sábado, outubro 01, 2005

O LIVRO DE DANIEL

Marcus Ottoni



“Vamos dar uma lição de voto nessa turma? É difícil, eu sei. Não custa, porém, tentar, até que a esperança vença a falta de vergonha.”
Taumaturgo Rocha, em comentário no becodalama@yahoogroups.com

SAMBA

Esse deus
Essa grande invenção
Tão confortante
De ancestrais
Leva além
Traz aquém
De todo limite!
É implosão
Explosão
Buraco negro
Pulsar...

Eduardo Alexandre


Data



1º de Outubro de 1977
I Exposição da Galeria do Povo
Contorno da Ladeira do Sol
Praia dos Artistas, Natal/RN



O LIVRO DE DANIEL



In memoriam
Simon Wiesenthal



Martelando a casca dura dessa História,
Revelando velhas rotas
Mentiras,
(Carne teutônica dançando celebrando cenários de carnificinas)
Tua voz mostrou a criação de técnicas de massacre eficientes,
Para esmagar os trompetes de Gideão e,
A flauta de Mohammad,
Ou mesmo a minha voz;
Tua voz despertou a dor de uma velha ferida
Causada por balas de 9 mm, pelo encanamento de câmaras de gás
Feitas em Ohio e vendidas em Hannover por
Corretores da Rua 47.
O que dizer, então:
Justificar tanto sangue nas costas de um só monstro?
Cardeais, advogados, juízes, carteiros, jardineiros,
O vizinho da esquina e a bisavó tão boazinha com
Dez netos vestidos de assassinos,
Treinando tiro ao alvo com os crânios de meus rabinos,
Rindo quando os corpos convulsos caíam na vala comum,
Rindo e imaginando ser Tristão, Brunhilda ou Gudrum,
Brincando de morte na esquina
De uma Strasse qualquer em Berlim.
Esse o quadro que tuas mãos revelaram ao mundo
Que tenta de todas as formas, agora, esquecer.
Hoje, novas palavras tecem o mesmo texto de sombra,
Destruição e agonia.
Hoje, o mesmo texto oculta da curta memória do povo
O império de sombra e sombra
Criado nas barbas desse mesmo povo.

Mas teu gesto manteve o shofar sonante,
A Menorah acesa,
O Muezzin atento a essa aurora vermelha,
Num deserto cheio de ecos repetindo aeternum
A última cláusula do Parágrafo Ariano.


*O poema foi sugerido pelo excelente livro do Dr. Daniel J. Goldhagen “Hitler’s Willing Executioners”, Doubleday, 2005.

Marcílio Farias




sexta-feira, setembro 30, 2005

PRATODOMUNDO

Marcus Ottoni


“A eleição foi decidida pelos votos do PTB, PL e PP, que são os partidos do mensalão.” Deputado José Thomaz Nonô




PRATODOMUNDO
II FESTIVAL GASTRONÔMICO DO BECO DA LAMA E ADJACÊNCIAS

15, 22 e 29 de outubro

05 de novembro de 2005


Realização
SAMBA – Sociedade dos Amigos do Beco da Lama e Adjacências
Agência Cultural SEBRAE / SESI

Apoio:
Governo do Estado do Rio Grande do Norte
Prefeitura Municipal de Natal

Bares e Restaurantes inscritos


1. Bar de Seu Pedrinho
Rua Vigário Bartolomeu, 540
Prato: Baião de dois com sardinha ao molho de tomate

2. Bar de Chico
Rua Dr. José Ivo, 600
Prato: Galinha à cabidela

3. Bar de Mãinha
Rua Dr. José Ivo, 580 – A
Prato: Buchada sertaneja

4. Bardallo´s Comida e Arte
Rua Gonçalves Ledo, 671
Prato: Arrumadinho

5. Restaurante e Bar da Amizade
Rua Vaz Gondim, 681
Prato: Rabada cozida com pirão

6. Bar de Nazaré
Rua Cel. Cascudo, 130
Prato: Carneiro com macaxeira

7. Bar de Francinete
Rua Dr. José Ivo,
Prato: Peixe no coco com pirão


8. Bar de Aluízio
Rua Heitor Carrilho, 107 – A
Prato: Baião de dois

9. Cinderela Restaurante e Bar
Rua Voluntários da Pátria, 684
Prato: Galinha matriz (caipira)

10. Bar de Zé Reeira
Rua Heitor Carrilho, 80
Prato: Miúdo de galinha

11. Bar da Meladinha (Nasi)
Rua Cel. Cascudo, 156
Prato: Costela com pirão

12. Bar de Odete
Rua Dr. José Ivo, 598
Prato: Favada

__________________

Digo não e digo sim

Digo não e por dentro digo sim,
tudo em mim é perfeita contramão.
Sou canção começando pelo fim,
estopim onde acendo a escuridão.

Guardião desse nada de onde eu vim,
folhetim não escrito pela mão,
sou clarão incontido no nanquim
e o latim exilado do sermão.

Sou senão em sinônimo de assim,
sou enfim o meu sim que me diz não.
___

SER SEM SER

Ser sem ser é ser não sendo sim
e no não sendo sim parecer.
É sentir ser início — e ser fim,
é saber-se que é — mas não ser.

É ser sempre e em talvez se saber,
sem saber que se foi sempre assim.
Ser sem ser é dar sim e o não ter,
é dizer tudo em nós e ouvir mim.

