quarta-feira, novembro 02, 2005

BECO DA LAMA

"Yo escribo, precisamente, para distraerme del amor ."
Jorge Luis Borges


Neste sábado, final do Pratodomundo, com Romildo Soares no show "Na rota de Amsterdã" e Banda Rosa de Pedra.
Mais todas as iguarias do cardápio becodalamense e os "Muitos Carnavais" nas adjacências, levando milhares de pessoas ao velho centro de Natal.
Imperdível!



Bom demais ouvir isso. “Último Dia”. Sim, claro, Levino fez lá, em e para Recife, mas, e o kiko? Importa é que Zé Meneses e Duda (esse é o cara!) inventaram de eternizar essa coisa que não deixa ninguém parado (du-vi-de-o-dó), e tome sopros e metais e caixas e pratos e taróis. E tudo aqui, não lá (é lá, vá lá. Mas é aqui). Porque aqui é que eu vejo o Beco. E se eu vejo o Beco, completa é minha vida. Pan-pan-pan-paaaan. Com vocês, Leões Potiguares. E lá se me vou eu — parece até que me antevejo: Nazaré, Vigário, São Tomé, Juvino Barreto, Pç. Augusto Severo, Duque de Caxias, em pleno Pratodomundo e Muitos Carnavais, tudo junto, “o mundo todo!”: Ribeira! — e eu ali, marcando o passo singrando o espaço com o braço, ali, perto do 1º surdo — Camilo, tio de RN — milhões de frevos à mente: Valores do Passado (Último Dia), Evocação nº 1 (Último Dia), Madeira que Cupim Não Rói (Último Dia!), Terceiro Dia (não! Último Dia!!). Coisa muito boa. Tadinhos de nós, “papas”, indo buscar o longe axé, quando o frevo de perto, de perto nos espreita e assalta e toma. Eu quero é que hoje seja um sempre. Quero a minha boca para sempre em tua boca. Quero o meu Beco para sempre Beco.

AC, no passo.



Hugo Macedo

O Beco da Lama II, de Amir Massud

Hugo Macedo

Raul da Alcatéia


FOTOS DO PRATODOMUNDO 3

Fotos Hugo Macedo
Eduardo Viana, grande força para a realização da festa


Marcelus Bob

Alcatéia Maldita

Alunas do Curso de Turismo no Pratodomundo


Fotos Pratodomundo 3

Fotos Hugo Macedo

Amir Massud e professor Hélio


Assis Marinho e Plínio Sanderson


Carlos Bem


Fotos Pratodomundo 3

Fotos Hugo Macedo

Ceiça, diretora adjunta da SAMBA, e Léo


Luciano, Sylvia, Dunga, Jorge Macedo


Fotos Pratodomundo 3

Fotos Hugo Macedo

Seu Milton


Tiago Vicente


Plínio Sanderson


FOTOS PRATODOMUNDO3

Hugo Macedo

Harrison Gurgel

Hugo Macedo

Júlio Pimenta e Ana

Karl Leite
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Franklin Serrão

Hugo Macedo
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Dunga


FOTOS PRATODOMUNDO 3

Fotos Hugo Macedo

Iracema


Cabrito, em primeiro plano


Krhistal e Fernandão


FOTOS PRATODOMUNDO 3

Fotos Hugo Macedo

Meninas de Fernandão

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Dorian Lima

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Terezinha de Jesus e Falves


NOS LAGOS DO AMOR

Marcus Ottoni


“A acareação confirmou que R$ 30 milhões teriam ido para o PT e R$ 25 milhões para os aliados. Temos alguém assumindo que autorizou o pagamento, Valério admitindo que pagou e beneficiários reconhecendo que receberam. Independentemente dos valores, está caracterizado o crime.”
Rodolpho Tourinho (PFL-BA), subrelator de movimentação financeira da CPI do Mensalão.
.
Karl Leite


Nos Lagos do amor
Para o meu Leléo


Nos lagos,
nos rios de amor
que te encontrei
te amei.

E gostei.

