O Beco da Lama, no centro de Natal, sempre foi um lugar de referência cultural, onde artistas, poetas, escritores, jornalistas, boêmios e pessoas de vida alternativa se encontram para trocar idéias, beber umas e outras, ou quem sabe, participarem de manifestações populares, as quais acontecem ao longo do ano, numa ebulição artística e cultural constante. O Beco tem uma magia poética, uma atmosfera que paira em cada recanto de rua, em cada batente esquecido, como se o espírito encantado do Grande Ponto insistisse em permanecer protegendo as cenas bequianas, impregnadas de lirismos urbanos.
Na foto, da esquerda para a direita, o jornalista e curador da Galeria do Povo, Eduardo Alexandre, freqüentador assíduo do Beco e contador das estórias que acontecem por lá, o produtor cultural Júlio César, a única pessoa que ostenta “pregos” em todos os bares do Beco e o talentoso artista multimídia Falves Silva, cujo erotismo, desenhado em bico de pena, é arte recheada de pura inspiração.
O trio conversa “miolo de pote”, enquanto uma cerveja gelada alivia o calor, precisamente no bar do Pedrinho, numa tarde de um sábado qualquer. Sobre a mesa, um exemplar do clássico potiguar “As Pelejas de Ojuara”, de Nei Leandro de Castro.
A Cidade Alta abriga o Beco da Lama e o Beco nos presenteia com prazeres inquietantes, como se a alma clamasse por momentos pecaminosos nas ruelas daquele Beco: a meladinha do Nazir, feita hoje em dia por seu filho Adônis com a mesma maestria do pai, é tradição natalense e saboreada por várias gerações. Odete é a eterna musa do Beco, reverenciada pelos ébrios, fascistas lúcidos e por toda a fauna, da lama ou de longe do Beco. Pedrinho e dona Ivone, o turco e a lady, alimentam a verve lúdica do escritor Edgar Allan Pôla, cuja intenção é matar o danado do turco, casar com a lady e herdar todo o “ouro” do frechado.
O advogado Elder Heronildes, percebeu a irreverência contida no Beco da Lama e num lampejo de genialidade escreveu: “O Beco da Lama não é só Beco e nem só Lama, é um sublime e enlevante estado de espírito.” Portanto, o Beco da Lama continuará vivo nas próximas palavras, contidas nas edições seguintes...