Eduardo Alexandre©
Entrevista: ANTONIEL CAMPOS
Mário Gerson
Da Redação
Gazeta do Oeste
Antoniel Campos é engenheiro civil e nasceu em Pau dos Ferros (RN), a 7 de janeiro de 1967. Publicou Crepes e Cendais (1998) e De Cada Poro um Poema (2002), agora, em 2005, edita A Esfera, livro que já lhe rendeu muitas honrarias da crítica. É um poeta visceral. “Minha poesia tem um lado visceral”. Ele confessa. Em um bate-papo descontraído, nas dependências do espaço Chap-Chap, o poeta falou de poesia, de esfera, de encanto e criticou o lado resumo-sem-sentido do fazer poético. É conferir a palavra semeada por Antoniel Campos.
O início?
AC - A influência da rima sobre minha obra é tão grande, que a primeira vez que escrevi não sabia o que era um soneto. Identifiquei-me muito com Augusto dos Anjos. Tive contato com os poetas formadores um pouco tarde. Depois, conheci Cruz e Souza: beleza estética do simbolismo, e Afonso de Guimarães. Logo a seguir, veio o interesse de maravilhar-se com Rimbaud e Baudelaire. Atualmente, admiro muito a poesia de Paulo Henriques Brito, que ganhou o prêmio Portugal Telecom. Ele brinca e destrói o soneto enquanto forma. A quebra que dá no ritmo se torna quase uma prosa. E ele é muito sarcástico com o ato de escrever; contra si mesmo. Acho esse se negar o máximo.
Você se nega nos seus poemas?
AC - Com certeza. Acho que é uma necessidade de quem escreve dizer um “não” primeiro a si. Eu sei que quero isso, mas vou dizer que não quero isso.
Proposta filosófica em sua poesia?
AC - Existe, embora eu sempre tenha procurado evitar a questão de levar minha poesia a um caminho filosófico. Em todos os três livros que escrevi, sempre as primeiras partes são de questionamentos. É a dor, o negar-se, o negar. São facetas que realmente estão presentes no que escrevo.
Os poetas deixaram de se negar?
AC - Acredito que os poetas hoje – sei que entro em rota de colisão com o fazer poético atualmente no Brasil – porque o que se busca é uma manipulação que beira a ser tola com as palavras. Isso significa buscar a concisão por buscar. Como se a concisão estivesse no ato de escrever pouco. Pode ser lacônico, escrevendo pouco. Podemos ser verborrágicos, escrevendo pouco, podemos ser concisos, escrevendo muito. Aquilo que escrevemos não é definitivo. Deve-se escrever até o dia da gráfica, quer dizer até o último momento. Também isso não significa enxugar demais e nem ficar espalhando o poema para dizer o que não tem mais para dizer. O poema é do tamanho da idéia.
Os livros anteriores traziam o mesmo ritual de exercício poético?
O primeiro livro foi Crepes e Cendais, que são dois tecidos: um sedoso; outro mais áspero. Na parte dos crepes, eu explorava a temática da dor, da morte, da poesia confessional. E na outra, a poesia mais lírica, que fala do amor, do sensual. A poesia dependia da textura do tecido. O segundo livro, De Cada Poro um Poema, dividi também em duas partes: nos poros, aquela coisa mais visceral. A partir do segundo livro já comecei a lançar o olhar mais sobre o fazer poético e mantinha mais a questão da dor; na segunda parte dividia a parte lírica, amorosa; bem como na poesia sensual, que gosto de tocar.
Por que esfera?
AC - Qualquer tamanho que seja a esfera, nunca se consegue ver a metade, pois para ver a metade, o seu raio visual teria de fazer uma tangente em cima e embaixo da esfera. No entanto, o raio visual que sai do nosso olho sai em forma de cone e não atinge a metade da esfera. Só podemos ver a metade da esfera no infinito, quando as paralelas se encontram. A partir dessa idéia, começo a tratar a questão da poesia. Quando me aproximo da esfera, vejo detalhes dela, mas vejo muito menos da sua metade. Posso me distanciar e a partir do momento que me distancio, começo a ver mais partes dessa esfera. A poesia tem de ser visceral. O meio termo não vale em poesia. É isso que penso.