sábado, outubro 08, 2005

SENHOR, O MAR JÁ SE CUMPRIU

Marcus Ottoni


“Questiono a oportunidade de se fazer isso agora, na improvisação, quando existem questões mais prioritárias. É como se já tivéssemos resolvido outras formas de violência, como o desemprego e a fome.”
Caetano Veloso, sobre o referendo da comercialização de armas.



Clara Nunes

PRATODOMUNDO
II FESTIVAL GASTRONÔMICO DO BECO DA LAMA
15, 22, 29 DE OUTUBRO
05 DE NOVEMBRO DE 2005


Desarmar o cidadão,
é o mermo, faça fé,
que colocar o Ricardão,
prá pastorar sua muié!...

Bob Motta




Mentiras do rio...

Mentiras do rio e do revólver. Referendo e greve de fome. Tudo girando em torno de uma monumental mentira. Ou um monumento repartido em várias mentiras.

Vejamos. Quem diz que tirar água do São Francisco vai matar o rio, mente. E sabe que mente. Até porque nenhum rio consegue viver com todas as suas águas. E por isso as despeja no mar. “O rio nunca é o mesmo. É sempre outro o rio que passa”. Quem diz que a transposição das águas do São Francisco será a redenção do Nordeste setentrional, também mente. E sabe que mente. Fosse verdade essa “promessa”, as cidades ribeirinhas, de rios perenes, não seriam pobres. Colégio e Propriá, Juazeiro e Petrolina, seriam paraísos do Nordeste. E todos sabemos que não é verdade.

Essas são as mentiras do rio. E no meio de tudo, muita demagogia. Demagogia sacra e profana. O bispo deveria fazer greve de sede e não de fome. Porque de fome já vivem em greve os seus paroquianos. Fome de seculares anos.

Outra ausência de verdade é o referendo. Maconha é proibida? É. Cocaína é proibida? É. Metralhadora é proibida? É. Fuzil é proibido? É. Falta maconha? Não. Falta cocaína? Não. Falta metralhadora? Não. Falta fuzil? Não. Quem garante que o revólver proibido desaparecerá? Esse referendo é só do revólver. Não inclui faca nem bazuca.

Rio, revólver e muita mentirstrong

Vamos fazer um referendo proibindo a mentira política. A pergunta será a seguinte. “Você é a favor da abolição da mentira nas campanhas políticas”? Você responde que é a favor. Adianta? Adianta não. Os políticos dirão que abolição não é o mesmo que extinção. E aí faremos novo referendo.

Isso é que é Democracia direta. Diretamente ineficaz. Viva o Barão de Itararé. Como morrer se não temos onde cair mortos? Quem vai guardar os revólveres do mercado da Quatro? E os do Planalto. E de Mãe Luíza?

Quero ver o bandido, na frente das câmeras, responder ao repórter que lhe pergunta onde adquiriu o revólver: “Esse aí, senhor, eu comprei no referendo!”

François Silvestre
Tribuna do Norte, 08/10/2005




ESSE VERBETE DE REFERÊNCIA

(ou: porque fratura não se expõe impunemente)

não era Donne em versos indo para o leito,
tampouco Caetano ali cantava,
mas Ela, misturando os dois, dizendo:
"quando ele sobre mim e dentro dança lento",
e eu, que já nem sei se lento ou não nela dançava,
sei que mais dentro (sob ou sobre?) me deixava.

ao lado a lingerie recém-comprada
e ainda não usada (olha a surpresa:
trazia entre os dentes e mais nada,
assim, só pele e poros, nua em pêlo),
ao lado, eu dizia, aquele mimo,
que a mão, à meia-luz, fiz que enxergasse,
lacei sua cintura e obediente
deixou (fez que deixou) que eu comandasse.
as ancas alternando ora espirais,
ora fluxos de um percurso sul e norte
— e ora tudo isso quando em 8.

sim, és linda e única e máxima e sem decência.
és meu verbete de referência,
disse.

e ela, de presente, a linda, fez
seu cabelo, todo ele em desalinho,
por campana em meu rosto:
a vida era ali dentro: cheiro e gosto.
o mundo era lá fora: burburinho.

poemas me acorriam, delirava.
sonetos nascituros declamava:

"amemo-nos do amor que mata e vive,
sem meias concessões, de tudo ou nada.
do amor do mais amado e mais amada,
que nunca, sei, tiveste e nem eu tive."

mas, não.
ali era o poema em carne viva.
ali qualquer palavra soçobrava.
teus peitos, minha boca, teus cabelos,
meu corpo inteiro entregue, tuas coxas.

amei quando disseste erguendo o queixo:
pu...
(verbete meu e referência minha,
fratura não se expõe impunemente.)
...taquepariu.

então te chamo, abraço e beijo
e em mim tu dormes.

Antoniel Campos




PARA SUBIR FOI PRECISO DESCER

Antes mesmo de chegar o verão, é um desassossego. Sofrem todos. Sofre quem ama a casa de campo; e mais ainda sofre quem ama a casa de praia. É o meu caso. A cidadania me permite dispor de uma residência de verão, situada na avenida atlântica, guardada por coqueiros, olhando o parracho seco. E nela, a cada ano, tradicionalmente passo todo o mês de janeiro.

