sábado, maio 21, 2005

SOU EU ESSE AQUI

Assis Marinho
Foto: Eduardo Alexandre

que eu me derrame.
invisível sou e que invisível eu permaneça. que eu seja. nenhum grito além da boca. ser isso: tentativa de fala. arremedo de sentir. mas, claro, sempre esse riso por último — por que sair mal na fita?
sei disso: eu vou ligar pra você na madrugada, eu vou lhe acordar, eu vou lhe dizer que depois de você ninguém, eu vou mandar flores pra você — eu vou levar as flores. eu vou ser sempre presença. eu vou ser o gosto do café e dentifrício. eu vou ser a esquina, eu vou ser o vermelho, o amarelo, o verde dos seus passos e seguires. o seu primeiro bom dia. eu vou tirar seus pontos. vou ser peeling. eu vou ser a sua boca. eu vou ser os seus cachos. eu estou na sua alma. eu estou na sua pele, na sua boca, na sua boca. eu estou na sua textura. no seu corpo. eu sou agora olhando você. eu sou quem lhe diz: eu sou seu homem. sou essa noite de sexta para sábado. sou essa saudade imensa, sou desejo das coisas pequenas, coisas fortuitas, sou aquele olhar que podia ser e que olhou o lado, sou quem queria estar aí, sou eu esse aqui de longe. eu sou quem lhe diz: eu sou seu homem.

Antoniel Campos


A FESTA DO PORTUGA OLÍVIO



DELÍCIA CONFEITARIA
NOVA FASE (AVANT PREMIÈRE)

MEMORIALISTA DA BOEMIA


Memorialista, é? O Pedro Nava de Natal!
Carlos Lima, editor e amigo — mas um safadão de marca maior, ao tomar conhecimento da última comparação, maliciou:
— Cuidado para não adquirir o vício do grande mineiro e morrer como ele...
Quem morreu? Pedro Nava? Quando? Enterraram uns pobres restos humanos. O Pedro Nava está aí, mais vivo do que nunca, soberbo no “Baú de Ossos”, magnífico no “Balão Cativo”, excelente no “Chão de Ferro”, “Beira-mar” e “Galo das Trevas”, mas me parecendo meio cansado em “Círio Perfeito”. Mas eu vou dizer isto? Pra Ney Leandro soltar todos os cães de sua matilha e me esculhambar como esculhamba a VARIG toda sexta-feira? Por falar nisto, Breno Pahim, meu amigo, resolve o caso de Ney! Que valem uns míseros dólares para uma companhia como a VARIG? Não me force, meu fraterno irmão, a viajar pela Transbrasil ou VASP.

COMO COMEÇOU

— Memorialista, é?
—Tudo começou quando, na abertura da Nova Delícia, depois que, durante dois anos, o local da Confeitaria foi profanado por uma livraria e o mural de Newton Navarro encoberto por prateleiras. Menotti Del Picchia tem um personagem meio boêmio, meio intelectual que denomina bar de oásis das sombras benditas.
Pois, como ia dizendo, quando a velha turma reencontrou-se no nosso oásis, nas mesmas mesas e cadeiras, renovou-se uma idéia sempre adiada:
— E a homenagem a Olívio que a gente ficou de fazer ? No dia 30 de junho ele completa 77 anos de idade e 40 como dono de bar.
Tudo acertado, levou-se o barco à frente e este será tema da Confeitaria Delícia — Nova fase: a festa do portuga Olívio, a partir da próxima semana. Mas posso adiantar que, entre as providências tomadas, couberam-me os contatos com a imprensa. Fala com um, fala com outro, resolvi escrever uma matéria sobre a Confeitaria sob o título “Uma medalha para Olívio”, onde descrevia o ambiente, os personagens, as acontecências da velha Delícia, e trouxe para Marcos Aurélio ler e, se estivesse conforme, publicar.

O BALÃO DE ENSAIO

Com sua natural lhaneza — que puxada! —, Marcos o fez. Menino, recebi tanto abraço e palmadas às costas que tive que comprar Frixal para passar nas ditas cujas! Sim, Frixal, que sou do tempo de constipação, califon, Cafiaspirina, sabonete Eucalol e coisas que tais.
Depois, fui soltando, como balões de ensaio, umas crônicas desenvolvendo tipos e trazendo para o ilustre mestre diretor de Dois Pontos ler e — outra puxada — dignar-se publicar:
— Marcos, leia que amanhã passo para receber o seu veredictum.
Às vezes, o encontrava risonho e aprovativo. Outras, de cara amarrada e cenho cerrado. E ia logo adiantando:
— Suprimi vários tópicos. Você pensa que isto aqui é Ele & Ela pra publicarmos indecências? Temos crianças e senhoras como nossos leitores. É preciso compostura!