Hoje, as coisas são diferentes:
são diferentes as flores
as rosas
do nosso jardim

Para te amar outra vez,
basta lembrar o beijo que te dei,
esse beijo de saudade
do amor que a ti devotei.

Nossas vidas, sei
merecem um novo encontro.
Aquele amor que te dei
Foi, de todos,
o mais sincero: amei!

Gardênia Lúcia


Um novo talento assoma
- seu nome é Gardênia Lúcia

Ninguém por cá mais embroma,
Meméia que se precate,
Bob Motta não é mais vate
- um novo talento assoma !
É uma mestra no idioma,
e competente na astúcia...
Vai por fim à nossa súcia,
quem for poeta aqui some...
Querem saber quem, o nome ?
- seu nome é Gardênia Lúcia !


Laélio/2005



O BECO DA LAMA III

O Beco da Lama Três,
faz chorar e faz sorrir.
A emoção se mistura,
relembrando Baltamir.
Seu Almeidinha e os fuxicos,
as lembranças de Titico,
e a saudade de Nazir.

A risada de Vicente
Enfermeiro, e Diomar.
Severino Gonorréia,
bebum, sem poder falar.
Com seu charuto bonito,
o Doutor Manoel de Brito,
sorrindo prá se lascar.

Veca das motocicletas,
biritando sem parar.
Desde o tempo do Oásis,
lacrimejo ao relembrar.
Nosso Maínha soprando,
seu sax melodiando,
no velho Codorna Bar.

Seu Rubens filosofando,
criticando a cretinice,
já respondia irritado,
a qualquer idiotice:
Tenha santa paciência;
não venha com inteligência,
deturpar minha burrice.

Nosso Beco é mesmo um mundo,
concordo com o parecer.
Cultura em "banda de latra",
prá emprestar, dar e vender.
E na expressão da verdade,
eu tenho a felicidade,
de no Beco, conviver...

Bob Motta

Mellisa or Hoffman?

Fazia tempo que ele só pensava nela, dia e noite, como um vício. Estava ficando preocupado com a sua sanidade mental, mas desde que acessara aquele site feminino e lera os contos eróticos de Mellisa Hoffman, não parava de pensar, de fantasiar um encontro e de imaginar como ela era fisicamente. Às vezes, na rua, via alguém com as características relatadas nos textos e sonhava com ela. Não tinha mais paz. Sua vida se restringia ao trabalho de repórter de TV, num programa voltado para o cotidiano e fatos policiais da cidade numa grande emissora e imaginar a escritora.

Um dia, entrevistando uma certa Milena, errou o nome duas vezes trocando pelo nome de sua amada. Depois disso, tomou uma decisão: iria conversar com os seus dois melhores amigos, o escritor Charles Phelan e o jornalista e também escritor, Cid Augusto. Marcou no tradicional Bar do Ku, num sábado. Queria se abrir. Talvez fazendo isso – pensava – consiga me livrar dessa perseguição mental, desse amor que está me levando a loucura e provocando até novas alergias!

No bar, não demorou em abrir seu coração, com muito entusiasmo. Tanto, que relatou até alguns momentos mais íntimos de suas fantasias com a sua amada escritora, dizendo que por mais de duas vezes havia até sentido um grande prazer sexual. A velha masturbação.

Durante o relato era evidente o desconforto de Charles, que em nenhum momento se manifestou, enquanto o jornalista Cid Augusto parecia se divertir com a história, participando com prazer dos sonhos libertários do repórter, que entre outras coisas, disse que não poderia morrer sem conhecer a “escritora mais sensual da história da internet”.

O tempo passou. Mais de três anos. Durante esse período os três amigos sempre se encontravam para umas cervejas nos fins de semana, sendo que vez por outra o nome de Mellisa Hoffman vinha á tona. Aí, o repórter não se controlava e falava horas no seu amor secreto. Até que um dia, quando os três bebiam, coincidentemente no Bar do Ku, Cid Augusto não se conteve:

- Amigo, eu não agüento mais. Desejo lhe dizer que conheço Mellisa Hoffman há muito tempo e somente não lhe apresentei por falta de coragem.

