário da zona oeste de Natal - Quintas, Felipe Camarão, Bom Pastor, Cidade Nova, Nova Cidade, Guarapes e Km-6 - um total de R$ 53 milhões. "Esse projeto está no Senado Federal, em vias de aprovação pela Comissão de Constituição e Justiça. Trata-se de uma área que sofre grande agressão no solo, onde no máximo existem fossas sépticas", disse o diretor-presidente da Caern.
Com a ajuda do Programa Pró-Saneamento, será garantido o tratamento dos esgotos lançados "in natura" no canal do Baldo, provenientes de bairros como Tirol, Petrópolis, Cidade Alta, Rocas, Santos Reis, Ribeira, Alecrim, Barro Vermelho, Lagoa Seca e Lagoa Nova. Somente esse projeto vai custar R$ 61 milhões e é considerada a principal obra para 2005, afirmou Pedro Lisboa. "Serão contemplados com esse projeto 320 mil habitantes", calculou.
Também inseridos no Pró-Saneamento, estão o tratamento de esgotos de Mãe Luíza (R$ 2,29 milhões) e Candelária (R$ 2,98 milhões). No primeiro caso, em duas semanas o canteiro de obras será instalado. Em Candelária, já foi dada ordem de serviço.
Somente o Prodetur II vai injetar R$ 57 milhões, viabilizando as obras de esgotos na Redinha (R$ 11,8 milhões), Capim Macio (R$ 22 milhões), Pirangi, Cotovelo e Pium (R$ 20 milhões), Tibau do Sul e Pipa (R$ 3 milhões), além da ampliação da Estação de Tratamento de Esgotos em Ponta Negra (R$ 200 mil). Para esses projetos, a contrapartida do Estado será de mais de R$ 12 milhões, no caso do Pró-Saneamento, e entre R$ 15 milhões e 18 milhões, nos contratos com o KFW e o Prodetur II.

ADUTORAS
No interior, serão as adutoras as principais obras dos próximos dois anos, conforme o diretor-presidente da Caern. "Até o final de março, queremos dar ordem de serviço para a construção da adutora Japi, situada no Agreste-Trairi, divididas em três trechos e atendendo a sete cidades", disse Lisboa. No primeiro trecho, em Japi, serão 27 quilômetros; o segundo, cuja licitação do material está em andamento, terá 30 quilômetros de extensão e atenderá Serra de São Bento e Monte das Gameleiras, até o final de junho; e o terceiro trecho, com 100 quilômetros de extensão e que vai atender o maior número de cidades - São Bento do Norte, Trairi, Coronel Ezequiel, Jaçanã e Campo Redondo - custando R$ 22 milhões. Essa última etapa ainda não foi licitada, mas está programada para ser construída em junho.
A adutora Boqueirão, no Mato Grande, custará R$ 18 milhões e captará água da lagoa Boqueirão, entre Touros e São Miguel do Gostoso, distribuindo para Parazinho, Pedra Grande, São Bento do Norte e Caiçara do Norte, além de 15 comunidades rurais.
Também está programada a ampliação da adutora de Espírito Santo, que dobrará para 300 milímetros sua capacidade de vazão. "Essa adutora foi construída há 30 anos e hoje está insuficiente para manter o abastecimento de cidades como Várzea, Santo Antônio e Passagem.

Saneamento
Pelo menos sete cidades serão saneadas nos próximos dois anos, garantiu a Caern. Macau, que já dispõe de 50% de saneamento, terá a estrutura completa até o final do ano, um investimento aproximado de R$ 6 milhões. Pau dos Ferros, Nova Cruz, Jardim de Piranhas, Pendências, Macaíba, Caicó e Mossoró também ganharão obras nesse sentido.
"A governadora quer deixar 44% do Estado saneado, quando hoje apenas 17% da área encontram-se nessas condições. Em Natal, a expectativa é ficar 60% saneada. Hoje são 33%, mas apenas 13% dos esgotos são tratados", informou Pedro Lisboa.


