quinta-feira, março 31, 2005

SERTÃO DE ESPINHO E FLOR, de OTONIEL MENEZES

(Prefácio da Primeira Edição, 1952)*

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ECCE...


Otoniel Menezes, natalense, acompanhou o Pai ao Sertão e lá se fez rapaz. Ficou emocionalmente sertanejo. Todas as impressões subseqüentes foram impostas na primitiva chapa infantil, já cheia de imagens vivas, nítidas, secas, sugestivas, água-forte que se denuncia, olhada contra o sol, como um desenho de tinta simpática, inconfundível, atravessando a massa das anotações posteriores.
Com seu primeiro livro, “GÉRMEN”, logo depois dos vinte anos, e “JARDIM TROPICAL”, antes dos trinta, Otoniel, tanto mais alto sobe à luminosidade do seu dia vital, mais se aproxima da paisagem inicial de sua infância, figuras e almas, quadros e evocações imperecíveis, como gravadas na pedra branca dos serrotes, onde espreitou a corrida macia dos mocós.
Vivendo na cidade, como um exilado, incompreendido e incompreendendo, sozinho, arredio, orgulhoso na sua pobreza como Barbey d’Aurevilly(1) nas alturas de sua mansarda, Otoniel ouviu o coração cantar a história velha da primeira emoção.
Dizem que as conchas marinhas guardam nas curvas da voluta o rumor amplo de todas as vagas do mar alto. Heredia(2) falara a uma concha:
“ Longue et desesperée,
en toi gémit toujours la grande voix des mers”

Essa voz doce e fiel ressuscitou o mundo de outrora, o horizonte do Sertão, para o poeta. Todos os elementos desceram, como rios cantantes, para o estuário de um livro de versos.
Os sertanejos que residem distante da terra ardente que lhes deixou nos olhos a reverberação cegadora dos mormaços, o candelabro dos cardeiros imóveis recortados no azul da imensidão, o pereiro verde, o paudarqueiro estrelado de flores de ouro, o gado lento, a tarde silenciosa interrompida pela ondulação melancólica do aboio, vejam com que adamantina transparência a saudade gravou na memória miraculosa do Poeta todos os aspectos, vocabulários e visões, fazendo-os vivos e presentes numa desfilada impressionante de beleza, de naturalidade e de graça espiritual.
Em Montfort-l’Amaury (Seine-et-Oise), há anualmente a festa dos Bretões que moram em Paris. Montfort pertenceu ao apanágio dos Duques da Bretanha, até que a província se reuniu à França, com o casamento de Ana da Bretanha com o Delfim Carlos, o futuro Carlos VIII. E, enviuvando, casou com Luis XII. Não podendo deixar a cidade tentacular e voltar a ouvir o biniou, atravessando la lande, la lande para o Perdão de Santana d’Auray, os Bretões se reúnem em Montfort-l‘Amaury e revivem a terra longínqua.
Charles Le Goffie(3), saudando os patrícios bretões no Pardon de la Reine Anne, vindos de Paris para rever a Bretanha, disse:

Levez-vous! C’est aujourd’hui fête,
ó fronts courbés par la défaite,
ó coeurs abreuvés de degoùts.
Puisque, rivés à votre bagne,
vous n’alliez pas à la Brétagne,
la Bretagne est venue à vous !


Todo o Sertão – como o gigante das Mil e Uma Noites coube no bojo de uma garrafa de cristal – está inteiro neste livro, prisioneiro do poder poético que tudo arrebatou, árvores e vaqueiros, serras e gados, várzeas, tabuleiros, silêncios doces,frêmitos do meio-dia, tardes de contemplação, noites de estrelas vivas:

Sertão selvagem de Euclydes!
prosaicamente progrides,
mas, nada te corrompeu!
Paraíso de minha infância,
ingênuo como uma estância
de Casimiro de Abreu(4)
!

Touceira de xiquexique,
cercadão de pau-a-pique,
dez léguas de tombador...
Mar de panasco dourado,
bogari, cravo encarnado
- SERTÃO DE ESPINHO E DE FLOR!


Mantendo o ritmo tradicional e secular do setissílabo, gênio do idioma, molde popular, na fórmula AABCCB(5), de notável formosura em sua simplicidade, o Poeta realizou o poema do Sertão vivo, em rimas naturais, rápidas, inesgotáveis, espelhando em pormenor e conjunto, psicologia, crítica social, etnografia, folclore, com o conhecimento infinito de fauna e flora, costumes, modismos, o próprio mecanismo do raciocínio; precisando, de maneira impecável e feliz, uma sucessão de frases e de imagens que fotografam, sem retoque e sem pose, o Sertão, com seus espinhos e suas flores:

Ah! Quem me dera, o tesouro
da lira mágica, de ouro,
que Apolo(6) deu a Anfion(7)!
Desses penhascos da serra,
te ergueria, oh minha terra,
portentoso panteon!

