quinta-feira, junho 23, 2005

GRANDE ESCRITOR

Tuk

François Silvestre


Volta e meia vem de volta essa cantilena de ter ou não ter o Rio Grande do Norte grandes escritores. Vou ser claro: grande escritor é uma coisa tão rara que nem deveria ter plural.

Grande escritor é Dostoievsky, Tolstoy, Pushkin. Cada um desses é um grande escritor. Em toda Rússia, de todos os tempos, há um ou outro além desses. Um ou outro. Não há muitos.

Grande escritor é Dante. Shakespeare é grandioso. Tão grande que há quem diga que ele não é ele. Cervantes é outro dos grandes. E ponha grande nisso. Homero, Virgílio, Camões. Ímpares. Grandes e solitariamente grandes.

Os grandes do Brasil são pouquíssimos. Tão pouquíssimos que cabem nos dedos de uma mão. Guimarães Rosa, Drummond, Nelson Rodrigues. São grandes. Para a dimensão do nosso roçado.

Câmara Cascudo foi grande etnógrafo, folclorista, pesquisador e fotógrafo dos hábitos do povo. Do seu cotidiano. Mas não era grande escritor. Nunca. Assim também pode-se dizer o mesmo de Gilberto Freire, que não era grande escritor. José Cândido de Carvalho foi grande escritor apenas num livro. Ariano Suassuna, idem. No geral da obra não são grandes escritores.

Então para que essa paranóia de querer ser grande escritor do Rio Grande do Norte? Aqui temos bons textos, bons prosadores e poetas, cronistas de boa leitura e texto agradável. Nada muito mais do que isso. E qual é o problema? O sol vai continuar nascendo no nascente. Sumindo no poente. A chuva vai continuar líquida. A noite fria e a manhã bela. Sem precisar de grande escritor.

Até porque no dia que aparecer um grande escritor no Rio Grande, vai ter gente se matando de inveja. E vai andar cada um com uma trena para provar que aquela figura não é tão grande assim. Então, para evitar suicídios intelectuais, é melhor continuarmos do tamanho que nós somos. Tudo na medida dos porta-retratos ou da pressão arterial.

O Rio Grande do Norte nunca teve nem tem grande escritor. E nem por isso deixa ser o centro do universo.

François Silvestre
Tribuna do Norte, 23/06/2005

por Alma do Beco | 9:26 AM


Hugo Macedo©

Beco da Lama, o maior do mundo, tão grande que parece mais uma rua... Tal qual muçulmano que visite Meca uma vez na vida, todo natalense deve ir ao Beco libertário, Beco pai das ruas do mundo todo.

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