A rifa do peru

Cantinho do Zé Povo - Bob Motta
bobmottapoeta@yahoo.com.br
O Jornal de Hoje 12/13.03.05

Tribuna do Norte

Das figuras folclóricas de Natal, existem aquelas que além da saudade, deixaram nas prateleiras das nossas memórias, verdadeiros mananciais de causos e/ou presepadas, como é o causo do nosso querido e mui saudoso Zé Areia. Sempre nas sexta feiras, na parte da tarde, quando o movimento dos seus clientes da barbearia estava devagar, quase parando, Zé inventava um artifício para angariar dinheiro e fazer sua feira no sábado. Pois bem! Numa dessas sexta feiras, eis que nosso personagem, sem ter mais o que inventar, cismou de rifar um peru. Comprou uma folha de papel pautado, numerou de cima à baixo, e saiu em peregrinação pelas lojas da Ribeira velha de guerra, onde os lojistas, na sua totalidade, compraram bilhetes, mais para ajudá-lo do que para concorrer ao prêmio. E Zé Areia, na sua peregrinação, subiu a ladeira da Av. Rio Branco em direção ao Grande Ponto,onde vendeu mais alguns bilhetes da rifa do bendito peru, e empreendeu sua volta à Ribeira. No caminho, deu de cara com um figurão da sociedade natalense, do qual não lembro o nome, também seu cliente da barbearia, ao qual ofereceu o bilhete da rifa do peru:
- Dr. Fulano; me compre a rifa de um peru cevado! O bicho já está com bem dez quilos...
O figurão, embora sabendo que iria comprar para ajudar Zé Areia, resolveu fazer gozação e lhe respondeu:
- Zé, rapaz; eu gostaria imensamente de lhe ajudar comprando o bilhete da rifa do seu peru, mas não posso, devido a ter um problema conjugal muito grande. Minha mulher está com a mania de fazer sexo com tudo que é de animal que eu levo pra casa, e se eu ganhar esse peru, em vez de sorte, vou ter é azar...
E Zé Areia, que jamais deixou passar uma oportunidade dessa em branco, argumentou:
- Não seja por isso, Dr. Fulano! Pode comprar sem medo, pois peru, que eu saiba, não cruza com galinha de jeito nenhum!...
O Dr. deu uma gaitada pra lá de escandalosa e comprou o restante dos bilhetes que faltavam serem vendidos...


Susto em Dia da Poesia

Hugo Macedo

Pintura mural de Gilson Nascimento
amanheceu o 14 de Março coberta de tinta branca

O Dia da Poesia este ano começou no Beco da Lama.
Logo cedo, defronte ao Bar de Chico, em plena rua Doutor José Ivo, Daniele Brito montava mesa com pão, queijo, mungunzá, salada de frutas, café, leite, bolo e tudo o mais que um bom café da manhã recomenda. A palavra de ordem para chamar o público para a refeição?
- Viva, coma e ria! Este é o Fome Zero da Poesia!
Servido em frente ao Bar de Nasi por volta de 01:00h da tarde, o sarapatel do maitre Paraná foi devorado em pouco mais de meia hora.
Recital concorrido, o poeta (?) Índio quase não larga o microfonese auto-destancando-se como um dos grandes nomes da poesia norte-riograndense. O evento do Beco teve direito a poema de Moacy Cirne e fotos de Candinha Bezerra, Alex Gurgel e Hugo Macedo.
O momento de música e poesia no Sebo de Jácio, o Cata Livros, mostrou que o espaço promete, podendo ser usado novamente em muitos outros acontecimentos.
Nota zero do evento:
passaram tinta sobre a pintura (de Gilson Nascimento) que foi cartaz e banner do I Carnaval do Beco da Lama.
Momento de muita beleza foi a apresentação de Cida Ayram no Bar de Nazaré, para onde foram transferidas as programações previstas para a Praça da Poesia. Presença de muita gente da lista do Beco, inclusive do imortal eleito Elder Heronildes, acompanhado de senhora e filho. José, Meire, Márcia, Orf, Chagas Lourenço, Léo, Cristina, Nalva Melo, entre outros e outras, inclusive o intrépido CloE. Presença também da aniversariante e eterna Musa do Dia Da Poeta, a bela e sorridente repórter Beth Venturini.
Momento de tensão do dia foi quando o prefeito Carlos Eduardo preparava-se para entrar no Salão de Exposições da Capitania das Artes, onde seriam entregues os prêmios literários Câmara Cascudo e Othoniel Menezes. Interpelado pelo grito “Prefeito, pegue o Beco!” um clima de mal estar tomou repentinamente conta do ambiente, para logo transformar-se em riso: o beco referido era o jornal O Beco, em seu primeiro número, distribuído entre os que compareceram às atividades do Dia da Poesia e lançado oficialmente durante o Sopão de Nazaré, que, na verdade, foi uma cortesia do restaurante do SESC.


