sexta-feira, julho 15, 2005

FRANKSCÃO




Acabei de ver.
Foi na TV.
Um boi da cara preta.
Dizia palavras de ordem.
Parecia um desespero.
Um Antônio Conselheiro com poderes de muitas mídias.
E o reverbero do final:
MEU NOME É ENEAS!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!

Me deu medo.
Lembrei a viúva do Largo da Igreja dos Pretos do Rosário.
O Papafigo. O Boi Tatá, a Mula Sem Cabeça.
Era um quê de Frankstein com Zé do Caixão.
Parecia alegoria de mamulengo.
Boneco falante com todos os poderes do susto.

Vade Retro! Foram mexer com santos dízimos
e tá aí, os demônios soltos,
o boi-zebu na capoeira,
o capeta do tridente rubro lambendo os beiços.

Chame o vigia.
Deixo as chaves.
Fuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuui. Vou me esconder.

Dunga




quinta-feira, julho 14, 2005

ATÉ ELE



Unanimidade

Até Lula também acha: o Brasil não merece o que está acontecendo.
Dunga


MARCÍLIO, PLÍNIO E LÉO




NINGUÉM É INOCENTE
A realidade brutal é que, quando tudo for dito e feito, nós é quem fazemos a guerra. Não que optemos ativamente por ela. Mas nós defendemos e amamos todas as circunstâncias e fatos que a provocam. E as alimentamos”. Thomas Merton

A hipocrisia humana assume, a cada dia, a cada explosão, a cada morte, a cada invasão de país, a cada denúncia de corrupção, a cada plano fantástico para redenção da miséria universal, a cada destruição de uma árvore centenária que seja, a cada loteamento da honra e da ética individuais, em cada uma dessas formas, dimensões assustadoramente cruéis.

Enquanto Londres envolve-se no manto da indignação e do lamento pelas bombas da semana passada – que deixaram um saldo horripilante de 50 vítimas, a hipocrisia dos londrinos (imprensa, políticos, igreja) aponta o dedo para a lua e se esquece que em assim fazendo deixa quatro dedos apontando para si mesmos.

Shahzad Tanweer, 22 anos; Hasib Hussain, 18 anos; Rashid Facha, 21 anos; Jacksey Fiaz, 35 anos, casado com um filho pequeno. Terroristas, segundo o Ocidente. Muçulmanos em desespero, segundo Al Jazeehra. Serão esses jovens os únicos responsáveis pelo massacre de Londres? Serão esses jovens, que deliberadamente deram cabo de suas próprias vidas (fato que jamais é mencionado em profundidade, reduzido a uma expressão tão típica de nossa gramática fascista: terrorista-suicida), os únicos responsáveis pela seqüência de fatos históricos que os levaram a cometer aquilo que Camus considerava o único ato sério na vida de um ser humano?

O nazismo não foi responsabilidade de Hitler. O fascismo não foi obra de Mussolini. Foi obra de cada um dos indivíduos que compunham as sociedades alemã e italiana da época. Foi obra do padeiro, do sapateiro, do dono da quitanda, do jogador de futebol, do pintor de paredes, do banqueiro, do padre e do sacristão. Todos eles ajudaram a construir o monumento à destruição polido por aqueles dois cavaleiros negros.

Dizer que o “terrorismo” mundial é obra de Bin Laden ou Abul Abass é apontar o dedo para a lua. É esquecer que um Ocidente canceroso de ganância, estupidez, ignorância e mercantilice, ávido pela mais-valia, sedento pelo lucro, pela casa própria e quanto-mais-moderna-melhor, pelo carro do ano, pela tostadeira digital; esse Ocidente que paga bilhões a um jogador de futebol analfabeto e salários de merda aos seus trabalhadores; esse Ocidente que elege os Bushs e os Blairs da vida, esse Ocidente é mais responsável pelo terrorismo ou pela violência que o fanatismo de um príncipe árabe enlouquecido pelo desespero.