O apaixonado não se conteve de curiosidade, remexeu-se na cadeira. A conversa tomava um rumo absolutamente novo. Perguntou:

- Faltou coragem por quê? - disse quase irado, desconfiado.

Charles olhava as mangueiras floridas do mês de outubro, olhar distante, quando Cid Augusto, suspirando em busca de coragem, relatou pacientemente:

- Você sabe, amigo... Na internet ninguém se identifica. Você lê a coisa, mesmo num site feminino, mas não sabe quem escreveu, ou melhor, não sabe se é homem ou mulher, ou até mesmo um travesti...

- Espere! - gritou o repórter - o que você está querendo me dizer?

- Bem... Eu quero lhe apresentar Mellisa, ou melhor, Hoffman, ou melhor ainda, Charles Phelan. Aperte a mão dele Charles...

Dedé, o garçom, correu para acudir o experiente repórter, que desmaiado, com olhos abertos fitava o céu como se ele tivesse caído de uma vez em cima dele.

Leonardo Sodré




terça-feira, novembro 01, 2005

O BECO É UM MUNDO

Marcus Ottoni


“Só reformas política e da cultura política nos livram desse pântano, onde todos os grandes partidos afundam.”
Chico Alencar, deputado federal PSOL/RJ

Hugo Macedo
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Fotos do Pratodomundo 3ª etapa no
http://groups.yahoo.com/group/becodalama/
Mensagens: 26518, 26519, 26522, 26532 e 26538

O Beco da Lama II

Este beco que acolhe a todos
Que acolhe o ébrio
A prostituta
E o louco

Este beco que acolhe a mim
Este poeta sem rumo
Com esta angústia sem fim

Este beco
Em que a urina não fede
O vômito não perturba
E o escarro não enoja

Este beco
Onde todos são iguais
Seja cristo ou satanás

Este bendito beco
Onde tudo é permitido
Onde nada é proibido

Este beco
De todo santo dia
Que ingere taras
Gemidos
E agonias

Este beco
Não é somente um beco
é um mundo, talvez
é um gesto que nos comove
é uma mão que nos acena
é um olhar que nos acolhe.


Natal, Cidade da Claridão,
em 18/05/90

Amir Massud

Laélio para presidente. Dá Samba.
Karl leite


Você tá doido Karl Leite ?
não me rogue uma praga dessa

Meu amigo, me respeite,
eu sou um bosta, um palhaço,
não danço nesse compasso
- você tá doido, Karl Leite ?
Cure a ressaca, se deite,
se cure, faça promessa,
na cuca bote compressa,
tire as fotos das bonecas,
das caídas das munhecas
- não me rogue uma praga dessa !

Laélio/2005



Laélio, pra Presidente,
dá samba, pisando em brasa

Do beco, lugar ardente,
com fogo pra todo lado,
em golpe, foi decretado,
Laélio, pra Presidente!
Na mão direita, um tridente,
empunha o chefe da casa,
- saiu da linha, ele arrasa!
E ferra e cutuca e fura!
- A história da diabrura
dá samba, pisando em brasa...

Meméia



Laélio pra presidente
dá samba ou dá carnaval


Em um beco adjacente,
ao som de uma batucada,
saudou, a turma animada,
Laélio pra Presidente!
Brindou-se com aguardente,
houve um grande bacanal,
rolou sexo, o escambau...
- a farra foi boa à beça!
E uma festa como essa
dá samba ou dá carnaval!

Meméia



Feiticeira, não esquente,
beba menos meropéia.
Da cuca tire essa idéia:
“Laélio pra Presidente” !
Sou tido por indecente
- quem sou eu prá ser rival
dessa gente angelical ?
- Se eu entrar nessas disputas
só vou ter voto das putas
- dá samba ou dá carnaval !

