sábado, setembro 03, 2005

DE REPENTE, ACIDENTES

Eric Gay A/P


(Para ler, ouvindo Dear Old Southland, em alguma versão de 1937)

Um dia o rio Mississipi iria se vingar. Era inevitável. Quando você desobedece as regras de um rio, ou ele morre deprimido ou fica irritado e sacoleja feito uma seperpente de água a arrastar a vida dos homens. Nova Orleans era uma das cidades que estavam na minha lista. O delta do Mississipi tem uma mística toda própria para quem gosta de boa música. Cenário natural do Blues e do Jazz, aquela região parece guardar as raízes do que a cultura norte- americana produziu de melhor. Uma música que surge da alma profunda da América negra e que contamina o mundo a muito tempo.
A cara de minha Nova Orleans imaginária sempre foi mesmo Sidney Bechet, com seu sax soprano ou com seu clarinete. Especialmente o Bechet que tocava Wild Cat Blues, ou I´m a Little Blackbird, junto com o Louis Armstrong em 1924. Acho que uma das versões mais belas de Summertime (a música que mais sintetiza um verão causticante) é a que ele toca em 1939 junto com uma execução maravilhosa de Teddy Bunn no violão.

Por Bechet, Nova Orleans deveria ter sido poupada. Mesmo que a cidade fosse uma porcaria (eu não sei, não conheço), mesmo que não houvesse um único homem justo a viver naquela terra e Yaweh, com seus picos de ira injustificada seguidos sempre de uma misericórdia incontida, resolvesse transformar todo mundo em estátua de sal, ainda sim, por Bechet, as ruas e casas de Nova Orleans deveriam ter sido poupadas.

Mas não dava para ter argumentado isso com um furacão. Não dava para ter dito: “Ei, destrói Las Vegas! Deixa Nova Orleans inteira, cara!”. Ele não iria entender. Um furacão não sabe o que é boa música, e a natureza é muito ensimesmada para ter piedade dessas invensoezinhas humanas. A nossa espécie anda pela terra a um punhado de milênios, fez muita besteira, mas também, para compensar, andou fazendo coisas boas. Andou dando uma força para a natureza e espalhando beleza por aí (apesar de que, se formos fazer o cálculo entre a porcaria e a beleza, acho que a beleza sai perdendo). Mas quando a gente olha o clima louco desses dias, vê o resto da beleza do homem escorrer sem cerimônia para a vala comum das espécies em via de extinção perde um pouco a autoconfiança e começa a pensar sobre o que realmente importa.

Você pode botar a culpa na porcaria daquele dique, pode por a culpa na droga do carbono que esquenta a atmosfera, pode até culpar o Zé Dirceu, não importa. O fato é que esse processo natural que a turma vinha alertando a muito tempo já está andando, só não vê quem ganha dinheiro da indústria do petróleo. O pior de tudo isso é que, diante dessas forças caóticas da majestade natural não existem argumentos morais ou estéticos. Não adianta ser bom ou justo, nem gostar de Jazz.
Não adianta pontuar o mundo com beleza e bondade porque a beleza e a bondade do homem são abstrações estranhas e incognoscíveis para a ordem natural das coisas. Um furacão, um ciclone extra-tropical, um tsunami, um vulcãozinho qualquer, não entende nossas aflições e nossos sonhos, não se preocupa se no nordeste do Brasil tem um escritorzinho idiota, fissurado em música e que queria ir a Nova Orleans entrar em contato com o espírito profundo do Jazz. Esses são sonhos humanos e limitados que andam distantes das massas tectônicas e dos ciclos de pressão atmosférica.
De repente, um acidente natural vai lá e estoura a humanidade. Por isso, aprenda logo a não desperdiçar a sua vidinha com banalidades, aproveite bem o dia e exercite o bom hábito de cultivar o essencial, porque o circunstancial, o periférico, o dispensável, o furacão passa e leva embora.

Pablo Capistrano


UMA TRISTE CONCLUSÃO

Léo Sodré


Olá, amigos leitores (as)!

Hoje o Cantinho do Zé Povo recebe prazerosamente a contribuição da leitora N. Maria Bessa, de Mossoró. Ela, que é leitora assídua do Cantinho do Zé Povo, nos vem hoje com uma verdadeira preciosidade.

Caso alguém já conheça a estória, peço encarecidamente a devida paciência e o respeito pela colaboração que ora recebo da Terra de Santa Luzia, e que passo aos queridos leitores (as) que ainda não a conheçam. E é sobre menino! Menino bota a gente em cada enrascada ?!...É cada pergunta; cada questionamento, cada exigência de explicação, daquela de "dar chulé em pé de tamborete"...E no mundo de hoje, os danados dos meninos se metem nos assuntos dos adultos e muitas vezes, sabem muito mais do que êles, os adultos...E com os neologismos surgidos nos últimos tempos, "as palavras da moda", encantam os pestes que querem por fim da força, usarem nos seus diálogos do dia a dia.

E conta a estória que nos foi mandada pela querida leitora, que numa cidade, o pai estava assistindo tranquilamente seu programa de televisão, quando seu filho, daquela qualidade raríssima, tipo "subnitrato de pó de peido", entra intempestivamente na sala; o pai fica P. da vida por ter sido tirado de sua concentração no que estava assistindo, enquanto o pestinha, como se absolutamente nada tivesse ocorrido, chega para o véio e pergunta:

- Ô pai; qual é a diferença entre Potencialmente e Realmente ?

