“Nenhum contratante nutre sentimentos pelos mercenários.”
Bruno Lima Rocha
BATE-PAPO
Duas vozes falam,
provocando um silêncio estrondoso
de fazer arrepiar,
de ensurdecer
Duas vozes calam
Provocando um diálogo constante
De fazer correr adrenalina
Assim sem querer
Deborah Milgram
Dorian e a chegada da solidão
"A solidão se inicia quando os amigos verdadeiros se vão."
Nos tempos do jornal Última Hora éramos jovens, 20 e poucos anos, presunçosos, sonhadores, despreocupados, atrevidos e felizes. Achávamos que pertencíamos a uma casta que mudava a cara da mídia. Era um prazer sentar-se no banco da frente dos jipes azuis e circular, ser jornalista conferia status, provocava inveja. Mas dávamos duro. Trabalhar com Samuel Wainer, um mito, era um prazer, com um preço. Ganhávamos pouco. A UH pagava mal, estava em crise provocada pela polêmica Carlos Lacerda x Samuel. Quando a edição era fechada, às 11 horas da noite, um grupo saía para jantar e fazer a via-sacra dos bares, boates, táxi-dancings, botecos, terminando na Praça da República, às 5 da manhã.
Podia-se sentar ali tranqüilamente e até dormir nos bancos. Nossa turminha: Dorian Jorge Freire, redator principal do jornal, colunista de destaque que barbarizava com a sua Revista dos Jornais. Dorian foi um pioneiro, ombusdman da imprensa, quando essa palavra ainda não existia. Luís Thomazzi, setorista da Assembléia Legislativa de São Paulo, cheio de fontes de fontes e de informantes. David Auerbach, que assinava uma coluna política como Davi Barreto. Domingo Gioia (o pai dele tinha sido um pastor famoso na igreja Batista), repórter. José Roberto Penna, repórter, depois foi para a revista Quatro Rodas e se celebrizou pelos roteiros detalhados das estradas brasileiras, uma inovação na época. Afonso de Souza, repórter político, ficou conhecido depois que se plantou por uma semana na frente da casa de Carvalho Pinto até ele conceder uma entrevista que negava. Arley Pereira, do esporte, especialista em MPB e em teatro de revista.
Eventualmente, agregavam-se o Moracy Du Val, repórter, crítico e ator de teatro; o José Eugênio Soares, hoje Jô Soares, que fazia a coluna de teatro e televisão e dirigia um Gordini; o mistério era como ele conseguia entrar no minicarro; o boêmio Otávio, dos mais cáusticos cartunistas da imprensa (uma vez, desenhou Nossa Senhora Aparecida com a cara de Pelé e a Cúria quase fechou o jornal), Gilberto de Pierro, colunista político, da noite e da sociedade, assim como Mário Glauco Patti, especialista em automóveis que chegou a diretor do Autódromo de Interlagos. Thomazzi, Penna, Afonsinho, Gioia e Otávio já morreram..
Este é um curto trecho do making of do meu primeiro livro Depois do Sol, publicado em 1965, e que terá agora segunda edição. Quarenta anos depois! O trecho estava pronto, em prova, quando recebi a notícia vinda de Mossoró. Dorian Jorge Freire morreu no fim de agosto.
Entre os seus pedidos, feitos em longa agonia, estava um para Maria Cândida, mulher dele. Que fosse ela a me ligar e transmitir a notícia!. Havia naquele pedido do Dorian uma ironia, uma brincadeira, a última comigo. Porque desde que ele se foi de São Paulo era eu quem ligava para transmitir notícias sobre a turma. Quem fazia o que, quem casava, ou descasava, tinha filhos e assim por diante. Claro que sempre fui eu a dar a notícia da morte de cada um dos amigos. Conversava com ele por meio da mulher, já não dava para entender a sua fala.
Um dia, ele brincou: “Tem vezes que você me liga, só para dizer quem morreu! Parece o arauto da morte. Maria Cândida, semanas atrás, não me encontrou, eu estava no interior do Rio Grande do Sul e não tenho celular. O filho me encontrou, dias depois para comunicar: Dorian se foi! Naqueles anos de jornal, todas as noites, Dorian saía de sua mesa com os jornais debaixo do braço, passava por mim, me via escrevendo. Eu usava a máquina do jornal, não tinha dinheiro para comprar uma. Ele sabia que eu sonhava escrever romances, contos e batia nas minhas costas: “Pensa que vai ser Machado de Assis? Graciliano Ramos?” Ria e saíamos juntos. Eu ficava irritadíssimo e pensava: “Ele vai ver!” Trinta anos mais tarde, ele me recebeu em Natal, Rio Grande do Norte.
Sua primeira frase: “Não chegou a Graciliano, nem a Machado, mas caminhou direito ao seu modo. Eu queria te provocar, te deixar com raiva, para que você aceitasse o desafio. Fez carreira para me desmentir?” Rimos, nos abraçamos.
Ele já tinha sofrido seu primeiro AVC. De toda a equipe do jornal, Dorian era quem mais lia. Um erudito sem pernosticismo, um bem informado, lúcido. Sua coluna Revista dos Jornais era a revisão diária do que acontecia na imprensa; ele se antecipou décadas ao inventar o ombudsman. Não tinha contemplação com o Estadão, todopoderoso, nosso rival, a quem ele mais combatia, não aceitava a linha do jornal.
Dorian era íntegro. Católico, admirava Alceu Amoroso Lima, o Tristão de Ataíde, como quem manteve correspondência. Lia Charles Mourras, François Mauriac e Paul Claudel. Tinha fé, mas não era carola. Um dia, decepcionado com a política, com a traição de colegas de um jornal que ele ajudou a fundar e teve curta duração - o jornal foi massacrado pela ditadura - vendo as portas fechadas e a cidade cada vez mais violenta, inviável, a qualidade de vida se esvaindo, Dorian teve um gesto de coragem. Voltou à cidade natal, Mossoró. Teve problemas imensos de saúde e nos últimos anos viveu à sombra de sucessivos AVCs. Com um dedo só, penosamente, manteve uma coluna muito lida no jornal local.