O mundo inteiro sabe, a essa altura da carnificina, que tudo começou com a cobiça dos dois paises mais ricos do mundo pelo petróleo do Oriente. Todo mundo sabe, a essa altura, do massacre bilateral e sanguinolento, que tudo começou quando os hidrófobos republicanos norte-americanos, aliados aos conservadores trabalhistas ingleses, decidiram reeditar os feitos de Eleanora de Aquitania e Henrique III: conquistar as riquezas do Leste porque as do Oeste estavam minguando. Essa sempre foi a nossa história. Essa sempre será a nossa história até que nós, nós mesmos, não a ONU, não o Vaticano (hoje em dia regido por um ex-nazista – eu disse “ex”?), não esse ou aquele regime. Nós, indivíduos, seres humanos, éticos, morais, conscientes, acordados para a vida e não para a morte, a ganância, a prepotência, até que nós ponhamos um fim nisso, escolhendo correta e justamente líderes e políticos, aos quais pagamos para fazer o trabalho que desejemos.

Porque então a mentira, a hipocrisia, a desfaçatez de buscar razões humanitárias e falsamente lógicas para explicar uma coisa que Wilhelm Reich tão bem descortinou há mais de meio século: o homem destrói porque isso lhe dá prazer. Isso substitui o prazer erótico, amoroso, que ele mesmo reprimiu e anulou ao longo de dez mil anos de existência (ou inexistência). O Estado, as Leis, a chamada “Moral de Costumes”, Contenção, a negação do estar-livre-no-mundo, fizeram do Ocidente e do Oriente um terreno fértil para a propagação do vírus da ignorância. Husserl e Huxley dedicaram suas vidas à diagnose desse fenômeno.

A obstinada fixação do Ocidente em espalhar “democracia” pelo Oriente tem um cheiro de conquista carolingiana que a mim, pelo menos, não engana. Tem enganado, porém, metade do mundo civilizado, boa parte das mentes ditas cultas e inteligentes, as quais recusam-se a fazerem a si mesmas uma só pergunta: por que o nosso estilo de vida deveria ser o padrão do mundo? Porque as nossas doenças psicológicas deveriam ser transmitidas para todos os países do outro lado do mundo? Quem disse que princípios democráticos adotados por nós devem ser a tabula rasa para todos os países do outro lado do mundo?

A resposta é muito simples: arrogância, desprezo, prepotência. E quando esses três cavaleiros se juntam, atraem o quarto: ignorância.

Ninguém é inocente nessa guerra que nós mesmos provocamos. Ninguém. Quem quer que se proclame acima dela está mentindo. É um avestruz enfiando a cabeça na areia, enrolado numa bandeira nacional, ou num livro de orações ao deus desconhecido.


Marcílio Farias


Oswaldo Ribeiro
Oswaldo Ribeiro

A DIMENSÃO ONÍRICA DA MATÉRIA...


“O artista é aquele que fixa e torna
acessível aos demais humanos o espetáculo
de que participam sem perceber” (Merleau-Ponty)

A afirmação glauberiana explica como a arte destrói a brutalidade da matéria,
impondo-lhe a fantasia e a pureza transitória da forma.
Expressão de emoções e desejos, numa ação criadora de procedimentos inéditos para a invenção de objetos.
Eternidade e fugacidade simultâneas: seu pertencimento ao contexto onde se encontra
e sua inserção em uma tradição é que lhe dá sentido.

O artista reflete sobre a sociedade, seja para criticá-la, afirmá-la ou superá-la.
Um caminho de interseção entre o singular e o universal, o particular e o geral;
através da nuance de uma obra artística, temos o acesso ao significado de uma realidade.

Arte não é apenas alegoria e símbolo. É algo mais profundo, leva-nos a descobrir o sentido da própria história.
A arte faz ver a visão, falar a linguagem, ouvir a audição, sentir as mãos e o corpo,
emergir o natural da natureza, o cultural da cultura.
Arte é, pois, revelação e manifestação da essência humana, esquecida em nossa efêmera existência cotidiana.

Onde encontrar raízes, delimitar rupturas, denotar raridades, distender “ismos” ou tendências?

Na proto-história, exuberância em instigantes registros para a posteridade, em duas vertentes da arte lítica:
a “Nordeste” (Mirador/Parelhas e Pedra do Alexandre/Carnaúbas dos Dantas), riqueza em ritos cosmogônicos;
e, a “Agreste” (Lajedo Soledade/Apodi), presença de antropomorfismos totêmicos.
A deflagração abrupta da civilização desnuda e se apropria da paisagem,
a fortaleza poligonal/estelar do Gaspar de Samperes;
os batavos Frans Prost, Jorge Macgrave e Albert Eckhout desvendam nossas paragens em desenhos geo/etnográficos.