Sou sem ser e apetece-me assim.
Tenho a mim se eu de mim não me ser
e, se início, prefiro-me fim.

Se não sou, basta a mim parecer,
sou metade do não e do sim
e ter tudo é ter isso: não ter.

Antoniel Campos




EU POETA POPULÁ

O poeta é um sê humano,
qui véve da natureza.
Se inspira in sua beleza,
e in tudo da criação.
Tombém véve da emoção,
do amô da sua musa,
qui nuis seus verso êle usa,
quage in fóima de canção.

No coração do poeta,
num tem lugá p'ro rancô.
Véve istufado de amô,
saluçante de emoção.
Qué vê dá o istopô,
de tudo êle fazê festa ?
É poesia "qui nem presta",
se êle fô do meu sertão.

Tudo é tema p'ruis verso,
do poeta sertanejo.
O toque do vialêjo,
uma fulô, uma simente,
um fole de oito baixo,
uma cabôca facêra,
o som d'uma cachuêra,
caindo d'uma vertente.

O cavalo véio sem dente,
o jumento garanhão,
a foguêra de São João,
ais prece prá São José.
O intôjo da muié,
se acabando de injôo,
ô uma trepada no vôo,
de um casá de guiné.

Capataiz garachué,
qui é o mermo puxa saco.
Café torrado no caco,
uma caçada no facho.
Uma coivara de espíin,
o cachorro dirnutrido,
o namôro improibido,
lá na bêra do riacho.

Chuva batendo na têia,
o pingo d'uma gotêra,
o carro qui vem da fêra,
a zuada do truvão.
O arrastá do pinico,
o quilaro do relampo,
jararáca e corre campo,
se arrastando puro chão.

Se eu fôsse aqui discrevê,
tudo qui inspira o poeta,
nunca aicansaria a meta,
eu tenho cunviquição.
Eu sô privilegiado,
lhes juros, leitores meus.
Nêsse mundão de Meu DEUS,
prá mim, tudo é inspiração.

Lhe amostrei aqui o qui sô;
êsse simples menestrel,
cuja vida é o cordel,
qui canta o amô e a paiz.
Adoro aquilo qui faço,
a DEUS agradeço e lôvo,
sô poeta do meu povo,
num quero sê nada a mais!...

Bob Motta




quarta-feira, setembro 28, 2005

NO BRASIL DE TANTAS CRUZES

Marcus Ottoni


“O palácio não pode esquecer que o voto é secreto.”
Deputado Ciro Nogueira, candidato à presidência da Câmara, em matéria do Estadão cujo título é “Herdeiro de Severino assombra Planalto e oposição”.



Desarmá o cidadão,
é o mermo, cumpanhêro,
qui butá uma rapôsa,
prá vigiá um galinhêro...

Bob Motta



Fantasia

Encontrei
O que não procurei
Imaginei
O que havia de ti
Eu vi
O que não conheci

Deborah Milgram




Epitáfio

(para corruptos e terroristas)

Vós, que retirastes o pão de descamisados!
Que levianamente cevastes mesas já fartas;
Tomastes o alimento da boca de inocentes
e pusestes a mão nos ombros
de canalhas, traficantes e corruptos,
no vosso leito agonizante deito o epitáfio
de órfãos e servidores esfalfados.

Que a vossa silhueta se ofusque
no caleidoscópio do tempo
e que a chama que acendeu vossa fome
de ódio e ganância se apague ao sopro da justiça.

Que os fragmentos do vosso ventre
sirvam de alimento às aves de rapina
e que a fúria do vento eleve,
em cortejo fúnebre,
o que restar de vossas entranhas
apodrecidas, em longo e eterno espiral.

Robério Matos




Mulher no jornalismo do RN

Evento: Ciclo de palestras “Prosas e Pensamentos”
Local: Livraria Sparta
Data: 28/09/2005
Horário: 18:00h
Entrada gratuita
Palestrante: Profa. Otêmia Porpino Gomes
Tema: “A mulher no Jornalismo do Rio Grande do Norte”

Sobre o Evento

Hoje, a Livraria Sparta promoverá, dentro do projeto “Prosas e Pensamentos”, a palestra “A mulher no jornalismo do Rio Grande do Norte”, proferida pela professora Otêmia Porpino Gomes. O evento reunirá escritores, artistas e pesquisadores da cultura regional. A proposta da livraria é apresentar aos estudantes universitários e do ensino médio, pesquisadores e ao público em geral o que se apresenta de mais expressivo no estado do Rio Grande do Norte.

No projeto “Prosas e Pensamentos”, que permanecerá até o mês de novembro de 2005, serão abordados assuntos sobre cangaço, poesia, urbanização da Cidade do Natal, história, artes, entre outros.

Sobre a Autora

A professora Otêmia Porpino Gomes é bacharela em Comunicação Social, com habilitação em jornalismo, especialista em Telejornalismo, mestra em Educação pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte e encontra-se dedicada à conclusão de sua tese de doutorado também em Educação.

Atualmente a professora Otêmia Porpino é professora da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, lotada no departamento de Comunicação Social, e já assumiu a coordenadoria e a vice-cordenadoria do mesmo departamento.

Sobre a Palestra

A palestra da professora Otêmia Porpino Gomes abordará o tema: "A mulher no Jornalismo do Rio Grande do Norte", onde serão apresentados um vídeo documentário com depoimentos e analises sobre a trajetória da mulher no jornalismo do estado e posteriormente uma reflexão sobre a questão de gênero.