O pai, coça a careca (de cima), pensativo e fala prá o garoto:

- Filho; faz o seguinte: Primeiro pergunta prá tua mãe, se por um milhão de dólares ela faria amor com Kevin Costner. Depois, pergunta prá tua irmã, se por um milhão de dólares, ela faria amor com Brad Pitt. E finalmente, pergunta prá teu irmão se por um milhão de dólares êle faria amor com o Tom Cruise. Quando você me trouxer as respostas, aí eu poderei lhe explicar qual é a diferença entre Potencialmente e Realmente.
O pai assistiu tranquilamente o resto do programa, e horas depois, quando estava atento a outro programa, chega o menino com as respostas da mãe, da irmã e do irmão:

- E o seguinte, pai; a mamãe disse que nunca pensou em lhe trair, mas que por um milhão de dólares, com o Kevin Costner, ela não pensaria duas vezes e você com certeza estaria a essas alturas, usando uma "peruca de touro"...A mana respondeu que seriam dois sonhos realizados de uma só vez. Dava uma trepada "daquela de cego vê o mundo" com o Brad Pitt e ainda por cima, ficaria rica...E finalmente, meu irmão disse que por esse dinheirão todo, êle encarava até o Marcos Valério, com direito a beijo na boca e tudo o mais...

O pai, mais uma vez passou a mão por sua careca, "pela testa", e falou pausada e explicativamente para o garôto:

- Pois é isso, meu filho: POTENCIALMENTE, a nossa família tem condições de ganhar TRÊS MILHÕES DE DÓLARES. Mas REALMENTE, vivemos com duas raparigas e um fresco!...
E o menino, imediatamente; corrigiu o pai:

- O senhor está errado; pode refazer suas contas. Coloque na sua lista mais um milhão de dólares e mais um viado, que por esse dinheiro, eu também dô a "bassôra" bem ligeríin!...

Bob Motta


O CUBISMO POÉTICO DE VALDEREDO NUNES

Alexandro Gurgel
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Nascido no sertão de Currais Novos, o menino Valderedo Nunes foi concluir seus estudos e morar com a família em Angicos, região Central do Estado. Chegou a Natal em 1975 com sua mãe e irmãs para viver no bairro da Cidade da Esperança. Ainda adolescente, estudava no Colégio Polivalente, quando conheceu um professor de francês que o despertou para as artes plásticas, já que o jovem Valderedo demonstrava talento quando desenhava.

Algum tempo depois, Valderedo conheceu o ceramista Carlos José, trabalhando com pinturas de cerâmicas ao lado do artesão, se apaixonando pelo brilho das tintas e pela possibilidade de transformar aquela descoberta em arte. Autodidata e um estudioso constante das artes plásticas, Valderedo confessa que seu talento brotou para a pintura através do artesanato em cerâmica, onde labutou durante seis anos.

Durante o tempo que serviu ao Exército Brasileiro, Valderedo ficou distante do artesanato e das pinturas. Quando terminou o serviço militar obrigatório, o artista plástico conheceu o poeta e agitador cultural Eduardo Alexandre que o incentivou, convidando o artista para fazer uma exposição no Memorial Câmara Cascudo, onde funcionava a Associação dos Artistas Plásticos do RN, atualmente desativada.

Aos poucos, Valderedo foi adquirindo amor pela arte, lendo sobre os grandes clássicos da pintura, buscando o aprendizado necessário através dos traços de Paul Cezzane, um dos maiores pintores do modernismo francês. “Gosto das obras de Cezzane pela estrutura e pela forma, a cor vem depois. A tinta não está independente da forma. O mais interessante é a brincadeira estrutural”, ressalta.

De acordo com Valderedo Nunes, a pintura é uma arte onde o artista não pode deixar de fazer experiências quando estuda um determinado pintor consagrado. Algumas características do cubismo podem ser observadas nas obras de Valderedo hoje em dia, graças às leituras realizadas em cima do cubismo sintético de Picasso e Braque, por quem o artista potiguar guarda grande admiração. Em terras potiguares, Valderedo sempre admirou a arte de Newton Navarro, considerado um ícone inconfundível na história das artes plásticas do Estado em todos os tempos.

Atualmente, Valderedo está desenvolvendo sua arte independentemente das escolas e estilos do passado, buscando uma identidade própria para seus quadros. O artista revela que gosta de retratar o mundo, vendo que as possibilidades dos seus traços proporcionam a arte mais perto do figurativo. Nessa nova fase, gosta de pintar mulheres e temas regionais.

Valderedo fez uma exposição individual na CBTU (Companhia Brasileira de Trens Urbanos), durante o projeto de revitalização da Ribeira. Naquela ocasião, seus quadros estavam apresentando fragmentos das fachadas da Rua Chile, com o apelo de conservação do bairro histórico. Outra exposição individual, intitulada “Mulheres”, com 15 trabalhos, aconteceu no ano passado, no restaurante do Sesc da Avenida Rio Branco.