AS CRIANÇAS DE HOJE

As crianças de hoje sabem muito mais nome feio que eu e todos os leitores de Dois Pontos juntos e expressam-se numa linguagem desabrida e livre que só ouvindo! E as senhoras de hoje? Freqüente uma roda de casais jovens! Sai cada anedota imoral que vou te contar! E, no dito sexo frágil, encontrei as maiores incentivadoras para ir em frente. No Lions-Norte, quando presidente, encerrei uma roda de anedotas, numa noite de luar, no Iate, após Edna Câmara, domadora de Severo Câmara, com aquela cara angelical que Deus lhe presenteou, contar um caso acontecido com um homem que comia demais. Eu conto, Edna? Por você, sei que teria consentimento, mas Marcos Aurélio publicar? Nunca!

O TOMADOR DE CERVEJA

— Boêmio, é?
Boêmio que só toma uma qualidade de bebida (cerveja); que vomita se botar na boca um conhaque, uma vodka; que nunca tomou cachaça, nem em beira-de-praia e em tempo de caju de conta ?

A CLASSIFICAÇÃO

José Waldenício de Sá Leitão, o rei da noite, quando da auto-apresentação no Ágape Clube, enquanto uns se anunciam professor, industrial, comerciante, médico e etc. e tal, ele inflama o peito e proclama:
— Waldenício, boêmio.
E explica: é o que realmente eu quero ser e estamos conversados. Posso ser Procurador nas horas vagas. Nas horas boas, sou boêmio.

A DEFINIÇÃO

Vicente Serejo pediu-me uma definição de boêmio. E eu escrevi mais ou menos assim:
É preciso, de início, fazer uma diferenciação entre boêmio e bebedor. Este é um inveterado, desfibrado, prisioneiro do vício. Um pobre diabo mal vestido, de idéias confusas. Bebe em ambientes sórdidos. Não trabalha, ou, se o faz, é com imperfeição. Um infeliz a caminho de uma cirrose hepática aguda.
Já o boêmio, não. É um ser inteligente, de idéias avançadas, alegre, folgazão, um papo excelente, sempre bem recebido e festejado, que trabalha e muito, porque, para transar na noite, principalmente acompanhado, é preciso ter lastro bancário. Tem os olhos de farol a iluminar essas deusas que Deus botou na terra como o nome de mulher, avançando o sinal quando de alto se notar um sorriso prometedor, mas debreando e recuando, estrategicamente, se notar que a rota não é a permitida.
Enfim, um boa vida, adorando uma boa bebida, um prato sofisticado ou regional, um ambiente que inspire momentos de êxtase espiritual e sentimental.
—Boêmio, é?

O ACERTO

Acertada a homenagem aos 77 anos de idade de Olívio, sendo que 37 como barman, para o entardecer do dia 30 de junho, data em que há sete décadas e bote-força, o deixe-que-eu chuto nascera na remota aldeia de Peruzinho — que Cascudo afirmava não existir — tomou-se a primeira providência: compor comissão para acertar detalhes e quefazeres.

A COMISSÃO

Comissão é como o professor Onofre bem dizia: é a coisa mais ineficiente e sem futuro dessa nação. Nomeiam 3, 5, 7, 10 membros e não vai para frente, nunca. Se um só não levar o barco, estamos conversados.
Pois a nossa foi exceção à regra. Às cinco e meia duma tarde/noite meio chuvosa do início de junho, os sisudos e compenetrados membros se encontraram numa mesa da Nova Delícia. Abertos os trabalhos, com uma Antarctica para Alexandre, uma Brahma para Renato do Grande Hotel (que só toma a Chopp) e um uísque para o livreiro Carlos Lima, acertou-se, em linhas gerais, do que se comporia a homenagem: coquetel, salgadinhos, inauguração do retrato do portuga, palavras de saudação pelo poeta, pintor e freqüentador de caderno Newton Navarro, agradecimento do homenageado e bebida até chegar no meio da canela.

O PRIMEIRO IMPASSE

Quando, conseguida uma Remington, estava-se confeccionando as listas de adesão, irrompe, bar a dentro, truviscado e meio, o nosso bom amigo Leão, a protestar, em altas vozes, a sua não inclusão na comissão.
— Toda festa na Confeitaria foi organizada por mim! Tomei parte em todas as comissões! Por que não nesta?
Carlos Lima, com seu olho meio-fechado de Camões, explicou, grave:
— A comissão foi escolhida pelo consenso.
Consenso! Grande termo inventado pelos novos tempos. Significa tudo e nada explica.
Depois da ofensiva intimidativa, o protestante apelou para o lado emotivo:
— Me diga, doutor! Quem foi a primeira pessoa a quem o senhor falou em homenagear Olívio?
Confirmei que havia sido ele, mas que eu não possuía poder de decisão para indicar, incluir, vetar nomes do trio organizador.

HOMEM DE PALAVRA

Quando o homem das máquinas caiu em si e viu que eram baldados apelos e argumentos, entrou de sola. Deu um murro na mesa que balançou copos e garrafas e gritou:
— Pois eu nem assino a lista, nem pago. No dia, não piso nem na Ribeira.
Homem de palavra está aí! Não assinou e não pagou. Mas, no dia, compareceu, assim como quem não quer nada, querendo, entrou firme e forte no uísque De Monge e saiu de quatro pés.