Não destilava amargura, era contemplativo. Publicou dois livros, Dias de Domingo e Veredas do Meu Caminho. Foi eleito para a Academia Norte-rio-grandense de Letras, ali recebido com pompa e júbilo. Leu todos os meus livros e dos 27 que escrevi gostou apenas de meia dúzia. Era rígido, ríspido, autêntico, a amizade não afetava o julgamento crítico. Melhor assim, sabia dizer a verdade, essa coisa tão difícil, quase impossível no Brasil de hoje. Nenhuma hipocrisia. Muita lealdade. Tinha orgulho de meus livros, como fosse dele. Devo a Dorian a indicação de leituras fundamentais e o exemplo de resignação e força. Em nenhum momento ele se entregou, se queixou. Nenhuma lamúria em suas cartas e artigos redigidos com enorme esforço. Nenhuma autopiedade. Dorian se foi, o grupo de UH se reduziu. E de repente constato que não tenho nenhuma fotografia ao lado de um amigo tão chegado. Fico com as memórias, enquanto eu tiver lembranças. A Praça da Redenção onde ele morava se chama hoje Praça Dorian Jorge Freire. A solidão se inicia quando os amigos verdadeiros se vão.
Ignácio de Loyola Brandão
"Eu sou você amanhã". Do ex-deputado Roberto Jefferson, para o deputado José Dirceu.
Jornal da Unicamp
Certa feita, o Dr. Agamenon Magalhães, então Governador de Pernambuco, recebeu um casal de visitantes portugueses em sua residência, e resolveu apresentar uma cantoria de viola entre Louro do Pajeú e Pinto de Monteiro.
E colocaram Pinto para "puxar" a cantoria, só que esqueceram um pequenino detalhe: o nome do português era Henrique e o nome da esposa dele era Bucette...
E Pinto, assim, puxou a cantoria, se dirigindo ao companheiro Louro do Pajeú:
AMIGO, VAMOS CANTAR,
PRÁ ESSE CASAL DE LISBOA.
HENRIQUE É O NOME DELE,
BUCETTE É SUA PATROA.
UM NOME QUE TIRA UM FINO,
NUMA COISA MUITO BOA...
Bob Motta
M O T E
NEM DORME COM A RAPARIGA
E ACORDA NO XILINDRÓ...
G L O S A
Parece qui tá no céu,
quando o matuto se arruma,
toma banho, se prefuma,
e se manda p'ro beréu.
Toma cachaça cum mel,
canta que nem curió,
fica bebum e o pió;
brabo qui só a bixiga,
NEM DRÓME CUM A RAPARIGA,
E ACORDA NO XILINDRÓ...
Bob Motta
Aconteceu com o libanês
Na prefeitura sulina
no mensalão, na propina
Maluf virou freguês,
o filho fez e desfez
com coisa muito pior
no jogo, no fumo e no pó
com doleiro pegou briga
NEM DORME COM RAPARIGA
E ACORDA NO XILINDRÓ...
Chagas Lourenço
O REI ESTÁ NU
Era uma vez um rei tão exageradamente ingênuo, que foi capaz de confiar um cheque em branco a um cavalheiro de fina estampa chamado Roberto Jefferson. Armado poeta (pelo menos se queixa de possuir uma veia), seresteiro (afirma tomar aulas de canto com duas líricas senhoras) e enamorado de Petrópolis (afinal, é nascido naquela serrana cidade fluminense), o cavalheiro em questão está longe de ser do tipo que possa legitimamente tomar assento à távola.
Falta-lhe, em tempos de pura ética, a virtude da lealdade.
Conhecendo do rei alguns vícios, Jefferson disso não guardou segredo. E deslealmente expôs ao povo, por exemplo, sua capital preguiça. Faltam ao rei, disse ele, sem pejo, a ordem e a laboriosidade que integram a virtude da diligência. O rei gosta mesmo é de não fazer nada.
Pode até ser. Mas ninguém está autorizado a atirar pedras no rei. Não a primeira, que é deixada para os sem pecados. As demais, quem sabe. E uma das tais ele também jogou. Fez do rei nova Geny. Para a satisfação de um poeta do Beco da Lama e adjacências, Jefferson tirou a roupa do rei. Deixou-o nu em pelo. Lady Godiva invertida, em tempos de vice-versa.
Sei bem que a questão não é do gênero. Do rei não se fala ser integrante da lista de contatos de Mrs. Corner. Nem ter sido fotografado nas festinhas que Madame promoveu, apesar de também ser chegado a um charuto. E por outro lado, o Jefferson não quis ir a tanto, pois sabe que Dona Marisa Letícia é uma mulher zelosa. Não larga o marido nem para andar no Brucutu, aquele carro do Exército em que ela orgulhosamente desfilou na última e nada alegre parada da Independência.
Pergunto, então, a quem entende de nudismo: será o rei naturista? Freqüentador de Tambaba e Canoa Quebrada? Não me admiraria se fosse, tamanha a sua disposição para o lazer. Parece ser a vida, como no conto de Hans Christian Andersen, muito divertida na cidade em que vive o rei.
E viva o rei!
Falando em Andersen, seus personagens imaginários são muito parecidos com os personagens reais da Brasilândia. Há os tecelões trapaceiros; os enganadores “multi action”; os agentes da incompetência. Há mesmo um cheiro de corrupção no ar. No ar daqui, como no ar da Andersenlândia. O rei, porém, não muda.
O rei daqui, é possível notar, tal qual o rei dali, não se preocupa com seus soldados. E lhes paga um soldo miserável, fazendo com que suas mulheres, contrariando toda a lógica militar, montem barricadas e cavem trincheiras.
Há de mudar apenas o descobridor da nudez real. Ali era uma criança que gritava:
“O rei está nu!. Cubram o rei!”
Aqui quem grita é um dos trapaceiros que se comprometeu a tecer veste real:
“O rei está nu! Eu despi o rei!”.
Taumaturgo Rocha
Barbosa
Junho de 2.100. Francesco Brutus Mágico estava com 150 anos de idade. Havia nascido em 1950, precisamente no dia da decisão da Copa do Mundo, no Estádio Maracanã, Rio de Janeiro. Momentos antes do seu nascimento, seu pai, Clodomino, vibrava com a possibilidade do seu primogênito nascer no dia em que o Brasil se consagraria como campeão do mundo em solo pátrio, jogando contra o Uruguai. Por isso aperreou tanto a parteira:
- Arroxa, Zuleide! Bota logo esse menino no mundo que o jogo está pra começar!