DOU-TE OS MEUS SIGILOS

Nos últimos dez anos o que fiz de mais errado, foi acordar dividas de cartões de crédito e Cheque Especial da Caixa Econômica. Se fossem quebrar meus sigilos bancários e telefônicos dos últimos dez anos, iriam descobrir a minha inadimplência crônica que insiste em não me abandonar, e iriam ouvir meus lamentos com a família, amigos, e, minhas conversas ásperas edesesperadas com os credores.

Se fossem quebrar meu sigilo bancário dos últimos dez anos, talvez, entendam o que faz um funcionário público que trabalha com licitações e cifras altas, para poder honrar seus pobres compromissos. Se fossem quebrar meu sigilo telefônico dos últimos dez anos, também iriam descobrir que liguei para um cara para pedir um baseado, que liguei para outro cara para comprar um uísque 8 anos do Paraguai, e que liguei para uma mulher que conheci em uma locadora de vídeo. Iriam descobrir estas “falhas” que dentro da minha vã filosofia fiz sabendo que eram erradas.

Mas, o mais interessante é que com os meus sigilos quebrados eu poderia até ser preso por alusão as drogas, traição e por contravenção.

É isto que acontece no país onde nasci, vivo e sobrevivo, com salário de Funcionário Público federal, pagando aluguel, planos de saúde, imposto de renda, taxa de iluminação pública e esgoto, gasolina, feijão, água, e taxas bancárias e telefônicas; os pequenos pagam pelos grandes.

Dou ao Brasil e aos brasileiros os meus sigilos telefônicos e bancários.

Podem fuçar minha vida inteira, pois, se fui ilegal um dia, foi por pura transgressão aos valores morais éticos, impostos pela hipócrita classe política que cria as leis e as regem para si próprios. Podem até me prender, eu não ligo, quero mesmo ser a bandeira do novo mártir, isso mesmo, o Brasil se acabou quando se acabaram seus mártires.

Digo “sem medo de ser feliz” que como eu, milhões de brasileiros foi um dia transgressor legal, foi um dia um fora da lei, por medo e desilusão da vida. Vejam bem meus incrédulos leitores, eu assumo os meus erros, mas não justifico o deles.
Sou tão pequeno que nem sequer formo opinião. Taí meus sigilos para o Brasil República ainda de coronéis e abastados ilícitos. Podem descobrir que eu fumei maconha, comprei uísque do Paraguai e traí uma antiga namorada. Descubram também que eu paguei as minhas dívidas, e que para isso tive que vender bens adquiridos com vinte e cinco anos de trabalho, por isso mesmo não me darei ao sacrifício de sair de casa para votar em uma palhaçada desta que é o Referendo do Desarmamento. Eu já percebi que se trata de uma manobra torpe do governo
para desviar as atenções dos atuais escândalos.

Ah, meu Brasil Brasileiro querido, dou-te meus sigilos, se servirem para alguma coisa, mas jamais oPTarei de novo pela vil mudança.

Mário Henrique Araújo



NO BRASIL DE TANTAS CRUZES,
UMA INCOMODA MAIS QUE OUTRAS

“A ostentação de um crucifixo no plenário do STF é inconstitucional porque viola a separação entre o Estado e a igreja.” Com essas palavras, Roberto Arriada Lorea, juiz de direito no Rio Grande do Sul, dá início a texto cujo título é de uma tautologia ímpar: “O Poder Judiciário é lai-co”.

Publicada no espaço OPINIÃO, Folha de São Paulo, edição de 24/09/2005, semelhante tolice até deixaria de merecer repercussão, não fosse a mesma Folha, no mesmo espaço e na mesma data, trazer outro ponto de vista, em sentido contrário, este agora formulado por José Renato Nalini, desembargador do Tribunal de Justiça de São Paulo, também membro e secretário geral da Academia Paulista de Letras. Em “A cruz e a justiça”, o derradeiro autor assevera: “O símbolo da cruz é advertência ao operador do direito - principalmente o juiz - de que fazer justiça é algo muito sério.”

Não é de hoje que Lorea abraça a iconoclasta tese. Faz mais de ano que ele, no jornal da AJURIS, pregou: Retire-se o crucifixo da sala onde os excelsos juízes do Supremo Tribunal Federal decidem. Mantê-lo ali pendurado é atentar contra a Constituição. Afinal, o Estado brasileiro e seus poderes são laicos.

Um estado laico, por definição, é um estado não confessional. Por isso, há de ser entendido que nele se realiza clara separação entre o poder civil e o poder de qualquer hierarquia religiosa. Idéia que, por sinal, também aparece na doutrina esposada pelo Concílio Vaticano II (GS 74; 76). De acordo com o pensar católico, o Estado deve ser considerado em seu caráter temporal e autô-nomo, relativamente às religiões ou forças religiosas.

Com efeito, na Constituição Pastoral citada vai dito: “no domínio próprio de cada uma, comunidade política e Igreja são independentes e autônomas”. O laicismo de Lorea, porém, como tendência ideológica que é, apesar da doutrina conciliar, o que faz é seguir manifestando-se na li-nha do anticlericalismo e anticatolicismo.