Contemporaneiguarmente, o retratismo de Moura Rabelo. Palatinik ensaia o movimento perpétuo via arte cinética.
Erasmo Xavier, na Art Deco/Nouveau, extrapola os fronts da província.
Precursor-modernista, Newton Navarro deglute as vanguardas (“ver com os olhos livres”).
Tessituras cubistas nas tapeçarias do Dorian Gray. Impressionismo fulgurante do Thomé Filqueira.
Intimismo Expressionista em Leopoldo Nelson. Transfigurativismo fantasmagórico da Zaíra Caldas.
O pop-concreto “1822” do Nei L. de Castro conflui ao poema processo, projetando o verso/língua para o universo/linguagem e culmina na visualidade poética do A. de Araújo.
Falves Silva, bocetas e concretude minimalista das sêmias até a exaustão sígnica.
Temporadas no Inferno & Iluminações, Dunga escancara as portas da “Galeria do Povo” e sacramenta a Praia aos Artistas. Vatenor, “praias sombreadas de cajuais”. Non-sense nas cores do Ítalo Trindade. Gilson Nascimento, Hiperealismo conga.
Grafismo ensandecido do J. Medeiros e o intróito da performance amálgama. Lay-outs aluados e Venancianos.
Ulteriores humanóides Bobianos. Experimentalismo ousado do Júlio Revoredo.
Fernando Gurgel caracteriza a geração 80 (Pargue Lage) intervindo na tela/suporte, rasgando, colando.
O desbunde pictórico de Flávio Freitas. As linhas caricaturais em Léo Sodré. Saudades do Novenil...
Pedro Peralta Pereira prova que na labuta criativa não existe apenas “dom”,
mas movimentos corpo/mente - transpiração e inspiração em comunhão.
O Oxente (Guaracy, Sayonara e Civone) transgride conceitualmente nas “instalações” e
desemboca no M8M - o limiar do fazer engajado.
Busca frenética em Valderedo Nunes, Fábio Eduardo e Franklin Serrão. Marcelo Fernandes abstraí-se na cêra.
O blague nos traços dos cartuns do Cláudio e Edmar. Nativismo lúdico do João Natal. A arte Brut do Helmut.
O “naif” /ingênuo em Djalma Paixão, Estelo, Iaperi, Nivaldo, Jotó, remetem às faces melancólicas do Assis Marinho. Simplicidade popular e mágica dos bonecos do Chico Daniel e Zé Relampo; no boi de Marinheiro;
nas esculturas de Manxa, Ojuara e a talha ontológica do Jordão, no Riomar; no sacrossanto do Chico Santeiro.
Na fotografia, das reminiscências veladas por Manuel Dantas à plasticidade transluzente de Giovani Sérgio.
Os vídeos paridos no quengo do Augustululante. A redenção da sétima arte na película Boi de Prata do Augusto Ribeiro Jr.

Enfim, tais protagonistas, em antropofágica profusão estética, combinando experiência de saberes e vertigem das sensações, configuram instrumentos eficazes de legitimação e pertença do imaginário Potiguar.