Laélio/2005




segunda-feira, outubro 31, 2005

A VISITA DO MINAS TÊNIS

Marcus Ottoni


"As especulações contidas em revista semanal, divulgadas neste sábado, não passam, como em outras oportunidades, de fantasia."
Ministro da Secretaria de Relações Institucionais, Jacques Wagner

Émerson Amaral / TN

Ginásio Sylvio Pedroza


Noite de Verão

Silêncio aberto
Assustador

Sussurra nos ouvidos
Frases de amor

Propaga arrepios
Congelados de pudor

Fala manso, fala grosso
Fala ardente

Embriaga, intimida
entorpece

Deliro,
acordo,
sorrio extasiada

Foi um lindo pesadelo.

Deborah Milgram



Amar-se é Essencial

É preciso abluir, por catarse,
a indiferença e frieza d’alma.
Pois: se penso, sinto;
se sinto, faço
e, se faço, vivo!
E assim introjeto no intimo do ser
amor, compaixão,
alegria e equanimidade.

Todavia, se amar é importante,
amar-se é essencial.

Urge, ainda, compreender que
“sem amar ao eu da platéia
jamais amaremos ao eu do palco”.

Robério Matos


A visita do Minas Tênis – I

A manchete de “O Poti” era destas que dizem tudo: “O Sylvio Pedroza precisa de reformas”. Ilustrando-a, uma foto e nota ainda mais elucidativa, “o ginásio está estragado”.
No corpo da matéria, como convite para missa de 7º dia, o professor Geraldo Araújo lamentava que a diretoria do Atheneu nunca tivesse se preocupado com a situação do ginásio. E aludia que, sem reformas, principalmente nas arquibancadas e vestiários, seria difícil sediar ali jogos dos JERNs.

O Recorte

Eu que não sou de recortar jornais – tanto que escrevi e nada tenho guardado – desta fez fiz exceção. Guardei-o principalmente pelo que se seguia. Que, se assim mesmo os alunos do colégio estadual desejassem, o ginásio seria aberto para partidas de vôlei e futsal. Mas que, geralmente, os alunos, quando liberados das aulas, preferiam ir para casa a assistir jogos.

A inauguração

A notícia me doeu. E lembrei-me das festas de inauguração, bote trinta anos nisto. Como era o presidente da Federação Norte-riograndense de Basquete _ FNB, fui convidado por Sylvio Pedroza para organizar a parte esportiva. Então, em nome do governador, convidei o Náutico Atlético Cearense; o Astréia, da Paraíba e; o Jet Clube, do Recife. Como representantes do RN, o Santa Cruz e a AABB.
Parece que estou vendo aquelas noitadas. Cinco seguidas, com casa cheia, o público orgulhoso da praça de esportes, a primeira coberta do Norte e Nordeste. Lia a inveja nos olhos dos cearenses, paraibanos e pernambucanos. Na parte da tarde, um torneio estudantil.
Sylvio largava-se do palácio e vinha confraternizar com os estudantes. E toda vez que ele aparecia, tome palmas. Ele fazia que não queria, que estava ali como simples assistente, mas quem não gosta de aplausos?

O Torneio de Lance Livre

Na semana que antecedeu ao 27 de julho de 1954, toda noite uma patota ali se reunia para presenciar os retoques finais. Na noite que foi colocada a primeira tabela, Sylvio pediu uma bola e desafiou os presentes para um torneio de lance livre. Lá estavam Felizardo Firmo de Moura, um dos próceres da UDN, Antônio Soares Filho, deputado e líder do governo na Assembléia, Carlos Cabeção, vulgo Carlos Silva, e, se não me engano, Rossine Azevedo, que, como São Tomé, não acreditava na construção do ginásio e se comprometera a fazer um discurso, ele que nunca falara em público, o ajudante de ordens de Sylvio que não lembro o nome e Roque José da Silva, futuro administrador do ginásio, e três operários.
Pois não é que Antônio Soares, o homem das duas luas, não ganhou o torneio? Pois foi. Demonstrando que enxerga mais, vide o caso da segunda lua que ele descobriu o “viu” justamente por trás da lua de mesmo.