Ora, com a idéia de laicidade do estado não se pode entender deva ele ser a-religioso ou anti-religioso. Melhor dizendo, a laicidade estatal não é manifestação de ateísmo estatal. Nem poderia ser, no caso brasileiro, a teor da própria Constituição, que Arriada Lorea deseja transformar em sua Dulcinéa de Tolosa. Com a idéia de laicidade, no entanto, se reconhece que a religião é um valor a ser considerado na vida social. E que em sociedades plurais, como a brasileira, o Estado, sobre não dever ser confessional, tanto não deve interferir na vida interna das Igrejas, tanto deve respeitar e promover a liberdade religiosa, nos planos da crença e do culto, seja este privado quanto público.

Símbolo que é, o crucifixo desvela mistérios, realidades escondidas. Uma dessas realidades é o drama da doação. A doação que está no interior do drama primordial, para se ficar com palavras de Urs von Balthasar, por muitos dos que o conheceram apontado o homem mais culto do século XX.

Acontece de o crucifixo também se referir a manifestações fenomênicas. A dor, o sofrimento, a morte. A marginalização, o isolamento, a injustiça. Tudo isso matéria típica do operar jurídico. Tudo isso matéria ligada à atuação do operador jurídico.

Pendurado em uma parede, mesmo a de um prédio estatal, um crucifixo não é sinal de confessionalismo. Ele somente poderá ser encarado como tal na perspectiva da fé. Ou da descrença. Sendo assim, inconstitucional não é o fato do crucifixo pendurado. Inconstitucional será a tese do juiz gaúcho.

Pendurado, ademais, nas paredes de um tribunal, seja ele qual for, um crucifixo tem serventia. Ele serve para não deixar se esqueçam os juízes que o crucificado foi objeto de um julgamento injusto. Afinal, quem o condenou à morte não encontrou a autoria de qualquer crime pesando sobre ele. Nesse sentido, então, o crucifixo deve mesmo ser algo incômodo.

Taumaturgo Rocha




segunda-feira, setembro 26, 2005

GALINHA DE GRANJA X GALINHA CAIPIRA

Marcus Ottoni


“Como foram recursos de empréstimos tomados num banco e foram repassados fora da prestação de contas, há uma ilegalidade aí que vai ser punida pela Justiça.” Tese do Deputado José Dirceu, deputado federal, ex-presidente do PT e ex-ministro do governo Lula.




RAZÃO DA BUSCA


Saber
O sentido do verso,
No aberto,
Na amplidão.


Razão,
Da minha busca.
Amante.
Gigante.
De mãos e mãos !

Eduardo Alexandre


GALINHA DE GRANJA X GALINHA CAIPIRA

Foi no Bom Dia Brasí,
qui incrontei inspiração.
Na matéria apresentada,
a toda nossa Nação.
De norte a sul, leste a oeste,
do litorá p'ro sertão.

Falava sobre o manejo,
qui o hôme do campo manja.
Tira da dificurdade,
a solução e se arranja.
Pru mode criá galinha,
seja caipira ô de granja.

Na minha imaginação,
eu inxéigo craramente,
uma discussão da bixiga,
que agitô o ambiente.
E vô contá prá vocêis,
uma peleja deferente.

Direcionei a mente,
e apontei sua mira,
prá dento de um galinhêro,
onde brigava na ira,
uma galinha de granja,
cum uma galinha caipira.

De Granja:
Tu é uma galinha otára,
véve numa eterna luta.
Mode arrumá o qui cumê,
de menhã à noite é puta.
E prá cagá o qui come,
bota uma fôrça bruta.

Caipira:
Tua vida é munto curta,
munto pôco tempo dura.
Toma ormôno prá crescê,
come ração sem mistura;
e a tua carne é sem gôsto,
prá quem come, é merda pura.

De granja:
Tu num é munto deferente,
tem mais longa a tua vida;
mode a demora in crescê,
pru mode sê cunsumida.
Leva quage sete mêis,
inté quando é abatida.

Caipira:
Mais in valô nutritivo,
juro qui d'eu, tu num ganha.
Do meu vulume de carne,
de capote, tu apanha.
E adispôi de tu guisada,
se dirmancha é tôda in banha.

De Granja:
Mais quando arguém tá doente,
qui precisa de uma canja,
de uma cumida inucente,
a mãe, cum coidado arranja,
mode dá cumo remédio,
uma galinha de granja.

Caipira:
Adispôi qui a muié pári,
na hora do seu resguardo,
quando o mininíin nasce,
e alivêia seu fardo,
mode se recuperá,
vem logo atráis do meu cardo.

De granja:
Tu só come do pió,
posso inté fazê aposta.
Passa fome de muntão,
de todo bascúio tu gosta.
E quando tua fome aperta,
bebe mijo e come bosta.

Caipira:
Tu cum bestêra e teu ôvo,
pôco à pessoa alimenta.
É mais barato, tá certo;
porém a ninguém sustenta.
Teu ôvo é vinte centavo,
e o meu, é quage cinquenta.

De Granja:
Tu cum essa pabulage,
se acha isperta prá xuxú.
Mais, pru mode lhe intupí,
eu vô preguntá prá tu:
Tu acha qui trinta centavo,
compensa eu rasgá meu cú ?

Caipira:
Eu passo o dia no mato,
de noite venho discansá.
Me assubo no pulêro,
fico inté o só raiá.
Tu é cumendo dereto,
lá nuis gaipão, sem pará.