O RETRATO

A mim, fora reservada a incumbência de abordar o portuga e arrancar-lhe um retrato decente para ser ampliado.
— Fale com cuidado que o homem pode se emocionar!
Mas quem passou quarenta anos vendendo bebidas vai se emocionar com mais o quê ? Embora botando banca de que a festa era imerecida, cascavilhou numas velhas caixas e lá desencavou o retrato dum lusitano moço, forte, bem vestido, na altura dos 40 anos.
E estava certo. Era aquele o Olívio dos velhos e bons tempos. Certa vez, recusei homenagem que a FNFS elaborou, inaugurando galeria dos ex-presidentes e eu fora o primeiro e fundador. Tirar uma foto com cara de 25 anos atrás, impossível! E foto daquela época, eu não tinha mais.

A MÁQUINA DE LAVAR

Botei o retrato no bolso da camisa e larguei-me para casa. Dia seguinte, estava a vestir-me, quando dei por sua falta.
Corri pra esposa.
— Cadê a camisa que estava vestido ontem ?
— Estava suja. Botei na máquina de lavar, agora mesmo.
Entrei em pânico. Olívio prevenira de que só possuía aquela foto.
— E o retrato que estava no bolso?
— Que retrato? Não vi retrato nenhum.
Em 35 anos de vida em comum, foi a primeira vez que a mulher não fizera uma inspeção em regra nos bolsos!
— Desligue esta máquina, pelo amor de Deus!
Quando, trêmulo, o ecebi, ele estava meio diluído, quase esbranquiçado. Enxuga, passa ferro, procura fotógrafo para ver se dá jeito ! O homem deu. Quase milagre ! Mas quem o examinar bem de perto, notará, em seu todo, aqui e ali, suspeitas manchas brancas. O preço pago por ter passado quase meia hora na máquina de lavar.

AS REUNIÕES

A comissão passou a reunir-se aos fins de tardes, numa mesa da Nova Delícia, para cotejar providências e decisões a serem executadas.
Desde já, protesto veementemente contra cavilosas insinuações veiculadas à poca, de que a precípua finalidade da reunião do dia seria entregar-se a libações alcoólicas (entregar-se a libações alcoólicas é ótimo!).
É verdade, molhava-se o bico, uma cervejinha, um uísque, uma caipirinha. Surgiam pratinhos de queijo ou fígado acebolado. Mas, por esse Brasil afora, reunidos três ou quatro filhos desse gigante adormecido que façam ou pretendam fazer parte de comissão, o normal é falar da vida alheia e tomar uma!

AS ADESÕES

As adesões eram saudadas com entusiasmo.
— A turma de Galvão Mesquita aderiu! O próprio Paulo de Paula ficou de vir! Mozart Silva telefonou afirmando que, apesar de ainda considerar o portuga um ladrão descarado que aumentava nas contas, podiam contar com ele.
— Albano, o portuga do cotonifício, assinou.
E também Ferreirinha, da Casa Lux, o alto comerciante Zé Rezende (É Zé Rezende! É Zé Rezende!), Manoel Lisboa, da Codif. O negro Oméris, que estava desaparecido de há muito, reapareceu, e embora taxando de exploração a taxa de cinco cruzeiros, assinou.
Aliás, achar tudo exploração é inato de Oméris. No dia seguinte ao do lançamento das “Acontecências”, ele endereçou a Editora Clima o seguinte telegrama: “Livro realmente uma delícia Felicito escritor e editora protestando porém alto preço. A quem de direito, para providências PT Oméris”.
Ele deve ter pago nos telégrafos o preço de outro livro !

AS DECISÕES

Algumas decisões foram logo tomadas. Todas, de forma a mais democrática, como se há de notar, embora uma democracia ainda eivada de algumas interpretações, certamente produto da Era do Cavalo que vivemos nos últimos seis anos.
Carlos Lima não teve meias palavras.
— Este coquetel que vocês estão anunciando é pra inglês ver. Será servido uísque, e De Monge, que é a minha marca predileta.
Zé Alexandre não fez por menos.
— E os salgadinhos serão encomendados a Gelza que, além de ser a melhor banqueteira de Natal, é esposa de Etienne Reis, irmão de Eider. Minchou e pof!
Renato, do Grande Hotel, depois do terceiro copo, falou duro:
— E fiado, essa história de “depois eu pago”, comigo não cola. Nem Jesus Cristo, se aqui chegar, não assina fiado.
Como estão interpretando o Homem de Nazaré ultimamente de todas as formas, maneiras e posicionamentos, o futuro memorialista resolveu demonstrar alguns conhecimentos etílico-bíblicos.
— Está provado que o homem era chegado a um mé. Onde fez seu primeiro milagre? Numa festa de casamento! Meio fruviscado, vieram lhe segredar que o vinho acabara. Ele, do alto dos seus tamboretes, não se fez de rogado e disse: Não seja por isso. Deixem comigo! E transformou água em vinho. E que vinho! Grande Job, pra lá! Foi até elogiado o seu produto no Livro dos Livros. Um emérito fazedor de vinhos, ele foi.