Juscelino

Jamais esquecerei a visita que o então governador de Minas Gerais fez a Natal. Nada mais, nada menos que JK. O ginásio, como a menina dos olhos do então habitante da Praça 7 de Setembro, não poderia deixar de ser mostrado ao ilustre visitante.
Eu estava presente porque Sylvio despachara o carro oficial nº 1 para me apanhar no escritório. Eu fazia parte do plano astuciosamente engendrado por Sylvio.
Quando Juscelino derramava-se em elogios ao ginásio, Sylvio voltou-se para mim, assim como de improviso:
- José Alexandre, que achas de um clube mineiro visitar Natal?
Cumpri o meu papel à risca.
- Sensacional! Principalmente se for o Minas Tênis com suas equipes de voleibol feminino e basquetebol masculino.
JK riu o seu riso simpático. E, em cima da bucha, prometeu:
- Pois eles virão. Quando é que vocês os querem aqui?
Cavalo dado ou prometido, não se abre a boca. Quando Sua Excelência quiser, respondi. E saí de cena.

O Minas Tênis

Dois ou três meses depois, aqui estava o Minas. Em avião fretado, com ordem de pagar todas as despesas, hospedagem, transporte, extraordinários, o diabo.
Até água mineral., eles não deixaram que pagássemos.
Sylvio me chamou e comandou:
- Faça uma recepção em grande estilo. Se a renda dos jogos for insuficiente, pode gastar que abro uma verba especial pela Casa Civil.

Na Redinha

De que é que mineiro gosta? De praia, informaram-me. Que lá, como todo o seu tamanho e riqueza, não tem.
No domingo, bem cedinho, botei os conterrâneos do homem que comprava bonde num bote à vela, no rumo da Redinha.
Doutor, quando rapazes e moças pisaram terra firme, corriam que só meninos pela beira da praia, numa alegria e um encantamento doido.
Havia convidado Zerôncio para recepcionar os visitantes no Redinha Clube. E o grande boêmio, entendido como danado na arte de receber, mostrou toda a sua competência. Eram fartas mesas de frutas regionais, de salgadinhos, de camarões, de casquinhos de caranguejo, peixe frito e peixe cozido, até lagosta. Isto, como aperitivo. Seguindo-se, uma feijoada, refrescos os mais diversos: de abacaxi, pitanga, manga, caju. E um que os mineiros gostaram muito, de limão.
Preciso doutra crônica para falar de tal refresco, a nossa famosa caipirinha.

A Visita do Minas Tênis – 2

A caipirinha

Deixei-os, semana passada, na agradável companhia da delegação do Minas Tênis Clube, na recepção oferecida pelo governador do Estado e FNB, na praia da Redinha.
Tudo a capricho. José Herôncio de Melo, o organizador, merecendo nota dez.
Assim afirmavam os rapazes das Alterosas, dando uma baixa considerável no refresco de limão, que outro não era senão a caipirinha.
Até que o médico da delegação tomou um copinho e apurou o paladar.
- Espere, este refresco não contém álcool?
E Herôncio respondeu na maior cara-de-pau:
- Pouquinho. Só pra dar o gosto.
O médico, de imediato, proibiu a turma de ingerir tal refresco.

O solzinho

Zé Herôncio me chamou de lado e piscou um olho.
- Que você me diz desta rapaziada tomar um solzinho?
Pisquei, em resposta. Em cinco minutos, os atletas estavam instalados em jipes. Com recomendação aos motoristas:
- Vão bem devagar para a turma apreciar a paisagem.

A feijoada e o frevo

Passava das 13 horas quando a feijoada foi servida. Completa, com todos os ingredientes possíveis e imagináveis. Bem gorda e pesada. Daquelas que pedem sono reparador de horas e horas para fazer a digestão.
E ainda houve uma demonstração da música regional a cargo de Euclides Lira, que trouxera orquestra, sanfoneiros, passistas, lanças-perfumes, confetes, serpentinas.
- É um autêntico carnaval nordestino, esclareceu Alcides.
E como a rapaziada gostou do frevo! Logo invadiram a quadra, dançando, pulando, procurando fazer parafuso, igual aos passistas.
Só houve um porém, felizmente não notado pelos visitantes. Na afobação da saída, Euclides esquecera o saco grande de confetes.

