domingo, setembro 11, 2005

11 DE SETEMBRO DE 2005, BRASIL

"Eu vou atingir os 100 anos.
Com muita força para resistir e enfrentar os meus inimigos.
Não tenho medo de ninguém."
Severino Cavalcanti, presidente da Câmara dos Deputados

São longos os (30) dias severinos!





Ruíram
Nossas torres congressuais
Do Planalto

Ruiu o Planalto
Ruiu um sonho
A República balança

O verde/amarelo
Em rostos jovens
Acena

Um canto
Novo de luta
É o mesmo: o hino nacional

Eduardo Alexandre



TRABALHADOR DA ESTRADA

O sol se pondo
com raios frios
em agonia,
a lua no crepúsculo
se enche de fantasia
e a noite quer começar.

Na estrada
a margem estúpida
insiste em se sujar
e o homem, bóia-fria
está ali para limpar.

Na barraca de lona
as redes estão armadas
de lá para cá
de cá para lá.

Os homens de capacete
e roupas iguais,
cor de laranja
já desbotadas,
sentados nas pedras
sentados no chão,
esperam à beira do fogo
que esquente o feijão.

É feijão e farinha
é rapadura e só,
um pouco de água
e a dor no corpo
o homem se deita cansado
e dorme a noite toda
sem pensar nem em sonhar.

A lua ainda bonita
agora parece mais fria
o seu brilho prateado
está em leve agonia,
a madrugada se dissipa
com o sopro da ventania
um raio de sol desponta
traz consigo um novo dia.

O homem volta pra estrada
pra cuidar do seu asfalto
pra limpar a sua margem
desde baixo até o alto,
ele está sempre calado
trabalhando pro progresso
cuidando do automóvel
que um dia nesta estrada
lhe matará atropelado.

Chagas Lourenço



A SOMBRA

Sem aviso prévio,
Foi chegando, assim devagarinho,
Soprando baixinho,
Uma presenca salgada, assim meio trigueira,
De curiosa fui ver
Quanto mais perto chegava
Mais longe me sentia
Era virtual e ninguém me avisou!!!

Deborah Milgram



A garota misteriosa

- É puta? – perguntou o homem grisalho ao proprietário do bar, numa articulação silenciosa de lábios. O interlocutor, por trás da máquina de chope, fez careta, contraiu os ombros e espalmou as mãos, afirmando não ter a menor idéia. O coroa, então, moveu a cabeça 45 graus para a direita e acenou sorrindo. A garota, afastando a mão do queixo, retribuiu o cumprimento com um gesto de surfista, o famoso hang loose.

Figura interessante, dessas magrinhas bem torneadas, com tudo no lugar. Gestos lentos, fala mansa, tão suave que a um metro não era ouvida, pelo menos naquele bar do Flamengo, onde alguém grunhia a música de Chico Buarque. Usava tênis vermelho com detalhes brancos e cadarços frouxos, calças jeans escuras, blusa bege, sobretudo preto, óculos com lentes avermelhadas e uma boina azul-marinho que lhe cobria a cabeça até as orelhas.

A moça já havia pagado a conta de R$ 102,00. Adiantados. Sabe-se disso porque o champanhe ainda estava no balde de gelo por trás do balcão. Mesmo assim, o coroa se levantou, dirigiu-se à mesa dela e pediu para se sentar. Ela não abriu a boca, mas apontou para a cadeira vazia, em sinal de aprovação. Começaram o papo, sob os olhares atentos da platéia.

As quarentonas da redondeza, inconformadas com a cena, diziam que aquilo era absurdo.

- Tem idade para ser neta dele!

- Esse velhote não se enxerga!

- Que falta de vergonha!

- O Rio de Janeiro está perdido!

E a dupla nem aí, acendendo um cigarro atrás do outro, fazendo um brinde a cada instante, sorrindo, conversando ao pé do ouvido.

Lá para as tantas, a garota abriu a carteira e pegou o Título Eleitoral, mostrando-o ao seu mais recente amigo de infância. O documento era novinho em folha, percebia-se de longe. Contudo, pela reação do sujeito, a dona já tinha idade bastante para certas coisas.