Rente às nuvens, o idealizo:
vaqueiros, de pé, no friso,
e um joazeiro, o coruchéu
- emblema das tuas dores,
verde, entre espinhos e flores,
bebendo a chuva - no Céu!


Um dos primeiros monumentos aí está, feito com sonho, sofrimento e talento vivo, neste poema ímpar pela sua força expressiva, intensidade lírica, grandeza emocional e abaladora dos corações que batam na cadência do solidarismo humano.
O terceiro livro de Otoniel Menezes, um poeta dos maiores do Brasil, fecha um ciclo de inapagável repercussão intelectual. É um poema fiel à terra, e sem as convenções de qualquer coloração suspeita ao ambiente que transportou para o livro. É um Sertão viril, resistindo, atravessando a pedra para encontrar água, cavando o açude, emigrando ou não emigrando, mas possuindo um bom humor natural, um rico filão inesgotável de filosofia compreensiva, explicando cataclismos e injustiças, com o inesperado de uma comparação espontânea, de inacreditável verismo pictórico, de rara felicidade ao ajustar-se à figura causadora do malefício coletivo.
Otoniel Menezes, testemunha presencial de vaquejadas e feiras, jornadas nos comboios que a madrinha(8) dirige com o sonido de sua campainha cristalina; sabedor de segredos e do ambiente exato e completo, não angulou as fisionomias para os efeitos de uma tragédia perpétua, nem as caricaturou para a representação nos programas “caipiras” de palco e de rádio, longe da justiça e da lógica.
Esses sertanejos são os que conheci, com quem convivi, sem deformação e sem amplitudes sentimentais de mentira livresca.
Um grande livro, espelhante de verdade, de indignação sagrada, de evocação maravilhosa e feliz, cores de todas as nuanças, dos afrescos às aquarelas que adoçam a vista; como certas melodias velhas, que ouvimos crianças, renovam a mocidade interior pela rearticulação sonora.
Um livro inteiro feito com homens, batalhas, trabalhos, esperanças, material humano.
Como para os poemas de Walt Whitman(9), quem tocar esse livro abraça todo um povo...


LUIS DA CÂMARA CASCUDO(10)



Notas por Laélio Ferreira:

[1] Escritor francês, normando (1808-1889).
[2] José Maria de Herédia, poeta parnasiano francês nascido em Cuba. Publicou um único livro: "Les trophées" (1842-1905).
[3] Poeta e acadêmico francês.
[4] Casimiro José Marques de Abreu., poeta, nasceu em Barra de São João, RJ, em 4 de janeiro de 1839, e faleceu em Nova Friburgo, RJ, em 18 de outubro de 1860.
[5] Sextilha, estrofe de seis (06) versos, com as rimas dispostas na fórmula citada.
[6] Filho de Júpiter e de Latona, deus solar, condutor das musas. Seu oráculo, em Delfos, era o mais famoso da Grécia.
[7] Filho de Júpiter e de Antíope, poeta e músico, construiu os muros de Tebas. Segundo a fábula, as pedras se dispunham por si próprias ao som da lira.
[8] Vide. Notas ao Canto.....
[9] Poeta, jornalista e ativista social americano (1818-1892). Uma das grandes admirações de OM.
[10] Escritor, advogado, professor, jornalista, historiador, etnógrafo, sociólogo, folclorista, orador, boêmio, conversador admirável. Poeta bissexto e o maior nome das letras do Rio Grande do Norte, no cenário nacional. (Natal-RN, 30/12/1898 – Natal-RN, 30/07/1986). Contemporâneo e amigo de OM, chamava-o, carinhosamente, de “Titó”. “Cascudinho”, para Otoniel.

* 2a.Edição será lançada em junho de 2005, com prefácio de Cláudio Galvão




terça-feira, março 29, 2005

TARDE BREVE

Luís Henrique

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Márcia Maia, Ana Yasmine e Itam Brasil, no lançamento d'O Beco


perdi-me a imaginar tardes
distantes

locais onde me encontro se
me perco

num tempo onde me perco
em desencontro

(não sei quando me encontro
quando perco)

e assim de mim perdida em
cada beco

me quis reencontrada num
instante

nessa cidade azul onde me
perco

e ao dar com o céu perdido
em véus de chumbo

me apercebi que anoiteceu
tão cedo

e eu — perdida em mim —
nem me dei conta


Márcia Maia


AS BOTAS DOS AMERICANOS

Av Tavares de Lyra - Natal


Escritor e imortal da ANL, LENINE PINTO, em e-mail dirigido a Laélio Ferreira e Roberto Guedes, dá notícia acerca do "mais popular artigo produzido na cidade" durante a Segunda Guerra Mundial


Meus caros Roberto e Laélio,

Aqui vai a notícia sobre as famosas "botas de Natal" (ou flying boots), o mais popular artigo produzido na cidade durante a guerra e que os americanos espalharam pelo mundo nos pés dos pilotos do Air Transport Command (ATC) que transitavam por aqui antes de pularem para seus destinos nas frentes Egito-Mediterrânea, China-Birmânia-India e até na Russa.