Em 2003, valderedo ganhou um prêmio de 2º lugar durante o Salão de Artes Plásticas da Indústria, promovido pelo SESI e realizado no Solar Bela Vista. Ganhou outro 2º lugar com o quadro “Figuras na Areia da Praia I”, através do I Salão Semana da Marinha. Participou de várias exposições coletivas, tendo uma participação ativa no Salão de Artes Plásticas da Cidade do Natal por quatro anos consecutivos e seus trabalhos foram classificados entre os melhores. Sua última exposição foi no Bar Lorotas, no Center Onze, intitulada “Mães, Mulheres e Cores”, quando apresentou nove trabalhos. Foi convidado pela Petrobras para pintar um painel sobre a vida rupestre no Lajedo do Soledade em Apodi. Atualmente, o quadro está exposto no Museu na sede da Fundação Amigos do Lajeado do Soledade, em Apodi.

Atualmente, há alguns trabalhos expostos na Galeria do artista plástico Venâncio Pinheiro, na Cidade Alta, na Fundação José Augusto e no Bar de Nazaré, Beco da Lama. Agora, Valderedo prepara uma grande exposição a partir do dia 7 de setembro no Bardallos, Cidade Alta, mostrando traços da sua nova fase. A exposição terá uma grande movimentação artística, com música, poesia e artes plásticas, se prolongando durante o mês de outubro.

Alexandro Gurgel

Exposição Valderedo Nunes
Data: 07 de setembro
Local: Bardallos – Rua Gonçalves Ledo, 671. Cidade Alta.
Contato: 3218-3647 ou 9113-3319


ALEX VIROU LULEX

Biu, Biu. Que coisa feia, Biu.

30 dias!

o presidente




O Laélio se danou,
apelou pra putaria,
quebrou os pratos na pia,
a madame reclamou.
Revoltado, ele trincou
o vidro da cristaleira,
apanhou da piniqueira,
foi dormir e se cagou!

Chico Doido



LAÉLIO, VOCÊ SE AQUÉTE
NUM SE META CUM MEMÉIA


se quisé, tem mais bufete,
dou-lhe muito mais cascudo.
pra num ficá mais "ronxudo",
laélio, você se aquéte!
você já levou cacete,
dêxe quéta a vida alheia,
caso contrário, se réia:
- a bruxa mete-lhe a vara!
sua vida toda azara,
num se meta cum Meméia!

BUUUUUUUUUUUU...

Meméia



Nos ringues é baluarte,
enfinca a mão com vontade
e não respeita amizade,
praticando a “nobre arte” ...
Alex, de sua parte,
vai também ser estilista:
seguindo os passos do artista
vai dar murro em todo mundo
- meu medo é muito profundo,
Dunga, agora, é pugilista !

Laélio/2005




OH! Num faça isso Meméia
Eu sou, apenas, um alguém
E em mim não cabe a idéia
Tirar voto de ninguém

Vivo da minha loucura
É muito chato ser normal
E tem louKa que me atura
Sendo minha fã incondicional

Pôxa! que sorte a minha
Ler o que você escreveu
Fique certa "minha bruxinha"
Seu fã, também, sou eu

Se eu pudesse "viajaria"
Na sua bassora sem o cabo
Em você me agarraria
Ia ser grande o "tarrabufado"

Tudo isso que eu escrevo
É porque estou lisonjeado
Com certeza eu não me atrevo
Pois, não quero ser ousado

Manoel Bomfim



em busca da eleição
alex virou lulex

futrica da oposição,
malvadeza cum cabôco.
- todo mundo peca um pôco
em busca da eleição!
caro AG, num ligue não,
fique tranquilo, "relax":
- vai sentá na giroflex!
presidente dos dotô,
do povo que boatô:
"alex virou lulex".

Meméia




Em busca da Eleição
Alex virou LULEX


Caros becodalamenses
Já tou um pouco cabreiro
Cum esse negócio de eleição
Que termina em mensalão
Pois, corre muito dinheiro
Até em bolso de cearenses

O meu voto ainda não sei
Se ainda eu vou sufragar
Tô matutando com os botões
Vai depender da ocasião
No dia que eu for votar
Vou cobrar "caro", já pensei

Pode ser uma cachaça
Ou um caldinho de feijão
Um espetinho de queijo
Ou até mesmo um beijo
Da rainha da eleição
Que me faça achar graça

Em tudo que é evento
Sempre se escolhe uma miss
Olimpíada ou São João
Fica aqui minha sugestão
Agora, falei e disse
Candidatos fiquem atentos

Eu vou mandar um SEDEX
No dia da competição
E o meu voto, só dou
Pra quem de nome mudou
Em busca da Eleição
Alex virou LULEX

Manoel Bomfim


Alex Lulex:

Não sei fazer glosa
Mas, para não parecer toda prosa
Aceito o convite de Leo
E juro por todos os céus
Vou bem olhar,
escutar, decidir...
E para a SAMBA presidir
Escolher com firmeza,
certeza e até delicadeza

Portanto Alex
e demais presidenciaveis duralex
prometam e cumpram
invistam, insistam e persistam
grudem no Beco como bom durex
para nunca serem chamados de Lulex.

