Poema Matuto
Tudo o que se faiz na vida,
a gente tem uma meta.
E para que a minha obra,
um dia seja cumpreta,
sem quaiqué era uma vêiz,
quero amostrá prá vocêis,
o coração de um poeta.
O coração de um poeta,
é difíce sê domado.
Num se doma, se acustuma;
pois é munto istabanado.
Pru quaiqué coisinha apronta,
amando fora da conta,
qui nem muleque safado.
Daquele qui desce o morro,
numa fôia de bananêra,
dêxando rasto na areia,
alevantando puêra.
Chêíin de arranhão nuis braço,
juêi fartando pedaço,
mode ais suas brincadêra.
É qui nem minino rim,
nuis tempo de adolecença.
Quando o sangue, mais ligêro,
tira sua paciença.
Do qui fica o dia intêro,
trancado lá no banhêro,
fazendo ais sua indecença.
Êsse coração muleque,
minha fía, é tôdíin tezão.
Qui ama tudo nessa vida,
in cada uma pulsação.
É o centro de um universo,
qui eu amostro in cada verso,
qui decramo p’ro povão.
E o meu, todo remendado,
num faiz veigonha a quem vê.
Se êle ixprodí, num sai sangue,
sai verso e amô, pode crê.
E é êsse véi coração,
qui incoloco in sua mão,
e ofereço a você...
Bob Motta