Por Woden Madruga
Tribuna do Norte
18/03/05
O pessoal do Beco anda chiando - e com razão - porque a Academia Norte-rio-grandense de Letras não abriu suas vetustas portas para comemorar o Dia Nacional da Poesia. Um telegrama sequer passou. Tampouco um quadrinha. Um verso bastava. Nonada. O pessoal do Beco não perdoa e lembra, no rastro desta condenação, o exemplo da Academia de Letras de Pernambuco, registrado pelos jornais de Recife, homenageando em sua sessão de segunda-feira, a Poesia. A Poesia e o poeta Castro Alves. Cujo nascimento num 14 de março de 1847 (era domingo), no sertão da Bahia, foi a inspiração para se criar o Dia da Poesia. Verdade que em Natal o grande poeta nem apareceu na vitrine. Mas houve muita festa e muita badalação. Até no alegre colunismo social, desta brava aldeia de Poti mais bela, o evento aconteceu com muita lantejoula.
Na sessão da Academia Pernambucana de Letras, ouviu-se a voz vibrante, bem empostada, límpida, do poeta Marcus Accioly que, além de belo poeta - dos maiores destes trópicos - é um excelente declamador, um verdadeiro ator. Em matéria de declamação, Marcus Accioly faz parelha com o nosso Ticiano Duarte. Poucos por estas brenhas sabe dizer um poema como Ticiano sabe. E a sua memória é ali como a do poeta pernambucano. Sabem de cor uma antologia inteira. Já presenciei muito auditório, por este Brasil afora, fazer silêncio profundo para ouvir Marcus Accioly dizer seus poemas e de outros poetas. Uma noite, em Maceió, Ticiano parou a rua do Sol, para dizer os poemas de Manuel Bandeira e Augusto dos Anjos, ele pelejando com o compadre Gilberto Avelino, também grande poeta e declamador: “Não me transfiras,/para o novo domingo, /o teu claro amor,/os teus longos ais.”
Imagino Marcus Accioli na Academia, alteando a sua voz para dizer como o poeta baiano cantou nos camarins do Teatro Santa Isabel para a sua amada Eugênia Câmara: “Tens a beleza de uma Vênus grega!/ Tens o gênio de Safo, ardente, mística! / De um anjo o coração! / Só tu cinges o tríplice diadema - /- A beleza nas formas, - n’alma o gênio / - E no seio - a paixão!...”
Bons tempos aqueles da exclamações em plural. Das paixões ardentes, rolando no seio da Madona pálida...
Nota da SAMBA
Não sabemos de onde Woden colheu a informação, mas saber que o Beco faz e a Academia se desfaz, dá até para confirmar: academia é isso mesmo, só serve a vaidades.