O sofrimento chega quando, em outubro/novembro, tenho de rever as instalações, atualizar a manutenção dos aparelhos, selecionar os compact disks que escutarei nos alpendres da ampla casa, separar as garrafas do singelo Old Parr, envelhecido até no nome, que ali beberei.

Pena estar sendo abandonado pelo vizinho de condomínio, bom companheiro de degustação. Domingo último, por sinal, me submeti a parte dessa dolorosa rotina. Uma permanência tão penosa como a travessia. Foi assim que reencontrei o talento de Clara Nunes. Faixa dez. Lama por título.

De lama tem sido, refleti desde então, o mar onde flutua uma nau. A nau dos corruptos, cuja tripulação é formada por bizarras criaturas, sob o comando de um barbudo capitão, e de cujas faces pendem as mais diversas máscaras. A do político, do assessor, do jornalista, do metalúrgico, do dirigente sindical, do empresário, do banqueiro, do policial, do juiz, do marqueteiro, do governante. É a respeito dessa gente que fala a canção de Clara Guerreira. Todo mundo quer subir. A concepção da vida admite. Ainda mais quando a subida tem o céu por limite.

Infelizmente, a voz de Clara não parece soar clara aos ouvidos dessas pessoas. Elas, buscando atingir o mais alto degrau da fama, do poder ou do dinheiro, pouco ou nada se importam com a ética. Menos ainda se importam com o patrimônio público. E com as expectativas do povo. Seu esforço é, tantas vezes, coroado de êxito. Um êxito aparente, tal qual o obtido pelo sujeito que ganha a disputa do “pau-de-sebo”. Eles sobem, sim. Chegam ao topo. Arrancam o prêmio. Mas a subida lhes cobra o preço de tantas descidas. Tomara lhes cobre ainda um preço muito mais elevado.

Deus me livre, porém, de chorar o lamento de Clara Mineira. O que eu quero é celebrar a inocência da grande massa. Homens e mulheres do bem. Homens e mulheres de bem. Todos armados com a esperança do futuro. Todas armadas com o amor do presente. Esperança e amor com que temperam o repúdio, quase nojo, à lama e aos seus habitantes.

Livre-me também Deus de embarcar nessa nau. Dela não pretendo ir a bordo, pois fazê-lo seria não navegar. E navegar é preciso. Como preciso é conhecer meu rumo, se quiser navegar. Meu rumo, já o indicou Lulu Santos, não é nessa direção.

A propósito, quanto a mim, o roqueiro em pauta não entra em pauta, sendo o assunto predileção musical. Daí, o aviso: no janeiro vindouro darei preferência aos fados de Dulce Pontes. Quem sabe assim os fados da minha pátria não seguirão aqueles da minha língua. E eu saborearei canções do mar, na companhia do Poeta. A ele, como em prece cívica, direi: Senhor, o mar já se cumpriu. Falta agora cumprir-se o Brasil.

Taumaturgo Rocha




sexta-feira, outubro 07, 2005

MULHER

Marcus Ottoni


“As pessoas que usam o humor como linguagem estão desiludidas. O cartunista, tradicionalmente, é de esquerda e está ferido com essa situação. Atingido no seu sonho, às vezes ele é ácido e cruel demais com os seus líderes.”
Professora Maria Inês Gurjão, do departamento de Comunicação Social da PUC.


Essa novela acompanho desde o começo. (...) Dirceu é o vilão, no fim ele se casa com a mulher do Buani e foge para Cuba.
Rita Lee





Prato do Mundo

O II FESTIVAL GASTRONÔMICO DO BECO DA LAMA E ADJACÊNCIAS DÁ O PONTAPÉ INICIAL PARA O PROJETO “CORREDOR CULTURAL”, DE INICIATIVA DA AGÊNCIA CULTURAL SEBRAE/SESI, QUE PRETENDE REVITALIZAR O CENTRO DA CIDADE.

Por Leonardo Sodré,

Em parceria com a Agencia Cultural SEBRAE/SESI, a SAMBA – Sociedade dos Amigos do Beco da Lama e Adjacências inicia no próximo dia 15 de outubro a promoção gastronômica “Prato do Mundo”, que irá contemplar os restaurantes e botecos do centro da cidade. O último festival aconteceu em 2003, numa promoção de apenas um dia. Nessa segunda edição, ele acontecerá em quatro sábados, nos dias 15, 22, 29 de outubro e 05 de novembro, sempre a partir do meio-dia.

O festival não ficará restrito à questão gastronômica. Durante o evento, acontecerão shows musicais, recitais poéticos e exposições de artes plásticas na conhecida “quatro bocas”, que compreende o encontro das ruas Dr. José Ivo (Beco da Lama) e Coronel Cascudo. Músicos como Romildo Soares, Carlança, Giancarlo, Pedrinho Mendes, Carlos Bem, Neemias, Terto e algumas bandas, tocarão do MPB até jazz e blues durante os quatro sábados do evento. As pinturas de Eduardo Alexandre, Franklin Serrão, Assis Marinho, Marcelus Bob, Valderedo Nunes e Fábio Eduardo, entre outros, também serão expostas, bem como os recitais poéticos por vários poetas, entre eles Plínio Sanderson e Antoniel Campos.