Naquele tempo, não havia como saber se o rebento seria do sexo feminino ou masculino. Mas ele acertou, era um menino. Veio ao mundo minutos antes do início do jogo, que Clodomino acompanhou através de um enorme rádio de válvulas. O Brasil perdeu e o coitado do Francesco passou muito tempo sem ter seu aniversário comemorado, pois Clodomino Brutus Mágico, apesar de ser um homem de muitos conhecimentos, era afeito a superstições. Durante anos achou que aquele menino havia dado um azar danado àquele jogo. Era também um dos poucos defensores do goleiro da seleção brasileira, Barbosa. Entre uma cerveja e outra com os amigos dizia:
- Alguma coisa atrapalhou Barbosa. Alguém tirou sua atenção. Não é possível que um arqueiro tão brilhante ficasse desatento ao chute daquele amarelo numa final de copa do mundo!
Francesco passou a vida ouvindo essa história. Sentia-se envergonhado de ser considerado um azarão. Evitava falar sobre futebol e com o tempo desinteressou-se até por jogos da seleção brasileira. Dedicou-se aos estudos, passou um tempo como funcionário do Ibama e, entre uma faculdade e outra, terminou tornando-se um homem muito rico.
Em 2020, quando ele estava com 70 anos o mundo foi surpreendido pela descoberta de um tal Dr. Julião Thadesco, médico pediatra, que havia conseguido criar uma fórmula que evitava o envelhecimento e até regenerava as células humanas. Os ricos, que podiam comprar esse elixir formidável iriam viver pelos menos uns duzentos anos. Os fofoqueiros diziam que o remédio havia sido descoberto por acaso, quando Dr. Julião preparava uma salada que iria servir na comemoração dos 20 anos da “Confraria dos Goumert’s de Natal” no restaurante Nemésius. Dizia-se que tudo havia começado com a explosiva mistura de uísque com vinagre. A dose que tomava enquanto preparava a salada havia caído dentro do vinagre...
- Remédio pra ser bom tem que ter gosto ruim - dizia sempre Francesco Brutus Mágico.
E foi um dos primeiros a investir uma pequena fortuna na compra do remédio, que funcionou perfeitamente. Perspicaz, terminou associando-se ao Dr. Julião Thadesco e criaram a Indústria “Santos Francesco e Thadesco do Brasil Ltda” , que, pelo ineditismo do nome chamou logo a atenção. Ficaram bilionários e se mantiveram vivos, cada um com vários de casamentos, já que para as suas esposas o remédio era dado associado a um antídoto.
Nesse tempo a “Confraria dos Goumert’s de Natal”, que ficou famosa por causa dessa descoberta, era presidida por um jornalista aposentado, Fonseca Bob, que após vender sua coleção de jipes velhos, também havia conseguido comprar algumas doses do “sustentáculo da juventude”, como a fórmula era conhecida. Fonseca Bob, que estava com 163 anos havia conseguido finalmente servir um prato de omelete de sardinha, que ele elaborava há 50 anos na solidão do seu duplex de Nova Parnamirim, e, por esse esforço conquistou a presidência da Confraria apesar da cor verde escuridão do prato principal.
Francesco, que não havia esquecido da tristeza que seu pai carregou o resto da vida pela derrota da seleção brasileira diante do Uruguai em 1950 e que tinha marcado a sua vida como um “azarão” , animou-se quando viu no “O Jornal de Hoje” uma notícia sobre um engenheiro mecânico, um gênio chamado Henrique Quazyphábio Haugusto, que havia inventado uma revolucionária máquina do tempo baseada na hiper-velocidade. Voando ao redor da terra em altíssima velocidade, o inventor, ex-navegador e campeão de muitos rallyes, anunciava um retorno ao passado, conforme o gosto do freguês. Francesco Brutus Mágico não hesitou, reuniu sua numerosa prole e informou:
- Já vivi muito e vou me arriscar nessa viagem. Vou consertar o frango de Barbosa...
Contas feitas. Testamento registrado. Entregou rapidamente o comando dos negócios ao, Dr. Julião Thadesco, que iria casar pela vigésima vez e já estava atrasado na tentativa de superar o recorde de casamentos do seu amigo, o médico Aulus Borgeano, que estava no décimo nono e apaixonado.
Partiu para a aventura decolando do moderno espaçoporto de Barreira do Inferno tendo como piloto o comandante Rebouças, como co-piloto o experiente comandante Pereirinha, conhecedor de muitos planetas e segredos cósmicos, e como médico de bordo o Dr. Edterra Gentil. Chegou no Rio de Janeiro horas antes do jogo. A cidade fervilhava e a festa da vitória praticamente já havia começado. O clima era de “já ganhou”. Alugou um carro de praça – um Chevrolet 48 bem conservado – e foi um dos primeiros a entrar no Maracanã. Postou-se exatamente atrás da trave de Barbosa. Comprou amendoins, tomou cerveja e esperou.
No momento certo - ele havia assistido a cena centenas de vezes no seu vídeo de terceira dimensão - , quando o atacante do Uruguai dirigia-se para chutar a bola que havia provocado tanta tristeza ao povo brasileiro, ele, sem hesitação, levantou-se rápido como um grilo e gritou tentando avisar a Barbosa do perigo que corria, da proximidade “do infame torturador da alegria brasileira”, como seu pai dizia:
- Barbosa!!!
O grito de Francesco, alto e assustador, fez com que Barbosa, trêmulo de susto, virasse instintivamente o rosto no momento em que a bola-tristeza passava ao seu lado para ficar quietinha no fundo da rede. O eco do grito de Francesco e o silêncio de milhares de pessoas se confundiram.
Seu pai tinha razão. Ele tinha sido mesmo o culpado...
Leonardo Sodré
Genesis
Primeiro veio o poeta
Depois veio a menina
Entre prosa, verso e rima
Escrever virou uma sina
Segundo chegou o bobo
Todo enfeitado, espalhafatoso
Enfeitiçando, viciando, arrebatando
Aplausos calorosos desse povo
Terceiro chegou o colunista
Sério, crítico, extremista
Sem pena, sem medo, sem glória
Mete o pau na nossa história
Quarto chegou o flautista
Todo assim desafinado
Tocando alto, tocando claro, desacompanhado
Estremece o público perturbado
Quinto chegou o inconformista
Falando de um sonho, falando de uma realidade
Democrata, cidadão e socialista
Acreditando num mundo de justiça
Sexto chegou o saudosista
Louvando, lembrando, lamentando
Das conquistas, das vitorias, das memórias
De uma época invadida de histórias
Sétimo chegou o homem
Olhou, contemplou, estarreceu
Depois chegou a menina
Apreciou, entendeu desapareceu
Deborah Milgram
Severino cunterrano,
dessa vêiz tu se lascô,
Buani se revortô,
e foi logo lhe intregando.