Sabia-se, na época, que essas botas de meio-cano e boca folgada, feitas em couro do curtume artesanal de Epaminôndas Brandão, foram "inventadas" ou resultaram de um erro do mestre-sapateiro Severino Edísio da Silveira, ao confeccionar um modelo sob encomenda. Não saíra como o cliente americano queria, mas este experimentou, gostou, o sucesso foi grande e imediato.

O estabelecimento de Edísio ficava na Travessa Aureliano, quase em frente à loja Paris em Natal, o magazine masculino chique da época, o que valorizava seu "ponto", aliás, fotografado para reportagem da revista LIFE sobre Natal (edição de 6.8.43: Air Transport Command Base – Under U.S. military men, a Brazilian airfield at Natal becomes the wartime crossroads of the world.). Obtive cópias de algumas fotos dessa matéria, via Internet, graças ao nosso comum amigo Leonardo Barata.

Com o crescimento da demanda por tais botas, surgiram três ou quatro concorrentes, mas nem todos caprichavam no material empregado e o The Sat'd Weekly Post, editado em Parnamirim, numa matéria intitulada "Boots Boosts Sales of Largest PX" ("Botas aumentam vendas do maior reembolsável"), publicada em 19.6.45 - e embora reconhecendo o atrativo comercial das flying boots - investe contra a qualidade das mesmas: "elas não duram muito."

Bom, era artigo fino, para aviadores, não substitutos para as reiúnas da infantaria.

Por outro lado, o advogado Túlio Fernandes, em depoimento a Protásio Melo, levantou a hipótese de que essas botas teriam sido criadas por seu sogro, o discreto Pedro Nolasco, empresário do ramo calçadista, que instalara, sem que ninguém suspeitasse, "uma bela fábrica" na avenida Tavares de Lyra (prédio hoje pertencente à Tribuna do Norte) e ali confeccionara "as primeiras botas daquele tipo" (Protásio Melo, Parnamirim e Natal na II Guerra Mundial, p. 135.). Marcelo Fernandes, irmão de Túlio e que trabalhava em Parnamirim, sabe que seu Nolasco era grande fornecedor de botas para exportação tax free.


Já o brigadeiro Ivo Gastaldoni, que serviu aqui como aluno e depois instrutor da USBATU (United States-Brazil Air Training Unit), discorrendo sobre a Base Aérea de Salvador, conta que, entre os prédios daquela Base, era tudo "terra batida, arenosa, com minúsculas pedrinhas que se infiltravam no sapato e incomodavam paca". Essa peculiaridade - acrescenta - induziu à criação de um novo tipo de calçado que acabou sendo muito popular no Nordeste: era uma espécie de bota, cujo cano subia somente até o meio da canela. Esta botinha impedia totalmente a entrada das pedrinhas, principalmente se usada por baixo da perna da calça comprida" (Ivo Gastaldoni, A ÚLTIMA GUERRA ROMÂNTICA/ Memórias de um piloto de patrulha, p. 119. Grifo, nosso).

Ninguém menos que o próprio Comandante-em-Chefe da Força Aérea do Exército dos Estados Unidos, General Henry H. Arnold, para dirimir a questão. Num artigo intitulado The Aerial Invasion of Burma, publicado no The National Geographic Magazine de agosto de 1944 (pp. 129-148), que obtive graças ao empenho e generosidade de Ronald Levinsoh, o general relata:

"O Original de Terry e os Piratas - No quartel-general da AAF [Army Air Forces] entraram dois jovens oficiais bem recomendados. Um era o Coronel Philip G. Cochran, de Erie, Pennsylvania, piloto de caça com 34 anos de idade, que demonstrara notável espírito de liderança no Norte da África. Cochran ainda calçava suas botas de couro de Natal, com a bainha das calças enfiadas nelas..." (Grifo, nosso)


Outro produto que fez muito sucesso foram as "Natal Bags", cópias das sacolas carry all anunciadas no catálago da SEARS. Heider Mesquita, filho do proprietário da Natal Modelo, contou-me que alguns americanos chegavam na loja com os canos das botas entulhados de dinheiro e enchiam tais sacolas com meias de seda das marcas Leda e Lídice (fora das caixas e bem socadas para caberem mais). Quando o pai conseguia, na base de "pistolão", disponibilidade nos aviões da Cruzeiro e da Panair para trazê-las do Rio e São Paulo, as vendas alcançavam cerca de dez mil pares a cada 15/20 dias. Receita de 30 a 40 mil dólares/semana, assim mesmo inferior ao faturamento da concorrente Casa Rio.

