terça-feira, agosto 30, 2005

CAGADO E CUSPIDO


O comissário estragou o menino:
Severino 30 dias!




Mote
Isso é cagado e cuspido
Paisagem do interior

Glosas

1.
Um jumento garanhão,
comendo à força a ajumenta,
uma bufa fedorenta,
esvaziando um salão,
festa de apartação,
um inverno promissor,
um vaqueiro aboiador,
um cachorro desnutrido,
Isso é cagado e cuspido
Paisagem do interior...

2.
Um carro de boi cantando,
carregado de madeira,
tenta subir a ladeira,
com os bois quase se arrastando.
A sariema cantando,
inspirando o trovador,
papagaio falador,
putanheiro e enxerido,
Isso é cagado e cuspido
Paisagem do interior...


3.
Comer um peba torrado,
batata doce, tacaca,
repolho cru, mão de vaca,
e culhão de touro, assado;
dá um peido desgraçado,
ninguém aguenta, doutor.
A podrura e o fedor,
mata um homem enturido,
Isso é cagado e cuspido
Paisagem do interior...

4.
Uma turma conversando,
lá no coreto da praça,
peidos de feijão macássar,
e as mentiras desfilando.
Aposentado prosando,
reclamando do calor,
estórias de caçador,
de convenção de partido,
Isso é cagado e cuspido
Paisagem do interior...

5.
Uma ruma de peão,
dormindo no alojamento,
bufas a todo momento,
som de peido e violão.
Muito feliz, o patrão,
olha seu reprodutor,
fudendo a todo vapor,
no curral, desinibido,
Isso é cagado e cuspido
Paisagem do interior...

6.
Pamonha, milho, canjica,
a fogueira de São João,
forró quente no salão,
é uma festa muito rica.
Mais contente ainda fica,
quem sarra com o seu amor,
no escuro, sem pudor,
no levantar do vestido,
Isso é cagado e cuspido
Paisagem do interior...

Aos amigos (as) do Beco e adjacências,
com o abraço do,

Bob Motta


Dr. Eider Furtado, o autor
Do nome do Trio Yrakitan



Mais de trezentas pessoas prestigiaram o espetáculo realizado pelo Trio Yrakitan, na noite de sexta-feira, 26, no antigo jardim do Palácio Potengi, hoje Palácio da Cultura. O famoso grupo vocal, um dos melhores da América Latina – só foi superado pelo Los Panchos –, já na sua quinta formação, está fazendo 55 anos de existência.
O espetáculo durou quase duas horas, período em que Gilvan Bezerril, (afoxé), Edildécio Andrade (Edil), no violão e Edílson Andrade, no tantã, demonstraram muita harmonia, habilidade e sensibilidade na interpretação de dezenas de canções românticas inesquecíveis, de autores brasileiros e latino-americanos, em português e espanhol.
Muitas canções foram cantadas a pedidos do público, composto por pessoas da terceira idade que aplaudiram, em pé, o Trio Yrakitan. O líder do grupo, João da Costa Neto, o Joãosinho, recentemente falecido no Rio de Janeiro, após 13 anos em estado de coma, foi homenageado na noitada promovida por Leide Câmara.
Também foi lembrada a memória do grande poeta potiguar Othoniel Menezes, autor de “Praieira”.
O grupo já gravou mais de 900 músicas e voltará a Natal, de onde saíram em 1950, para uma apresentação no Projeto Seis e Meia, em outubro (no dia 20, Gilvan fará 75 anos).
Mas o assunto atinente ao Trio Yrakitan que eu quero relatar aos leitores é sobre a origem do nome do grupo, que até recentemente era atribuída a uma sugestão do folclorista Luís da Câmara Cascudo, inclusive por Cravo Albin, autor de um dicionário da música brasileira, que se encontra à disposição num sítio da Internet.
O autor do nome Trio Irakitan mora em Natal, é advogado de renome e figura muito conceituada na sociedade potiguar e é ex-presidente da secção estadual da OAB: o professor Eider Furtado, ex-diretor da Radio Poty, de Natal. Foi ele quem deu o nome ao trio que percorreu a América Latina durante mais de 4 anos ininterruptos, sem pisar no Brasil. Você duvida?
Então, leia o que está escritor na página 63 do seu livro de memórias “Audiência de um tempo vivido” (edição do autor, Natal/RN, 2004): “O Trio Yrakitan vinha dos programas de estudantes, dentro dos quais cresceu, lançou-se para o mundo e teve a existência vitoriosa que o vem mantendo no cartaz até os dias de hoje, tendo Gilvan Bizerril como único remanescente de sua primitiva composição. Já andaram escrevendo que o seu nome foi dado pelo escritor Câmara Cascudo. Mas fui eu, sem pretender enfrentar o renomado mestre, quem o batizou. Pelo menos foi isso que, em outubro de 1954, em um programa da Rádio Mundial, levado ao ar ao meio-dia, Gilvan Bizerril, Edinho e João Costa, afirmaram.
Eu me encontrava na Cidade Maravilhosa adquirindo coisas para a Rádio Nordeste, da qual fui o primeiro diretor, e estava prestes a ser inaugurada quando, em plena Av. Rio Branco, encontrei os três que, ao me verem, arrastaram-me para o seu programa naquela emissora, onde, entremeando seus números musicais, fui entrevistado e por eles apresentado como aquele que dera o nome ao trio. Na noite daquele mesmo dia, me levaram a um “Clube dos Artistas”, em Copacabana, oportunidade em que, do palco daquela casa, fizeram minha apresentação e cantaram como se me homenageassem. Foi ali que reencontrei Aldair Soares, o conhecido “Pau de Arara”, que daqui se foi cantando música eminentemente nordestina e, diga-se, que venceu no Rio”.
Em artigo publicado na Revista do Rádio, 1957, intitulado “Fizeram sucesso na coragem!...”, Fernando Luís, filho do renomado folclorista, não atribui ao pai a autoria do nome do trio, mas informa que o grupo, nascido na Sociedade Artística Estudantil de Natal, era conhecido “por Trio Trairi, mas o diretor da Rádio Poti denominou-os Trio Muirakitan, mas como já havia um trio com este nome, em Recife, ficaram mesmo com Trio Yrakitan, que quer dizer “Mel verde” ou “Doce esperança”.
Os três trabalhavam no comércio de Natal durante o dia e à noite estudavam”.