Aqui fico matutando,
na sombra de um mulungú.
Tu invéigonhô prá xuxú,
todo povo nordestino,
mais dessa vêiz, Severino,
tu tumasse foi no cú!...
E tu, sem chôro nem vela,
passado na casca do "áio",
ixperiente prá caráio,
foi caí nessa isparréla.
O tempêro da panela,
de Buani, te impanzinô.
De reá se impanturrô,
se intupiu inté o fundo,
na frente de todo mundo,
quiz peidá, mais se cagô!...
Bob Motta
Deixa sangrar
A gente está vendo esta tese ganhar força. Hoje foi o Jefferson Perez: deixa o homem de 52 milhões de votos lá. Deixa que o povo o julga nas eleições de 2006.
Ele não vai conseguir se eleger mesmo, não é? O PT está esfacelado!
É muito primarismo político. É muito desrespeito para com a nossa Constituição.
Será que da torrente de dinheiro que chegou às contas de Marcos Valério, tudo já foi apurado?
O dinheiro veio dos ditos empréstimos?
Os ptdutos, os dirceusdutos, os delubiosdutos foram fechados? Nunca existiram? Foi tudo coisa da imaginação fértil do Roberto Jefferson, ontem cassado por ter enfrentado a corrupção no governo Lula?
Por muito menos, Collor caiu. Por muito menos, estão todos aí, pedindo a cabeça severina do presidente da Câmara.
A serpente é cobra criada. Deixem-na respirar que de gibóia ela chega a sucuri e todos sabemos que o que determina o vencedor de uma eleição na grande maioria das vezes é dinheiro.
E isso parece não faltou para comprar deputados, senadores (?) e até partidos inteiros para a garantia do Lula 2006, Dirceu 2010.
É brincar com a (má) sorte do nosso povo. É rasgar uma Constituição que nos custou caro e que não merece ser desrespeitada pela simples possibilidade de uma raivosa revanche eleitoral.
Colégio Eleitoral Já!
Eduardo Alexandre
Tirei a roupa do rei: mostrei ao Brasil quem são esses fariseus; o que é o governo Lula. Roberto Jefferson
Eu sou o Vento
Eu viajo pelos mares
Caminho sobre as ondas
Vôo sobre as nuvens
Corro ao largo dos córregos
Nado nas correntezas dos rios
Penetro nas florestas virgens
Empurro embarcações
Sou veloz como o leopardo.
Eu sou o vento.
Robério Matos
O Globo
A não-ficção que vivemos
Aquele silêncio que tomou conta do plenário da Câmara, depois da cassação de Roberto Jefferson, é muito significativo.
Ele merece a reflexão de todos nós brasileiros.
Perante a Nação, somos todos iguais e estamos no mesmo barco.
A lama é tanta que nem sabemos mais como sair do pântano.
É o Executivo, o Legislativo e também o Judiciário em xeque e, todos, em pecado.
Não existe o sol que nascerá amanhã.
A noite é densa e a Chapeuzinho Vermelho está cercada de lobos por todos os lados.
Os lobos não são ficção.
A Chapeuzinho Vermelho é um sapo e este desbotou para nunca mais tornar-se príncipe.
A República chora e nem pro bispo chegam mais nossas queixas.
É tentar recomeçar sem ódios e sem pecados. E isso é tão difícil quanto achar um final feliz para a ficção que vivemos.
Um Colégio Eleitoral ajuda.
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Um dos argumentos da peça de acusação da Comissão de Ética da Câmara contra Roberto Jefferson foi a de que não existiu mensalão.
Tá bom: não existiu nem existe mensalão.
Mas está comprovado: houve dinheiro, e muito, vindo através do senhor Marcos Valério, para parlamentares de vários partidos, a mando do senhor tesoureiro do PT, Delúbio Soares.
Prática que foi confessada por presidentes de partido, como o próprio Jefferson, pelo senhor Delúbio Soares e pelo próprio agenciador do "dinheiro não contabilizado", Marcos Valério.
Se a isso chama-se mensalão ou caixa 2, pouco importa.
O que importa é que houve "encaminhamento" de altas somas (ainda há?) para parlamentares da Câmara Federal e isto está comprovado.
Se mensalão ou caixa 2 são pecados menores que podemos perdoar (como sugeriu Lula em Paris, puxando a defesa da tese cínica), de que serve a prestação de contas a TSE e TREs?
Há comprovação de fraude contábil em contas de partidos e candidatos e isso deve ser punido com rigor.
Do contrário, além do parlamento e do governo da República, eleições no Brasil também cairão em descrédito e isso jogará esta República na grande lata de lixo de nossa própria História.
Eduardo Alexandre
Apesar de tudo
Porque essa
Sede de escrever
Porque essa
Fome de expressar
Porque essa
Mania de acreditar
Porque essa
Vontade de manifestar
Porque essa
Folia de glosar
Esse muro nao caiu,
Continua a contagiar
Deborah Milgram
Branco
Branco, é o mundo que me desafia,
Onde o antes e o agora,
Frustram-me em proporções análogas todos os dias,
Insisto em achar que sei, e por isso acredito,
Mas não sei, diz-me o Branco,
Mesmo com tanto labor, que inocência meu querido,
Noutro dia, outro Branco, envelhecendo-me no tempo
Ofuscando-me a criatividade,
Desprezando-me o momento,
È o Branco zombando de minha calma
Dominando minha cabeça
Fodendo com minha alma
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Escrever...
Nada é mais difícil do que escrever ficção. Criar o inexistente. Dar vida. Tirar vida. Falo por mim é claro. Fui perguntado, por um devoto leitor, sobre como escrever contos. Evidentemente, a saída mais coerente seria dizer que não estou qualificado para dar qualquer parecer sobre o assunto. Ainda sou, e sempre serei um eterno aprendiz. Porém a temática me fascina. Desde os doze anos de idade, troco provocações com a “arte de escrever”. Eu, por querer dominá-la. Ela, por me desmentir, me domar e me forçar a investir décadas (+ - 20 anos) de esforço no seu aprendizado infinito, e sobretudo, me fazer enxergar que seria preciso dominar o conhecimento pleno do espírito humano. E isso jamais será possível. Portanto, a mim, só resta falar sobre alguns aspectos do ofício.