O Beco da Lama e suas adjacências são um conhecido reduto de boemia, onde se concentram jornalistas, escritores, poetas, artistas plásticos, comerciantes da região e gente do povo. Conhecido palco de discussões democráticas, aquela região histórica de Natal está recebendo atenção especial da SAMBA – Sociedade dos Amigos do Beco da Lama e Adjacências e da Agencia Cultural SEBRAE/SESI, que, juntos, intensificam esforços para a consolidação de um Corredor Cultural, que vai do centro da cidade até o Teatro Alberto Maranhão.

Para Eduardo Viana, gerente da Agencia Cultural SEBRAE/SESI, a parceria do SEBRAE com a SAMBA “é fundamental para que o Projeto caminhe na direção do sucesso, porque a Sociedade dos Amigos do Beco da Lama e Adjacências mantém uma relação contínua com os comerciantes da região, notadamente com os que promovem a parte cultural e gastronômica. A revitalização que se pretende com a implantação do Corredor Cultural não está somente calcada na questão do divertimento, da boemia. Ela tem uma amplitude muito maior, que visa, entre muitas ações, a preservação do sítio histórico de uma região que ficou à deriva durante muitos anos”.

Os bares e restaurantes que irão concorrer aos prêmios de 600 reais (1ºcolocado), 400 reais (2º colocado) e 300 reais (3º colocado), conforme o regulamento do festival, já apresentaram suas listas de pratos que colocarão à disposição dos jurados, formados por representantes do povo e chefes de cozinha, que, através do sistema de degustação nos três primeiros sábados da promoção, decidirão quais os três finalistas que disputarão abertamente no de 05 de novembro, quando três renomados chefes de cozinha, decidirão sobre o melhor prato apresentado.

O evento conta também com a parceria da Prefeitura Municipal de Natal, através da FUNCART e do Governo do Estado, através da Fundação José Augusto.

Maria Boa

Durante o evento, o Engenho Mucambo irá lançar a cachaça que leva o nome de Maria Boa.

Esse lançamento é muito oportuno porque homenageia uma importante figura da história de Natal da II Guerra, quando a cidade recebeu tropas aliadas a caminho da África, e pós-guerra, sendo o Maria Boa um cabaré com glamour todo especial, de uma época que cheirava à Maria Boa, a cachaça.


M U L H E R

Mulher
Pedaço de Deus colocado na terra
Pra tornar nossa vida mais bela

Mulher
Beleza do mundo trazida do céu
Pra fazer nossa vida mais doce que mel

Mulher
Obra prima que a natureza criou
Se tem algo mais lindo, Deus, aqui não deixou .

Manoel Bomfim



M U L H E R

Cabra qui se acha invocado,
acredite se quisé.
Diz qui o cão fêiz a muié,
mais tá é munto inganado.
Adão tava era infadado,
caiu num sono profundo.
Papai do Céu, num sigundo,
lhe deu, prá sua alegria,
a muié pru cumpanhia,
qui é a coisa mió do mundo...

Bob Motta



O VIAGRA DO MATUTO...

O viagra do matuto,
é uma cabôca facêra,
cum a sua bôca incarnada,
zanzando no mêi da fêra.
Daquela qui só cum o oiá,
faiz o cabra imburacá,
de noite, na capuêra.

É seu côipo arrupiado,
mode um chêro in seu cangote,
qui nem sapo atráis da gía,
iscundido atráis do pote.
É o intrançado de perna,
no quilaro da lanterna,
da lua, atráis de um serrote.

É um copo de "te atola",
qui eu te digo, meu irmão:
É raspadura rapada,
cum água bem fria e limão.
É uma saia alevantada,
pru detráis de uma latada,
numa noite de São João.

Arriba de tudo isso,
é caríin de uma muié.
Seus biliscão e suais unha,
da cabeça inté o pé.
Se isso aí num resôivê,
num ai remédio, pode crê,
qui bote o "troço" de pé...

Bob Motta



Merece Toca de Touro

Meméia bruxinha linda
Tu tá longe ou tu tá perto?
Lhe digo com alma limpa
Num querendo ser esperto
Muié que a gente ama
Nunca poderá ser fêia
Cabra que ela difama
Merece é levar pêia

Caba que num sabe amar
Fica oiando a dos ôtros
Deixa a sua a lhe esperar
Ela um dia arranja ôtro
Vai ficar chupando o dedo
Com grande lamentação
E assim vai criar medo
Pra aprender bem a lição

Num tem coisa mais mió
Que da muié o carinho
É coisa boa que só
Drumir bem agarradinho
Purisso sou um amante
Do calor que isso faz
Dum xamego aconchegante
Tanto na frente ou atrás

O lugar num mi importo
Bom mermo é se agarrar
É assim que me comporto
Na hora de se deitar
Só nois dois ali na cama
Num só nó a se apertar
Muié pra mim é dama
A qualquer hora ou lugar

Entonce o cabra sacana
Que véve cerca pulando
Atrás de outras fulana
Deixa a sua circulando
Merece toca de touro
Para a cabeça enfeitar
Falo isso sem agouro
Qué pra ele se cuidar

Manoel Bomfim




quinta-feira, outubro 06, 2005

SÃO FRANCISCO

Marcus Ottoni


Ele é que é o rei do trambique, o rei do trambique.
Senador Tasso Jereissati, PSDB - Ce, referindo-se ao presidente Lula, para, logo depois, pedir desculpas pelas palavras.