(Ei pessoal, estou voltando ao normal)

Crys
Quase recuperada




Meu voto já declarei
Sou volúvel e sou vendável
Voto no mais agradável
Alexandro é meu rei
Antoniel eu já sei
É metido a prafrentex
Mas vou ficar com Alex
Que vai me dar mensalão
Em busca da eleição
Alex Virou Lulex


Clotilde,
o voto mais cobiçado da SAMBA


EM BUSCA DA ELEIÇÃO
ALEX VIROU LULEX


No Beco sob tensão,
deu até no Becopress,
candidatos com estresse
Em busca da eleição.
Tá formada a confusão;
parece a fila do Rex
nos dias de matinês
e o professor de xadrez
ataca de sed lex:
Alex virou Lulex.

Frei Carmelo




quinta-feira, setembro 01, 2005

SETEMBRO DE PRIMAVERA

Até tu, Severino? 30 dias!
Com Gabeira!



manhãzinha

nem dália nem mangueira
rosa tampouco

só um canteiro de marias-
sem-vergonha

vermelhando a areia


Márcia Maia



Raízes

Senti a falta do que nunca tive
Tive o vazio entre os braços
Vi a sombra do ausente
Permaneci presa e viva
Num consciente abstrato
Buli com um coração endurecido
Provei o gosto do amargo
Beijei a boca do impossível

Deborah Milgram


DE ACADEMIA?

Léo Sodré



Mais respeito, seu babaca
pois eu sou de academia,
fui doutor de putaria,
já comi muita tabaca.
Arrombei muita cloaca
desde os tempos de reitor,
já bebi com monsenhor
na serra do feiticeiro,
matei Antônio Letreiro,
bato em desembargador!

Chico Doido


Sua mãe foi nega minha
- você nunca foi reitor


Vá lavar a carapinha,
não fuja mais da senzala,
não me adentre mais à sala
- sua mãe foi nega minha !
Cafuso, ande na linha,
trave o cu no corredor,
tome a benção ao seu senhor !
Só estudou porque deixei
e o ABC lhe ensinei
- você nunca foi reitor !

Laélio/2005



Isso é cagado e cuspido
paisagem do interior


Sertão já foi... tá fudido
hoje na mão dos gaiatos,
dos prefeitos, grandes ratos,
isso é cagado e cuspido !
Matuto é hoje iludido
vendo a “Grobo”, sim senhor...!
Fuma craque, é dançador
de repe, funque - e cafunga,
vive nessa hoje imunda
paisagem do interior !

Logo cedo o seu sentido
é comprar tevê e antena
- se lasca todo, dá pena,
isso é cagado e cuspido !
Se senta e de cu ardido
bota Faustão num andor...
Raul Gil é o professor,
Marcelo D2 um exemplo,
A “Universal” o seu templo
- paisagem do interior !

O “Padim Ciço” esquecido,
Frei Damião nem se fala ...!
Assalto, maconha, bala
- isso é cagado e cuspido !
Cantador não tem sentido,
cantar pra quem, meu senhor ?
Vaqueijada ? - Um estupor
de cachaça, gente rica
nas putas dando mucica
- paisagem do interior !

Em que recanto escondido
restaram honra e vergonha ?
Reclamando, o cabra apanha
- isso é cagado e cuspido !
Vão lhe chamar de atrevido,
bicho ruim, provocador,
de fresco, de chupador,
de corno, féla-da-puta
e lhe dar u’a sova bruta
- paisagem do interior !

Laélio/2005




quarta-feira, agosto 31, 2005

CATINGA DE ESTRUME

Se não for Biu, é Nonô ou Nogueira!
Severino 30 dias!

Léo Sodré


A catinga do estrume
deslizou no tamborete
e desceu como filete
escorrendo do curtume
Bob Mota tem costume
de ficar no cagador
por isso que seu odor
é de chiqueiro fedido
isso é cagado e cuspido
paisagem do interrior.


Chico Doido



Chico Doido,

Nenhum chiqueiro é fedido,
tem seu cheiro natural.
É o estrume do curral,
perfume francês curtido.
Chico Doido, táis fudido;
não catuque o trovador.
Se quiser fazer amor,
se agarre a um jegue nutrido,
isso é cagado e cuspido
paisagem de interior...

Se queres saber meu cheiro,
quando acordo de manhã,
pergunte prá sua irmã,
que é quem me cheira primeiro.
Lhe digo mais, companheiro:
Ela gosta do odor.
E é tão gostoso o amor,
que a gente faz escondido,
isso é cagado e cuspido
paisagem de interior...


Num mexa cum quem tá quéto!...

Bob Motta



Pois é assim lá no mato,
se faz a coisa de coca
no buêro c'uma loca
incuído como um rato,
dá uma cagada de pato
no buraco roncador
e de lá sai o fedor
com o bicho mei intupido
isso é cagado e cuspido
paisagem do interior.

Frei Carmelo




ZÉ LIMEIRA E CHICO DOIDO


"Limeira foi fabricado,
muito bem feito, no torno !


Rede branca, alpendrado,
pé-de-serra de Campina,
bode, cana, cajuína
- Limeira foi fabricado !
E sem mãe, o escanzinado
nunca foi filho de corno:
sua forma foi pru forno,
galada por muita gente...
Germinou, rara semente
- muito bem feito, no torno !

Já Chico, o mal-arrumado
- garanto à Vossa Mercê ! -,
não dá um peido do que
Limeira foi fabricado :
é chato, é chulo, é capado
fraco, fresco, frio e morno
- cagava em pé como um boi...
Não tem graça e nunca foi
muito bem feito, no torno !

