“Vamos dar uma lição de voto nessa turma? É difícil, eu sei. Não custa, porém, tentar, até que a esperança vença a falta de vergonha.”
Taumaturgo Rocha, em comentário no becodalama@yahoogroups.com
Esse deus
Essa grande invenção
Tão confortante
De ancestrais
Leva além
Traz aquém
De todo limite!
É implosão
Explosão
Buraco negro
Pulsar...
Eduardo Alexandre
Data
1º de Outubro de 1977
I Exposição da Galeria do Povo
Contorno da Ladeira do Sol
Praia dos Artistas, Natal/RN
O LIVRO DE DANIEL
In memoriam
Simon Wiesenthal
Martelando a casca dura dessa História,
Revelando velhas rotas
Mentiras,
(Carne teutônica dançando celebrando cenários de carnificinas)
Tua voz mostrou a criação de técnicas de massacre eficientes,
Para esmagar os trompetes de Gideão e,
A flauta de Mohammad,
Ou mesmo a minha voz;
Tua voz despertou a dor de uma velha ferida
Causada por balas de 9 mm, pelo encanamento de câmaras de gás
Feitas em Ohio e vendidas em Hannover por
Corretores da Rua 47.
O que dizer, então:
Justificar tanto sangue nas costas de um só monstro?
Cardeais, advogados, juízes, carteiros, jardineiros,
O vizinho da esquina e a bisavó tão boazinha com
Dez netos vestidos de assassinos,
Treinando tiro ao alvo com os crânios de meus rabinos,
Rindo quando os corpos convulsos caíam na vala comum,
Rindo e imaginando ser Tristão, Brunhilda ou Gudrum,
Brincando de morte na esquina
De uma Strasse qualquer em Berlim.
Esse o quadro que tuas mãos revelaram ao mundo
Que tenta de todas as formas, agora, esquecer.
Hoje, novas palavras tecem o mesmo texto de sombra,
Destruição e agonia.
Hoje, o mesmo texto oculta da curta memória do povo
O império de sombra e sombra
Criado nas barbas desse mesmo povo.
Mas teu gesto manteve o shofar sonante,
A Menorah acesa,
O Muezzin atento a essa aurora vermelha,
Num deserto cheio de ecos repetindo aeternum
A última cláusula do Parágrafo Ariano.
*O poema foi sugerido pelo excelente livro do Dr. Daniel J. Goldhagen “Hitler’s Willing Executioners”, Doubleday, 2005.
Marcílio Farias