Severino 30 dias!
Léo Sodré
A catinga do estrume
deslizou no tamborete
e desceu como filete
escorrendo do curtume
Bob Mota tem costume
de ficar no cagador
por isso que seu odor
é de chiqueiro fedido
isso é cagado e cuspido
paisagem do interrior.
Chico Doido
Chico Doido,
Nenhum chiqueiro é fedido,
tem seu cheiro natural.
É o estrume do curral,
perfume francês curtido.
Chico Doido, táis fudido;
não catuque o trovador.
Se quiser fazer amor,
se agarre a um jegue nutrido,
isso é cagado e cuspido
paisagem de interior...
Se queres saber meu cheiro,
quando acordo de manhã,
pergunte prá sua irmã,
que é quem me cheira primeiro.
Lhe digo mais, companheiro:
Ela gosta do odor.
E é tão gostoso o amor,
que a gente faz escondido,
isso é cagado e cuspido
paisagem de interior...
Num mexa cum quem tá quéto!...
Bob Motta
Pois é assim lá no mato,
se faz a coisa de coca
no buêro c'uma loca
incuído como um rato,
dá uma cagada de pato
no buraco roncador
e de lá sai o fedor
com o bicho mei intupido
isso é cagado e cuspido
paisagem do interior.
Frei Carmelo
ZÉ LIMEIRA E CHICO DOIDO
"Limeira foi fabricado,
muito bem feito, no torno !
Rede branca, alpendrado,
pé-de-serra de Campina,
bode, cana, cajuína
- Limeira foi fabricado !
E sem mãe, o escanzinado
nunca foi filho de corno:
sua forma foi pru forno,
galada por muita gente...
Germinou, rara semente
- muito bem feito, no torno !
Já Chico, o mal-arrumado
- garanto à Vossa Mercê ! -,
não dá um peido do que
Limeira foi fabricado :
é chato, é chulo, é capado
fraco, fresco, frio e morno
- cagava em pé como um boi...
Não tem graça e nunca foi
muito bem feito, no torno !
Dou fim ao mote e de agrado
faço, até, filogomia:
nos "enquanto a gata mia",
Limeira foi fabricado !
Moacy ficou cagado
em Niterói, no contorno ...
Ney Leandro, no entorno,
pelejou vaca no brejo:
se deu mal ! comeu-lhe um tejo
muito bem feito - no torno !
Se você quiser eu faço
igualzinho a Zé Limeira
Eu tendo a régua e o compasso
de Nilo e de Orlando Tejo,
mesmo não sendo do Brejo,
se você quiser eu faço !
tangendo as cordas de aço
da minha viola arteira
canto sem fazer zoeira
mas me meto no fuxico
- enrabo quem pariu Chico
igualzinho a Zé Limeira !
Chico Doido é um vilanaço
e o pai dele é um jumento
- diz o Velho Testamento !
Se você quiser eu faço
a história desse palhaço:
nasceu sem mãe, o goteira,
na barca da Cantareira,
teso, tísico, sambudo
- logo mais eu digo tudo,
igualzinho a Zé Limeira !
Adiante, passo a passo,
posso passar por Campina
contando os passos, menina
- se você quiser eu faço !
Boto matula e cangaço,
vou sair em Cabaceira...
Pego o rumo de Teixeira,
dou volta nos calcanhares,
beijo a mão de "Seu" Tavares
- igualzinho a Zé Limeira !
Laélio/2002
O Ritual
Era uma espécie de anfiteatro.
O piso viscoso, de um tom escuro.
O sol, do teto penetrava num quadrilátero
por entre barras de ferro fundido e duro.
As paredes estavam cheias de musgos asquerosos.
Pessoas encapuzadas vestiam túnicas brancas
e assentavam-se empertigadas em cadeiras coloniais,
adornadas por símbolos maquiavélicos, satânicos!
enquanto aguardavam o adentrar dos líderes medievais.
Ao centro, uma maca negra, vigiada por verdugos,
onde hibernava a hidra mumificada e em refugos.
À direita da maca, um esquife abominável,
no cerimonial que precedia o anunciar do Grande Mestre,
que aguardava o instante memorável
que seria o beijar a esquálida hidra inerte,
cuja lenda esse rito mágico a ressuscitaria,
inda que caveirosa continuasse durante a orgia.
Alguns diáconos preparavam líquidos acres
e os repassavam aos Mestres de Cerimônia.
O sabor era como o gosto azedo do vinagre
e os fiéis, ávidos, os bebiam por amônia.
A maca negra, estacionada, estava entreaberta.
Um manto escuro descerrava a cripta repugnante!
Do palco superior, onde ficava um mirante,
descia uma harpia que, lânguida, rasgava-se-lhe o véu.
Nos seios nus cintilavam pérolas de uma corrente
e nas mãos conduzia uma taça com bebida igual ao fel
que me induzia a ingeri-la, irritando o Grande Mestre que
fantasiava em meus braços a sua amada hidra.
E quebrando as tradições do ritual, da ante-sala saiu.
Enquanto se dirigia para mim, numa fúria bestial,
notei que me debatia para acordar e sair daquela enrascada,
deixando para si o platônico amor da sua amada...
Robério Matos