Dou fim ao mote e de agrado
faço, até, filogomia:
nos "enquanto a gata mia",
Limeira foi fabricado !
Moacy ficou cagado
em Niterói, no contorno ...
Ney Leandro, no entorno,
pelejou vaca no brejo:
se deu mal ! comeu-lhe um tejo
muito bem feito - no torno !




Se você quiser eu faço
igualzinho a Zé Limeira


Eu tendo a régua e o compasso
de Nilo e de Orlando Tejo,
mesmo não sendo do Brejo,
se você quiser eu faço !
tangendo as cordas de aço
da minha viola arteira
canto sem fazer zoeira
mas me meto no fuxico
- enrabo quem pariu Chico
igualzinho a Zé Limeira !

Chico Doido é um vilanaço
e o pai dele é um jumento
- diz o Velho Testamento !
Se você quiser eu faço
a história desse palhaço:
nasceu sem mãe, o goteira,
na barca da Cantareira,
teso, tísico, sambudo
- logo mais eu digo tudo,
igualzinho a Zé Limeira !

Adiante, passo a passo,
posso passar por Campina
contando os passos, menina
- se você quiser eu faço !
Boto matula e cangaço,
vou sair em Cabaceira...
Pego o rumo de Teixeira,
dou volta nos calcanhares,
beijo a mão de "Seu" Tavares
- igualzinho a Zé Limeira !

Laélio/2002




O Ritual


Era uma espécie de anfiteatro.
O piso viscoso, de um tom escuro.
O sol, do teto penetrava num quadrilátero
por entre barras de ferro fundido e duro.


As paredes estavam cheias de musgos asquerosos.
Pessoas encapuzadas vestiam túnicas brancas
e assentavam-se empertigadas em cadeiras coloniais,
adornadas por símbolos maquiavélicos, satânicos!
enquanto aguardavam o adentrar dos líderes medievais.


Ao centro, uma maca negra, vigiada por verdugos,
onde hibernava a hidra mumificada e em refugos.
À direita da maca, um esquife abominável,
no cerimonial que precedia o anunciar do Grande Mestre,
que aguardava o instante memorável
que seria o beijar a esquálida hidra inerte,
cuja lenda esse rito mágico a ressuscitaria,
inda que caveirosa continuasse durante a orgia.


Alguns diáconos preparavam líquidos acres
e os repassavam aos Mestres de Cerimônia.
O sabor era como o gosto azedo do vinagre
e os fiéis, ávidos, os bebiam por amônia.


A maca negra, estacionada, estava entreaberta.
Um manto escuro descerrava a cripta repugnante!


Do palco superior, onde ficava um mirante,
descia uma harpia que, lânguida, rasgava-se-lhe o véu.
Nos seios nus cintilavam pérolas de uma corrente
e nas mãos conduzia uma taça com bebida igual ao fel
que me induzia a ingeri-la, irritando o Grande Mestre que
fantasiava em meus braços a sua amada hidra.


E quebrando as tradições do ritual, da ante-sala saiu.
Enquanto se dirigia para mim, numa fúria bestial,
notei que me debatia para acordar e sair daquela enrascada,
deixando para si o platônico amor da sua amada...

Robério Matos




terça-feira, agosto 30, 2005

CAGADO E CUSPIDO


O comissário estragou o menino:
Severino 30 dias!




Mote
Isso é cagado e cuspido
Paisagem do interior

Glosas

1.
Um jumento garanhão,
comendo à força a ajumenta,
uma bufa fedorenta,
esvaziando um salão,
festa de apartação,
um inverno promissor,
um vaqueiro aboiador,
um cachorro desnutrido,
Isso é cagado e cuspido
Paisagem do interior...

2.
Um carro de boi cantando,
carregado de madeira,
tenta subir a ladeira,
com os bois quase se arrastando.
A sariema cantando,
inspirando o trovador,
papagaio falador,
putanheiro e enxerido,
Isso é cagado e cuspido
Paisagem do interior...


3.
Comer um peba torrado,
batata doce, tacaca,
repolho cru, mão de vaca,
e culhão de touro, assado;
dá um peido desgraçado,
ninguém aguenta, doutor.
A podrura e o fedor,
mata um homem enturido,
Isso é cagado e cuspido
Paisagem do interior...

4.
Uma turma conversando,
lá no coreto da praça,
peidos de feijão macássar,
e as mentiras desfilando.
Aposentado prosando,
reclamando do calor,
estórias de caçador,
de convenção de partido,
Isso é cagado e cuspido
Paisagem do interior...

5.
Uma ruma de peão,
dormindo no alojamento,
bufas a todo momento,
som de peido e violão.
Muito feliz, o patrão,
olha seu reprodutor,
fudendo a todo vapor,
no curral, desinibido,
Isso é cagado e cuspido
Paisagem do interior...

6.
Pamonha, milho, canjica,
a fogueira de São João,
forró quente no salão,
é uma festa muito rica.
Mais contente ainda fica,
quem sarra com o seu amor,
no escuro, sem pudor,
no levantar do vestido,
Isso é cagado e cuspido
Paisagem do interior...