Marcelo Barroso/TN


Assis Marinho pinta um São Francisco,
tema muito presente em sua obra


SÃO FRANCISCO - PROTETOR DE TODOS OS ANIMAIS
Poema Matuto

São Francisco, no meu verso,
arreceba a saudação.
O Sinhô qui aos animá,
istende sua potreção.
Apruveitando o seu dia,
quero na minha poesia,
tombém lhe pidí perdão.

Pru tudo de rim qui eu fiz,
no meu tempo de iscola.
Pru todos uis passaríin,
qui eu prindí numa gaiola.
Puros níin qui eu dirrubei,
sem querê, quando chutei,
muntas vêiz, jogando bola.

Puras ribaçã e rolinha,
qui à noite eu cacei "no facho".
Puras piaba qui istruí,
nais vertente duis riacho.
Puros quixó qui eu armei,
no sertão adonde andei,
ceicado à riba e abaixo.

Puras sariema qui eu,
cumí cumo tira gôsto.
Qui hoje in dia, eu matutando,
inda choro de disgôsto.
Quando o dia vai raiando,
num ôiço mais elas cantando,
mode eu me acordá dispôsto.

Certa vêiz eu acertei,
puramente por mardade,
uma "lavandêra", andurinha,
Infilirmente é verdade.
A tristeza inda me dói,
e o remorso me corrói,
mode essa prevessidade.

Hoje eu tô arrepindido,
de tudo isso qui fiz.
Mais, graças a Deus cuntinuo,
sendo um eterno aprindiz.
O remorso me cunsome,
pru tê caçado sem fome,
fingindo qui era feliz.

São Francisco, naquele tempo,
nais cidade e no sertão,
num tinha uis aprindizado,
qui hoje in dia existe não.
Num se era penalizado;
caça e pesca, no passado,
era pura divéição.

Ninguém tinha cunciença,
qui alí, tava cumetendo,
um crime sem precedente,
matando uis bichíin e cumendo.
Nóis, caçadô sastisfeito,
inté batia nuis peito,
e a natureza sofrendo.

Hoje, cuncientizado,
no teu dia cum emoção,
te cunfesso esses pecado,
de áima e de coração.
Nuis meus verso, tão sòmente,
São Francisco, humirdemente,
eu te peço o teu perdão...

Bob Motta




Catástrofes

Dor.
Não a de resfriados.

Pranto.
Que não faz barulho
Nem escandaliza
Por agrados;
Que não produz
Lágrimas secas,

Mas que vaza
Sobre o entulho
Das paredes
Do sangradouro;

Da aorta que,
Seccionada,
Inunda almas,
No mais autêntico
Desdouro.

Perda.
Que difere
Do escândalo,

Ainda quando
Se quer reprovar.

Que não se recupera
Com afagos;

Que é “pouco” sentida
Quando se lhe poupam
A vida
E as vidas
De quantos ainda
Se pode contar...

Robério Matos




O Escritor de Obituários

A casa 1113 da Rua Morton parecia abandonada, não fosse pelo jornal que era arremessado pelo jornaleiro, ao pé da porta, todas as manhãs. Ali ficava, intacto, todo o dia. Era recolhido somente durante a noite. A aparência macabra da 1113 dava-se pelo aspecto de abandono que possuía. Durante anos, as estações haviam castigado o exterior da casa. A chuva, o sol e a neve encarregaram-se de descascar a maior parte da pintura, e desbotar, para um cinza-sombrio e sem vida, o que havia restado. Capim brotava feroz de cada fissura da passarela de entrada, quase obstruindo o caminho até a porta. A lâmpada externa, que deveria iluminar a frente da casa, pendurava-se pelo fio também desbotado com o tempo. Ouvia-se, na mais tênue das brisas, o Clang, Clang, Clang da haste de metal que segurava a lâmpada, batendo contra a parede.

A rua Morton era diferente de qualquer outra à noite. Ouvia-se o ranger da dobradiça da porta da frente uivar, como uma sinfonia de mortos cada vez que a mão enluvada pinçava o jornal, recolhendo-o. Era o mais horrendo dos gemidos. Uma suplica que ainda hoje ressoa nos meus ouvidos. Além do jornal, as provisões também chegavam por entrega. E do mesmo modo eram recolhidas.

Observei essa rotina dos sete aos 17 anos. Ninguém entrava. Somente o vulto corcunda saía, deslocando-se a passos de tartaruga pela calçada até o pequeno posto do correio, da também pequena cidade de Pine Bush ao norte de Nova York. Tudo se repetia noite após noite, após noite...sempre a meia noite. Sempre!