De Granja:
Dia e noite sem pará,
na ração eu vô vivendo.
Eu aqui, na mordomia,
e tu no mato, sofrendo.
Cumendo munturo e bosta,
e uis galo te cumendo.

Caipira:
Se uis galo tão me cumendo,
eu chega mudo de tom.
Da zuada qui nóis faiz,
munto longe se ôice o som.
Eu levando chibatada,
cantando e achando bom.

De Granja:
Falando de cumpanhêro,
de tu aí, tombém ganho.
Prá galo qui nem uis teu,
eu juro qui nem me assanho.
Uis teu é piquininíin,
e uis meu, é dêsse tamanho.

Caipira:
Uis teu é dêsse tamanho,
mais prá eu, é infadado.
Abasta dá umazinha,
fica arquejando, cansado.
Meus piquininíin é macho,
e dá conta do recado.

De Granja:
De mim, tudo é mais barato,
no aicance do povão.
Sô o prato preferido,
do impregado e do patrão.
In quaiqué país do mundo,
tô numa dais refeição.

Caipira:
Nóis tem o nosso valô,
tu na tua e eu na minha.
No armôço, lanche ô janta,
cum cuscuz de menhãzinha,
num tem nada mais gostoso,
qui nóis duas, a galinha.

De Granja:
Mais cum o saláro do pobre,
no Brasí, infilirmente,
nem eu nem tu vai na mesa,
dêsse sufrido vivente.
Pobre só come galinha,
quando um duis dois tá duente...

Bob Motta




domingo, setembro 25, 2005

TARDE TE CONHECI, TARDE TE AMEI

Marcus Ottoni


“Se governo e oposição tivessem se entendido em torno de um nome comum, levando em conta apenas as necessidades da Casa, a eleição seria outra, não estaria marcado este duelo que novamente deixará seqüelas. Qualquer que seja o resultado, o ambiente na Câmara continua radicalizado, altamente contaminado pela sucessão presidencial.” Tereza Cruvinel

Eduardo Alexandre

Padre Agustin
.
.
Levantando labareda
Lisonjeada leio Laélio,
linda literatura, levemente louca,
latejando lá do leste
levantando lama, labareda....
laboratório de letras,
léxico letal, lexicógrafo,
ladeira, labirinto,
libertador de libidos,
levito lendo Laélio.
______________________

BOB, POETA MATUTO
COM NOME DE AMERICANO
.

Minha gente que vontade
de poder glosar tambem
Bob, poeta matuto,
com nome de americano,
talvez BOB seja engano
mas só sei, que manda bem!!!

Maria Dália
.
.
O BATIQUE

Na parede da sala
um mural de dor
pai, mãe, filho
o cachorro e um burro
a mala vazia
e a fome:
Retirantes.

O homem
magricela
faminto
doentio,
é tão forte
que anda,
sua sombra
se confunde
com um mandacaru
com os espinhos
espetados em sua língua.

A mulher
trapos no corpo
molambos na cabeça
leva em suas entranhas
duas coisas típicas,
do nordestino pobre:
A fome
e uma criança.

A dor e o amor
unidos na miséria.

A criança
se confunde com o burro
e é puxado pelo cachorro,
no peito,
a alegria dos alienados
nos lábios,
o sorriso da ignorância
no andar,
a conformação dos oprimidos.

Os traços negros
mostram o sol ardente
na parede da sala
no batique de dor.

Chagas Lourenço


IMPOSIÇÃO DO SER

Verdade:
Albergues de mártires não há.
Nem alegria
Na história revertida depois.

Mesmo assim,
E pagando em dor a vida,
Verseja um canto o poeta
Rendido à imposição do ser !

Verseja
Numa contingência de ofício,
E diz
O que nem mais crê.

Sede assim, poeta
Vive o esplendor do belo;
Canta
A esperança no será.
Serás
Mártir no silêncio das palavras
Feliz,
Sem teto,
Na ingratidão dos mortais !

É duro,
Mas martelas.
Versejas:
Desnudando o homem;
Desvendando a vida.
Trazendo à cena o encanto,
A magia;
A crença num belo dia !

Eduardo Alexandre



Tarde te Conheci, Tarde te Amei

“Tarde te conheci, tarde te amei” é uma das mais famosas frases de Santo Agostinho, quem se converteu para o amor de Deus aos trinta anos. Não foi tarde demais para ele. Ainda teve tempo de viver, de amar, de crer, de escrever e de deixar um brilho perene para a igreja e para o mundo.

O sentido do ser humano o encontra Agostinho, quando diz que, "fomos feitos para ti, e inquieto está nosso coração até repousar em ti". Esse "coração inquieto", dinâmico e histórico e fonte do agir humano encontra sua força quando Agostinho diz que "o homem foi feito para amar inteligentemente". Certamente, a chama que arde no "coração inquieto" de Agostinho é aquele grande mandamento bíblico trazido por Jesus: "Amarás o Senhor teu Deus, com todo o teu coração, com toda tua alma, com toda tua inteligência, com toda tua força, e amarás o teu próximo como a ti mesmo!".

O ser humano, a humanidade inteira, é vida em movimento. O que dá sentido, orientação ou direção ao viver, é realizar o amor. Isto é: amar. E isto é a realização do absoluto de Deus no relativo da humanidade e do cosmos.

Ao lado do dinamismo histórico do verbo "amar", Agostinho coloca o advérbio "inteligentemente". Assim, pois, o "amar" é verdadeiramente humano.