Aos amigos (as) do Beco e adjacências,
com o abraço do,

Bob Motta


Dr. Eider Furtado, o autor
Do nome do Trio Yrakitan



Mais de trezentas pessoas prestigiaram o espetáculo realizado pelo Trio Yrakitan, na noite de sexta-feira, 26, no antigo jardim do Palácio Potengi, hoje Palácio da Cultura. O famoso grupo vocal, um dos melhores da América Latina – só foi superado pelo Los Panchos –, já na sua quinta formação, está fazendo 55 anos de existência.
O espetáculo durou quase duas horas, período em que Gilvan Bezerril, (afoxé), Edildécio Andrade (Edil), no violão e Edílson Andrade, no tantã, demonstraram muita harmonia, habilidade e sensibilidade na interpretação de dezenas de canções românticas inesquecíveis, de autores brasileiros e latino-americanos, em português e espanhol.
Muitas canções foram cantadas a pedidos do público, composto por pessoas da terceira idade que aplaudiram, em pé, o Trio Yrakitan. O líder do grupo, João da Costa Neto, o Joãosinho, recentemente falecido no Rio de Janeiro, após 13 anos em estado de coma, foi homenageado na noitada promovida por Leide Câmara.
Também foi lembrada a memória do grande poeta potiguar Othoniel Menezes, autor de “Praieira”.
O grupo já gravou mais de 900 músicas e voltará a Natal, de onde saíram em 1950, para uma apresentação no Projeto Seis e Meia, em outubro (no dia 20, Gilvan fará 75 anos).
Mas o assunto atinente ao Trio Yrakitan que eu quero relatar aos leitores é sobre a origem do nome do grupo, que até recentemente era atribuída a uma sugestão do folclorista Luís da Câmara Cascudo, inclusive por Cravo Albin, autor de um dicionário da música brasileira, que se encontra à disposição num sítio da Internet.
O autor do nome Trio Irakitan mora em Natal, é advogado de renome e figura muito conceituada na sociedade potiguar e é ex-presidente da secção estadual da OAB: o professor Eider Furtado, ex-diretor da Radio Poty, de Natal. Foi ele quem deu o nome ao trio que percorreu a América Latina durante mais de 4 anos ininterruptos, sem pisar no Brasil. Você duvida?
Então, leia o que está escritor na página 63 do seu livro de memórias “Audiência de um tempo vivido” (edição do autor, Natal/RN, 2004): “O Trio Yrakitan vinha dos programas de estudantes, dentro dos quais cresceu, lançou-se para o mundo e teve a existência vitoriosa que o vem mantendo no cartaz até os dias de hoje, tendo Gilvan Bizerril como único remanescente de sua primitiva composição. Já andaram escrevendo que o seu nome foi dado pelo escritor Câmara Cascudo. Mas fui eu, sem pretender enfrentar o renomado mestre, quem o batizou. Pelo menos foi isso que, em outubro de 1954, em um programa da Rádio Mundial, levado ao ar ao meio-dia, Gilvan Bizerril, Edinho e João Costa, afirmaram.
Eu me encontrava na Cidade Maravilhosa adquirindo coisas para a Rádio Nordeste, da qual fui o primeiro diretor, e estava prestes a ser inaugurada quando, em plena Av. Rio Branco, encontrei os três que, ao me verem, arrastaram-me para o seu programa naquela emissora, onde, entremeando seus números musicais, fui entrevistado e por eles apresentado como aquele que dera o nome ao trio. Na noite daquele mesmo dia, me levaram a um “Clube dos Artistas”, em Copacabana, oportunidade em que, do palco daquela casa, fizeram minha apresentação e cantaram como se me homenageassem. Foi ali que reencontrei Aldair Soares, o conhecido “Pau de Arara”, que daqui se foi cantando música eminentemente nordestina e, diga-se, que venceu no Rio”.
Em artigo publicado na Revista do Rádio, 1957, intitulado “Fizeram sucesso na coragem!...”, Fernando Luís, filho do renomado folclorista, não atribui ao pai a autoria do nome do trio, mas informa que o grupo, nascido na Sociedade Artística Estudantil de Natal, era conhecido “por Trio Trairi, mas o diretor da Rádio Poti denominou-os Trio Muirakitan, mas como já havia um trio com este nome, em Recife, ficaram mesmo com Trio Yrakitan, que quer dizer “Mel verde” ou “Doce esperança”.
Os três trabalhavam no comércio de Natal durante o dia e à noite estudavam”.

Parabéns, Dr. Eider, pela valiosa colaboração prestada à música brasileira e pela correção histórica.


Luiz Gonzaga Cortez




Diário de um milionário

Sempre fui feliz, aí veio a loteria. Minha vida mudou. Mudou e muito, desde de que ganhei a bolada. Alguns dizem que para melhor, outros silenciam. A verdade é que mudou. Depois de conferir os números, procurei logo um lugar pra esconder o diabo.

Guardei o bilhete premiado por um mês, dentro de um plástico, e de outro, e de outro. Depois coloquei dentro de uma pequena lata de achocolatado e enterrei no quintal. Esperei, desaparecer, a curiosidade dos residentes da minha cidade. Passei a maior parte do tempo sentado num tamborete, olhando pro pedaço de chão onde meu bilhete estava enterrado. Vigilante. Dormir? Nem pensar. Apenas cochilos. Não saí mais de dentro de casa. Nem recebi os amigo. Disse que estava ocupado sempre que batiam na porta. Fiquei de boca calada. Afinal, estamos falando de dez milhões de Reais. Dez, com D maiúsculo.