Poesia com casa cheia

Dionísio Outeda
Tribuna do Norte
Emocionado, Capinam chorou durante palestra na Capitania

Tribuna do Norte
15/03/05

Yuno Silva - Repórter

Poesias, calorosas conversas, encontros e reencontros, premiações literárias, feira de livros e palestras marcaram a manhã desta segunda-feira na Fundação Capitania das Artes, que comemorou o Dia Nacional da Poesia com direito a café da manhã e casa cheia. Pouco antes das 8h, horário de abertura das portas da Funcarte, uma pequena e diversificada multidão aguardava o momento de tomar conta das galerias de arte Iaponi Araújo, Leopoldo Nelson e Newton Navarro — local onde foi realizado a primeira metade do evento.

Perto das 9h da manhã, o prefeito Carlos Eduardo divulgou oficialmente os nomes dos vencedores dos prêmios literários “Câmara Cascudo de Prosa” e “Otoniel Menezes de Poesia”, respectivamente Aldo Lopes de Araújo (texto “O Dia dos Cachorros”) e Lívio Alves Araújo de Oliveira (obra “Página Nua”), entregando a cada um o prêmio no valor de 3 mil reais. “Natal é uma das poucas cidades do Brasil que comemoram o Dia da Poesia com todo esse entusiasmo (olhando em volta) e o prêmio é uma das maneiras de estimular a produção literária na cidade. Para abrilhantar ainda mais as comemorações, trouxemos o poeta Carlos Capinan para contar e passar um pouco de sua experiência àqueles que estão ou que tem vontade de produzir. Aqui está o mundo cultural de Natal!”, disse o prefeito, reiterando a confiança depositada na nova diretoria da Fundação. “Acredito que a meta da nova administração da Capitania das Artes seja justamente promover e envolver culturalmente a sociedade, valorizando e chamando atenção para nossos pintores, escritores e cantores”.

Ainda nas dependências ‘conurbadas’ das galerias, Abimael Silva, do Sebo Vermelho, armou seu circo com títulos da coleção João Nicodemos de Lima (editora Sebo Vermelho), enquanto o escritor Moacy Cirne autografava “Luzes, Sombras e Magia: os filmes que fazem a história do cinema”, lançado na ocasião.

Auditório ficou lotado para assistir à palestra de Capinam

Depois do desjejum e da intensa troca de figurinhas entre poetas, escritores e simpatizantes (leia-se músicos, artistas plásticos, jornalistas e público), a turba seguiu para o auditório da Capitania, onde Capinan proferiu palestra para uma platéia lotada - o compositor e poeta potiguar de Areia Branca, Mirabô Dantas, amigo pessoal do baiano, fez providencial intervenção poético-musical durante a conversa.

“Embora a poesia mobilize, essa movimentação só ganha visibilidade social quando ganha corpo e ganha as ruas. Fico feliz em saber que o Dia da Poesia é comemorado aqui em Natal com tanto entusiasmo, mas não estou espantado pois essa loucura toda é coisa de nordestino que não tem vergonha da poesia, aqui temos os repentistas, os cantadores...”, disse Capinan antes da palestra. A programação matutina findou com debate sobre a “Geração Alternativa”, com os poetas Eduardo Alexandre, Eduardo Gosson e João da Rua.

Outras atividades agitaram a cidade no período da tarde e da noite, com movimentação em ponto como núcleo outros pontos da cidade como Beco da Lama, no centro da cidade; Lorota’s Bar, no Center Onze; shopping Sea Way, em Capim Macio; e Teatro Municipal Sandoval Wanderlei, no Alecrim, onde houve performence teatral do grupo Alegria, Alegria e show com “Os Poetas Elétricos”.