Fiz da rotina dele, a minha. Não em ir até o correio, mas em observar o velho corcunda vagando na noite. Observei tudo da pequena janela de primeiro andar da casa de meus pais. A árvores que beiravam o limite do jardim de frente da minha casa e a Rua Morton, serviam, de certo modo, para me esconder e não ser visto. Aproveitei minha solidão para poder acompanhar a vida deste homem sem amigos e sem família. Deste homem sem face. Digo isso por nunca ter visto sequer a cor de seu cabelo. A escuridão impossibilitava meu olhar investigativo. Tentei em algumas ocasiões me posicionar de modo que me fosse favorável à visão do homem, mas não consegui ver o que procurava. Usava uma capa preta, que começava dos joelhos e terminava na altura da face com seu colarinho levantado. O zíper puxado até o último trilho repousava acima do dorso do nariz. Um gorro preto descia até a altura das sobrancelhas, deixando apenas os olhos descobertos. Dos olhos nada pude detectar. A escuridão reluzia apenas o brilho natural deles. Pareciam duas contas pretas. Nas mãos levava sempre um envelope.

Sua imagem noturna me encantava. Instigava minha curiosidade. O homem da noite. Um homem sem medo do escuro. Um homem sem medo da solidão. Parecia ter escolhido aquele horário deliberadamente. Talvez desejasse evitar contato com estranhos. Parecia um vilão e ao mesmo tempo um super-herói. Havia se tornado minha única companhia por anos. Eu do pequeno quarto, ele da rua.

Pouco antes da meia-noite eu acordava e corria para janela para vê-lo ir ao correio e colocar o envelope por baixo da porta. Esperava sempre seu retorno.Nos últimos anos, minha presença fora detectada. Com isso, a rotina do velho também mudou. Éramos os únicos acordados. Eu e ele. Dois solitários da madrugada. Senti que não lhe incomodava. Quem sabe, por mais singular que seja esta situação que descrevo, fora eu, o único amigo daquele ser misterioso. Compartilhamos o ranço da solidão. Eu da janela, e ele da rua. Passei a usar gorro e casaco e nunca me deixei ver de frente. Mantive sempre a luz do quarto apagado, e de minha silhueta, suspeito que ele apenas vira os contornos desproporcionais que minha indumentária formava. Passei a acenar para ele tanto na ida quanto na volta do correio, mas sempre com a mão enluvada. Acho mesmo que quis imita-lo. Funcionou. Passou a retornar os acenos.

Após seu retorno do correio, passou a devolver o jornal à calçada com a mesma discrição que usara para busca-lo. Primeiro, o rugir da dobradiça; depois a mão, com a delicadeza de um perito em bombas, colocava o jornal próximo ao batente da entrada. Interpretei aquela atitude como uma forma de fazer contato comigo, já que até então jamais havia retornado jornal algum à calçada.

Fui impulsionado por uma curiosidade sufocante, e o impulso de buscar o jornal inquietava-me as noites. Não resisti. Pela primeira infringi a lei. Fui até a entrada da passarela que levava à porta. Ponderei por alguns segundos minha decisão. Convenci-me de que era tarde demais para recuar. De onde eu estava, podia ver o jornal embrulhado em um saco plástico. Meu coração martelava rápido e forte por trás do meu peito.A distancia parecia curta o suficiente para um disparo rápido. Minhas pernas estavam pesando o dobro que o normal. Olhei para as janelas, e pensei que eu era quem poderia estar sendo observado desta vez. Segurei o fôlego e disparei em direção ao jornal. Peguei-o pela ponta do plástico e retornei na mesma velocidade para casa. Subi para meu quarto, dei uma última olhada pela janela e rasguei o saco.

O jornal encontrava-se intacto, salvo um circulo em vermelho de caneta que destacava a seção dos obituários. Anunciava a morte de uma pessoa que não era da localidade. Não entendi. Recolhi os jornais todas ás noites, por meses. Todos com as mesmas características, mas sempre destacando pessoas diferentes e que nunca eram residentes locais.

Havia me doutrinado aquela rotina de observar o velho corcunda caminhar nas noites. Subitamente tudo parou. Três dias se passaram, e nada dele sair ou sequer buscar os jornais que se amontoavam pelos batentes da entrada. Achei estranho. Chamei a policia. A primeira viatura parou na entrada da garagem. Fui até lá. Ao me aproximar da passarela senti um odor estranho que pesava no ar. Um fedor distinto de todos que já havia sentido. Dois policiais dirigiram-se até o batente da frente, e com os nós dos dedos bateram contra a porta. Após alguns segundos de espera, decidiram arromba-la. Apressei o passo até a entrada da sala. Lá estava meu amigo estirado no chão. Morto. O cheiro...ohhh...o cheiro. Jamais esquecerei aquele cheiro. Folhas de caderno coladas na parede forravam toda extensão do recinto de cima a baixo. Todas continham apenas um parágrafo manuscrito. Tratavam-se de obituários. Todos! Sobre a escrivaninha, um envelope aberto com uma folha dentro e um cheque nominal, chamava atenção. Na frente, como destinatário, em letras grandes, lia-se: REDAÇÃO DO SUNDAY TIMES – DEPARTAMENTO DE OBITUÁRIOS.

Peguei algumas das folhas sem que os policiais percebessem, me despedi, e retornei para casa com passos largos. Espalhei as folhas no chão e comparei com as dos jornais que havia juntado nos meses que se passaram. “Aha!” falei inconscientemente. Os obituários circulados nos jornais eram os mesmos que haviam sido escritos nas folhas.