Odeio escrever! Mas não consigo viver sem o maldito criar dos personagens. Nem tampouco vivo sem ouvir suas vozes ou sentir seus sofrimentos. Masoquista? Talvez! Mas é dor necessária para mim. Escrever me dar medo. Medo de fracassar. Fracassar na exploração do sentimento adequado, da palavra certa. Aquela que provoca, e transporta o leitor para onde a trama está a ocorrer. Aquele feeling que faz o leitor enxergar por trás das letras. Digo isso por achar que qualquer produção ficcional, tem por obrigação provocar algo, a saber: medo, raiva, tristeza, paixão, pena, nojo, emoção, alegria, gargalhada, e a lista segue. E não o fazendo, por que escrever? Fama e fortuna não são garantidos. Por que se submeter ao flagelo? Qualquer texto inócuo de emoção é medíocre. O escritor que não estiver disposto a se rende á miséria, e ao labor asfixiante da procura dessas emoções, deve retirar-se imediatamente do mundo do creative writing. Pois aqui, só os masoquistas tem lugar.
Escrever deve ser simples. Compreensível a todos os leitores. Sem enfeites ineficazes.Toda palavra deve ter um propósito, principalmente no conto. Palavras rebuscadas que não acrescentam nada á cena, devem ser descartadas. Caso contrário, parecem com aqueles currículos super enfeitados, que apenas escondem a falta de qualidade do profissional. Cuidado especial deve ser aplicado aos diálogos. Estes devem mostrar emoção e caracterizar o personagem. A escolha do ponto de vista é outro momento decisivo. Devo escrever na primeira ou na terceira pessoas? Questiona-se o autor. Alguém pode estar dizendo, só isso? Claro que não. Aí o escritor tem que pensar sobre como usar os cinco sentidos: olfato, tato, audição, paladar, e a visão, e encaixar tudo de forma a entreter o leitor. Deve ser preciso e sem excessos. Na hora certa. Com impacto! O escritor também deve saber quando criar e relaxar a tensão nas suas narrativas. Outro aspecto, e certamente uns dos mais preliminares, é estabelecer qual gênero literário o autor se identifica. Além do que já falei, há uma infinidade de aspectos que devem ser levados em consideração. Por fim, não querendo desanimar aqueles que desejam ser romancistas ou contistas, acredito que o escritor “nasce”, assim como um cantor de ópera, um violinista, um líder religioso ou um futebolista. Explicações técnicas têm limites. O resto é talento, muito trabalho, sorte e escrever, escrever, escrever, escrever.....
Charles M. Phelan
Clima de funeral.
Nenhum gesto de vitória.
Nada que indicasse uma decisão de júbilo.
Na verdade, um dos momentos mais tristes do parlamento brasileiro.
Justiça feita, que a Justiça tenha continuidade punindo quem bem mais culpa tem que Roberto Jefferson.
Ele foi apenas um dos corrompidos.
Os corruptores devem também pagar com as penas cabíveis a cada caso.
KATA RIMA
FURA CÃO
O INFERNO DAS TORRES
MAS NÃO TOQUE UM JAZZ CIDADE
DE DESTRUIÇÃO E HORRORES
REZO UM BLUES DE PIEDADE
PARA QUE TUDO ACABADO
MESMO QUE SE CLONE
SEJA TORNADO
A TERA É MOTE.....
E na Globo:
ratos em Nova York
MIAU!!!
ME OUT
BIN LATE
Mário Henrique Araújo
MILAGRE
Totalmente desconfiava de sua existência
Diariamente desafiava, examinando sua resistência
Passivamente contemplava, medindo sua insistência
Obviamente duvidava, testando sua impertinência
Sem máscara ou fantasia
Chegou o homem, cheio de cor, cheio de paz e poesia,
Distribuindo assim meio sem jeito
Um abraço, um sorriso, uma lágrima, um beijo
Deborah Milgram
O LOUCO
As palavras do louco
ecoavam na Dr. Barata
"Vocês querem um mundo melhor"?
"Vocês querem um mundo pior"?
"Vocês acham que sou espírita,
ateu, não tenho pátria"?
Fui andando sem resposta.
Não sei se é um louco
ou um bêbado
não sei se queremos
um mundo melhor
ou pior.
Nem sei se sou espírita
ou ateu,
Talvez, esta seja a minha pátria
...............................................
...............................................
Também não sei ...............
Chagas Lourenço
UM SONHO APIMENTADO
Acordei de madrugada,
dispôi de um sonho cum você.
A razão disso é pruquê,
tu é minha musa adorada.
Te ví quage dirmaiada,
linda e nua, sem pudô.
Teu chêro imbriagadô,
me dexô maraviádo,
dispôi de nóis tê travado,
uma batáia de amô.
Nesse sonho tão gostôso,
isquecemo ôtos assunto.
Nóis passemo a tarde junto,
e eu achei maraviôso.
Sastisfeito e orguiôso,
amô prá lá de profundo,
numa vida in um segundo,
nóis dois, cum uis côipo suado,
fizemo dispranaviado,
o maió amô do mundo.
Sem pressa, devagaríin,
no moté fui lhe dispindo.
Vocô concordô surrindo,
cum meus gesto de caríin.
Num improvisado níin,
eu te deitei cum coidado.
Te oiando abestaiádo,
ví teu côipo me chamando,
quage qui me supricando,
mode alí sê ixplorado.
Maquele mermo momento,
a tarefa cumecei.
De riba a baixo eu beijei,
tu, meu belo munumento.
De amô, faminto e sedento,
juro, me deliciei.
De emoção, inté chorei,
te sintindo arrupiada,
mode minha boca safada,
a cada bêjo qui eu dei.
Te amei de tôda manêra,
qui se possa imaginá.
Lhe fiz gemê, fiz chorá,
de amô, quage a tarde intêra.
Qui nem uma porda campêra,
você num se acumodô.
