Pedro Abech, proprietário de famoso pub da Gonçalves Ledo, ganhou, da prefeitura de Rio do Fogo, na praia de Zumbi, um terreno para construir sua casa de veraneio. A prefeitura dá o terreno, mas exige que, em seis meses, pelo menos o baldrame esteja construído.
Época de vacas magras, Pedrinho recebe a sugestão de fazer um "entre amigos" para levantar a grana do baldrame, R$ 500,00, segundo pedreiro da região praieira.
Ele vai à cozinha, conversa com a mulher, Dona Ivone, e chega com a notícia:
- Sábado, vamos ter uma feijoada, com som ao vivo e sorteio de 24 latas de cerveja! Cinco reais a senha!
- Mas Pedrinho, como é que vai ser essa feijoada? Vai ter pé de porco, orelha de porco, charque, carne de sol, livro, paio, laranja, couve cortadinha? Pergunta o jornalista Luciano de Almeida.
- Claro, responde o turco, eufórico. Vai ter tudo isso e muito mais: vocês não perdem por esperar!
Na Sexta à noite, apesar da fumaça do fogareiro a carvão que tomava conta de todo o espaço, não deixando ninguém respirar, o cheiro do feijão, vez por outra, chegava às narinas dos freqüentadores.
Com raras senhas na mão, Pedrinho comenta:
- Já vendi sessenta senhas. Até a deputada Fátima Bezerra comprou. Fátima, os vereadores Hugo Manso, George Câmara, e até Fernando Mineiro, que não é dado a esses eventos. Vai ser um acontecimento político essa feijoada! Comemora.
Dos primeiros a chegar, Luciano de Almeida toma mesa estratégica defronte ao ventilador turbinado da casa, e espera a chegada de companhia ao lado do seu Domec em taça especial.
No Beco da Lama, não se falava em outra coisa, todos despedindo-se de todos para um pulinho ao Bar do Pedrinho, para a degustação da já famosa feijoada. No Bar de Nazi, Zacarias Anselmo, da CUT, pede para que Gardênia traga a feijoada ao bar. Faz uma cota, passa dez reais para Gardênia, e espera chegar o produto do desejo coletivo.
Quando chega a quentinha com um pouquinho de arroz, um pouquinho de farinha e uma concha de feijão estrategicamente jogada no fundo do invólucro, a turma entreolha-se espantada.
- É isso a feijoada de Pedrinho? Sem carne alguma? Esse tiquinho? Essa picardia toda? A gente devia ter pedido era a feijoada de Neide!
Aperreado, morto de vergonha por ter sugerido a feijoada de Pedrinho, Zaca vai a Neide e compra a feijoada de 3 reais, do jeito que é servida no dia-a-dia.
- Uma única feijoada de Neide vale por 3 dessas de Pedrinho, comenta Dedé, o tesoureiro da Sociedade dos Amigos do Beco.
Em Odete, o cronista do cotidiano do Beco, Caubi, desce o pau na feijoada.
- Uma picardia de fazer gosto. Vocês precisam ver. Carne? Só se diluída no cozimento! Uma vergonha real de cinco contos de réis.
Em Pedrinho, chegam Fátima Bezerra e Geraldão, então pré-candidato a governador do Estado pelo PT, e começam conversa com Luciano de Almeida. Discutem assuntos do partido, da proibição de Dom Alair Villar à candidatura de Padre Fábio pelo partido, enquanto tomam aperitivos esperando o apetite chegar.
Quando a deputada pede a feijoada e vê chegar aquela baixelazinha, pequenina e rasa ña qual Pedrinho serve sua tábua de frios, envergonhada, ela pergunta:
- É essa mesmo, a feijoada de Pedrinho, Luciano? Experimenta, demora mais um pouco e se despede da turma, deixando o gordo Geraldão, do alto dos seus 160 quilos, em dúvida se compra ou não a senha da feijoada de Pedrinho.
Com medo da fome, ele toma providência:
- Pedrinho, me dê cinco dessas senhas! Mas, antes, me traga alguns copos de caldo aqui para mim e para o companheiro Luciano.
As pessoas vão chegando e a decepção toma conta do bar. Decepção que logo se transforma em galhofa e motivo de muito humor.
Uns chamam Ivone e trocam suas senhas compradas de véspera por cerveja. Outros, se mandam, dizendo ser melhor passar fome noutro lugar, o bar esvaziando-se e só conseguindo público cativo lá pelas 5 da tarde, quando o volume do som foi aumentado para que se ouvisse o especial da Rádio Universitária, com Terezinha de Jesus.
A picardia do turco chegara ao limite: não teve música ao vivo; Pedrinho não queria sortear as cervejas; para conseguir dois pedacinhos de carne no seu prato, Geraldão teve de ameaçar chamar a polícia; outros nem ameaçando com Procon, a nada mais tiveram direito; e, isso, diante de todos os comerciantes de bares e similares da vizinhança, que haviam comparecido para prestigiar o turco amigo.
Em todos os botecos da cidade, o assunto rendeu o resto do dia; todo o Domingo, e, na Segunda-feira, ainda era a feijoada turca de Pedro Abech que estava nos comentários de todos.
Na terça-feira seguinte, reconhecendo que tinha exagerado, Abech se sai com essa:
- Ora, eu não disse a ninguém que ia ter uma carnada. Disse que era feijoada. E feijão teve, ora se não!
Com a continuação dos protestos, ele, entre amigos, ainda tentou remendar:
- Sábado próximo, eu reuno a diretoria e dou uma feijoada grátis para todo mundo.
Paparazzi, que ouvia a conversa ao lado de sua Inês, comentou:
- Se a de cinco reais foi o que foi, a de grátis deve ter apenas um caroço no prato, acompanhado de palito. Venho não!