Uma semana após a morte do meu amigo, o Sunday Times publicou em nota oficial, a lista com todos os nomes fictícios que haviam sido publicados nos obituários.

Durante aquela semana, fui dominado por uma depressão profunda. A solidão havia retornado. Mais forte desta vez. Cheguei a passar horas observando da janela, mas a rua Morton nunca fora tão deprimente. O escritor de obituários muito me marcou. Mesmo no mundo de sua solidão, foi uma companhia leal e importante naqueles anos, onde o espírito de um jovem se forma para o mal ou para o bem. Minha hora havia chegado, e fiz o que era mais apropriado para o momento ¾ escrevi o obituário, daquele tanta companhia me havia feito ao longo dos anos.

Há cinqüenta e dois anos, perdi meu amigo, mas sua imagem noturna nunca me abandonou. Oh! Meia- noite... Preciso ir ao correio...

Charles M. Phelan




terça-feira, outubro 04, 2005

ESPERADO OURO

Marcus Ottoni

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"Quem paga o pato é o povo." Luís Inácio Lula da Silva, presidente do Brasil
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Esperado Ouro

Caro Dunga,

Estou aqui com Marize Castro, que lhe convida para o seu lançamento em 11 de outubro, às 19 horas, no Teatro da FJA.
O livro se intitula: Esperado Ouro.
Todos esperávamos!!
Abraços de
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Lívio Oliveira


MEU FOGO NUM SE APAGÔ

Já tive o fogo do jove!
Porém, o peso da idade,
cum tôda sinceridade,
êsse fogo arrefeceu.
Prá alegria do véíin,
o peste só se acaimô.
E o tezão do trovadô,
num se apagô nem morreu.

Quem tá dizendo é eu:
Inda faço minha fé!
O tá do "bicho muié",
me anima e "dá reinação".
Apesá de cinquentão,
eu inda dô meu recado;
e só tô apusentado,
p'rumas coisa e p'rôtas não.

A minha situação,
num é rim e dá p'ro gasto.
Quaiqué um tipo de pasto,
faiz minha alimentação.
O meu fogo "é de munturo";
tem parença de apagado,
mais tá é aceso, o danado;
é o qui se chama tezão!...

Bob Motta



A menina do cemitério


Essa história aconteceu há pouco tempo atrás, mas somente agora ganhei forças para contá-la.

Nascido em Pendências, mas órfão de pai e mãe desde a infância, fui criado em Natal, mais exatamente em uma tranqüila rua do Alecrim por minha tia Lucia e por seu marido, que eu chamava de Tio Baltasar. Ele, coitado, morreu de cirrose no dia do meu aniversário de quinze anos. Minha tia passou a ser minha única referência afetiva e vice-versa. Jamais tive o que me queixar dela ou da vida. Fui bem criado, estudei em ótimas escolas, entrei na universidade e por fim formei-me em Educação Física.

Incentivado por tia Lucia, fui fazer um curso de um mês em Recife sobre técnicas desportivas. Foi na capital pernambucana, porém, que recebi a noticia que tia Lucia havia morrido, vítima de infarto. Confesso que viajei chorando durante as quatro horas de ônibus que separam Recife de Natal.

No enterro, no Cemitério do Alecrim, poucos parentes, uma e outra amiga e eu, me sentindo, pela primeira vez, sozinho no mundo. Após todos irem embora, ainda fiquei um bom tempo a olhar para os túmulos e mausoléus, até que o zelador gentilmente me mandou embora, advertindo que era hora de fechar.

No dia seguinte voltei ao cemitério. Depositei mais flores no túmulo de minha tia. Sem que ninguém me visse – era proibido fumar ali, me dissera o zelador – acendi um cigarro a vagar pelas ruas no cemitério. Tantos anos morando no Alecrim e eu jamais entrara ali até então, afinal, meu tio fora enterrado no interior e nenhum conhecido ou amigo jamais fora sepultado naquele solo.

Na segunda semana sem tia Lucia, trabalhando em uma escola apenas de manhã e com a tarde e noite livres, passei a dedicar mais tempo a pensar na morte em si do que na perda específica da minha tia. Não sentia vontade de sair ou beber com os amigos, e tampouco estava atrás de companhia feminina, posto que havia terminado um longo namoro havia alguns meses. Também comecei a ir três vezes por semana ao cemitério, ambiente que me parecia cada vez mais familiar. Fiz amizade com o zelador, os funcionários. Conheci a administradora do local, dona Lenilde. O cemitério tem o poder de convidar à reflexão e mais que morbidez a visão de tantas pessoas que se foram me trazia uma estranha espécie de paz, em lugar de repulsa ou morbidez.

Em uma dessas tardes, passeava pelos túmulos, contemplando alguns imponentes, como o de Pedro Velho de Albuquerque Maranhão, quando de repente avistei uma jovem na minha frente, a me olhar como se eu estivesse fazendo algo errado.

- Estou observando você há alguns dias...-sorriu

- É, eu estou vindo aqui com freqüência respondi, atordoado com a abordagem.

- Eu também gosto muito daqui. É calmo, tranqüilo, tão diferente do mundo...