MEU PROTESTO

Aproveito a ocasião para mandar a um certo lugar (este puritanismo de meia tigela de Marcos a não permitir que a gente escreva um nomezinho feio de vez em quando!) um certo editorialista que chamou o meu bispo Dom Costa, o meu amigo Hudson e o padre Pio, que nem conheço mas admiro (Ah, se a Maçonaria topasse!) de comunistas. Comunista e fichado na mocidade, todos nós sabemos quem foi. Woden já declinou seu nome em entrevista, com todas as letras.

A FESTA DO PORTUGA OLÍVIO III

A imprensa colaborou, decisivamente, para o sucesso que foi a festa de Olívio. Woden abriu alas e deu passagem a uma série de encômios ao português — não fosse ele um velho freqüentador e boêmio ainda hoje, destes de pegar o sol com a mão ! —, aproveitando o ensejo para profligar contra a Edilidade pelo abandono em que se encontrava (e se encontra) a velha Ribeira.

O “O” A MENOS

Cassiano também. Idem Albimar Furtado que o substituiu em seus dias de férias. Só que Albimar, alérgico ao álcool e sem muita intimidade com a militância boêmia, chamou Olívio de Lívio. Mas quem vai se importar com tamanha insignificância, um “o” a mais, um “o” a menos, numa terra em que tanta gente boa anda dando o “o” ?

O MENESTREL SEREJO

Vicente Serejo, o menestrel de “Cena Urbana”, escreveu, no dia da festa, belíssima crônica, sem dúvida, a mais bonita do ano, intitulada Milagre na Delícia, que começa assim:
“Imagino hoje, coisa das 18 horas, na Ribeira velha de guerra, o poeta Newton Navarro fazendo a saudação ao mestre Olívio Domingues. Acordando com recordações de caravelas portuguesas que um dia pintou na parede da Confeitaria Delícia. E sobretudo para ouvi-las navegar nas marolas da Ribeira palafita.
“Imagino é Olívio Domingues, os cabelos brancos fazendo espuma na beira do mar da Confeitaria Delícia. Onde as lembranças retornam nos brindes de cerveja e de conhaque no buquet de vinhos antigos que dormiram nas prateleiras, onde adormeceram os sonhos dos poetas de lá.
“Imagino José Alexandre Garcia voltando aos caminhos da Ribeira silenciosa e carregando nos bolsos as histórias e estórias das boemias. Para recolher nas mãos as lembranças, todas perdidas ao longo de tantas vidas, como se a Ribeira abrisse as portas da alma e libertasse nossas almas todas.
“Imagino Carlos Lima, um misto de boêmio e editor, o cigarro quase caindo nos lábios, o riso aberto aos amigos. É como se existisse um corredor entre a Livraria Clima e a Delícia, onde Carlos passa todas as manhãs, todas as tardes, desde que aprendeu os caminhos de lá”.
E segue, derramando poesia pura, mesmo declarando que não fora um freqüentador da casa.

O BANCÁRIO

Mas nem tudo foram flores na armação do evento. Eu mesmo, fui, um dia, abordar antigo bancário e freqüentador. Ele recebeu-me com quatro pedras na mão e olhos fuzilantes:
—Quando for para contribuir para o enterro de Olívio, me procure. Para homenagear aquele mal-educado, de maneira alguma !
Um que certamente guarda mágoas do velho barman, um crédito não concedido, uma palavra mais áspera, um tratamento à la bruta.
Quanto ao enterro, Olívio está aí, rijo e são do lombo, pronto para comemorar, no próximo mês, 78 anos. E o tal bancário é uma caixa de doença, de casa para o médico, do médico para casa. Diagnóstico da doença: ruindade congênita.

ZIL

Numa tarde em que gravemente a comissão estava reunida, chegou o pegajoso, abraçativo, adesivo e envolvente Zil, o “cérebro da família Paiva” e foi logo caronando uma cerveja e pedaços de queijos. Sem antes beijar a testa do bancário Getúlio. Espicacei Renato, do Grande Hotel.
—E Zil, paga ou não paga ?
Renato teve um momento de desânimo e ao mesmo tempo de solidariedade só encontrada nos bares:
— Zil é hors concours. Vem de qualquer jeito. É melhor considerá-lo convidado especial.
Zil, em retribuição, pegou o cabo da vassoura como se fosse microfone e cantou Tenderly.
E cantaria outras mais, se Zezito permitisse.
E eis que o dia da festa, chegou. O que será contado — finalmente ! — adiante.

A FESTA DO PORTUGA OLÍVIO — FINAL

A solenidade estava marcada para as 6:00 h. Todavia, às 5:00 h. a confeitaria já recebia a primeira carga de boêmios. Almeida, da Força e luz, também conhecido por Almeida Garret e seu braço de borracha; o primeiro presidente do Gango Tetéu, o hoje grave e circunspecto senhor Heráclio Pires Filho; Celso da Silveira, doido para iniciar os trabalhos; o poeta Navarro; os membros da comissão; o fiscal do Estado João de Brito, estreando uma barba branca, à la Hemingway.
— Vai tomar parte em algum filme ?
O ex-despachante alisou os pelos, com evidente satisfação.
— A você, eu conto. Aos demais, digo desaforo grosso. É que precisei extrair todos os dentes e a barba encobre a boca murcha e a banguela.