Sofri muito com o calor daquele mês, mas agüentei firme trancado dentro de casa. Até a idéia de abrir a janela pra arejá-la me assustava. Não queria que ninguém me visse. Após os trinta dias, fui buscar meu prêmio numa agência da Caixa. Na cidade ninguém mais falava da loteria, e nem do ganhador.

Como as coisas mudam quando ‘cê tem dinheiro!
O gerente me recebeu com sorriso na cara. “Café ou suco, seu Antônio? Já sei, o senhor é do tipo que gosta de whisky. Nós não temos whisky aqui na agência, mas eu mando comprar.”

“Só o dinheiro mesmo, se o senhor não se importar,” respondi espantado. Nunca ninguém tinha me chamado de senhor. Nos meus trinta anos de vida, esta foi a primeira vez.

Essa conversa durou mais de hora. Finalmente, abriram uma conta, pois nunca tive uma, e depositaram toda aquela dinheirama. Faz três anos que ganhei os dez milhões. Faz três anos que mudei de minha cidade.

Tenho dinheiro para fazer o que quiser. Carros? Tenho quatro. Moro numa casa grande. Tem piscina, um jardim bonito, e vários quartos de hóspedes, embora ninguém nunca tenha vindo visitar. Nunca dei chance para os velhos amigos se aproximarem. Tenho medo de quererem meu dinheiro. Namorada? Quero não. Dizem que depois de um certo tempo elas têm “direitos”. Evito contato com a minha família também. Eu era muito próximo das minhas irmãs e dos meus pais. Hoje, não mais. Eles ainda são pobres. Sempre ajudei eles, quando morava lá na cidadezinha. Hoje tenho cisma de ajudar. Pode ser que fiquem dependentes de mim. Do meu dinheiro.
É, realmente a vida mudou muito. Pensei em abrir um negócio para mim, mas não confio em ninguém. Costumava confiar, mas hoje não. Hoje desconfio até da minha sombra.
Minha única companhia é a caneta e o caderno. Escrevo pra mim mesmo. Tipo um diário. Não tenho para quem escrever. Poderia escrever pra minhas irmãs ou amigos, mas tenho medo que descubram onde moro. Eu era mais feliz. A vida mudou muito....

Charles Phelan




domingo, agosto 28, 2005

PACTO REPUBLICANO QUEBRADO


"Não é possível que o presidente não soubesse de nada, que ele não tivesse idéia do que o seu homem de confiança fazia na sala ao lado da sua no Palácio do Planalto."
Luís Inácio Lula da Silva

Severino 30 dias!






O que está em jogo é o Pacto Republicano


“É um delito sem perdão.”
Heloneida Studart


A tese defendida por alguns parlamentares de PSDB e PFL de “deixar o PT sangrar” até o fim do governo Lula, em 1º de janeiro de 2007, é, no mínimo, de grande cinismo e falta de compromisso com a legislação brasileira.

Comprovadas as denúncias do deputado Roberto Jefferson de que havia um esquema de suborno do Executivo federal na Câmara, não restará a esta outra opção: cassar os subornados e encaminhar à votação o impedimento do presidente da República.

Advirá deste impedimento, a pergunta: assume o vice, José Alencar?

O Partido Liberal, partido do vice-presidente, segundo o seu presidente, deputado Valdemar da Costa Neto, teria negociado o apoio à chapa do presidente Lula por 10 milhões de reais, parte paga em regime de caixa 2 do esquema do dinheiro fácil de Marcos Valério.

O imbróglio jurídico passa a ser: Alencar tem legitimidade para assumir a presidência caso Lula seja impedido de continuar exercendo a mais alta investidura da República?

Consultas podem começar a ser feitas junto ao Tribunal Superior Eleitoral.

Um agravante para a posse de Alencar é o de que seu partido, o PL, era também um dos principais beneficiários do dito “mensalão”, como passou a ser chamado o soldo do suborno, que joga à Nação a quebra do pacto republicano de independência entre os poderes.

Impedido Alencar, assume o presidente da Câmara, Severino Cavalcanti?

Severino é filiado ao Partido Progressista, partido da lista dos subornados. Teria Severino alguma implicação no esquema ou algo que leve a sua cassação? O deputado Janene, também do PP, diz que se for cassado, leva Severino junto.

Se Severino for cassado, imediatamente passa a ser presidente da Câmara, e portanto o terceiro na ordem de sucessão presidencial, o primeiro vice-presidente da casa, o deputado José Thomaz Nonô, do PFL alagoano.

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Duas epígrafes e três comentários



"TRAIDOR DA CONSTITUIÇÃO É TRAIDOR DA PÁTRIA"

A Constituição certamente não é perfeita. Dela se pode discordar, divergir... Descumpri-la, jamais! Afrontá-la, nunca! Traidor da Constituição é traidor da Pátria. Conhecemos o caminho maldito: rasgar a Constituição, trancar as portas dos parlamentos, garrotear a liberdade, mandar os patriotas para a cadeia, o exílio e o cemitério. (...)

Ulisses Guimarães

"As Forças Armadas acompanham a crise política com muita preocupação e com a avaliação de que é importante para a democracia manter o presidente Luiz Inácio Lula da Silva até o fim do mandato, mas falar em reeleição é considerado quase uma afronta."