Clyde Smith Jr., reportando-se ao movimento do PX (Post Exchange) de Parnamirim - que considera "o maior do mundo" com base em informações de The Official History of the South Atlantic Division-ATC: "quase US$50,000.00 em um único dia" - assinala que os artigos mais procurados ali eram as botas, relógios suíços e... meias de seda" (Clayde Smith Junior, Trampolim para a Vitória, p. 105), justamente aqueles destacados na edição da LIFE, acima mencionada.

Disponham sempre do seu amigo,



Lenine




segunda-feira, março 28, 2005

BICHO HUMANO

Léo Sodré/Dunga


O homem é o único animal
que pensa, escreve e fala;

Assim:
O homem é o único animal
que sente, constrói, chora e ama;

O homem é o único animal
que fere, destrói, ri e odeia;

Enfim:
O homem é o único animal
que mente, engana e trai.

O homem, quando quer,
é um bicho mau.


Francisco Carlos (Barba) dos Santos


MUTAÇÃO



envelheci num átimo.
no preciso instante
entre o fim do filme
e o acender
das luzes do cinema.

atônitos
entreolharam-se os espelhos
ante a dubiedade
da imagem
refletida.

e eu?
parti.
deixei sobre a cadeira
ao lado
a face antiga.


Márcia Maia


LÍNGUAS ESTRANHAS


Cadeiral de Cheddar
Pescado em http://janela-indiscreta.blogspot.com/

Era meia-noite ...
Uma fada verde entrou pela janela
parecia uma boneca, de tão bela
olhos negros, sem cabelos
com asas de quimera
Falou-me em tons pueris
Pouco entendi, além das imagens que vi
Era uma terra pequena, cercada
Ladeada por frutas, gramada
No centro, Anjos e Magos
Uns caolhos, gordos, outros magros
Em línguas estranhas conversavam
(num linguajar com cor, sem som)
Com dados, tabuleiros e baralhos
Compenetrados sentenciavam
Os carmas e os dons de nossas almas
uns diziam não, outros sim
Mas não mostraram ali
O mistério que está no fim


Meire Gomes


NA PRÓXIMA QUINTA, BEATLES NO LOROTA'S

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BEATLES FOR EVER

Na edição de estréia, o capitão da noite será Oswaldo Ribeiro Filho, o Ørf, nascido na antiga Rua da Palha, hoje Vigário Bartolomeu, parede e meia com o Beco da Lama, por isso um dos mais fervorosos adeptos da SAMBA (Sociedade dos Amigos do Beco da Lama e Adjacências) e da Turma do Beco.
Morou em vários lugares, dentre eles, Caicó, Hungria, Estados Unidos e, hoje, em Morro Branco, pastora nuvens e olha o quintal do manicômio.
É aquacultor pela UFRN e especialista em Reprodução de Organismos Aquáticos pela Universidade de Gödöllö, na então República Popular da Hungria. Além disso, é caçador de músicas na internet e promete uma seleção com raridades como uma gravação de Paul McCartey cantando Summertime, Come Together - pelo coro da Old Whaling Church, Chet Atkins e Stanley Jordan tocando I Feel Fine e Eleanor Rigby, respectivamente, dentre outras. Serão sorteados entre os presentes três CDs com a seleção do mestre Ørf.


O "PÁSSARO BRANCO"



Prólogo
Laferre de Melo es un ex-periodista brasileño, oriundo de Natal.

Su tío João Menezes de Melo, el Sargento Menezes, fue un héroe y un temprano mártir de la Aviación Militar brasileña. Los precursores uruguayos Tydeo Larre Borges, José Luis Ibarra y Coralio Lacosta, fueron sus compañeros de "turma", en el curso de vuelo realizado en 1920, en el Campo dos Afonsos, en Río de Janeiro.

Este relato es uno de tantos que ha publicado con los temas de los gloriosos comienzos de la aviación verde-amarelha. Laferre de Melo cuenta que la anécdota del "Pássaro Branco", así como la "gaffe" social de Larre Borges, están aún frescas en la memoria colectiva de su tierra natal.