O BAFO

Às 6:00 h., não cabia mais ninguém. Os grupos espalhando-se pela calçada e pelos passeios, onde as mesas estavam colocadas.
Num grupo à parte, no sereno, as figuras de Júlio César Andrade, Augusto Dourado e Orlando Gadelha, alguns dos primeiros representantes de confeitos, chocolates e queijos a confiar em Olívio.
O hoje poderoso homem da SAM’S (quatrocentas toneladas por mês) contava um causo. O da partida de Borboleta chegado precisamente numa véspera de Natal, açulando os comerciantes, ávidos para faturar o produto, justamente num dia dos mais propícios.
Nervoso, Orlando Gadelha foi dos primeiros a telefonar.
— E o meu queijo, Portuga ?
Olívio tranqüilizava:
— O velho Zé Alexandre já providenciou tudo. Despachou na Alfândega, desembaraçou nas Docas e entregou os conhecimentos a Pedro Ferreira. Com recomendação para entregar primeiro a você.
Houve uma estática e a linha caiu.
O português procurou refazer a ligação e, quando conseguiu, com voz melíflua que reservava para os melhores fregueses, perguntou:
—Você sabe com quem está falando, Orlando ?
E Orlando:
— Sei. É o portuga da Confeitaria Delícia.
Olívio não acreditava.
— E como você adivinhou ?
O antigo representante respondeu em duas palavras e desligou antes de ter notícias da excelentíssima senhora sua mãe:
— Pelo bafo.

OS POETAS JOVENS

Um grupo de cabeludos intitulado jovens poetas, acompanhado de algumas mocinhas de cabelos eriçados e coxas generosamente de fora, em minúsculas saias — única parte palpável de inspirados estros —, ocupou uma mesa e pediu cerveja, em altos brados. O convencionado com Zezito, o futuro Olívio da Nova Delícia, era restringisse ao uísque De Monge e aos salgadinhos de Dona Gelza, pois estava na cara que os invasores iam terminar atrelando a despesa à conta da festa.
Mas foram atendidos, numa demonstração de apreço ao valor artístico de cada um, embora ainda inéditos. E as coxas em exposição das mesmas...

LIMARUJO

Deu seis, seis e quinze, e nada de Olívio chegar. Com o que impacientou-se o alto comerciante Limarujo, nos tempos de pobre, conhecido por Preá Barbado.
— Estou sob prescrição médica. Como beber não posso, vou embora. E saiu levando cinco pratos de canjica por conta de sua adesão à homenagem, infelizmente — esquecimento, lógico ! — não consubstanciada em metais.

OLÍVIO EM GRANDE GALA

Quase seis e meia, desce Olívio dum carro. Envergava, em grande gala, um jaquetão cor de burro quando foge, camisa social fina e flamante gravata, maravilhando a todos.
— É a sua roupa de casamentos, batizados e procissões — reconheceu um mais íntimo. Ele agora é da Irmandade dos Passos.

A FESTA

E Carlos Lima deu início à festa. Como agora descrever o discurso de Newton Navarro, se a comissão, em sua única falta imperdoável, esqueceu de providenciar gravador ? Mas o Poeta da Cidade soube dar conta de sua missão. Como sempre, aliás. Emocionando a todos, evocando, primeiramente, o poeta de além-mar, Fernando Pessoa.
Quando Olívio procurou palavras para agradecer, ele tão desembaraçado em tirar contas e anotar em cadernetas, estas lhe faltaram. Não saía nada.
E ele recorreu-se de José Alexandre, ao seu lado, para agradecer a placa.
Sim, porque existia placa a ser entregue, com dizeres que manifestavam tudo, numa síntese realmente elogiável:

OS BOÊMIOS DA RIBEIRA AGRADECEM AO PORTUGA OLÍVIO, 40 ANOS DE ALEGRE CONVIVÊNCIA.

Acrescentar mais o quê, quem é temerário ?

O RETRATO

Todos de copo na mão, o uísque correndo frouxo, os salgadinhos idem, retomado o clima de descontração que os discursos haviam interrompido por momentos, segue-se no salão principal a cerimônia de descerramento do retrato, recoberto pelas bandeiras das duas pátrias irmãs, Brasil e Portugal.
O tenente Vítor, à paisana, como já mandava o figurino dos novos tempos de abertura, descerrou a bandeira verde-amarela. Dona Elça, esposa do homenageado, a da Casa dos Bragança, a verde-rubra. Ocasião em que o radialista Ademir Ribeiro aproveitou para ler a sua crônica intitulada O Nome do Dia, com a qual homenageara o velho barman ao microfone da Rádio Poti naquele dia. Na crônica, Ademir Ribeiro reconhece que, ao longo de 40 anos de batente, Olívio jamais marcara encontro com a tristeza, sempre a proporcionar momentos felizes aos seus fregueses.
Ao ouvir tal, as lágrimas começaram a correr pelo rosto do português. Pois não é que, nesse exato momento, adentra a Confeitaria, com passos cadenciados dum verdadeiro Jorginho do ABC, a figura humanitária do médico Helen Costa ! Que, ao aproximar-se, ordena a Olívio para abrir a boca e lhe encaçapa, ato contínuo, dois providenciais tranqüilizantes.