Muié, tu quage matô,
teu poeta apaixonado,
qui deu conta do recado,
mais quage qui "impacotô".
Se acauso você quisé,
me vê feliz de verdade,
é só torná realidade,
êsse meu sonho, muié.
Quero morrê, faça fé,
recebendo teus caríin.
Num tenha pena de mim,
me use e mande chamá,
o covêro prá interrá,
o qui sobrá do véíin!...
Bob Motta
Vou citar um nome depois do outro, um nome depois do outro.
Roberto Jefferson
Será um triste dia severino!
Eduardo Bagnoli/Sectur
Prosas e Pensamentos:
Hoje, a Livraria Sparta promoverá, dentro do projeto “Prosas e Pensamentos”, a palestra “O descobrimento: Casual, Intencional e Aonde?” proferida pelo pesquisador Lenine Pinto. O evento reunirá escritores, artistas e pesquisadores da cultura regional. A proposta da livraria é apresentar aos estudantes universitários e do ensino médio, pesquisadores e ao público em geral o que se tem de mais expressivo no estado do Rio Grande do Norte.
No projeto “Prosas e Pensamentos”, que permanecerá até o mês de novembro de 2005, serão abordados assuntos sobre cangaço, poesia, urbanização da Cidade do Natal, história, artes, entre outros.
Sobre o Autor
O pesquisador potiguar Lenine Pinto é autor de “Eisenhower e a conquista de Berlim” – 1986, “Natal,RN” – 1975, “Os americanos em Natal” – 1976, “Natal, USA” – 1995, “Reinvenção do Descobrimento” – 1998, “A integração do Rio Grande do Norte e do Amazonas à província do Brasil” – 1998, “Ainda a questão do descobrimento” – 2000 e “A coleção José Gonçalves” - 2002.
As pesquisas realizadas por Lenine Pinto figuram como documentos históricos de grande importância para a história do Rio Grande do Norte.
Em dois de seus livros, “Os Americanos em Natal” e “Natal, USA”, apresentam a correspondência de Luís da Câmara Cascudo onde justifica as presentes obras como “...ensaio, movimentado, colorido, feiticeiro de atração e originalidade...”. São obras testemunhais e fundamentadas em registros da época que apresentam o cotidiano de Natal e de Parnamirim Field quando viveram o auge de sua existência.
Lenine Pinto publicou em 1998 o livro “Reinvenção do Brasil” onde apresenta o resultado de suas pesquisas sobre a intencionalidade e o verdadeiro ponto de chegada da esquadra de Cabral. Seus estudos culminaram em outra obra que foi publicada em 2000: “Ainda a questão do descobrimento”; que apresenta as evidencias náuticas e fontes documentais que apontam a área do Cabo de São Roque (RN) como provável ancoradouro de Pedro Álvares Cabral.
O jornalista Alexandre Garcia, em seu artigo “No começo, era o erro”, sugere que, baseado na obra de Lenine Pinto, “...está na hora de termos a inteligência e a humildade de reconhecer que nos enganamos no lugar da chegada.”
Sua pesquisa repercutiu de maneira instigante no meio acadêmico e definiu o momento de repensar a história do Brasil.
Informações Gerais
Evento: Ciclo de palestras “Prosas e Pensamentos”
Local: Livraria Sparta
Data: 14/09/2005
Horário: 18:00h
Entrada gratuita
Palestrante: Lenine Pinto – Pesquisador
Tema: “O descobrimento: Casual, Intencional e Aonde?”
Netuno
Mergulhei nesse mar de palavras
Claras, limpas, convidadoras
Senti o gosto diferente de cada uma
Salgadas, doces, conquistadoras
E como num passe de mágica
Comigo mergulham outros
Juntos ao mesmo tempo separados
Sentindo frio, calor, perdidamente
Apaixonados
Deborah Milgram
Lampejo da Morte
Só o fato: o engano.
Lampejo todo da morte:
Vantagem de seguir só.
A amizade de um Deus fatídico
E o pernicioso ser.
Alma de volúpia eletrizante;
Frangalho humano que se espalha
Em negras nuvens.
Abelha de um vôo plácido:
Ovelha negra
Da família imperial!
Eduardo Alexandre
Serão 30 os dias pós os severinos!
Ingênuo
Bobo
Acredito no verso
E na vitória da Poesia
Contra o mal, a guerra.
Acredito na festa
E nas manifestações de paz
do Homem
manifestações de paz
do Homem
Eduardo Alexandre
Dunga,
Também me considero boba.
Ainda acredito na paz.
Meire
Por que acredito na paz...!!!???
Porque é um fruto do bem
E é o homem quem faz
O melhor que lhe convém
A paz é um interno produto
Que nasce bem dentro da gente
E supera todos os brutos
Mesmo os mais indecentes
Se sou bobo eu não sei
Mas, sempre confio no melhor
Sou otimista e sempre serei
Pra que pensar no pior?
Manoel Bomfim
Muita paz queridos(as) becodalamenses
Marco Túlio Rego
Quem diria?
Por acreditar no esquecido
Por apostar no preferido
Por ter quase perdido
Resolvi calar
Por tentar errar
Por medo de acertar
Por conseguir amar
Resolvi deixar
Por querer surgir
Por coincidência fugir
Por tolice ferir
Resolvi seguir
Por aceitar versar
Por teimar mandar
Por admirar sonhar
Resolvi voar...
Deborah Milgran
Beira-mar
Sua vinda
Para nós é alegria
Poeta
Venha se molhar conosco
No nosso canto, poeta
Sujo de suor e vento
Nessa brisa de beira-mar
Nesse sol
Nessa luta infinda
Pela justiça do dia
Poeta
Do hoje
Do aqui
Do agora
Do verso que arrebenta
Já
Na memória eterna
Do nosso muro
O nosso eu
Que implode e explode
Na onda que quebra
Na beira-mar !
Venha se molhar, poeta
Venha se molhar
Conosco nesse canto
Nessa luta
Nesse gesto
Nessa mostra
Muito louca
Nesse circo
Nessa vida
De espinhos
Amor e flores
Dessa minha canção
Colorida
De um alô
Cheio de graça
Do palhaço
Do pintor
O escultor
Entalhador
Da assombração
Do verso maluco
Disco voador
Da ilha de Aquarius
Que trouxe essa dita
Tão dita
Maldita
Tão nina,
Menina
Amada
Morena
Selvagem
Galeria do céu
Do índio Poti !