Parabéns, Dr. Eider, pela valiosa colaboração prestada à música brasileira e pela correção histórica.


Luiz Gonzaga Cortez




Diário de um milionário

Sempre fui feliz, aí veio a loteria. Minha vida mudou. Mudou e muito, desde de que ganhei a bolada. Alguns dizem que para melhor, outros silenciam. A verdade é que mudou. Depois de conferir os números, procurei logo um lugar pra esconder o diabo.

Guardei o bilhete premiado por um mês, dentro de um plástico, e de outro, e de outro. Depois coloquei dentro de uma pequena lata de achocolatado e enterrei no quintal. Esperei, desaparecer, a curiosidade dos residentes da minha cidade. Passei a maior parte do tempo sentado num tamborete, olhando pro pedaço de chão onde meu bilhete estava enterrado. Vigilante. Dormir? Nem pensar. Apenas cochilos. Não saí mais de dentro de casa. Nem recebi os amigo. Disse que estava ocupado sempre que batiam na porta. Fiquei de boca calada. Afinal, estamos falando de dez milhões de Reais. Dez, com D maiúsculo.

Sofri muito com o calor daquele mês, mas agüentei firme trancado dentro de casa. Até a idéia de abrir a janela pra arejá-la me assustava. Não queria que ninguém me visse. Após os trinta dias, fui buscar meu prêmio numa agência da Caixa. Na cidade ninguém mais falava da loteria, e nem do ganhador.

Como as coisas mudam quando ‘cê tem dinheiro!
O gerente me recebeu com sorriso na cara. “Café ou suco, seu Antônio? Já sei, o senhor é do tipo que gosta de whisky. Nós não temos whisky aqui na agência, mas eu mando comprar.”

“Só o dinheiro mesmo, se o senhor não se importar,” respondi espantado. Nunca ninguém tinha me chamado de senhor. Nos meus trinta anos de vida, esta foi a primeira vez.

Essa conversa durou mais de hora. Finalmente, abriram uma conta, pois nunca tive uma, e depositaram toda aquela dinheirama. Faz três anos que ganhei os dez milhões. Faz três anos que mudei de minha cidade.

Tenho dinheiro para fazer o que quiser. Carros? Tenho quatro. Moro numa casa grande. Tem piscina, um jardim bonito, e vários quartos de hóspedes, embora ninguém nunca tenha vindo visitar. Nunca dei chance para os velhos amigos se aproximarem. Tenho medo de quererem meu dinheiro. Namorada? Quero não. Dizem que depois de um certo tempo elas têm “direitos”. Evito contato com a minha família também. Eu era muito próximo das minhas irmãs e dos meus pais. Hoje, não mais. Eles ainda são pobres. Sempre ajudei eles, quando morava lá na cidadezinha. Hoje tenho cisma de ajudar. Pode ser que fiquem dependentes de mim. Do meu dinheiro.
É, realmente a vida mudou muito. Pensei em abrir um negócio para mim, mas não confio em ninguém. Costumava confiar, mas hoje não. Hoje desconfio até da minha sombra.
Minha única companhia é a caneta e o caderno. Escrevo pra mim mesmo. Tipo um diário. Não tenho para quem escrever. Poderia escrever pra minhas irmãs ou amigos, mas tenho medo que descubram onde moro. Eu era mais feliz. A vida mudou muito....

Charles Phelan

por Alma do Beco | 8:55 AM


Hugo Macedo©

Beco da Lama, o maior do mundo, tão grande que parece mais uma rua... Tal qual muçulmano que visite Meca uma vez na vida, todo natalense deve ir ao Beco libertário, Beco pai das ruas do mundo todo.

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Praieira
(Serenata do Pescador)


veja a letra aqui

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A imagem de fundo é do artista plástico e poeta Eduardo Alexandre©

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mariza lourenço

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