O MILAGRE

Para que contar mais ? Dizer das presenças, não o faço que não sou cronista social. Mas posso acrescentar que até representante do Governo tinha, na pessoa de Augusto Carlos Viveiros, presidente da Emproturn.
Peço, mais uma vez, permissão ao menestrel Serejo para encerrar esta estória justamente com o fecho de sua crônica Milagre na Delícia.
“Será uma homenagem simples, com certeza. Que a Delícia não comporta orgulho, vaidade ou coisa assim. Será um encontro de amigos. Como se todas as mesas estivessem ali.
Como se tudo, tudo quanto antes existiu, existisse agora. Por puro milagre”.
É verdade e dou fé, ao som dum fado cantado com maestria por João Alfredo, o João Bolão da Redinha e das serestas.



José Alexandre Odilon Garcia




sexta-feira, maio 20, 2005

A ÚLTIMA FOLHA

Andréia Keller


até quando
mentir-me-ão
os malmequeres
?


Márcia Maia


CREDO

Eduardo Alexandre
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Ingênuo
Bobo
Acredito no verso
E na vitória da Poesia
Contra o mal, a guerra.

Acredito na festa
E nas manifestações de paz
do Homem
manifestações de paz
do Homem


Eduardo Alexandre


HÁ 20 ANOS...

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HABITANTES DA NOITE


Corujas e pirilampos
Reviram a história
E estão entre nós
Buscando e rebuscando
Iluminando
Chafurdando as vidas
De pobres mortais

São o Cristo
o Pilatos
o Algoz
o homem da cabeça decepada.

Que fizeram
Que fazem
Esses bruxos do bem e do mal ?
O que são
Como vivem
E como estão
Esses seres que para cá vieram
Viajam
Conosco
Nessa sina de tropeço e cal ?

Serão
Os que gargalham
Nas noites vazias dos cemitérios
Ou os que perambulam
Cá fora
Nos castelos e alamedas ?

Será que morreram
Que estão todos mortos
Ou convivem no tempo
Bulindo
Mexendo
Eternamente ?

Quem são vocês
Corujas
Pirilampos
Se habitam a noite
Gargalham
Se agitam
E choram o passado
Perdido
Da travessia ?


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( ... )

E gargalharam por toda a noite
E se agitaram
Choraram o passado perdido
Morreram
E mortos estão!



Eduardo Alexandre




quinta-feira, maio 19, 2005

TINHA UM MEIO DO CAMINHO

Politeama
Cine Politeama

Viro todos os dias as esquinas de todas as ruas
Álvaro de Campos


Saio a caminhar a cidade pelos meus olhos de antigamente.
Vou ao centro, tomo uma Antarctica casco verde na Confeitaria Cisne, ali, bem em frente à Casa Vesúvio.
Converso sobre o jogo de domingo com João Machado. Elogio seu “Corruchiado” do meio-dia da Rádio Cabugi do governador Aluízio Alves.
No Furamundo, o jeep guerreiro do prefeito Djalma Maranhão, chegam da Delícia, da velha e ainda próspera Ribeira, Zé Alexandre e Dozinho, em conversas de carnaval.
Falam em trazer Capiba e Claudionor Germano para o carnaval de Natal, mais precisamente para o do ABC Futebol Clube, com sede em estilo moderno e dancing de primeiro andar a fazer inveja ao decadente Natal Clube, ali da esquina desta João Pessoa com a Rio Branco.
O Grande Ponto ferve. Começa a se fazer ebulição e o burburinho vez por outra é atrapalhado pelos gritos de Maria Mula Manca a querer agredir fisicamente alguém, depois de ser molestada “moralmente” por algum canalha.
O vespertino chega pelas mãos de Cambraia.
— Diáris! Olha o Diáris! Mulher mata marido bêbado com banda de tijolo! Olha o Diáris!
E o normal volta ao normal na praça da cidade.
Chegam as notícias da Câmara Municipal e da Assembléia Legislativa. Comenta-se o tiro que o deputado disparou e atingiu o deputado em plena sessão.
As discussões sobre quem ganhará o clássico do próximo domingo são a tônica do lugar. ABC X América está na alma de todos e as apostas estão lançadas, com vantagens de empate e ou até de goals, como se escrevia à época da inauguração do Juvenal Lamartine.
Por baixo do seu silecão comprido, João ajeita o ovo, volume às vistas de todos, mas não o esconde dado ao agigantado do bicho. Luís Tavares toma uma, por exigência de casco preto, e fala de vaquejadas. Recusa conversas de viagens, pombos e ternos LS-120 brancos como o que traja, combinando com seus sapatos bicolores pretos e brancos, moda nova na cidade.
Carlos Lima está apreensivo. Vem da Prefeitura com conversa de que as Forças Armadas preparam algo. Conspiram.
O Grande Ponto tem medo.
Dali, para todas as ruas da cidade, convergem seus assuntos. Passam por becos, ruelas, vilas como a Cremilde ou a Matilde; vilarejos de lá das bandas das Quintas ditas profundas; sítios do Carrasco.
Ali, Baracho será enterrado e virará santo ou herói, ele que é o temor da cidade e notícia de todas as horas nas rádios temerosas da próxima ação do bandido; ele que é diariamente estampado nos clichês nas casas de máquinas de A República, Diário, Tribuna e Correio do Povo, do velho senador Dinarte Mariz.
Dali, assisto à chegada dos jovens que se dirigem para o Nordeste, Rex ou Rio Grande e tenho saudade do Politeama, onde maravilhávamo-nos com Chaplin e O Gordo e o Magro e; dos tempos que levava a família para um "poli" na sorveteria famosa.
Deste meio do caminho de todos, vejo o morro do Tirol tomado por umas poucas casinhas de palha. Temo que um dia a catedral que a igreja constrói, ali, no final da rua, tome a paisagem, bela paisagem de nós todos que rezamos ao padre João Maria, protetor de todos nós.
Tomo um cafezinho quente enquanto converso com Rossini e me despeço.
Tardezinha já sem sol, assim mesmo me cubro com meu chapéu de palhinha e caminho para minha residência, onde os meninos e mulher me esperam para o jantar.
Vou ouvir “Jerônimo, o Herói do Sertão" depois da "Hora do Ângelus", depois janto e vou para a frente de casa, conversar miolo de quartinha com os moleques e vizinhos na calçada.
Vida besta essa minha.
Amanhã tem tudo de novo.



