Tribuna do Norte
04/06/02
Dia 25 de novembro de 1960, o governador Dinarte Mariz assinava a Lei número 2.707 doando à Federação Norte-rio-grandense de Desportos uma área de 170.759 metros quadrados para que a entidade construísse um novo estádio para Natal. Nove anos antes, o governador Sylvio Pedroza anunciava um projeto para construir uma praça de esportes no bairro das Rocas, autorizando que assessores seus procurassem um bom terreno para esse fim. O assunto morreu ali.
Eleito Agnelo Alves para a prefeitura de Natal, em maio de 1967 fez um discurso quando as máquinas iniciaram a terraplanagem de toda área. Cinco anos depois, o governador Cortez Pereira pronunciava a frase que ficaria famosa: "Estádio Castelão, um poema de concreto".
Era o dia 04 de junho de 1972, uma semana antes de iniciados os jogos da Mini Copa, sendo Natal uma das sub-sedes. Na abertura, aconteceu ABC 1 x 0 América e um empate sem gol entre Seleção Olímpica do Brasil x Vasco da Gama.
Nesses 30 anos, os natalenses que compareceram ao estádio de Lagoa Nova serviram como testemunhas oculares de milhares de jogos, outros milhares de gols, de placa e gols de bico. Viram também desfilar pelo seu gramado pés de gente famosa como Pelé, Edu, Carlos Alberto Torres, Tostão, Jairzinho, Marinho Chagas, Nonato, Clodoaldo, Lula, Manga, Figueroa, Denílson, Romário, Edmundo, Ricardinho, Reinaldo, Zico, Roberto Dinamite, Serginho, Leão, Zinho, Marcelinho Carioca, Roger, Rogério Ceni, e tantos outros.
Além dos craques de Seleção Brasileira, tiveram aqueles que fizeram a alegria do nosso futebol, entre vários não podemos esquecer, nomes como os de Alberi, Hélcio, Reinaldo, Erivan, Danilo Menezes, Anchieta, Hélio Show, Jorge Demolidor, Odilon, Aluísio, Marinho Apolônio, Dedé de Dora, Baíca, os "matadores" Leonardo, Sérgio Alves, Claudinho e Robgol.
No Machadão, torcedores de todas as facções viram Vasco, Flamengo, Fluminense, Corinthians, Inter e Grêmio, São Paulo e Coritiba, até um Vasco x Flamengo fora do Maracanã, coisa rara, sendo realizado no estádio de Lagoa Nova. Viram também caírem esses grandes clubes diante de ABC e América, nos jogos pela série "A", como também testemunharam o América campeão do Nordeste em 98.
Infelizmente, nem sempre o Machadão foi palco de emoções, pois teve seu lado trágico com um suicídio e o assassinato de um torcedor e algumas quedas das arquibancadas, mas tudo isso faz parte e serve para enriquecer a história da praça esportiva mais importante do Rio Grande do Norte.
Entrevista Jornal Dois Pontos
José Alexandre Garcia
MARCOS - Você também foi um dos responsáveis por uma fase áurea do Lions Clube em Natal, quando eram promovidas as famosas quermesses da Lagoa Manoel Felipe. Fale sobre essa fase de sua vida.
JOSÉ ALEXANDRE - Mas antes de entrar nesse assunto, eu gostaria de dizer que encerrei minha presença como dirigente esportivo prestando um serviço a Natal. No final do seu governo, Dinarte Mariz - como todo político que está em campanha - chamava as diversas entidades classistas para perguntar quais eram as necessidades de cada uma. E procurava atendê-las, contanto que seus dirigentes se comprometessem a apoiá-lo. Quando ele reuniu os desportistas para saber quais eram as nossas reivindicações, nós respondemos: “Governador, nós queremos um estádio”. Ele então se comprometeu: “Eu prometo a vocês fazer um estádio”. Como já estava em fim de mandato, nós sabíamos que ele não tinha condições de realizar aquela obra. Decidimos então pegar o homem na palavra e conseguir dele pelo menos um bom terreno para o estádio. Foi quando escolhemos este terreno onde hoje é o Castelão. Nossa comissão era composta por Salatiel Silva, então presidente da Federação, Aluísio Menezes, eu, Antônio Soares Filho, João Machado e Moacir Gomes da Costa. Quando nós escolhemos aquele terreno, no dia seguinte um jornal de oposição nos brindou com um editorial nos chamando de lunáticos, malucos, imbecis e outros adjetivos desse quilate, porque, em vez de fazermos um estádio para Natal, nós íamos fazer um estádio para Parnamirim. O pessoal não tinha a menor visão de futuro... Conseguimos aquele terreno mandando Moacir Gomes ao Rio de Janeiro conversar com o velho Saturnino de Brito, que era então o dono da Companhia de Saneamento de Natal, a quem pertencia o terreno. O Estado se propunha a permuta de terrenos com a Companhia, com aquele, mas a direção local era contra. Saturnino encantou-se com Moacir e reviu nele o Saturnino de Brito da juventude. Graças a isso, conseguimos sua concordância e o terreno foi doado a Federação.