Pilotoviejo
No tempo dos americanos


O “PÁSSARO BRANCO”

Antes do tempo dos americanos, numa madrugada de muita chuva e relâmpago, voando baixo e sem nenhuma visibilidade, o monomotor Breguet passou por cima de Parnamirim, roncando. Pouco depois, no lusco-fusco do alvorecer, os poucos moradores da Fazenda “Maracujá”, em Santo Antônio do Salto da Onça, assombrados, ouviram o rojo daquele “bicho do céu” torando mato ralo no tabuleiro até parar, fumaçando, nas moitas de xiquexique. Correu, todo mundo, para acudir. Um dos aviadores, socorrido pelo colega, gemia baixo, com profundo corte na testa. Destroçado, o avião, pintado de branco, tinha, na fuselagem, a figura azulada de um pássaro e uma legenda: “L’Oiseau Blanche” (“O Pássaro Branco”). Começara mal, para os tripulantes, o raiar do dia 17 de dezembro de 1929. Voando a 150 KMs por hora, com um moderníssimo motor Lorraine de 450 HPs, tinham saído de Sevilha (La Tablada), na Espanha, 48 horas antes da queda, ao meio-dia de 15 de dezembro. Haviam sobrevoado o Marrocos e a Mauritânia – de onde, em Port Etienne, embicaram na direção da América do Sul. Natal e Parnamirim serviriam apenas como pontos de referência. A meta, o recorde que buscavam, era chegar a Montevidéu, no Uruguai, sem escalas. São Pedro e a tempestade não permitiram! Viram, de longe, do mar, o piscar do farol da Fortaleza dos Reis Magos. Neca de Parnamirim, da pista dos franceses da Aeropostale! Tudo breu, escuridão!
Molhado, sangrando na testa, o fidalgo Capitão León Challe, do Exército francês, herói condecorado na Grande Guerra, filho de General, detentor de mais de uma dezena de recordes mundiais de aviação, é acolhido com carinho por um casal de velhos, na humilde casinha de taipa e chão batido. O Tenente-Coronel Tydeo Larre Borges, do Exército uruguaio, na solidária companhia de vaqueiros, vai pedir socorro na vizinha Fazenda “Jucá”, de Epaminondas Martins, por coincidência prefeito do município.
Tydeo Larre Borges, nesse final de década (1929), já era figura legendária no Uruguai e tinha, tanto quanto o francês Challe, renome internacional. Dois anos antes, em 03 de março de 1927, comandando um hidroavião, o “Uruguay”, caiu no litoral marroquino (Guad Fatma) e com três companheiros de vôo foi capturado por nômades do deserto, que pediram resgate de 5.000 pesetas ao governo do Marrocos Espanhol. No dia 05, os franceses da Aeropostale, Ville e Mermoz, baseados em Cap Juby, localizaram os restos da aeronave. Presos aos lombos de camelos, os uruguaios foram localizados, do ar, no dia 07, por Guillaumet e Riguelle. Exupery – aquele mesmo, o do “Pequeno Príncipe” - e Reine, no dia seguinte, chegam ao acampamento dos seqüestradores, em Puerto Casando, para negociar. Os árabes, alvoroçados, resolvem aumentar o preço para a soltura de Larre e seus companheiros. Estabelecida a confusão, três reféns correm para o Breguet de Reine. Borges, num golpe de sorte, entre tiros e desaforos em três idiomas, também se escafede no outro avião, com Saint-Exupery. Um dos pilotos resgatados foi o Capitão José Luis Ibarra. Coincidentemente ele e Larre Borges foram, no Campo dos Afonsos, colegas de turma do Sargento João Menezes, falecido em 1920, natalense, com quem fizeram larga amizade, no Rio. O diabo é que – vamos ver - a terra do Sargento não tratou muito bem o oficial uruguaio!
Depois da estadia forçada no Rio Grande do Norte, obtendo alta León Challe, partiram os aviadores, no dia 22, para Montevidéu, onde foram homenageados. Além do pouso não previsto, do acidente, um incidente lamentável marcaria a passagem do futuro Brigadier General Larre Borges por Natal. Sem dúvida, dolorido na alma e no corpo, acompanhando, no hospital, o tratamento do companheiro francês e amargando a derrota por não ter concluído o reide, ao não aceitar um intempestivo e provinciano convite para “um banquete de homenagem” na Escola Doméstica de Natal – na época era “chiquérrimo”! –, o grande aviador entrou em rota de colisão com os costumes locais, provocando a ira da elite e o conseqüente ataque impiedoso da imprensa, açulada pelo padre João da Matta. Dias depois, de Montevidéu, com elegância, procurou desfazer o “imbróglio” constrangedor. Em cartas aos jornais da cidade, em bom português, afiançou a antiga admiração pelo Brasil, a convivência cordial com os brasileiros e a passagem pelo Campo dos Afonsos, revelando, ainda – para surpresa de muitos – ser a esposa (Elena Gallarreta Urrutia), a mãe dos seus filhos, brasileira! Morreu de saudade, o Brigadier General, em 1984, aos noventa anos, uma semana depois da morte da sua Elena – com quem viveu setenta.