Para nós, a inteligência é a fonte da consciência que, por meio do discernimento, gera a liberdade que nos torna, verdadeiramente, humanos. Vida-amor-inteligência, inextricavelmente unidos, são constitutivos da pessoa. Assim compreendida, a vida humana é um constante aprendizado e crescimento no amor.

Ninguém, nem nada, podem ficar excluídos desse "amar inteligente", que é o dinamismo humanizador (ou divinizador) do mundo. Porém, nosso discernimento e o conseqüente crescimento de consciência são confusos e ambíguos. Infelizmente, em nosso mundo, nem a vida, nem o amor, nem a inteligência são o valor supremo. Podemos constatar uma situação de des-amor e não-vida, de inteligência que desperdiça a vida. Mais de um bilhão de seres humanos vivendo com menos de dois dólares por dia; trinta e cinco mil mortos e dois milhões de seres humanos vivendo a miséria de refugiados no Sudão, vítimas das políticas de extermínio locais; milhões de mortos pelo AIDS que não encontra recursos suficientes para ser controlado; a guerra civil do Irak, sustentada pelas tropas norte-americanas, herança da invasão que, se como diz Bush, "o mundo está mais seguro sem Sadam", sem dúvida, o Iraque estaria mais seguro sem Bush e seus soldados; a paz impossível em Terra Santa, que se arrasta numa espiral de violência sem fim; a guerrilha colombiana, as revoltas indígenas peruanas, bolivianas ou mexicanas, a corrupção... Aqui em nosso Brasil contamos uma vítima da violência a cada doze minutos. E um longo etcétera que faz-me perguntar: onde está o verbo amar conjugado e vivido? E, mais ainda: onde está a inteligência, a consciência, o discernimento, a liberdade?

Certamente, não a serviço do amor, mas a serviço dos interesses mais ou menos confessados ou mais ou menos velados de uns e de outros: daqueles que fazem guerras, daqueles que fazem terrorismo, daqueles que fazem chantagem com reféns, daqueles que fazem assassinatos seletivos, daqueles que continuam a submeter, explorar e exterminar por razões étnicas, daqueles que corrompem o ser humano colocando-o a serviço do dinheiro, daqueles que nos destroem como pessoas, que nos neurotizam, transformando-nos em consumidores...

Onde é que Deus fica nisto tudo? Nesta violência e morte: onde encontrar a Deus?

Quando Santo Agostinho procurava Deus (e passou trinta anos nesta busca, como ele mesmo diz em suas "Confissões"), não o encontrou nem no mais alto dos céus, nem no mais profundo dos abismos, senão no "intimior intimius meus", isto é, "no mais íntimo de minha intimidade". Nesta expressão, Agostinho mostra sua descoberta do Deus da vida no mais profundo da vida que é o ser humano, isto é, no coração de todo ser humano. A lógica agustiniana nos obriga a dizer que, onde não há amor, não há Deus. Onde o verbo amar não é a força vital, Deus não acontece...

E é isto que me coloca, sem ânimo de julgamento nenhum, na constatação de que há mais de mil "igrejas" ou denominações eclesiais, desencontradas em suas hipóteticas ortodoxias, falando em Deus, em Jesus, procurando, inutilmente, um Deus dos céus. Pelo fato de eu mesmo ser um homem de igreja, confesso que sinto um imenso desconforto. Gostaria de ser, apenas, um homem de Deus. Pois, para mim, está claríssimo: ou as igrejas somos sacramento e sinal da presença e da ação do amor de Deus manifestado em Cristo Jesus, ou somos sal que não salga que só serve para ser pisada por uns e por outros. O que está a acontecer, de fato.

Já ouvi dizer, tantas vezes: "Deus é o mesmo". "Jesus é um só...". E assim por diante. E eu penso com ironia: tanto faz um supermercado como outro! Tanto faz uma farmácia que outra! Tanto faz um bar como outro! E assim as pessoas "compram" seu feijão, seu remédio, sua cerveja ou seu deus, segundo seus gostos e necessidades.

Certamente, é evidente que nem Deus, nem Jesus são os mesmos. Apenas projeções celestes ou abismais de uns e de outros. Fala-se sobre Deus, mas não se deixa que Deus se exprima a si mesmo em sua identidade, em sua ação, como Vida, como Amor, como Misericórdia. Porque quem ouve o grito pela vida da criança que morre no Sudão por inanição, da criança assassinada na escola de Beslan vítima de terroristas, da criança que morre no Iraque ou na Palestina, vítima de bombardeios, da criança vítima do aborto ... E digo "criança", porque é vida humana no começo, em devir. Assistimos a mais um genocídio. Impotentes. Sentindo que perdemos nossa vida, cada vez que se perde uma vida humana, sentindo que perdemos Deus.

Vários autores comentam que na segunda guerra mundial, em Auschwitz, quando um grupo de judeus era conduzido para as câmaras de gás, alguém perguntou: "onde está Deus agora?" Uma voz anônima respondeu: "está morrendo asfixiado!"

Mata-se a Deus, quando se mata a vida, quando se mata o amor.

No ano 30 do século primeiro, Jesus, agonizante na cruz, junto a outros crucificados e sendo, apenas, mais um entre os milhares de crucificados pelo império romano, rezava um salmo de confiança extrema no sentimento extremo de abandono: "Meu Deus, meu Deus, porque me abandonaste?" E, naquele último suspiro de vida, momento de frustração de sua vida e de sua esperança na realização do reinado do amor de Deus no amor humano, no máximo possível de sua fé, ainda rezou: "Pai: em tuas mãos entrego o meu espírito".