A preliminar

À noite, o ginásio superlotado. Na preliminar, o sexteto feminino do Minas Tênis venceu de ponta a ponta. As meninas de Dona Letícia Garcia eram graciosas, elegantes, os uniformes bem talhados, o coxame reluzindo, umas misses, simpáticas e desportivas, sabendo perder.
Só havia uma coisa: voleibol não jogavam nada.

A grande primeira vitória

Vem o embate principal. Dum lado, a escolinha de Zé Augusto, calma e disciplinada, modesta, mas confiante. Do outro lado, os mineiros, com renome nacional.
Logo nos primeiros minutos, os visitantes se aperceberam que a equipe bancária não era o pato morto da noite anterior, pobre Riachuelo, esmagado sem dó nem piedade.
Assim mesmo, ainda conservaram uma margem de quatro, cinco pontos à frente no primeiro tempo. Mas o jogo era de igual para igual.

A língua no pescoço

Do meio para o fim da etapa complementar, os mineiros estavam com a língua no pescoço, feito gravata. De pura exaustão física.
Teria sido a emoção da viagem de avião, o clima diferente, a comida outra que não a sua, o passeio de bote, o sol a pino, a caipirinha, o esforço despendido para dançar o frevo?

Os confetes

Quando se delineou no placar uma possível vitória da AABB, Euclides Lira, num estalo magistral, correu à sala da administração e, de lá, trouxe o saco de confetes. Que distribuiu às mancheias pela torcida.
Faltando segundos para terminar, o Minas vencia por diferença de um ponto. Foi quando Nilo escapou pela lateral e e deu para Gualter Sá no garrafão. Gualter deu um rodopio e encestou. 41 X 40. Não houve nem tempo para mais nada. O juiz trilou o apito final.

Delírio

A assistência invadiu a quadra em delírio, numa chuva de confetes que cobriu as cabeças de Walter França, Mosquito, Nilo, Aluísio Machado, Félix, Luís Jorge, Roberto Siqueira, Gualter, Zé Augusto e a dos reservas.
Foi a primeira grande vitória do basquetebol do RN. Que, daí por diante, seria a sensação dos campeonatos brasileiros, chegando a 3º lugar, uma glória, visto que São Paulo e Guanabara são praticamente hors concours.

Despedida

Na manhã seguinte, fui ao aeroporto despedir-me da briosa delegação. Fiz questão de apertar a mão, um por um, de diretores, atletas, massagista e roupeiro, solicitando que que transmitissem a JK os protestos de estima e consideração e os agradecimentos do governo e do povo do RN.
Quando os alto-falantes chamaram os passageiros daquele vôo especial para embarque, o presidente da delegação envolveu-me num grande abraço, ocasião em que, em nome de Sylvio Pedroza, convidei-os para nova temporada.
Ele fitou-me bem nos olhos, desfez o abraço e catapultou da carteira uns pedacinhos de papel colorido.
- Dr. José Alexandre, o senhor é um desportista organizado e muito sabido. Virei, sim, outra vez. Mas vou levando para a diretoria do clube estes confetes, para explicar como se perde um jogo por causa de confetes. Volto, se o senhor jurar que não utilizará mais confetes.
E abraçou-me outra vez. Demoradamente. Ele tinha compreendido.
Ficamos amigos e nos correspondíamos. E ele recordava Natal com carinho. Quando sabia que novos clubes por aqui jogavam, perguntava pelo trabalho de sala, pelos confetes.
Era assim que ele definia o dia passado na Redinha, o sol, a caipirinha, a feijoada, até a demonstração de frevo.
Mineiro sabido danado.