Laferre de Melo

(Publicado en "TRIBUNA DE PARNAMIRIM", Parnamirim/RN, octubre de 2003)


POETAS BISSEXTOS



“O poeta contumaz é aquele que sabe extrair matéria lírica de qualquer acidente da vida.” (Manuel Bandeira, 1886-1968)

Natal é poesia. A floração é tão grande que passou a integrar a cidade. Faz parte dela como a Fortaleza dos Reis, o rio Potengi, o Parque das Dunas, os ventos elíseos, o santo Padre João Maria.
Além dos poetas de reincidência prolongada, existem os poetas que de quatro em quatro anos (o seu 29 de fevereiro!) fazem um belo poema. Manuel Bandeira cunhou a expressão poetas bissextos, em uma antologia memorável da qual participam Pedro Nava, com o poema O defunto, que apaixonou Pablo Neruda, Di Cavalcanti, Raquel de Queiroz.
O mais célebre bissexto daqui é Luís da Câmara Cascudo, de quem publiquei três poemas. Veríssimo de Melo ficou notavél, principalmente em letras para música. É recitado nos bares: “Caju nasceu para cachaça / pirão pro peixe nasceu / mulher nasceu pro amor / pro amor? Também nasci eu”. Vivi me disse que deixou de fazer poesia por não viver mais em estado de graça. O Ministro José Augusto Delgado é um bissexto que abandonou a poesia em favor do direito. O professor de direito, Lúcio Teixeira, provocado, responde em versos.
Os poetas bissextos, na maioria, são inéditos, não têm livro publicado, alguns são fesceninos, recitados com ar de segredo, despertando risos. Muitas vezes, o poeta bissexto exerce funções elevadas e pensa que não lhe fica bem cometer poesias. O mestre Mário Moacyr Porto dizia que nunca fizera um verso, mas fez. Dele uma bela paródia que dizia já haver esquecido quem dele se esquecera. O matemático e professor de engenharia José Bittencourt é um sonetista de primeira.
Nilson Patriota, romancista e historiador, produziu poemas dos mais expressivos da literatura brasileira.
Solon Galvão é o escritor do sisudo Dicionário Odonto-Médico, inglês-português que fixou, com precisão, toda a terminologia específica. Há 25 anos, desafiou-me a encontrar uma rima para “índio”, não valendo derivados. Disse-me que nem o Dicionário de Rimas Luso-brasileiro de Eugênio Castilho consigna a rima. Fiz a quadra: Descubro para mim dio / genes, meu caro Solon, / uma rima para índio, / quebrada, mas de bom-tom. A resposta foi imediata: “Afinal, meu caro Dio, / uma rima para índio. / Impossível o termo inteiro, / é fácil: toma-o e cinde-o!” A quadra de Solon veio acompanhada de ressalva, guardando a forma de linhas poéticas: “Muito bem diz o matuto, que é bicho muito sabido: não existe coisa mais feia que velho e menino enxerido. Permita-me acrescentar uma pergunta de esteta: não é de provocar riso, sem ser, querer ser poeta? Desculpe, meu caro amigo, não deixá-lo sem resposta; preciso fazê-lo em verso, mesmo que seja uma... Obrigado pelo verso, mui gentilmente mandado, trazendo a rima de índio, embora de pé-quebrado. Tem sempre boa saída o poeta, quando é bom; o que não posso dizer do seu amigo Solon”.
O engenheiro Nadelson José Freire, rindo, identificou resultado de programa governamental: “Quem toma medicamento / segue as instruções da bula. / É preciso ter cuidado / com o tal pecado da gula. / Porque, nesse lero-lero / do Programa Fome Zero, / quem ficou gordo foi Lula”.
O Rio Grande do Norte merece uma antologia dos seus poetas bissextos para ficar, com honra, ao lado do livro de Manuel Bandeira. Quem se habilita a fazer?

Diógenes da Cunha Lima
* Advogado, escritor e presidente da Academia Norte-rio-grandense de Letras


Rimas de "indio" e de "mãe"...

Diógenes,
Meu saudar.

Nos idos de 1955 - tempos de Atheneu, eras da “Confeitaria Cisne” e sábados de meio-expediente -, valendo “Teutônia” gelada servida por Zé Américo, mereci, como prêmio, uma dúzia delas, de casco verde, por haver glosado o mote abaixo (com “índio” e “mãe”, Deus nos acuda!):

MOTE:

Reconheci que o índio
não sabia dizer “mãe”!

G L O S A :
Desejo que a morte guinde-o
oh quem fez tão rude verso,
mote difícil, perverso
- “Reconheci que o índio”!
Direi para o bugre: -“ Brinde-o
com sopapos, não estranhe!
- Você mentiu, se acanhe,
em dizer que o coitado
do selvagem apalermado
não sabia dizer “mãe”!

Do autor do mote, não lembro mais o nome. Na “comissão julgadora”, estavam Esmeraldo Siqueira e Érico Hackradt. As cervejas tomei em companhia de Ítalo Pinheiro, então meu colega do TCU, e Luisinho Doblecheque, Rei Momo, Primeiro e Único...