- Você mora aqui no Alecrim?

- Exatamente.

- Qual seu nome?

- Aurélia – sorriu. Um sorriso doce, sereno. Reparei então na menina, de longos cabelos castanhos se derramando pelo vestido azul claro. Os olhos, imensos, vivos, fixos em mim. Deveria ter entre dezoito e vinte anos. Bela como poucas eu tinha visto.

- Bem, vou te deixar na sua caminhada. Até logo – sorriu, se afastando. Tentei falar algo para impedi-la de ir, mas as palavras não saíram. Pensei em rodar pelas ruas do cemitério, que afinal não era tão grande assim, mas desisti. Voltei para casa com uma sensação estranha, de quem deixou para trás algo importante.

Passei boa parte da noite pensando na menina. Aurélia, lembrei do nome.

No dia seguinte, retornei ao cemitério. Talvez nem tanto para prantear sobre o túmulo de tia Lucia, mas para procurar Aurélia. Não foi difícil encontrá-la. Passeava entre os túmulos, como se o local fosse um parque, não um cemitério.

- Boa tarde.

- Boa tarde, Aurélia.

- Lembra meu nome...

- Claro. Como poderia esquecer? – sorri. Ela perguntou o meu – Carlos – o que não fizera no dia anterior.

- Gosto daqui – comentou com ar triste – Acho que já me acostumei

- Qual a sua idade?

- Quantos anos você me dá

- Vamos ver...dezoito?

- Errou...- disse, após certa hesitação. Eu estava certo que ela tinha dezoito.

- Vou tentar novamente...dezenove?

- Errou de novo. Mas desista, não vou dizer minha idade...

- Está bem, você manda.

- Vamos passear pelo cemitério? – indagou. Eu já o fizera tantas vezes sozinho naqueles dias tristes... Que bom seria fazê-lo com uma mulher linda pela qual eu estava fascinado.

Pelas ruas do local, contemplamos os imponentes mausoléus familiares, vimos os túmulos dos judeus, com inscrições em hebraico...Aurélia me levou também para os túmulos dos três soldados ingleses que morreram no oceano, em 1944, durante a 2ª Guerra Mundial e que foram sepultados em solo natalense.

- Todos os anos as famílias e oficiais ingleses vêm aqui no cemitério rezar pelas almas deles e limpar os túmulos. Pode observar que são dos mais conservados deste cemitério... – explicou. Fiquei impressionado com seu conhecimento do local. Algo mórbido, sem dúvida, mas todo mundo tinha algo de louco. Das mulheres que eu conhecera até então quantas não tinham hábitos mais estranhos que os de Aurélia?

Por fim, andando por uma rua solitária, entre túmulos mal conservados, paramos subitamente, como se tivéssemos combinado. Olhei-a com atenção, enquanto sentia meu coração disparar.

- O que foi? - perguntou

- Você é muito linda... – respondi. Não precisamos de mais nada para nos enlaçarmos em um beijo. Assim ficamos por um bom tempo, sem palavras. Apenas os lábios e os braços em movimento.

- Está na hora de eu ir... – comentou, vendo que já estava anoitecendo

- Eu te deixo em casa

- Negativo. Você vai, e eu fico. Depois vou para casa.

- Por que isso?

- Eu quero assim.

- Mas eu quero te ver.

- Você vai me ver. Mas, aqui.

- Por que? Não consigo entender.

- Não precisa entender, basta concordar. Amanhã á tarde aqui mesmo, está bem, meu amor?

Como resistir? Concordei com aquela maluquice. Fui para casa meio apaixonado meio aborrecido. Por um lado, estava enfeitiçado por aquela mulher, por aqueles beijos...Por outro pensava se ela não queria me fazer de palhaço. Teria ela se comportado da mesma forma com outros homens? Seria uma tara dela querer se encontrar apenas no cemitério?

De qualquer maneira, no dia seguinte lá estava eu no cemitério. Estava acontecendo um sepultamento, portanto, de início não consegui encontra-la com o fluxo de pessoas. Por fim, na rua colada ao muro da rua Rafael Fernandes, bem próxima ao mausoléu da Liga Operária Norte-riograndense, encontrei a minha Aurélia.

Durante duas horas praticamente só nos beijamos e trocamos palavras de carinho. Mas, eu estava decidido a dar um rumo novo à nossa história.

- Vamos ao cinema,

- Não quero.

- Para onde você quer ir? Basta dizer que iremos.

- Quero ficar aqui mesmo

- Mas Aurélia...

Ela começou a lacrimar... – Quero que goste de mim do jeito que sou... – murmurou.

Como não ceder? Ficamos lá, entre os túmulos e fugindo do olhar desconfiado e vigilante do zelador. Ao ir embora –sozinho – pensei em ficar de tocaia na porta do cemitério e segui-la quando saísse, mas fiquem temerosos de ser flagrado e envergonhado de minha baixeza, fui para casa. Passamos a nos encontrar no cemitério. Em duas semanas, foram pelo menos seis encontros. Era estranho, admito, e parece absurdo, mas eu estava feliz, e quando se está feliz, tudo parece normal. Imaginei que ela tivesse vergonha de sua família, com um pai alcoólatra ou coisa parecida. Poderia ser também que fosse muito humilde e não quisesse que eu visse onde morava. Seja como for, decidi que enquanto eu estivesse me sentindo bem com a situação, não forçaria a barra. Um dia ela vai querer ir a um cinema, à praia, e então poderemos viver como um casal normal, pensei.