TICIANO - A bem da verdade, você que acompanhou a história desde o começo, diga-nos quais foram as figuras da cidade que realmente contribuíram para que Natal tivesse aquele estádio ?
JOSÉ ALEXANDRE - Primeiro, a gente tem que citar Dinarte Mariz, que fez a doação do terreno à então Federação Norte-riograndense de Desportos. Coincidentemente, no último dia de governo de Dinarte, encerra-se também o mandato de Salatiel à frente da Federação. Salatiel, então, sem consultar ninguém, baixou um ato onde dizia: “Denominar-se-á Dinarte de Medeiros Mariz o estádio a ser construído em Lagoa Nova”. Vocês hão de convir que Aluísio Alves, naquele clima de radicalismo que existia, jamais poderia contribuir para que o estádio fosse construído e servisse para homenagear seu adversário. Depois de Dinarte, nós tivemos a figura de Djalma Maranhão, que tinha em seus planos à frente da Prefeitura de Natal, construir o estádio. Mas só na gestão de Agnelo Alves foi que se partiu objetivamente para realizar a obra. Foi então criada a FENAT (Fundação de Esportes de Natal), que encontrou o terreno parcialmente cercado por Djalma Maranhão, que também tinha mandado construir umas salas que serviram como canteiro de obra. Assim, devemos a construção principalmente a Agnelo Alves, que era o prefeito; a Ernani Silveira, que foi o primeiro presidente da FENAT;
e, posteriormente, ao prefeito Ubiratan Galvão. Na fase de Agnelo, nós construímos as gerais e as intermediárias, em regime de administração direta. Eu, como diretor-adiministrativo, Ernani como presidente da FENAT, Rossini Azevedo como diretor-financeiro, fizemos um pacto pelo qual nenhum documento referente a despesas deixaria de passar sem a assinatura dos três. Levamos muitas cantadas, mas nenhum de nós cedeu. É tanto que, quando Agnelo foi cassado e foi criada a comissão de inquérito sobre o Castelão, a própria comissão reconheceu a lisura com que a FENAT trabalhou. O estádio acabou sendo inaugurado pelo governador Cortez Pereira que também era um entusiasta da obra, e pelo prefeito Jorge Ivan, mas, sem dúvida, o grande trabalho foi de Agnelo Alves e de Ubiratan Galvão. Ainda coube a mim organizar toda a parte administrativa do estádio. Organizei as portarias, as bilheterias... Mas depois verifiquei que aquele trabalho estava ficando pesado demais, pois ao meio-dia já estava tomando conta do estádio. Isso foi na época do primeiro Campeonato Brasileiro, quando passaram por Natal as maiores equipes de futebol do Brasil. Quase sempre o estádio lotava. Era um trabalho incrível! Lembro ainda que, na condição de diretor da FENAT, evitei que fosse consumada uma grande injustiça. Na época da construção do estádio, nós vendemos cadeiras cativas a Cr$ 1.500 cada, para serem pagas em 30 prestações de Cr$ 50. Foi quando Agnelo Alves comprou cinco cadeiras: uma para ele, outra para a mulher e as demais para os filhos. Cassado e na “lona”, ele atrasou o pagamento das prestações. No dia da inauguração do estádio, a administração de então não convidou Ernani Silveira nem Agnelo. Eu então fui autor de uma proposta: Agnelo tinha pago diversas prestações das suas cinco cadeiras, que, se somados os valores dessas prestações, daria para quitar duas. Por que então não considerar pagas duas das cinco cadeiras que ele havia comprado? Depois de uma luta, a proposta foi aceita e Agnelo não perdeu de todo o que tinha pago. É provável até que ele não saiba disso, mas fui eu o responsável por ele ter ficado com duas cadeiras cativas no estádio, hoje impropriamente chamado “Castelo Branco”.