Plínio Sanderson




Túlio Ratto

Léo

Hora extra

A sala de audiências da Junta de Reconciliação e Julgamento da Justiça do Trabalho estava cheia naquela manhã chuvosa em Campina Grande, Paraíba. A questão, que envolvia uma trabalhadora de motel, precisava de muitas testemunhas, pois abordava horas extras que não haviam sido pagas.
De um lado, uma jovem com um olhar assustado de quem nunca havia visto uma coisa daquelas. Ao seu lado, um jovem advogado, com cara de quem está começando o ofício. Do outro lado da mesa, o dono do estabelecimento e seus dois advogados.
O comerciante, com longos cabelos e barba por fazer, mantinha um ar de quem já ganhou a “parada”, com um constante esboço de discreto sorriso. Ao redor, várias testemunhas do labor da reclamante e outras tantas do reclamado devidamente orientadas para dizer o contrário. Ao fundo, defronte à junta – que nesse tempo era composta de um juiz togado e dois classistas, vários estudantes de direito.
Com a cena armada, o juiz presidente inquiriu as partes para um acordo que não aconteceu diante das negativas do reclamado, cônscio de uma vitória. Ele, então, passou a instruir o processo, lendo, inicialmente, a reclamatória. Depois, ouviu as partes e algumas intervenções dos advogados e passou a escutar as testemunhas de cada lado.
Inicialmente, as do reclamado, que, sob juramento e um provável medo de perder seus empregos, afiançaram que a reclamante jamais havia dado um só minuto de labor extra.
As testemunhas da reclamante, exatamente o contrário: disseram que a jovem trabalhava durante toda a semana sem um só dia de descanso, nem sequer nos sábados e domingos. “Uma verdadeira escravidão” , como observou uma senhora gorda, identificada como ex-cozinheira do tal motel. Diante do contraditório, não sobrou ao juiz outra opção que não fosse um novo interrogatório das partes.
Resta dizer que o magistrado era um zeloso cumpridor das ordens divinas e, já beirando os quarenta anos, continuava se reservando sexualmente para uma noiva que ainda não havia aparecido em sua vida. Freqüentador de missas diárias, era cuidadoso no uso das palavras, orgulhando-se de dizer que “durante toda a sua vida jamais havia dito um palavrão”.
O imaculado juiz começou o interrogatório pelo dono do motel, que negou insistentemente que sua ex-empregada trabalhasse fora do horário normal, mesmo sendo num estabelecimento que funciona 24 horas por dia e acumulou dois bons “carões” por ter dito algumas palavras que o juiz achou inadequadas para uma audiência de instrução processual. Aliás, depois disso, seus advogados passaram a cochichar insistentemente no seu ouvido em busca de um acordo.
Depois, foi a vez da jovem trabalhadora.
- A senhora trabalhou quantos anos para o reclamado?
- Eu não trabalhei para esse homem, não. Eu trabalhei para esse sem-vergonha que está aí na frente...
- ... Reclamado - é o que ele representa aqui. E modere suas palavras!
- Vige! Quer dizer que dono de cabaré agora se chama reclamado?
- A senhora está brincando comigo? Sabe que eu posso mandar lhe prender por desrespeito à corte? Contenha-se!
Nesse ponto, o santo magistrado já estava completamente vermelho. Onde já imaginou – pensava – dizer a palavra cabaré na minha junta? Essa mulher está com o cão no couro!
Recomeçou:
- Qual era o seu horário de trabalho?
- O dia todo.
Impaciente, o juiz explicou:
- Eu quero saber a hora que a senhora começava e terminava!
- Eu começava às 06 da manhã e ía embora depois das 22 horas.
- Tinha intervalo para o almoço?
- O que é intervalo?
- Tempo para comer, ir para casa, etc. Um período determinado pelas leis trabalhistas. Enfatizou didático.
- Tinha não.
- Quer dizer que não tinha intervalo de almoço nem folga nenhuma?
- Ah! Foda tinha. Todo dia ele dava duas comigo...


BECOPRESS

ONTEM
A CPMI dos Correios ouviu o ex-presidente dos Correios, o
diretor técnico (que quase foi preso por causa de um
descuido de um "não") e um diretor da empresa Skymaster
Aerolines, todo "enrolado".
Alguns parlamentares, entre eles o franciscano Pedro Simon
(PMDB/RS), defendem que todas as comissões de inquerito
correlatas (Correios, Bingo e Mensalão) se transformem
numa só. Outros, perdem tempo com longos discursos,ao
invés de perguntas objetivas. E outros saem até do contexto,
com indagações evasivas ou repetitivas.
Lulla, digo, Lula, estava em Paris.

ALTA PRODUÇÃO
Circula na internet a informação que centenas de fábricas de
cueca estão reestilizando alguns modelos para que recebam
pinturas de notas de 100 dólares. Algumas têm até bolso e
porta moedas. Outras, são enfeitadas com estrelas e
babados que imitam a moeda americana. A mais cara, que
seria vendida na Daslu de São Paulo, vem até com uma
passagem para Fortaleza/CE, com direito a acompanhante.

CPMI
Um jornalista da terra desconfia, diante da quantidade de
CPMI´S que existe atualmente, que diante do que for apurado
(sonegação fiscal, etc) na loja Daslu, a mais cara do Brasil, a
possibilidade da "CPMI das Peruas" não está descartada.

ENTREVISTA
O programa "Câmara Cultural" (TV a cabo 37) entrevistará
amanhã o cientista político, escritor e poeta Chagas Lourenço
e o artista plástico Vicente Vitoriano. O programa é gravado
e vai ao ar nos dias 21 (20 hs), 23 (09 hs) e 24 (09 hs).