Antes, no sábado, dia 12, Eduardo Alexandre articulou a instalação “Esgoto Sanitário”, promovendo um amanhecer diferente na praia de Areia Preta. A intenção da instalação, formada por bandeiras pretas fincadas nos quebra-mares da praia urbana, era chamar atenção da sociedade para o insistente desrespeito com o meio ambiente.




segunda-feira, março 14, 2005

Poetas denunciam sujeira nas praias


Domingo, 13 de março de 2005.
Diário vespertino - Ano VIII - Edição Nº 2196 de sábado/domigo - Natal, RN - Brasil
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O Jornal de Hoje
12, 13/03/05

ARTE CRÍTICA
Poetas denunciam sujeira nas praias
Quebra-mar em frente à praça da Jangada, em Areia Preta, foi “enfeitada” na manhã deste sábado com várias bandeirolas pretas

Elaine Vládia Oliveira
Repórter

Os poetas de Natal vão comemorar o Dia Nacional da Poesia, que acontece na próxima segunda-feira, de uma maneira diferente: com um protesto. Inconformados com a falta de providências do poder público para com a sujeira das praias urbanas, eles colocaram dezenas de bandeirolas pretas no quebra-mar localizado em frente à praça da Jangada, em Areia Preta.
Segundo um dos artistas, o poeta e jornalista Eduardo Alexandre, a instalação recebe o título de esgoto sanitário e tem o objetivo de chamar as autoridades a tomar providências. Ele também promete mais ações. "Essa é a primeira de uma série de instalações que a gente vai fazer", adianta. Uma das sugestões avaliadas é a colocação de miniaturas de barcos com bandeirolas pretas no rio Potengi, quando a maré estiver cheia. "Lá também é um ponto crítico", ressalta.
Apesar dos poetas serem conhecidos por enaltecer as belezas da cidade, das praias, das belezas naturais, essa crítica é uma forma de fazer com que os cidadãos continuem tendo uma bela Natal. "A gente faz isso com tristeza. Mas queremos continuar fazendo poesia sobre uma cidade limpa, saudável", fala Eduardo.

Wellington Rocha


O poeta também enfatiza que o descaso do poder público é extremamente negativo para a principal atividade econômica do estado - o turismo. Sobre a colocação de placas avaliando as condições da água das praias pelo Idema, ele informa que não acredita que sejam verdadeiras. Esta manhã mesmo, uma indicava que a praia de Areia Preta estava própria para o banho. "Isso é uma mentira. Ontem mesmo estive aqui e estava cheio de merda. Isso mesmo, merda!", indigna-se. O Idema enviou e-mail à redação dizendo exatamente o contrário, que naquela área o banho é impróprio. Ele reclama até mesmo que o poder público autorizou a construção de vários edifícios na área acabando com a bela vista da rua Guanabara, além desses prédios estarem poluindo a praia jogando água servida e esgoto.
Os moradores e pescadores da região concordam com o protesto e fazem mais reclamações. "Não dá para tomar banho nessa água. Se todos apoiarem esse movimento, os órgãos competentes vão melhorar essa situação. Acho um ato justo sem precisar de violência, desordem", opinou o garçom e pescador José Luiz Rocha, 52 anos. Ele caminhava com um neto, na manhã deste sábado, pelo calçadão da praia, mas garante que a praia serve apenas para o passeio. Banho nem pensar. Segundo observa, a falta de segurança é grande porque os hotéis jogam toda a água servida na praia. A babá Josilânia Roberta Pereira também reclama da situação. "Aqui é muito poluído. Por causa desses esgotos, junta rato, inseto. As autoridades precisam ver esse protesto e tomar medidas".
O ajudante de pedreiro Adriano Gomes, 27 anos, também não se conforma com a falta de providências. "A gente fica cheio de doença de pele. Acho muito errada essa placa de próprio. Apesar de terem colocado uma estação de tratamento aqui próximo, a noite um funcionário da Caern abre e vai toda a sujeira para o mar", denuncia. Ele observa até mesmo que chegaram a tirar a placa de banho próprio e colocaram na boca de um bueiro para chamar a atenção das autoridades. "Os policiais chegaram até mesmo a reclamar. Mas foi a nossa forma de protestar", disse Gomes.
Vários entrevistados falaram sobre a prática de ser liberada a água servida da estação de tratamento para praia no período da noite, de maneira que não chame a atenção da população. O líder comunitário de Mãe Luiza, Cristóvão Cavalcanti, também reafirma essa prática. "Isso aqui está abandonado. Tem contaminação de tudo quanto é jeito".

COMEMORAÇÃO
O dia nacional da poesia também será comemorado atividades na próxima segunda-feira. Estão previstos, por exemplo, café da manhã, almoço e jantar no Beco da Lama, às 8. O almoço será uma sarapatel em Nasi, às 13h e jantar um sopão em Nazaré, às 18 h.




domingo, março 13, 2005

Djalma Maranhão e eu



Chagas Lourenço

Era 1961. Morava na Campos Sales, em frente ao Seminário São Pedro que, naquela época, tinha uma atividade religiosa intensa, além de um grande número de seminaristas. Estudava no Colégio Marista, na primeira série B, onde formamos um time de futebol de salão com Washington, Bel, Jair, Toinho Barbosa e Alexandre Bebé Chorão. O técnico era Irmão Anchieta.