Abraço,

Laélio Ferreira de Melo




domingo, março 27, 2005

ESFERA POÉTICA


Eduardo Alexandre©

Entrevista: ANTONIEL CAMPOS
Mário Gerson
Da Redação
Gazeta do Oeste

Antoniel Campos é engenheiro civil e nasceu em Pau dos Ferros (RN), a 7 de janeiro de 1967. Publicou Crepes e Cendais (1998) e De Cada Poro um Poema (2002), agora, em 2005, edita A Esfera, livro que já lhe rendeu muitas honrarias da crítica. É um poeta visceral. “Minha poesia tem um lado visceral”. Ele confessa. Em um bate-papo descontraído, nas dependências do espaço Chap-Chap, o poeta falou de poesia, de esfera, de encanto e criticou o lado resumo-sem-sentido do fazer poético. É conferir a palavra semeada por Antoniel Campos.

O início?
AC - A influência da rima sobre minha obra é tão grande, que a primeira vez que escrevi não sabia o que era um soneto. Identifiquei-me muito com Augusto dos Anjos. Tive contato com os poetas formadores um pouco tarde. Depois, conheci Cruz e Souza: beleza estética do simbolismo, e Afonso de Guimarães. Logo a seguir, veio o interesse de maravilhar-se com Rimbaud e Baudelaire. Atualmente, admiro muito a poesia de Paulo Henriques Brito, que ganhou o prêmio Portugal Telecom. Ele brinca e destrói o soneto enquanto forma. A quebra que dá no ritmo se torna quase uma prosa. E ele é muito sarcástico com o ato de escrever; contra si mesmo. Acho esse se negar o máximo.

Você se nega nos seus poemas?

AC - Com certeza. Acho que é uma necessidade de quem escreve dizer um “não” primeiro a si. Eu sei que quero isso, mas vou dizer que não quero isso.


Proposta filosófica em sua poesia?

AC - Existe, embora eu sempre tenha procurado evitar a questão de levar minha poesia a um caminho filosófico. Em todos os três livros que escrevi, sempre as primeiras partes são de questionamentos. É a dor, o negar-se, o negar. São facetas que realmente estão presentes no que escrevo.


Os poetas deixaram de se negar?

AC - Acredito que os poetas hoje – sei que entro em rota de colisão com o fazer poético atualmente no Brasil – porque o que se busca é uma manipulação que beira a ser tola com as palavras. Isso significa buscar a concisão por buscar. Como se a concisão estivesse no ato de escrever pouco. Pode ser lacônico, escrevendo pouco. Podemos ser verborrágicos, escrevendo pouco, podemos ser concisos, escrevendo muito. Aquilo que escrevemos não é definitivo. Deve-se escrever até o dia da gráfica, quer dizer até o último momento. Também isso não significa enxugar demais e nem ficar espalhando o poema para dizer o que não tem mais para dizer. O poema é do tamanho da idéia.
Os livros anteriores traziam o mesmo ritual de exercício poético?
O primeiro livro foi Crepes e Cendais, que são dois tecidos: um sedoso; outro mais áspero. Na parte dos crepes, eu explorava a temática da dor, da morte, da poesia confessional. E na outra, a poesia mais lírica, que fala do amor, do sensual. A poesia dependia da textura do tecido. O segundo livro, De Cada Poro um Poema, dividi também em duas partes: nos poros, aquela coisa mais visceral. A partir do segundo livro já comecei a lançar o olhar mais sobre o fazer poético e mantinha mais a questão da dor; na segunda parte dividia a parte lírica, amorosa; bem como na poesia sensual, que gosto de tocar.

Por que esfera?

AC - Qualquer tamanho que seja a esfera, nunca se consegue ver a metade, pois para ver a metade, o seu raio visual teria de fazer uma tangente em cima e embaixo da esfera. No entanto, o raio visual que sai do nosso olho sai em forma de cone e não atinge a metade da esfera. Só podemos ver a metade da esfera no infinito, quando as paralelas se encontram. A partir dessa idéia, começo a tratar a questão da poesia. Quando me aproximo da esfera, vejo detalhes dela, mas vejo muito menos da sua metade. Posso me distanciar e a partir do momento que me distancio, começo a ver mais partes dessa esfera. A poesia tem de ser visceral. O meio termo não vale em poesia. É isso que penso.


QUEM SABE?!...

Florbela

Eu fujo-te. Tu ficas. O que é o destino?
Se em vez de fel amargo contiver a taça
o mel dourado e doce do lagar divino
bebê-lo à despedida dir-se-á desgraça?

Tu fitas-me, e eu fujo, alheia ao teu bendito
olhar: de que me serve? Não ouso alcançar-te
o sonho de ficar, ficar... Faz-te infinito
amor, e mesmo longe prometo encontrar-te!

