MESTRE LEN, ZÉ LIMEIRA, CHICO DOIDO E EU TAMBÉM
(CARTAS DE ARQUIVO - I)
Mestre Len Of Cotovelo Beach
Meu saudar!
Essa, aí embaixo, é boa, Vossa Mercê vai notar !
Conheci, em João Pessoa (1978), o poeta Orlando Tejo - um figuraço de cachimbo, cabeleira farta e outras mungangas mais ! Ainda não havia publicado a primeira edição do muito festejado "Zé Limeira - O Poeta do Absurdo" (1980).
Uns dizem que inventou o violeiro e cantador maravilhoso, o negão de Teixeira. Cachola rara tinha (e tem) para a empreitada magnífica. Não inventou, não ! Na embalagem, entretanto, deve ter dourado muitíssimo a pílula...Fico com os que acreditam na existência física de Zé Limeira. O circunspeto,sagaz e vetusto José Américo de Almeida - que prefaciou o livro -, acho, não cairia na esparrela, no engodo bem urdido.
Enquanto isso, aqui, na nossa não muito leal Capitania, meu velho colega da Banda do Atheneu Nei Leandro e Moacy Cirne, cabra doido viciado em gibi (eles têm um nome complicadíssimo para a "especialidade"!), fabricaram um tal de Chico Doido de Caicó - que não chega sequer à poeira das alpercatas do putanheiro bardo paraibano. O tal desgovernado - a invenção dos dois - é chulo sem graça, pornográfico de pouco estilo, iconoclasta gratuito; não rima direito, metrifica muito mal, não acresce nada. É uma brincadeira gaiata, um infeliz arremedo, uma bufa !Chico Doido é uma mistura dos seiscentos diabos : sertanejo analfabeto, discutia Fernando Pessoa. No início dos anos 50, conheceu Zé Limeira (trinta anos antes do livro de Orlando Tejo). Vigia de rua em Natal, dava-se à intimidades com as caras meninas de Maria Boa e - calcule, meu distinto castelão praieiro - discutia história pátria com Cascudinho! Sem carta de ABC na cachola, é dose, conhecia Átila, Bocage, Casanova, Raimundo Correia, Gregório de Matos e outras feras...!
Tem mais, my lord : o caicoense Chico Doido foi pra Marinha Mercante, conheceu mundos e fundos. Em terras de Espanha se perdeu (o apelido era "Paco") e morreu, - graças a Deus! - no Rio de Janeiro. Onde, perto da Lapa, antes da passagem, bebia cachaça com Nei. Igualzinho ao Zé Limeira, usava óculos escuros, Ray-Ban, calculo!
Ainda bem que o grande Chico Xavier se foi sossegado, partiu para o Azul nas Minas Gerais, livrando-se, assim, da rebordosa de incorporar o encosto desse xará seridoense. Dessa “alma sebosa”, como diria o meu amigo Walter Leitão, ex-prefeito do Assu – que também desta já se foi, muito a contragosto.
Não é que, no Rio, Chico Doido, psicografado, deu uma baita entrevista! Do além, receitou prá cacete: conhece todo mundo aqui em Natal. Cupincha de muita gente importante, luzidia – íntimo até de Diógenes da Cunha Lima. Perguntado, disse ao presidente da mesa de linha branca que lá por onde flutua ouviu Luis Carlos Guimarães, o grande poetinha, se queixar ("ficou puto!") da sacanagem que, na Academia de Letras, fizeram ao amigo comum Nei Leandro – que perdeu uma vaga de imortal para um ilibado e culto cidadão do País de Mossoró. E foi em frente, em dia, diga-se muito bem informado, sobre as nossas deliciosas picuinhas provincianas... O pior, para mim, meu lorde, é que sapecaram o nome de Othoniel Menezes nessa baderna.Depois lhe mando mais, Mestre. Fiel escudeiro,
Laélio Ferreira
julho/2002