Fora do colégio, o esporte preferido era jogar botão. Vidro inquebrável, baquelite, plástico derretido, lixa d’água e parafina eram materiais indispensávais pra se fazer um bom time. Os beques mais fornidos tinham ângulos de 90° para chutar bola (botão de camisa) rasteira e os atacantes formavam ângulos mais abertos, com um bico de gaita para chutar alto, cobrindo o goleiro, geralmente uma caixa de fósforos.

Toda manhã ia para o colégio e quase sempre de carona num Bel Air azul, rabo de peixe, do desembargador Carlos Augusto, junto com Caju, filho do Magistrado. A tarde era pra jogar botão com Avelino Piúba, Vicente Cabelinho, Gatinha, Ariston, Chico Caraolho, Escurinho, Jair, João Felipe, Chico Doido, Lourencinho, David, Dwigth, Iedo e a turma de garotos que freqüentavam o América da Rua Mamanguape.

Resolvemos fundar o nosso próprio time de futebol de salão: o Corinthians. Fui escolhido presidente.

Na primeira reunião, tratamos de arrecadar fundos para comprar a bola, camisas, calções e meiões. O tênis era por conta de cada um. Demos um balanço nas mesadas e o resultado foi pífio,: só dava pra comprar a metade das camisas. Tínhamos quer ir à luta.

Reunimos uma comissão com três participantes e fomos ao centro da cidade para pedir ajuda aos comerciantes. Saímos pela Apodi, entramos na Deodoro, João Pessoa e, finalmente, Avenida Rio Branco, onde se concentravam as maiores lojas de Natal.

A primeira loja que entramos foi na Casa Duas Américas e encontramos, logo na entrada, o proprietário, um sujeito alto, musculoso, com bíceps se avolumando na camisa de mangas compridas, cabelos inpecavelmente penteados com brilhantina Glostora. Era o Sr. Nagib Salha.

– Senhor, nós estamos formando um time de futebol de salão e viemos pedir uma ajuda para comprar as camisas.

Nagib olhou de cima para baixo pra mim, que a essa altura já tremia o corpo inteiro, enfiou a mão no bolso, abriu um sorriso e nos deu cinco cruzeiros. Pegamos o dinheiro e saímos felizes da vida. Em seguida, fomos à Formosa Síria, Casa Rubi, Casas Cardoso, até que chegamos na Ulisses Caldas, e resolvemos ir à prefeitura.

Chegamos no Palácio Felipe Camarão por volta das três da tarde. Entramos sem ser interpelados e fomos logo subindo a escadaria de madeira. Já no saguão que dá acesso ao Gabinete, uma senhora muito gentil perguntou:

- O que vocês desejam?

- Falar com o Prefeito, respondi.

- Olhe ele aí.

Quando me virei, vi aquele homem alto, de cabelos pretos ondulados, e me dirigi a ele. Eu estava gelado e tremia todo por dentro.

- O que você quer garoto? Perguntou Djalma, colocando a mão na minha cabeça.

- Senhor, nós fundamos um time e estamos pedindo uma ajuda para comprar o material.

- Time de quê, meu filho?

- De futebol de salão, respondeu um dos amigos que me acompanhavam, pois eu já não conseguia falar.

Djalma abriu um sorriso largo, enfiou a mão no bolso, que me pareceu bem fundo, de uma calça branca de pregas ao lado dos bolsos, puxou uma nota de vinte cruzeiros e me entregou, afastando-se com dois assessores, rumo ao Gabinete.

Saí andando de costas, olhando para aquele homem que estava de costas para mim.

- Obrigado, balbuciei.

Aquele dinheiro deu pra comprar nossa bola.



13/03/2005


Hugo Macedo©

Beco da Lama, o maior do mundo, tão grande que parece mais uma rua... Tal qual muçulmano que visite Meca uma vez na vida, todo natalense deve ir ao Beco libertário, Beco pai das ruas do mundo todo.

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A imagem de fundo é do artista plástico e poeta Eduardo Alexandre©

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