Eduardo Alexandre
Os dias severinos são chegados!
Hugo Macedo
M O T E
NA COMÉDIA BRASILEIRA
COISA SÉRIA É CARNAVAL...
G L O S A S
1.
Dunga, tu és de primeira.
Sem medo nos apresenta,
a crise que a gente enfrenta,
NA COMÉDIA BRASILEIRA.
Na verdade verdadeira,
tamos debaixo de pau.
E de tão baixo o astral,
na Terra de Santa cruz,
ex-Ilha de Vera Cruz,
COISA SÉRIA É CARNAVAL...
2.
É C.P.I dos Correios,
dos Bingos, do Mensalão.
Quem representa o povão,
merece é usar arreios.
Tem gente de cofres cheios,
transbordando o vil metal.
Em dólar, euro ou real,
propina ou roubo, é besteira,
NA COMÉDIA BRASILEIRA,
COISA SÉRIA É CARNAVAL...
Bob Motta
NA COMÉDIA BRASILEIRA
COISA SÉRIA É CARNAVAL
tamo sem eira nem beira!
tá difícil consertá
e alguma ordem botá
na 'comédia brasileira'.
o povo, por brincadeira,
vai rindo do próprio mal:
- nunca vi desgraça igual!
no país do futebol,
faça chuva ou faça sol,
coisa séria é carnaval !
Meméia
OCEANO
Meus olhos já não choram mais
Meus pés já não caminham mais
Meus ombros já não suportam mais
Assim mesmo,
Minha boca, através da sua
Atravessa com muita bravura
Limites e fronteiras
Emite sons, ruídos e barulhos
Diz, fala até demais, muitas besteiras
Quem me mandou chamar
Do outro lado do mar?
Deborah Milgram
O Parto de Druma...(uma obra divina)
A pouco menos de três meses, assisti minha cadela pitbull ter sua primeira ninhada. Alguém deve estar indagando: e daí, caro escritor, quem diabo quer saber de cachorro? E eu com isso? Mas segure sua atenção somente por alguns poucos minutos, depois pode me xingar se quiser.
Escutei Druma uivar e gemer inquieta no quintal. Corri para vê-la como qualquer marido faria se ouvisse sua esposa clamando por ajuda. Mesmo sem poder ajudá-la, corri mesmo assim. Talvez minha presença a acalmaria. Eu havia preparado o canil dias antes, prevendo exatamente a chegada dos filhotes. E o dia chegou. E eu fiquei nervoso.
Ao me aproximar do portão, ela me olhou, e, com certo alívio, balançou o rabo aprovando minha presença naquele momento. Fiquei espantado com a confiança que teve em mim. Em seguida, abri o portão sem alvoroço, coloquei o tamborete contra a parede, e sentei em silêncio.
Ela respirava ofegante e andava em círculos. Alisei seu dorso algumas vezes tentando passar segurança. Impressionantemente, ela me olhava com gratidão. Embora cansada, parecia saber o que estava fazendo. Com as primeiras contrações, ela rebuliu os jornais procurando fazer uma espécie de ninho. O suor começava a brotar discretamente da minha testa. Contemplei sair naquele momento, mas quando ameacei, seus olhos se fixaram em mim com tristeza. Agachei lentamente de volta para o tamborete.
Aí veio o primeiro filhote. Foi rápido. Ela rapidamente rasgou a placenta, e com uma precisão cirúrgica, cortou o cordão umbilical. Em seguida, massageou o filhote vigorosamente com a língua, induzindo-o a primeira tomada de ar nos pulmões. No intervalo entre um filhote e outro, dava a cada um sua primeira mamada. E assim o fez pelas próximas nove horas, com todos os doze filhotes que teve. Fiquei abismado. O que vi, não foi apenas instinto. Mas, um animal de outra espécie compartilhando (mesmo que de forma inconsciente) com um humano, um momento precioso. Eu poderia, evidentemente, ter olhado para tudo aquilo sem muita apreciação. Mas decidi parar e enxergar. Enxergar além da mera ação física de parir. Enxergar que Deus havia programado esta criatura nos mínimos detalhes para dominar aquela situação. Fora uma seqüência impecável de atos tão complexos, que só poderiam ter sido concatenados por Deus.
Conclui que é preciso enxergar, além do olhar, para perceber a maravilha das coisas. É só você perceber, além do óbvio..... a presença de Deus e sua obra divina.
Charles M. Phelan
Com muita força para resistir e enfrentar os meus inimigos.
Não tenho medo de ninguém."
Severino Cavalcanti, presidente da Câmara dos Deputados
São longos os (30) dias severinos!
Ruíram
Nossas torres congressuais
Do Planalto
Ruiu o Planalto
Ruiu um sonho
A República balança
O verde/amarelo
Em rostos jovens
Acena
Um canto
Novo de luta
É o mesmo: o hino nacional
Eduardo Alexandre
TRABALHADOR DA ESTRADA
O sol se pondo
com raios frios
em agonia,
a lua no crepúsculo
se enche de fantasia
e a noite quer começar.
Na estrada
a margem estúpida
insiste em se sujar
e o homem, bóia-fria
está ali para limpar.
Na barraca de lona
as redes estão armadas
de lá para cá
de cá para lá.
Os homens de capacete
e roupas iguais,
cor de laranja
já desbotadas,
sentados nas pedras
sentados no chão,
esperam à beira do fogo
que esquente o feijão.
É feijão e farinha
é rapadura e só,
um pouco de água
e a dor no corpo
o homem se deita cansado
e dorme a noite toda
sem pensar nem em sonhar.
A lua ainda bonita
agora parece mais fria
o seu brilho prateado
está em leve agonia,
a madrugada se dissipa
com o sopro da ventania
um raio de sol desponta
traz consigo um novo dia.
O homem volta pra estrada
pra cuidar do seu asfalto
pra limpar a sua margem
desde baixo até o alto,
ele está sempre calado
trabalhando pro progresso
cuidando do automóvel
que um dia nesta estrada
lhe matará atropelado.
Chagas Lourenço
A SOMBRA
Sem aviso prévio,
Foi chegando, assim devagarinho,
Soprando baixinho,
Uma presenca salgada, assim meio trigueira,
De curiosa fui ver
Quanto mais perto chegava
Mais longe me sentia
Era virtual e ninguém me avisou!!!