Talvez seja mais que tempestade, o amor,
efêmero bafejo de mar em furor
que impune sacrifica pesqueiros leais

ou seja a calmaria vã, misteriosa
que em nós desdobra negra noite tenebrosa
...
: se acaso aqui ficasse, te amaria mais?



Márcia Maia


MUEZIM TRAZ WALFLAN À BAILA

Jornal de WMTribuna do Norte
Tribuna do Norte - 27 MAR 05

Laélio Ferreira de Melo, que anda metido no blog “Alma do Beco” e através do qual vai divulgando suas pesquisas que entram pelas veredas das artes e das letras, me manda imeio sustentado em texto de muito tutano. Tarefa de quem sabe colocar a palavra no lugar certo e com o molho adequado à boa prosa. Laélio, que eu conheço derna de menino pelas calçadas da rua Auta de Souza chegando à esquina da Rio Branco, por um lado, e pelo outro indo até a Princesa Isabel e Felipe Camarão, Natal dos anos quarenta (fui companheiro de Hermilo, seu irmão mais velho), é poeta, filho de poeta, e promete ainda para este semestre uma edição nova e ampliada (com inéditos) de Sertão de Espinho e de Flor, livro do seu pai, o grande Othoniel Menezes. Pois bem, este imeio que ele me mandou na noite de segunda-feira passada, é uma mensagem especial endereçada ao poeta Sanderson Negreiros e fala de um outro poeta de nome Walflan de Queiroz, uma das mais fascinantes inteligências do Rio Grande do Norte, que morreu vai fazer agora em agosto dez anos. Antes de passar a palavra para o Laélio, ressalto que o título “O muezim de Capim Macio” (Mensagem para Sanderson Negreiros) é dele*:

Texto de Laélio

Walflan de Queiroz morreu no dia 13 de agosto de 1995. Era um domingo. Tinha 65 anos. Na terça-feira, 15, fiz o registro no Jornal de WM:

- Morreu o poeta Walflan de Queiroz. Das figuras mais marcantes da inteligência natalense. Poeta de formação filosófica profunda. Culto, poliglota, irrequieto e místico. Foi monge e marinheiro. Tinha paixão pelos filósofos alemães e os poetas franceses. Rimbaud foi a sua grande leitura poética. Morreu lendo Rimbaud, em francês, em cujo idioma escreveu vários poemas publicados em cinco ou seis livros que deixou.

- Era sobretudo um homem natalense. Um cidadão do Grande Ponto. De Natal do final dos anos quarenta. Mas foi no decorrer dos anos cinqüenta que se tornou um dos centros das conversas intelectuais da cidade, nas rodas intermináveis do Grande Ponto. Dali, ponto de partida para as investidas na noite boêmia da província. Há lances fantásticos dessas peregrinações noturnas.

- Gostava de política. Fez comícios para seus candidatos e foi líder estudantil em Natal e no Recife, onde formou-se pela famosa Faculdade de Direito. Era presença certa nas convenções do seu partido, a UDN, no então Teatro Carlos Gomes, onde se realizavam também os embates estudantis. Falava das sacadas dos camarotes, como um Castro Alves papa-jerimum. Era um místico. Às vezes muçulmano confesso; outras, discípulo de Iavê. O seu misticismo avançava por essas contradições impossíveis. E amou loucamente. Idealizava o amor e sofria no amor que idealizava: “Três amores / E uma solidão. Irene, Tânia / E Herna / Vi Abraão/ No Monte Moria. / Três amores / E uma solidão, / Irene azul. / Tânia amarga / E Herna triste.”

- Saudades.”

Primeira vez que vi Walflan foi no distante ano de 1945, o país em campanha eleitoral para eleger um novo presidente da República, depois da deposição de Getúlio Vargas. Candidaturas do Brigadeiro Eduardo Gomes e do General Eurico Dutra. Campanha para eleger um novo Congresso. Café Filho, candidato a deputado federal, inaugurava um jornal que ficava na sede do seu partido. Era na avenida Rio Branco, onde hoje estão as Lojas Americanas. Primeira vez que eu entrava num jornal, tinha uns oito anos e fui levado por meu pai, um cafeísta extremado. Na sala grande, homens sérios e enfatiotados ouviam com muita atenção um jovem de uns 16 anos, também de terno e gravata, fazendo uma explanação. Era Walflan. Nunca me esqueci. Mais tarde, o menino e o jovem rapaz seriam amigos e andarilhos noturnos desta cidade de Poti.

Woden Madruga

* O texto Muezim de Capim Macio, de Laélio Ferreira de Melo, está disponível aqui.


Hugo Macedo©

Beco da Lama, o maior do mundo, tão grande que parece mais uma rua... Tal qual muçulmano que visite Meca uma vez na vida, todo natalense deve ir ao Beco libertário, Beco pai das ruas do mundo todo.

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