quinta-feira, junho 23, 2005

QUADRILHA




Vestido comprido, rodado, de chita estampada, com renda de almofada, babados e fitas. Chapéu de palha, camisa xadrez, calça enfeitada com remendos. Bandeirinhas coloridas de papel, fogueira, fogos, balões, sanfoneiro. E a quadrilha. Padre, noiva, noivo, cabo de polícia e delegado, os pares a dançar enfileirados. Alavantú! Anarriê. Chã de damas. Outra vez. Chã de cavaleiros. Outra vez. Changê. Preparar para o caminho da roça. Caminho da roça. Olha a chuva. Choveu. Olha a chuva. Choveu. O marcador gritava e os pares, dançando, obedeciam. O suor escorria enquanto a noite avançava. Foi quando ele chegou. O antigo namorado. Vestido de cangaceiro. Embrenhou-se pelo meio da quadrilha. E atirou. No hora do casamento. Ninguém atinou que era de vera, o tiro. Ninguém percebeu que, dentre as flores da chita, uma nuvem escarlate apareceu. E choveu sobre a blusa, sobre a saia do vestido. Até que a vida partiu. Ninguém notou. E ninguém viu. Até que a lua partiu. Até que o dia raiou. Até que a fogueira se extinguiu. Até depois, muito depois que a quadrilha terminou.

Quase um baião de dois

Ela aqui. Ele acolá. No meio, um número
definido em quilômetros: cinqüenta,
cento e vinte — quantos mais ? — mil e quinhentos?
Pouco importa. Tanto faz. O dia passa.

(E que faço pra rimar? Escrevo úmero?)
A manhã se faz molhada e sonolenta.
Na tevê, corrupção e alagamentos.
Ele lá e ela aqui e essa trapaça

da distância. Já não chove quando a noite
se ilumina desses fogos e fogueiras
fumacentas. Vento vem que nem açoite.

Um balão riscando o céu lá na janela.
Há vestidos de chitão e brincadeiras.
(Os mais velhos gargalhando as anedotas)
:
ele abre uma cerveja no Lorota's
ela abre uma no Poço da Panela.


Márcia Maia

por Alma do Beco | 4:15 PM


Hugo Macedo©

Beco da Lama, o maior do mundo, tão grande que parece mais uma rua... Tal qual muçulmano que visite Meca uma vez na vida, todo natalense deve ir ao Beco libertário, Beco pai das ruas do mundo todo.

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A imagem de fundo é do artista plástico e poeta Eduardo Alexandre©

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