Deborah Milgram
A garota misteriosa
- É puta? – perguntou o homem grisalho ao proprietário do bar, numa articulação silenciosa de lábios. O interlocutor, por trás da máquina de chope, fez careta, contraiu os ombros e espalmou as mãos, afirmando não ter a menor idéia. O coroa, então, moveu a cabeça 45 graus para a direita e acenou sorrindo. A garota, afastando a mão do queixo, retribuiu o cumprimento com um gesto de surfista, o famoso hang loose.
Figura interessante, dessas magrinhas bem torneadas, com tudo no lugar. Gestos lentos, fala mansa, tão suave que a um metro não era ouvida, pelo menos naquele bar do Flamengo, onde alguém grunhia a música de Chico Buarque. Usava tênis vermelho com detalhes brancos e cadarços frouxos, calças jeans escuras, blusa bege, sobretudo preto, óculos com lentes avermelhadas e uma boina azul-marinho que lhe cobria a cabeça até as orelhas.
A moça já havia pagado a conta de R$ 102,00. Adiantados. Sabe-se disso porque o champanhe ainda estava no balde de gelo por trás do balcão. Mesmo assim, o coroa se levantou, dirigiu-se à mesa dela e pediu para se sentar. Ela não abriu a boca, mas apontou para a cadeira vazia, em sinal de aprovação. Começaram o papo, sob os olhares atentos da platéia.
As quarentonas da redondeza, inconformadas com a cena, diziam que aquilo era absurdo.
- Tem idade para ser neta dele!
- Esse velhote não se enxerga!
- Que falta de vergonha!
- O Rio de Janeiro está perdido!
E a dupla nem aí, acendendo um cigarro atrás do outro, fazendo um brinde a cada instante, sorrindo, conversando ao pé do ouvido.
Lá para as tantas, a garota abriu a carteira e pegou o Título Eleitoral, mostrando-o ao seu mais recente amigo de infância. O documento era novinho em folha, percebia-se de longe. Contudo, pela reação do sujeito, a dona já tinha idade bastante para certas coisas.
Nos fundos do salão longo e estreito, onde se localizavam o palco e os únicos enfeites do recinto, dois girassóis num vaso de cristal sobre uma mesa de vidro, alguém roubou a cena tentando convencer o matador de letras musicais a abrir espaço para a canja. O musicida não permitiu. Beleza, pois a doida devia cantar pior do que ele, a julgar pelos olhares de falsete. Detestável, o tal do falsete, a não ser no som do Bee Gees.
- Que é isso, meu Deus! – rosnou o garçom, e as atenções voltaram-se novamente para o homem grisalho e a garota. Os dois, agora aos beijos, esnobando a galera. Levantaram-se, dançaram, foram ao banheiro. Voltaram, dançaram outra vez, tornaram a se beijar, a fumar, a rir, a beber, encheram o salão de espanto e de inveja com aqueles olhares lascivos, aqueles abraços de luxúria, aquela alegria insuportável.
O bar aos poucos fez silêncio, as pessoas foram saindo, os pombinhos por penúltimos. E a moça, adivinhe, foi quem pagou a despesa do coroa.
Cid Augusto
SEU ARLINDO - MEU COLEGA E SOGRO
Diz um ditado muito antigo, do tempo em que soutian era "califon ou porta seio", que "quem quiser ser bom, morra ou se mude". Daí, até hoje se tem o costume de homenagear as pessoas "depois que elas se vão". Mas hoje eu quero fazer diferente; seguindo o pedido do saudoso Nelson Gonçalves em uma das suas músicas, onde ele dizia:
"Me dê as flores em vida,
o carinho, a mão amiga,
para aliviar o meu penar.
Depois, que eu me chamar saudade,
não preciso de vaidade,
quero preces e nada mais"...
Quero, pois, homenagear meu querido amigo e colega da Academia de Trovas do Rio Grande do Norte e da União Brasileira de Trovadores - UBT - RN, e acima de tudo isso, meu sogro Arlindo Castor de Lima. Foi telegrafista e professor da língua Esperanto. Tem mal de Helzeimer em estado bastante adiantado, mas que ainda o permite que externe seu sorriso quando digo ao seu ouvido ou de alto e bom som, uma trova ou uma glosa fescenina, daquela bem "cabeluda"... Também faço-o chorar com uma lírica ou filosófica...E hoje, o Cantinho do Zé povo sente-se honrado em repassar aos seus leitores essa estória que me foi passada por ele, seu Arlindo, há muitos anos atrás, quando estava ainda na ativa como telegrafista do correio, na época E.C.T. Pois bem; segundo sua narrativa que faz parte do primeiro livro que escreví em 1978, Moleques, Molecagens e Suas Vítimas..., um português radicado no Brasil, inteligentíssimo como todos os nossos "irmãos lá da Terrinha", pois ouvi falar e tenho conhecimento que a grande maioria chegou ao Brasil, abriu sua portinhola, que virou mercearia, que virou padaria, que virou supermercado, que virou Distribuidora de Alimentos e por aí vai... E um camarada desse pode ser tudo; menos burro! Pois bem! Um desses indivíduos, no seu armazém de "secos e molhados", foi chamado certo dia por um dos seus auxiliares que o advertiu:
- Temos um cliente que está comprando muito, já ultrapassou em muito seu limite de crédito e não está conseguindo honrar seus compromissos conosco.
O austero portuga, no seu sotaque simpático e inconfundível; orientou seu auxiliar, para que ele entrasse em contato com o referido cliente:
- Pois escreva-lhe uma carta enérgica, mas com boas maneiras, explicando-lhe a situação e solicitando-lhe que pague o que nos deve, o quanto antes.
Daí a uma hora, veio o auxiliar com a carta, que após lida pelo comerciante, foi rejeitada. E veio a Segunda carta; e a terceira... Por fim, na Sexta ou sétima carta, o velho portuga leu; releu; leu novamente e sentenciou no seu português prá lá de característico da Ilha da Madeira:
- Finalmente essa carta está boa; mas ainda assim; tem dois erros de soletração. "Primaeiro": "Puta que o pariu" é nome próprio e você escreveu com letra minúscula. E segundo; "hora porra", você escreveu com "H", e, hora com "H", oh! Filhote de Cruz Credo, é hora de relógio!...
Bob Motta