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Algumas considerações positivas sobre as últimas notícias:
1) Temos que admitir: Marcos Valério é uma das cabeças mais brilhantes do país!
2) Marcos Valério diz que Roberto Jefferson está mentindo; Roberto Jefferson diz que Marcos Valério está mentindo. E os dois estão falando a verdade!!!
3) Marcos Valério disse que vai deixar de ser publicitário. Isso é um ótimo anúncio!
E nunca esqueçam desta lição de História: o primeiro presidente eleito por voto popular no Brasil foi Prudente de Morais. De lá pra cá, tivemos uma série de presidentes. Uns imprudentes, outros imorais...
Sandro Fortunato
Oswaldo Ribeiro
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Um longo caminho de acreditar
Foi um sonho. De tantas formas e de tanto tempo, que nem sei mais precisar. Mas, sempre um sonho. O sonho. De participar. De mudar. Um sonho de liberdade. De fé. De tantos nomes e caminhos. Alguns, mortos. Outros, esquecidos. Tantos vivos, nascidos, renascidos, recém-nascidos. Multiplicados. Um sonho que, aos poucos, tomou a forma de uma estrela. E hoje, como só nos sonhos acontece, brilha ao sol do meio-dia. Astro novo no céu quase sempre azul, desse país. E eu penso o quanto valeu acreditar.
Então, um amigo querido me adverte, me avisa:
— Você vai se decepcionar.
E eu digo:
— Creia, não vou. Eu sei que um sonho é sempre mais brilhante enquanto sonho. Que um pouco se encolhe, se esgarça ao tornar-se real. Que a matéria é mais densa que o sonhar. Mas, mesmo que seja então, apenas o que do sonho foi possível, terá, ainda e sempre, sabor de luta, de vida vivida. De ideal realizado. Porto de chegada nesse longo caminho de acreditar.
Para todos os que, durante tanto tempo, acreditaram que esse dia chegaria e não desistiram, com alegria. E
para você, amigo querido, que já não acredita, mas que, certamente, tornará a acreditar, porque esse sonho de hoje tem a sua cara, com carinho.
Márcia Maia
arte, alegria, esperança e carinho: meus
Recife, 28 de outubro de 2002
Ponto de não reTorno
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quando de súbito e sem sentido
o caminho toda a vida
percorrido
faz-se abismo faz-se em nada
além de água fétida
de esgoto
podridão
e o sonho (já não crido
utopia)
asfixiado estertora
agoniza
sem possibilidade de
recuperação
o que resta a quem do
sonho-caminho-utopia
fez mote de luta
de vida
a quem sempre acreditou?
talvez a mudez
:
o olhar vazio para trás
a lágrima derramada antes
do salto
:
talvez o salto
e a certeza de que caminho
que se faz abismo
é igual a sonho esgarçado
a tempo perdido
e o retorno além de dolor-
oso
é inútil
(proust que o diga)
:
não há como buscar no
mar de lama
o antigo azul da maré.
Márcia Maia
Recife, 10 de julho de 2005
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Márcia Maia, Antoniel Campos
DE AC PARA MM
é entre o nó na garganta e a lágrima retida, contida, aprisionada — mas teimosa, cai, — que a gente vai ouvindo essa música tão cara (quantas vezes ficamos , todos nós, em frente à tv, arrepiados, emoção à flor da pele, ao ouvi-la?) e vou lendo as suas palavras, mm, nesse poema que nunca queríamos escrito, nunca lido...
cacete... eu me lembro dos poemas que escrevia, todos os dias que antecediam à eleição...
e penso que arrependimento é uma palavra incongruente por si. ela não existe, tenho certeza disso. um sentimento posterior não apaga o de antes. é apenas um outro sentimento. um, foi feliz; o outro, dói. e esse não pode ser maior que o outro. penso também o seguinte: que seja no último momento de nossas vidas — se dele soubéssemos o quando — , mas devemos sempre ser capazes de dizer: ok, mas sigo em frente.
um beijo, mm.
Antoniel Campos
PALAVRAS TARDIAS
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Ela escreve ao “antigo” amigo encurralando o adjetivo entre aspas para evocar o sabor da metáfora. Afirma não resistir à opressão do silêncio. É preciso quebrá-lo para falar das armas, dos golpes e da última ferida. Começa a escrever sobre o ato de escrever. Busca em Clarice Lispector a sentença de que às vezes “É duro quebrar rochas” com palavras, mas não perde a convicção: “Escrever é minha liberdade!”
E livre, prossegue com o texto. Mede cada verbete, esquadrinha frase a frase, encadeia o fluxo dos parágrafos. Talento não lhe falta para o jogo das letras, tanto que os sons e as imagens se entregam de corpo e alma aos caprichos da moça de Marte e de Além Mar. Nas últimas linhas, avisa sobre o próprio funeral e acusa o poeta imaginário, o tal “antigo” amigo, pelo assassinato das flores no esplendor da primavera.
Apesar de tantas queixas, reconhece no criminoso a sinceridade. Reconhece que o sujeito a avisou inúmeras vezes acerca dos perigos que se escondem entre o sexo e o sabor das uvas fermentadas, principalmente no vácuo onde a arte se confronta com a vida, onde o desejo não é mais que um escravo iludido por falsas promessas de luz e a realidade implacável rouba sem remorso o viço e a poesia das madrugadas.
A doce Charneca em Flor que no mundo anda perdida e navega em navios fantasmas desejando mil coisas sem saber ao certo o que deseja apazigua-se, contendo o ímpeto da Roseira Brava para dizer que a feriram de morte com algo “cortante e afiado, tipo faca, estilete ou punhal” e declara friamente àquele que considera seu algoz: “Parabéns! Dessa vez você usou a arma certa e o sucesso foi imediato e absoluto”.
O poeta imaginário, inimigo do lirismo, recebe a carta. Lê. Relê. E responde: “Para você, Sóror Saudade, escrevo estas palavras tardias, as que prometi faz tanto e tanto, palavras agora tristes, incapazes de curar dores de amor ou surtos de insensatez. Infelizmente, não tenho nada de alegria para oferecer por lenitivo, pois a lâmina torpe que me acusa de ser é quem mais sofre quando rasga o coração de uma flor”.
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A PROPÓSITO DO
GUINESS DE RESISTÊNCIA SEXUAL
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MOTE:
VAI GOSTAR DE LEVAR ROLA
ASSIM NA CAIXA BOZÓ...
G L O S A
Karl, não foi pura bravata.
Quem não sossegou o facho,
transou com seiscentos machos,
porque gosta de chibata.
Se pomba demais não mata,
lhe deixou só o coió.
Todo tipo de cipó,
levou se fazendo tola,
VAI GOSTAR DE LEVAR ROLA,
ASSIM, NA CAIXA BOZÓ...
BoB Motta
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PALAVRAS
As palavras
ferem a alma
doem na carne
como se um estilete
penetrasse nela,
sufocam o peito
matando o amor
nele contido.
O ser humano
se perturba e sofre
se machuca e dói
simplesmente porque é fraco
ou talvez,
porque é bom.
No âmago da dor
explodem as lágrimas
que se derramam pelas pálpebras
dentro das paredes frias
de um quarto sombrio,
a solidão e a dor
comungam com o sofrimento,
a impotência
e o se perder.
Chagas Lourenço