José Alexandre Garcia
Gol de Placa, Editora Clima, Natal/RN, 1992




domingo, outubro 30, 2005

ONTEM, HOJE E AMANHÃ

Marcus Ottoni


O que preocupa é a desconstrução da democracia e da república.
Arnaldo Jabor

Júlio Pimenta
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Nei Leandro, no Bar de Chico, Beco da Lama,
com humanóides de Marcelus Bob ao fundo

O OLHAR

Passei noites
olhando o espelho
para entender
o que sou

passei dias
vendo o céu
para entender
a vida

passei tardes
observando o mar
tentando entender
o porque de te amar

Diogo Sodré



O Galo Mimoso


Do Oiapoque ao Chuí
ninguém ouviu falar
história mais marcante
que a que vou lhes contar:

Aconteceu há muito tempo
no sertão do Seridó,
terra de cabra macho
que nem todos de Caicó.

Por ironia do destino
o nome dele era Mimoso,
mas de manso num tinha nada
era, sim, valente e fogoso.

Muito franzino de corpo
mas ligeiro de pernas e asas
muita gente ele enxotava
de volta pra suas casas.

De suas proezas
seu Véi César se encantava
e dona Formosa, feliz,
num sabia se ria ou chorava.

Nenhum bicho ou gente
com ele tinha vez,
pois o penudo era filho
de galo carijó e galinha pedrês.

Seu Juca, Vaca Véia,
Marreta e Besourão,
sempre assustados, gritavam:
prende o galo, Torrão!

Amorosa, paciente, acudia
Pegóba, que ofegante exclamava:
Num tenho medo de assombração
e muito menos de alma penada!

Mas veio um dia
que a todos entristeceu:
Minha gente, Mimoso sumiu!
Chorava, desolado, Zé Bedêu.

Robério Matos
NOTA DO AUTOR: Baseada em fatos reais. Acreditem!



É o Beco!

Convocado pelo jornalista Hugo Macedo, procuramos um local tranqüilo para que eu pudesse fazer umas caricaturas para o livro “Beco Estreito – Histórias e Estórias de Personagens de Parelhas”. Optamos pelo Bar de Chico, no Beco da Lama, centro de Natal.

Enquanto Hugo contava os “causos” e eu desenhava as cenas, eis que chega um homem somente de calção, descalço e completamente bêbado. Imediatamente, passou na nossa mesa e sentenciou:

- Eu sou pescador e estou completamente apaixonado pela cozinheira!

Depois, ocupou uma mesa e pediu uma cerveja. Não sem antes revelar a ela, aos prantos, que não poderia mais continuar vivendo sem a reciprocidade do seu amor, que não conseguia nem trabalhar direito, somente pensando nela, etc. A resposta da cozinheira, que ficou irada, foi mais do que rápida:

- Meu senhor, eu não gosto de quem anda descalço e tampouco de pescador!

Ele, imediatamente, se levanta e vai embora, voltando, alguns minutos depois, com uma bacia cheia de postas de peixe, entregando a ela, como se fosse o presente mais caro do mundo. Aí, ela perdeu completamente a paciência, dizendo:

- Eu já lhe disse que não gosto de homem descalço, de pescador, de catinga de peixe e nem de homem que fede a esse animal, como você!

Com lágrimas nos olhos, o pescador disse:

- Pois então espere, que eu volto já...

Continuamos no nosso trabalho, enquanto, entre boas risadas, comentávamos o surto da apaixonite aguda do pescador, quando, passados uns trinta minutos, ele retorna, vestido da cabeça aos pés, com mangas longas, calça social, meias e sapatos, tomado banho e penteado, ainda muito embriagado.

- Pronto! – ele disse – agora estou do jeito que você quer! Saiba que eu não posso viver sem você, meu amor! E me dê logo uma cerveja bem geladinha e sente aqui pra gente combinar o casamento.

Do balcão, Chico, o dono do bar, ria discretamente, quando ela, aos gritos, disse:

- Eu já lhe disse, condenado, que eu não quero nada com você! Nem vestido de ouro! Vá atrás de umas raparigas lá na Ribeira, porque nem o seu retrato eu quero ver!