Nos fundos do salão longo e estreito, onde se localizavam o palco e os únicos enfeites do recinto, dois girassóis num vaso de cristal sobre uma mesa de vidro, alguém roubou a cena tentando convencer o matador de letras musicais a abrir espaço para a canja. O musicida não permitiu. Beleza, pois a doida devia cantar pior do que ele, a julgar pelos olhares de falsete. Detestável, o tal do falsete, a não ser no som do Bee Gees.

- Que é isso, meu Deus! – rosnou o garçom, e as atenções voltaram-se novamente para o homem grisalho e a garota. Os dois, agora aos beijos, esnobando a galera. Levantaram-se, dançaram, foram ao banheiro. Voltaram, dançaram outra vez, tornaram a se beijar, a fumar, a rir, a beber, encheram o salão de espanto e de inveja com aqueles olhares lascivos, aqueles abraços de luxúria, aquela alegria insuportável.

O bar aos poucos fez silêncio, as pessoas foram saindo, os pombinhos por penúltimos. E a moça, adivinhe, foi quem pagou a despesa do coroa.

Cid Augusto



SEU ARLINDO - MEU COLEGA E SOGRO

Diz um ditado muito antigo, do tempo em que soutian era "califon ou porta seio", que "quem quiser ser bom, morra ou se mude". Daí, até hoje se tem o costume de homenagear as pessoas "depois que elas se vão". Mas hoje eu quero fazer diferente; seguindo o pedido do saudoso Nelson Gonçalves em uma das suas músicas, onde ele dizia:

"Me dê as flores em vida,
o carinho, a mão amiga,
para aliviar o meu penar.
Depois, que eu me chamar saudade,
não preciso de vaidade,
quero preces e nada mais"...

Quero, pois, homenagear meu querido amigo e colega da Academia de Trovas do Rio Grande do Norte e da União Brasileira de Trovadores - UBT - RN, e acima de tudo isso, meu sogro Arlindo Castor de Lima. Foi telegrafista e professor da língua Esperanto. Tem mal de Helzeimer em estado bastante adiantado, mas que ainda o permite que externe seu sorriso quando digo ao seu ouvido ou de alto e bom som, uma trova ou uma glosa fescenina, daquela bem "cabeluda"... Também faço-o chorar com uma lírica ou filosófica...E hoje, o Cantinho do Zé povo sente-se honrado em repassar aos seus leitores essa estória que me foi passada por ele, seu Arlindo, há muitos anos atrás, quando estava ainda na ativa como telegrafista do correio, na época E.C.T. Pois bem; segundo sua narrativa que faz parte do primeiro livro que escreví em 1978, Moleques, Molecagens e Suas Vítimas..., um português radicado no Brasil, inteligentíssimo como todos os nossos "irmãos lá da Terrinha", pois ouvi falar e tenho conhecimento que a grande maioria chegou ao Brasil, abriu sua portinhola, que virou mercearia, que virou padaria, que virou supermercado, que virou Distribuidora de Alimentos e por aí vai... E um camarada desse pode ser tudo; menos burro! Pois bem! Um desses indivíduos, no seu armazém de "secos e molhados", foi chamado certo dia por um dos seus auxiliares que o advertiu:
- Temos um cliente que está comprando muito, já ultrapassou em muito seu limite de crédito e não está conseguindo honrar seus compromissos conosco.
O austero portuga, no seu sotaque simpático e inconfundível; orientou seu auxiliar, para que ele entrasse em contato com o referido cliente:
- Pois escreva-lhe uma carta enérgica, mas com boas maneiras, explicando-lhe a situação e solicitando-lhe que pague o que nos deve, o quanto antes.
Daí a uma hora, veio o auxiliar com a carta, que após lida pelo comerciante, foi rejeitada. E veio a Segunda carta; e a terceira... Por fim, na Sexta ou sétima carta, o velho portuga leu; releu; leu novamente e sentenciou no seu português prá lá de característico da Ilha da Madeira:
- Finalmente essa carta está boa; mas ainda assim; tem dois erros de soletração. "Primaeiro": "Puta que o pariu" é nome próprio e você escreveu com letra minúscula. E segundo; "hora porra", você escreveu com "H", e, hora com "H", oh! Filhote de Cruz Credo, é hora de relógio!...

Bob Motta

por Alma do Beco | 2:36 PM


Hugo Macedo©

Beco da Lama, o maior do mundo, tão grande que parece mais uma rua... Tal qual muçulmano que visite Meca uma vez na vida, todo natalense deve ir ao Beco libertário, Beco pai das ruas do mundo todo.

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