Contudo, em uma tarde algo nublada, fui ao cemitério e Aurélia não apareceu no local combinado, em frente ao túmulo de João Câmara. Esperei por uma, duas, três horas, até o cemitério fechar, e nada. Andei a esmo pelas ruas em volta do cemitério, entrei em bares, procurei em paradas de ônibus e nada. Voltei para casa com uma tristeza sólida sobre a minha cabeça.

No dia seguinte, lá estava eu de volta ao cemitério. Andei pelas ruas e nada. Até que, próximo à capela, encostei-me em um tumulo deteriorado e coloquei as mãos nos olhos. Fui despertado deste breve transe por um funcionário do cemitério, um rapaz alto que eu sempre via mas jamais havia trocado duas palavras. – Tudo bem com o senhor? – perguntou.

- Mais ou menos – respondi.

- Eu posso ajudar em alguma coisa?

- Na verdade, não. Estou esperando uma menina...

- Se é para visitar algum túmulo, eu até posso ajudar a encontrá-la. Se for para namorar, como tantos aqui tentam fazer, o zelador não vai gostar nada disso.

- Bem, eu fico até sem jeito, mas é quase isso... confessei. Ansioso para contar minha história insólita para alguém, resolvi fazer daquele trabalhador meu cúmplice. Relatei minha história com detalhes, e no fim, olhei-o como se pedindo uma solução.

- Eu moro aqui na Ary Parreiras desde moleque e conheço quase todo mundo por aqui. Qual é o nome da menina? Se ela morar por essas bandas, eu devo conhecer.

- O nome dela é Aurélia. Aurélia Galvão Barreto, se não me engano.

- Aurélia Galvão Barreto? assustou-se. Você está maluco, homem?

- Por quê?

- Olhe para o seu lado, homem, e deixe de fazer brincadeiras para me apavorar. Você está encostado justamente no túmulo de Aurélia Galvão Barreto. Ela morreu em 1932, aos dezoito anos, em um incêndio aqui mesmo no Alecrim...
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Cefas Carvalho




segunda-feira, outubro 03, 2005

A ARTE QUE FAZ BEM

Marcus Ottoni


“O que aconteceu na Câmara é o novo PT em ação. Desta vez, não dá para dizer que o Lula não sabia, nem que foi obra do Delúbio. Com três CPIs, Corregedoria e Conselho de Ética investigando denúncias, não houve pudor em recorrer aos mesmos métodos do "mensalão".
Senador Pedro Simon (PMDB-RS), sobre as ações do governo para conseguir eleger Aldo Rebelo (PC do B-SP).


João Maria Alves
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Praça André de Albuquerque



- Meu pai foi rei!
- Não foi!
- Foi...
- Meu pai foi rei!
- Não foi!
- Foi...

Do http://www.cidaugusto.com.br/




Galeria do Povo: A Arte que Faz bem

A Galeria do Povo representa toda a neurose dos artistas de Natal. Eu sinto nos sábados e nos domingos uma procura no lugar da Galeria do Povo por uma desrepressão danada. Pessoas que eu nunca imaginei que fizessem arte demonstrando as suas idéias com um pouquinho mais de integridade do que o que se vê por aí.

A Galeria representa aspirações acumuladas das pessoas que se envolvem com arte. Ela nasceu da necessidade de se mostrar arte para o povo em um contato que criará um movimento de descoberta das potencialidades que pessoas têm guardadas dentro de si.

Todas as manifestações artísticas estão sendo aceitas. Não temos discriminação contra qualquer linha de arte. O nosso intuito é fazer com que as pessoas que tenham alguma sensibilidade artística se liberem do imobilismo generalizado existente.

Por a Galeria do Povo admitir todas as linhas artísticas, ela se torna uma coisa discutida, uma coisa papeada. São mãos que se juntam à procura de um denominador comum em contraposição à heterogeneidade apresentada.

Eu sei que aqui em Natal existem muitas pessoas pensando dessa maneira. Agora, o que falta nelas é o pique, é a coragem do contato com o povo. Estão ainda com muita marginalização na cabeça, pensando que a sua criação vai ser espezinhada pelo próprio povo.

O que a gente tem de fazer é justamente sair da limitação caótica. Mostrar abertamente as nossas ambições sonhadoras. Se envolver com a criatividade da Galeria Povo.

As pessoas ainda permanecem com muito medo de saltarem dos seus carros para olharem a Galeria. Acho isso angustiante. Eles mesmos criam a marginalidade que jogam pra cima da gente, invertendo as pontas da sensibilidade – característica predominante de quem não se interessa em esclarecer.

O dever do artista é criar espaços para o povo se meter dentro deles. E o povo se sentir com mais energia de enfrentar o dia seguinte. Ele, fazendo um pouquinho disso, estará fazendo um bem danado.

Carlos Gurgel
A República, domingo, 4 de dezembro de 1977


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