Eliane Cantanhêde

1. Mais importante que manter Lula até o fim do mandato é a garantia do texto constitucional. O Congresso Nacional tem plenos poderes para julgar a quebra do pacto republicano, atingido quando da compra de parlamentares pelo Executivo, tendo-se como objetivo a "governabilidade";

2. Se o presidente Luís Inácio Lula da Silva e o seu governo conseguirem sair da crise sem o impedimento, nada impede ao presidente tentar a reeleição.

3. O Brasil dará provas de maturidade política a si e ao corpo das nações se e somente só o que está estabelecido em sua Carta Constitucional for seguido à risca, inclusive sobre o que está disposto sobre o papel das Forças Armadas.


Eduardo Alexandre


CARTA DE ARQUIVO



MESTRE LEN, ZÉ LIMEIRA, CHICO DOIDO E EU TAMBÉM
(CARTAS DE ARQUIVO - I)

Mestre Len Of Cotovelo Beach
Meu saudar!
Essa, aí embaixo, é boa, Vossa Mercê vai notar !
Conheci, em João Pessoa (1978), o poeta Orlando Tejo - um figuraço de cachimbo, cabeleira farta e outras mungangas mais ! Ainda não havia publicado a primeira edição do muito festejado "Zé Limeira - O Poeta do Absurdo" (1980).
Uns dizem que inventou o violeiro e cantador maravilhoso, o negão de Teixeira. Cachola rara tinha (e tem) para a empreitada magnífica. Não inventou, não ! Na embalagem, entretanto, deve ter dourado muitíssimo a pílula...Fico com os que acreditam na existência física de Zé Limeira. O circunspeto,sagaz e vetusto José Américo de Almeida - que prefaciou o livro -, acho, não cairia na esparrela, no engodo bem urdido.
Enquanto isso, aqui, na nossa não muito leal Capitania, meu velho colega da Banda do Atheneu Nei Leandro e Moacy Cirne, cabra doido viciado em gibi (eles têm um nome complicadíssimo para a "especialidade"!), fabricaram um tal de Chico Doido de Caicó - que não chega sequer à poeira das alpercatas do putanheiro bardo paraibano. O tal desgovernado - a invenção dos dois - é chulo sem graça, pornográfico de pouco estilo, iconoclasta gratuito; não rima direito, metrifica muito mal, não acresce nada. É uma brincadeira gaiata, um infeliz arremedo, uma bufa !Chico Doido é uma mistura dos seiscentos diabos : sertanejo analfabeto, discutia Fernando Pessoa. No início dos anos 50, conheceu Zé Limeira (trinta anos antes do livro de Orlando Tejo). Vigia de rua em Natal, dava-se à intimidades com as caras meninas de Maria Boa e - calcule, meu distinto castelão praieiro - discutia história pátria com Cascudinho! Sem carta de ABC na cachola, é dose, conhecia Átila, Bocage, Casanova, Raimundo Correia, Gregório de Matos e outras feras...!
Tem mais, my lord : o caicoense Chico Doido foi pra Marinha Mercante, conheceu mundos e fundos. Em terras de Espanha se perdeu (o apelido era "Paco") e morreu, - graças a Deus! - no Rio de Janeiro. Onde, perto da Lapa, antes da passagem, bebia cachaça com Nei. Igualzinho ao Zé Limeira, usava óculos escuros, Ray-Ban, calculo!
Ainda bem que o grande Chico Xavier se foi sossegado, partiu para o Azul nas Minas Gerais, livrando-se, assim, da rebordosa de incorporar o encosto desse xará seridoense. Dessa “alma sebosa”, como diria o meu amigo Walter Leitão, ex-prefeito do Assu – que também desta já se foi, muito a contragosto.
Não é que, no Rio, Chico Doido, psicografado, deu uma baita entrevista! Do além, receitou prá cacete: conhece todo mundo aqui em Natal. Cupincha de muita gente importante, luzidia – íntimo até de Diógenes da Cunha Lima. Perguntado, disse ao presidente da mesa de linha branca que lá por onde flutua ouviu Luis Carlos Guimarães, o grande poetinha, se queixar ("ficou puto!") da sacanagem que, na Academia de Letras, fizeram ao amigo comum Nei Leandro – que perdeu uma vaga de imortal para um ilibado e culto cidadão do País de Mossoró. E foi em frente, em dia, diga-se muito bem informado, sobre as nossas deliciosas picuinhas provincianas... O pior, para mim, meu lorde, é que sapecaram o nome de Othoniel Menezes nessa baderna.Depois lhe mando mais, Mestre. Fiel escudeiro,

Laélio Ferreira
julho/2002


TEMPO DE PAZ



Vem dor, vem choro,
Lamentos e lástimas.
Fortes lembranças do passado
Diluídas num presente indefinido
Romantismo derivado de ilusões platônicas
Misturado a uma esperança infinita
Vem silêncio, vem trégua
Vem sossego
Ah, que círculo vicioso!

Deborah Milgram


Hugo Macedo©

Beco da Lama, o maior do mundo, tão grande que parece mais uma rua... Tal qual muçulmano que visite Meca uma vez na vida, todo natalense deve ir ao Beco libertário, Beco pai das ruas do mundo todo.

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A imagem de fundo é do artista plástico e poeta Eduardo Alexandre©

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