AQUI NÃO
Excitados turistas sexuais da Holanda não tiveram o gostinho
de pousar no Aeroporto Augusto Severo. Um avião lotadinho
de homens com idades de 25 a 40 anos foi desistimulado pela
Secretaria Estadual de Turismo de aportar nas terras de
Cascudo.


Leonardo Sodré




segunda-feira, julho 11, 2005

MANIFESTO-ME

Praia dos Artistas, Natal/RN, 1978 - Foto: Marcus Ottoni
Marcus Ottoni
PELA ORDEM CONSTITUCIONAL
PELA LIVRE CANDIDATURA
PELA LIVRE FORMAÇÃO PARTIDÁRIA
Eduardo Alexandre




domingo, julho 10, 2005

CONSIDERAÇÕES POSITIVAS



Algumas considerações positivas sobre as últimas notícias:

1) Temos que admitir: Marcos Valério é uma das cabeças mais brilhantes do país!
2) Marcos Valério diz que Roberto Jefferson está mentindo; Roberto Jefferson diz que Marcos Valério está mentindo. E os dois estão falando a verdade!!!
3) Marcos Valério disse que vai deixar de ser publicitário. Isso é um ótimo anúncio!

E nunca esqueçam desta lição de História: o primeiro presidente eleito por voto popular no Brasil foi Prudente de Morais. De lá pra cá, tivemos uma série de presidentes. Uns imprudentes, outros imorais...

Sandro Fortunato



Oswaldo Ribeiro



Um longo caminho de acreditar


Foi um sonho. De tantas formas e de tanto tempo, que nem sei mais precisar. Mas, sempre um sonho. O sonho. De participar. De mudar. Um sonho de liberdade. De fé. De tantos nomes e caminhos. Alguns, mortos. Outros, esquecidos. Tantos vivos, nascidos, renascidos, recém-nascidos. Multiplicados. Um sonho que, aos poucos, tomou a forma de uma estrela. E hoje, como só nos sonhos acontece, brilha ao sol do meio-dia. Astro novo no céu quase sempre azul, desse país. E eu penso o quanto valeu acreditar.
Então, um amigo querido me adverte, me avisa:
— Você vai se decepcionar.
E eu digo:
— Creia, não vou. Eu sei que um sonho é sempre mais brilhante enquanto sonho. Que um pouco se encolhe, se esgarça ao tornar-se real. Que a matéria é mais densa que o sonhar. Mas, mesmo que seja então, apenas o que do sonho foi possível, terá, ainda e sempre, sabor de luta, de vida vivida. De ideal realizado. Porto de chegada nesse longo caminho de acreditar.
Por isso, meu amigo tão querido, e só por isso, hoje eu sou feliz. Sem mágoas. Sem medo. Apenas intensa e verdadeiramente feliz!


Para todos os que, durante tanto tempo, acreditaram que esse dia chegaria e não desistiram, com alegria. E
para você, amigo querido, que já não acredita, mas que, certamente, tornará a acreditar, porque esse sonho de hoje tem a sua cara, com carinho.



Márcia Maia
arte, alegria, esperança e carinho: meus
Recife, 28 de outubro de 2002



Ponto de não reTorno



quando de súbito e sem sentido
o caminho toda a vida
percorrido
faz-se abismo faz-se em nada
além de água fétida
de esgoto
podridão
e o sonho (já não crido
utopia)
asfixiado estertora
agoniza
sem possibilidade de
recuperação
o que resta a quem do
sonho-caminho-utopia
fez mote de luta
de vida
a quem sempre acreditou?

talvez a mudez
:
o olhar vazio para trás
a lágrima derramada antes
do salto
:
talvez o salto

e a certeza de que caminho
que se faz abismo
é igual a sonho esgarçado
a tempo perdido
e o retorno além de dolor-
oso
é inútil
(proust que o diga)
:
não há como buscar no
mar de lama
o antigo azul da maré.


Sem palavras porque sonho que morre dói em demasia.
Meu choro e meu beijo.