Eduardo Alexandre




domingo, maio 15, 2005

TRANSFIGURATIVISMO E VIDA

Márcia Maia

"Vicente Renoir Picasso" ( tinta acrílica sobre tela - 140 cm X 100 cm)


TODA A LINGUAGEM DO MUNDO:
EDUARDO ALEXANDRE,
O MUNDO COMO ARTE E TRANSFIGURAÇÃO



“Não consigo compreender um artista para quem o seu trabalho não se configure como um doce manipular e engendrar dos hieróglifos da sedução. Toda arte que me fascina e comove exibe esse lembrar da linguagem sedutora do mundo”. (Baudrillard)

“Tudo que existe na obra de arte, na verdadeira obra de arte, é o mundo - e o vestígio dele capturado entre os dedos do artista” (Merleau Ponti).


O dilema milenar entre a co-pertinência objeto estético versus reflexão objetivada do mundo produziu, ao longo dos mais de dois mil anos da chamada Cultura Ocidental, debates e reflexões, obras e produtos culturais que, em sua maioria, só serviram para encher galerias de museus cobertos de espelhos e mofo, ou estantes e mais estantes de bibliotecas públicas ou privadas, consultadas e visitadas por soi dissant intelectuais, para quem aquele dilema pouco significou, dado o tamanho dos egos envolvidos.

Nas artes plásticas principalmente, picuinhas e falsas-diatribes sobre qual indivíduo detinha a melhor técnica ou a melhor “estrutura” de realização soterraram sob montanhas de retórica auto-indulgente o melhor da criação estética humana.

Pouco ou quase nada foi acrescentado aquele bizantino farfalhar Hegel/Baumgarteano sobre a excelência ou não excelência dos chamados objetos estéticos.

Nada como um sopro de ar fresco numa sala repleta de miasmas.

E é essa a sensação que tive ao contemplar a magnífica produção de Eduardo Alexandre, em exposição na Fundação José Augusto a partir desta semana, no Espaço Cultural Odilon Ribeiro Coutinho.

A grande arte, nos fala Espinoza, é uma arte que dá testemunho claro da intersubjetividade reveladora do mundo de cada um e do mundo enquanto produto dessa fricção criativa. Os 25 quadros de Eduardo Alexandre sacodem e estremecem as conformistas e conformadas bases da estética latina a partir do momento em que colocam em nossa frente um artista que jamais temeu, ou temerá, dar o seu testemunho sobre uma humanidade à beira da extinção.

Rubem Valentim, amigo muito querido e um dos artistas maiores do século passado, disse-me antes de morrer que só existe um tipo de artista: “aquele que tem olho de enxergar”. Lembro de Lúcia (sua esposa) arrematando: “o Rubem é assim mesmo, muito radical”. E não poderia ser de outra forma: não existe meio termo em criação artística. Ou se corta a cabeça medíocre da acomodação a estilos, formas e que-tais, ou dá no que deu: estamos afundados até o pescoço em uma arte que apenas serve aos desvios e insânias de uma sociedade fraturada em nervo e osso, mergulhada até a alma em sangue e ignorância, restolho de um sonho aristotélico e megalomaníaco de grandeza que jamais chegou, ou chegará, a sua completa fruição, porque os lobos a comerão inteira, lambendo os beiços após destroçarem aquilo que as fezes civilizatórias engendraram.

Com Eduardo não tem meio-termo. Não tem oitos. Apenas oitentas.

