Vestido comprido, rodado, de chita estampada, com renda de almofada, babados e fitas. Chapéu de palha, camisa xadrez, calça enfeitada com remendos. Bandeirinhas coloridas de papel, fogueira, fogos, balões, sanfoneiro. E a quadrilha. Padre, noiva, noivo, cabo de polícia e delegado, os pares a dançar enfileirados. Alavantú! Anarriê. Chã de damas. Outra vez. Chã de cavaleiros. Outra vez. Changê. Preparar para o caminho da roça. Caminho da roça. Olha a chuva. Choveu. Olha a chuva. Choveu. O marcador gritava e os pares, dançando, obedeciam. O suor escorria enquanto a noite avançava. Foi quando ele chegou. O antigo namorado. Vestido de cangaceiro. Embrenhou-se pelo meio da quadrilha. E atirou. No hora do casamento. Ninguém atinou que era de vera, o tiro. Ninguém percebeu que, dentre as flores da chita, uma nuvem escarlate apareceu. E choveu sobre a blusa, sobre a saia do vestido. Até que a vida partiu. Ninguém notou. E ninguém viu. Até que a lua partiu. Até que o dia raiou. Até que a fogueira se extinguiu. Até depois, muito depois que a quadrilha terminou.
Quase um baião de dois
Ela aqui. Ele acolá. No meio, um número
definido em quilômetros: cinqüenta,
cento e vinte — quantos mais ? — mil e quinhentos?
Pouco importa. Tanto faz. O dia passa.
(E que faço pra rimar? Escrevo úmero?)
A manhã se faz molhada e sonolenta.
Na tevê, corrupção e alagamentos.
Ele lá e ela aqui e essa trapaça
da distância. Já não chove quando a noite
se ilumina desses fogos e fogueiras
fumacentas. Vento vem que nem açoite.
Um balão riscando o céu lá na janela.
Há vestidos de chitão e brincadeiras.
(Os mais velhos gargalhando as anedotas)
:
ele abre uma cerveja no Lorota's
ela abre uma no Poço da Panela.
Márcia Maia