Márcia Maia
Recife, 10 de julho de 2005



Márcia Maia, Antoniel Campos

DE AC PARA MM

é entre o nó na garganta e a lágrima retida, contida, aprisionada — mas teimosa, cai, — que a gente vai ouvindo essa música tão cara (quantas vezes ficamos , todos nós, em frente à tv, arrepiados, emoção à flor da pele, ao ouvi-la?) e vou lendo as suas palavras, mm, nesse poema que nunca queríamos escrito, nunca lido...
cacete... eu me lembro dos poemas que escrevia, todos os dias que antecediam à eleição...
e penso que arrependimento é uma palavra incongruente por si. ela não existe, tenho certeza disso. um sentimento posterior não apaga o de antes. é apenas um outro sentimento. um, foi feliz; o outro, dói. e esse não pode ser maior que o outro. penso também o seguinte: que seja no último momento de nossas vidas — se dele soubéssemos o quando — , mas devemos sempre ser capazes de dizer: ok, mas sigo em frente.
um beijo, mm.

Antoniel Campos



PALAVRAS TARDIAS



Ela escreve ao “antigo” amigo encurralando o adjetivo entre aspas para evocar o sabor da metáfora. Afirma não resistir à opressão do silêncio. É preciso quebrá-lo para falar das armas, dos golpes e da última ferida. Começa a escrever sobre o ato de escrever. Busca em Clarice Lispector a sentença de que às vezes “É duro quebrar rochas” com palavras, mas não perde a convicção: “Escrever é minha liberdade!”

E livre, prossegue com o texto. Mede cada verbete, esquadrinha frase a frase, encadeia o fluxo dos parágrafos. Talento não lhe falta para o jogo das letras, tanto que os sons e as imagens se entregam de corpo e alma aos caprichos da moça de Marte e de Além Mar. Nas últimas linhas, avisa sobre o próprio funeral e acusa o poeta imaginário, o tal “antigo” amigo, pelo assassinato das flores no esplendor da primavera.

Apesar de tantas queixas, reconhece no criminoso a sinceridade. Reconhece que o sujeito a avisou inúmeras vezes acerca dos perigos que se escondem entre o sexo e o sabor das uvas fermentadas, principalmente no vácuo onde a arte se confronta com a vida, onde o desejo não é mais que um escravo iludido por falsas promessas de luz e a realidade implacável rouba sem remorso o viço e a poesia das madrugadas.

A doce Charneca em Flor que no mundo anda perdida e navega em navios fantasmas desejando mil coisas sem saber ao certo o que deseja apazigua-se, contendo o ímpeto da Roseira Brava para dizer que a feriram de morte com algo “cortante e afiado, tipo faca, estilete ou punhal” e declara friamente àquele que considera seu algoz: “Parabéns! Dessa vez você usou a arma certa e o sucesso foi imediato e absoluto”.

O poeta imaginário, inimigo do lirismo, recebe a carta. Lê. Relê. E responde: “Para você, Sóror Saudade, escrevo estas palavras tardias, as que prometi faz tanto e tanto, palavras agora tristes, incapazes de curar dores de amor ou surtos de insensatez. Infelizmente, não tenho nada de alegria para oferecer por lenitivo, pois a lâmina torpe que me acusa de ser é quem mais sofre quando rasga o coração de uma flor”.

Cid Augusto


A PROPÓSITO DO
GUINESS DE RESISTÊNCIA SEXUAL



MOTE:
VAI GOSTAR DE LEVAR ROLA
ASSIM NA CAIXA BOZÓ...

G L O S A

Karl, não foi pura bravata.
Quem não sossegou o facho,
transou com seiscentos machos,
porque gosta de chibata.
Se pomba demais não mata,
lhe deixou só o coió.
Todo tipo de cipó,
levou se fazendo tola,
VAI GOSTAR DE LEVAR ROLA,
ASSIM, NA CAIXA BOZÓ...



BoB Motta





PALAVRAS

As palavras
ferem a alma
doem na carne
como se um estilete
penetrasse nela,
sufocam o peito
matando o amor
nele contido.

O ser humano
se perturba e sofre
se machuca e dói
simplesmente porque é fraco
ou talvez,
porque é bom.

No âmago da dor
explodem as lágrimas
que se derramam pelas pálpebras
dentro das paredes frias
de um quarto sombrio,
a solidão e a dor
comungam com o sofrimento,
a impotência
e o se perder.

Chagas Lourenço


Hugo Macedo©

Beco da Lama, o maior do mundo, tão grande que parece mais uma rua... Tal qual muçulmano que visite Meca uma vez na vida, todo natalense deve ir ao Beco libertário, Beco pai das ruas do mundo todo.

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Praieira
(Serenata do Pescador)


veja a letra aqui

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A imagem de fundo é do artista plástico e poeta Eduardo Alexandre©

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mariza lourenço

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