Poeta, jornalista, gerente da cultura, ele me lembra Edmund Wilson, o mais lúcido paradigma do homo poeticus do início do século XX, até que a CIA o calou quase que para sempre.

Eduardo vai mais além porque, diferentemente de Wilson, ele é um criador consumado e, como tal, sabe onde está a raiz daquela máxima eficiência expressiva, único diferencial aceitável para a identificação da arte empulhadora e da arte significante.

As artes plásticas, ao mesmo tempo em que surgem no universo humanizante como silencioso vetor de revelação do mundo e do estar-posto-no-mundo, são também aquelas onde as fraudes, a duplicidade, a enganação e a lengalenga encontram modos e meios mais fáceis de esconder suas faces bajuladoras e serviçais. É preciso ter a coragem de um Gaudier Brzeska, a ironia de um Topor ou a ousadia de um Brancusi para jogar esses fantasmas no lixo e cuspir na cara dos mercadores de cores, formas e estruturas.

A arte de Eduardo Alexandre tem tudo isso: é corajosa ao redescobrir a exuberância do ato de “pintar” no acariciamento farto da tela, como se mostrasse ao mundo e ao homem desse mundo que a cor é viva, que a cor vive, que nós somos como ela, vivos, jamais cadáveres ambulantes, cegos conduzindo cegos numa via escura e úmida esperando pelo milagre de um guia protetor nel mezzo del camino...

A arte de Eduardo Alexandre é irônica por desmitificar e desmistificar o pedantismo acadêmico daqueles que se escondem atrás de redes pessoais de influência ou prestígio junto às rodinhas e rodelas do poder, como se saraus, whisky e votos fossem acessórios para a verdadeira criação. Prestem atenção à enigmática "Polassar", ou ao díptico “Crepúsculo no Gargalheiras” e Crepúsculo no Piató”. Vejam (ênfase no VER) como a cor se revela e desvela enquanto um organismo vivo e vivente, como se o artista estivesse não apenas testemunhando concretamente o mundo, mas indo além e dizendo ao contemplador de sua obra: “ENXERGUE”.

A arte de Eduardo Alexandre é ousada por ser antes de tudo pessoal, inimitável e intransferível. Tem sua marca visível em cada milímetro de tinta espalhada como mágica sobre a tela, como uma mandala tibetana, como um quilt navajo, como o som do shofar ao fim do dia. Poucos artistas nestes dois últimos séculos (o que acabamos de viver e o que, espero, se nos seja dada a oportunidade de viver) foram capazes de serem fieis a si mesmos da forma fervorosa, meditativa, com que Eduardo engendra sua processualidade criativa.

Digo processualidade porque para Eduardo não existem “processos” criadores ou criativos. Ele ultrapassou, com anos-luz de distância e folga, o prisma teorético de indagação ou questionamento sobre “processos”. Para ele, o que existe é o ato criativo, puro e claro, transfigurado pela sua inimitável compreensão do que é a cor NO mundo, do que é a cor PARA o mundo, do que seria estar COM a cor e o mundo.

Por último, a resolução do dilema bi-milenar da arte e do objeto estético. Eduardo resolve essa querela de forma absoluta: ele demonstra, mostra e anuncia o fato artístico como a única realidade existente. Qualquer indagação ou abordagem teórica sobre o seu trabalho (inclusive esta humilde tentativa de levar você, acomodado leitor, meu irmão e semelhante, a vê-lo na Fundação José Augusto, de qualquer maneira que seja) é irrelevante porque, para Eduardo, pintura (como poesia, como produção/promoção cultural), arte de uma maneira geral, é um oficio, uma destinação, um compromisso inerente à sua condição de ser humano, perceptivo, sensível, e único.

Ver os seus quadros é obrigação de qualquer um que participe e seja atento (por um mínimo que seja) a essa perturbadora ciranda intersubjetiva à qual damos o nome de vida.


Marcílio Farias
Crítico de Arte

Márcia Maia
"Estágio IV" e "Sonhos em Papari" (tinta acrílica sobre tela - 180 cm x 120 cm )


Fundação José Augusto:

Rua Jundiaí, 641 - Tirol - CEP 59020 - 120
Natal/RN - Brasil
Fone/fax: (84) 3232-5327 - (84) 3232-5323

Eduardo Alexandre:

(84) 9414-9394 - (84) 3222-0821


CAMPANHA PARA DIREÇÃO DA SAMBA COMEÇOU

Eduardo Alexandre


Professor Bira, à esquerda, sábado passado, 14 de Maio, em plena campanha à sucessão da SAMBA - Sociedade dos Amigos do Beco da Lama e Adjacências. Padre Agustim ficou de analisar suas propostas.
A eleição vai ser em abril do próximo ano.

Danielli Christinni


Hugo Macedo©

Beco da Lama, o maior do mundo, tão grande que parece mais uma rua... Tal qual muçulmano que visite Meca uma vez na vida, todo natalense deve ir ao Beco libertário, Beco pai das ruas do mundo todo.

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A imagem de fundo é do artista plástico e poeta Eduardo Alexandre©

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