Desde sempre os impérios tem crucificado e matado indiscriminadamente. Até hoje.

A ressurreição de Jesus é o grande grito que o próprio Deus nos lança desde a angústia do des-amor e da negação da vida, como que clamando um "basta!" para a morte.

Certamente, muitos dentre nós, enquanto a situação continuar como está, teremos que rezar, impotentes, arrependidos e confessos, que nem Santo Agostinho: "tarde te conheci, tarde te amei". Porque para as vítimas deste nosso desastre humano, realmente, estamos chegando tarde. Tarde demais.

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Santo Agostinho

Viveu no século IV na atual Tunísia, em plena decadência do Império romano de ocidente. Ele mesmo conta, em suas "Confissões", seu percurso espiritual na medida em que vai narrando sua vida. No momento, o Império Romano está se tornando cristão, mas o cristianismo convive com várias religiões e também com o antigo paganismo tradicional.

Sua conversão acontece aos trinta anos. Antes, ele se reconhece um grande pecador (hoje, não passaria de um "pequeno" pecador”). Foi considerado o maior orador de sua época, graças à fluidez e à sua capacidade de fazer jogos de palavras, em latim, naturalmente. Inteligência privilegiada, tentou encontrar a explicação do sentido do mundo, na religião de Manes ou maniqueísmo que vê o mundo sob a influencia de dois princípios: do Bem e do Mal.
Teve um filho fora de matrimonio que chamou de Adeodato e que morreu novo ainda. Sempre se considerou sua conversão como fruto das lágrimas da mãe, cristã fervorosa.
Mas, foi seu encontro com Sto. Ambrósio, Bispo de Milão, que levou decididamente Agostinho para a conversão, a partir da leitura de epístolas paulinas, se não lembro mal. Ambrosio foi uma figura impressionante pois, chegou a proibir a entrada na catedral do próprio Imperador Teodósio, considerado pelo Bispo de Milão, como pecador público.

Depois, Agostinho foi feito Bispo de Hipona por aclamação popular, seguindo o costume.

Certamente, a obra mais importante e seu percurso espiritual foi as "Confissões", onde a espiritualidade do homem aparece ligada ao amor.

"Ama e faz o que quiseres" (ama et fac quod vis), "Tarde te conheci, tarde te amei", etc. Ele encontra Deus no "intimior intimius meus" (no mais intimo de minha intimidade). Ele sabe que "quem ama cumpriu a lei" (isto é a torá, isto é, a inteira palavra de Deus).

Santo Agostinho é capítulo obrigatório no estudo da história da filosofia antiga.

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Santo Inácio de Loyola

Viveu no século XVI e foi filho segundão da nobreza vasca espanhola.

O momento é de grandes viagens continentais, de mudança da sede do Império Alemão para a Espanha recém nascida pela fusão dos reinos de Castela e Aragão, com o neto dos reis católicos, o Imperador é Carlos, neto de Maximiliano de Áustria, na Alemanha a teologia luterana, com o apóio do príncipes, está quebrando a unidade da Igreja e do Império, a corrupção reina na igreja, etc. Um mundo renascentista e humanista, uma riqueza formada por comerciantes e burgueses, etc. que estoura as estruturas medievais por todo lado.

Inácio, da nobreza, tenta em sua primeira juventude fazer carreira na corte espanhola. É parecido com Sto. Agostinho no fato de haver tido uma filha naquela época, além de participar de freqüentes brigas cavalerescas, etc. Aos vinte e oito anos é surpreendido numa batalha (ele não era militar), apoiando os direitos do novo Imperador, Carlos, contra as pretensões do herdeiro do trono de Navarra, apoiado pela França. Uma bala de canhão atinge a perna de Inácio que, ferido, volta para casa para os cuidados necessários.

Em casa, pede livros de cavalerias (o que corresponderia a nossos romances) para a cunhada, mulher piedosa que empresta o que tem: a Vida de Cristo, algumas vidas de santos, como S. Francisco, etc.

Já curado deixa a terra natal e vai para a Catalunha, Manresa, feito um mendigo. Refugia-se numa gruta, onde passa quase um ano em oração e discernimento, de onde surgira o esboço de sua experiência espiritual fundamental: Os Exercícios Espirituais. Depois vai para Terra Santa, volta para Espanha, faz-se estudante na Universidade de Salamanca, onde começa a transmitir seus exercícios espirituais a outros jovens que começam a abandonar tudo e a viver como mendigos. Cai nas mãos da Inquisição que não vê nada contra, mas o proíbe de pregar. Vai para a Universidade de Alcalá de Henares, perto de Madri, a mesma coisa. Só na Sorbonne de Paris poderá completar seus estudos e reunir seus primeiros companheiros e começar a aventura da vida religiosa que tomará forma definitiva na própria Roma. Depois, surge, formalmente a Companhia de Jesus, nome que indica claramente o sentido da ordem, como companheiros de Jesus. Jesus é o sentido da vida de qualquer jesuíta. Jesus está no começo e no fim. No meio está a vida e o mundo, onde realizar e fazer acontecer a presença de Jesus.