As lágrimas desciam dos olhos do pescador, quando, na saída do bar, pegou os dois sapatos novinhos e jogou no telhado de uma casa comercial e foi embora, todo alinhado e descalço, ainda com as etiquetas que balançavam impulsionadas pelo vento que descia em direção ao fim do beco mais irreverente do mundo.

Leonardo Sodré



Ontem, Hoje e Amanhã
Tribuna do Norte, 30/10/05

Uma viagem no tempo. A madrugada de Natal, que ressuscita minha infância e os deslumbramentos alimentados pela percepção e imaginação de uma criança. Tudo era gigantesco: as arvores, as praças, as ruas e avenidas, as casas de alpendres e as calçadas, as igrejas e os sobrados. A cidade exalava um perfume inconfundível, peculiar e extasiante. Mistura de aromas de jasmim, margarida, dália, alecrim e do inebriante eucalipto. Em esquinas de todos os bairros, estrategicamente, vendedores de frutas incorporavam ao odor desse pomar, que envolvia a cidade, o cheiro do caju, da manga, da jaboticaba, da goiaba, da laranja cravo (agora chamada de tangerina), do sapoti e tantas outras frutas que compunham a dieta dos natalenses. Sem distinção de categoria social. Havia partilha comum de uma forma de viver.

O "grande ponto" na Avenida João Pessoa, a Praça Augusto Severo e seu estilo "belle époque", suas arvores, que pareciam espetar o infinito, a Avenida Tavares de Lyra, o cais onde aportavam a lancha de Luiz Romão e os botes que transportavam moradores e veranistas para a Redinha, a rua Dr. Barata e seu comércio tradicional, que resistiu até pouco tempo, a visão do Baldo e da subida para o Alecrim, a majestade da imagem de São Pedro no pináculo da igreja que lhe é consagrada, a antiga Praça "Gentil Ferreira", a eterna postura do rio Potengy debruçado sobre o mar, o Forte, as praias e as dunas como eram na minha infância. Tirol e Petrópolis eram especiais porque se revelavam diferentes. Bucólicos e muito mais serenos. De manhã cedo, uma espécie de névoa, fina e fria, adornava-os, mantendo nas folhas e nas flores a umidade de um orvalho que resistia até o domínio esplendoroso do sol. Mas os morros, que ainda hoje cercam a cidade, apesar da criminosa e estúpida devastação, conferiam, naquela época, aos arredores desses bairros, uma roupagem paradisíaca, fantasiosa e enigmática.

Tudo mudou muito rapidamente. A mudança não quer dizer retrocesso, atraso, descontinuidade, esquecimento. Ou revogação inapelável do ontem. Essa incursão sentimental é nostálgica quanto ao passado. Esqueceram, muito mais do que a beleza e a ternura românticas da cidade, o mais importante, insubstituível como civilização: a dimensão humana de cada um e de todos. Fragilizaram-se laços humanos antíteses de egoísmos, violências, mesquinharias, hipocrisias, cinismo, insensatez e insegurança que, infelizmente, predominam em âmbito social. Onde falhamos? Por que nos recusamos a reconhecer a trágica circunstância de que a cidade é submetida a um processo de inevitável despersonalização? Há um fenômeno universal em curso. É verdade. Mas nada impede que preservemos, apesar da "aldeia global", os vínculos com um passado fonte de humanidade, sentimentos e sonhos. Essência da alma da cidade.

As "Palavras de pórtico" de Fernando Pessoa revelam sentimentos que se hospedam na mente e no coração de todos os homens. Em qualquer lugar, cultura e ambiente. Especialmente quanto à dimensão da vida: "Só quero torná-la grande, ainda que para isso tenha de ser o meu corpo e a minha alma a lenha desse fogo". Esse conteúdo humano é a substância do presente que deve fecundar o futuro que sonhamos.

Cláudio Emerenciano


Hugo Macedo©

Beco da Lama, o maior do mundo, tão grande que parece mais uma rua... Tal qual muçulmano que visite Meca uma vez na vida, todo natalense deve ir ao Beco libertário, Beco pai das ruas do mundo todo.

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