Santo Inácio passou a maior parte de sua vida vivendo como um mendigo, em hospitais (da época...) e servindo a pobres, doentes, prostitutas, etc. Santo Inácio e os jesuítas enfrentaram os desafios sócio-pastorais da época: a reforma da Igreja, com o concílio de Trento e uma nova evangelização, a fundação de colégios para estudantes pobres, as missões para os países recém descobertos (se alguém quiser pode ver o filme "A Missão" sobre o trabalho dos jesuítas nas reduções), a formação do clero, o serviço em hospitais, etc.

O lema inaciano é AMDG, abreviação de "ad maiorem Dei gloriam" (para a maior glória de Deus) que se traduz, na prática, numas frases, como "em tudo, amar e servir", ou em "encontrar a Deus em todas as coisas" (diríamos hoje, em todas as circunstâncias, situações, etc.). Ou na última meditação de seus exercícios espirituais, ou "Contemplação para alcançar amor".

Quando morre, há mais de mil jesuítas espalhados pelo mundo conhecido da época: desde a Índia até a América.

Hoje, os jesuítas encontramos o sentido de nossa ordem, no que nas últimas Congregações Gerais, se chamou "a promoção da fé e a luta pela justiça". Somos quase vinte e dois mil espalhados por todo lado...

Pe. Agustin Juan Calatayud y Salom sj
Padre, Pároco de Nossa Senhora da Esperança





EFEMÉRIDES EFÊMERAS

Sempre gostei dessas palavras. Elas parecem ter muita força. Estão envoltas numa aura de poder conferido pelo pouco uso, como se estivessem protegidas contra a banalidade do cotidiano. Mas, ao contrário do que parecem ser foneticamente falando, elas não dizem muito por quererem dizer variedades de forma passageira.
Vamos ao exemplo prático: sexta-feira, boca da noite. Enquanto ele dirige para tentar descobrir se o barulho no carro que penso ouvir existe realmente ou não, apesar de estar tentando com todas as forças acreditar que não existe, penso em paralelo (Sim! Somos multitarefa e podemos ter vários pensamentos concomitantes) estar medindo meu poder mental; então, no meio de todos estas divagações, acomodada no banco do passageiro, ouço: -Você está encolhendo mamãe? Sei que isso vai acontecer, penso antes de responder e respondo perguntando: - Por quê? Ele mostra seus joelhos quase tocando o volante e entendo o porquê da pergunta. Depois fala que é normal diminuirmos com o avançar da idade. Algumas coisas diminuem e outras crescem, como as orelhas e o nariz. Peço encarecidamente que pare o carro e me olhe atentamente de perfil. – O meu nariz ainda está no lugar ou já começou a ficar pendurado? E na seqüência, sexta-feira, noite alta: Paro, para abastecer, no posto de melhor preço. O bombeiro chega à janela do carro e com um sorriso Mona Lisa pergunta: - Tudo bem? Entre desconcertada e surpresa dou um sorriso amarelo branqueado e pergunto rapidamente: Por quê? Intimamente me indago se estou com a aparência preocupante. Será que o peeling foi muito forte e fiquei despigmentada? Minhas olheiras estão impressionantes? Ou será que meu nariz e orelhas já começaram a crescer e meu filho não quis me deixar triste? Numa fração de segundos percebo que tudo não passa do padrão de atendimento nota 10. Então respondo tudo bem e elogio a iniciativa provavelmente adquirida pelo poder de persuasão do último treinamento em qualidade.
Como efemérides efêmeras estamos levando a vida. A cada dia tantas informações se sucedem que sequer abraçamos seu conhecimento. Os acontecimentos passam com a mesma rapidez de uma paisagem vista pela janela de um carro de fórmula 1. As notícias, os e-mails que descem em cascata e predominantemente insinuam que temos mau hálito, ou estamos ficando brochas, carecas, sozinhos ou quando não, traídos. Tudo concorre para acreditarmos que nossa vida esta recheada de grandes porções de ilusão. Aliás, o que é mesmo realidade hein?
Não há tempo para maturar pensamentos ou sentimentos. É pegar ou largar. Na ânsia de se montar o cavalo alado chamado oportunidade se queima neurônios querendo agilizar o processo ou tomam-se decisões precipitadas. E perdidos entre cálculos custo X benefícios, quando nos espertamos, o cavalo já vai anos-luz de distância. A sensação mão-de-ampulheta, com o tempo areia fina escorrendo incontrolável entre os dedos, é angustiante. Olhamos os dias, semanas e meses que ficaram para trás e, se não há índices positivos de produção, a não adequação está configurada. Viver não é preciso. É preciso produzir.
E produzimos, nessa complexa máquina chamada sociedade pós-moderna ou do conhecimento, seres automáticos, superficiais, sincopados e tão especialistas que chegam a ser totalmente alienados do que não seja sua área. Ou tão generalistas, que confusos com a overdose de informações que circulam em todos os veículos, não conseguem emitir uma opinião própria, de relevante valor agregado, como se lê nos papers científicos.
Ah mundo louco, contraditório e maravilhoso! Quando iremos ter a deliciosa sensação da insustentável leveza do ser sem ter que lançar mão de outros aditivos químicos que não as próprias endorfinas?

Ana Cristina Cavalcanti Tinôco


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Beco da Lama, o maior do mundo, tão grande que parece mais uma rua... Tal qual muçulmano que visite Meca uma vez na vida, todo natalense deve ir ao Beco libertário, Beco pai das ruas do mundo todo.

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