Lupicínio Rodrigues
(ouvindo "Nervos de Aço")
Foi mesmo por estar tão magoado
ainda que refém do teu fascínio,
que ouvi por toda a noite Lupicínio,
falando ao meu peito machucado.
Sozinho... sem um amigo que me escute.
Apenas o silêncio da tristeza.
Dois dedos batucando sobre a mesa
e o gelo tilintando no vermute.
Calado o peito grita de dor tanta
e enquanto de ingrata eu te chamo,
ao mesmo tempo digo que te amo,
na voz que, rouca, trava na garganta.
O imenso desespero alonga a noite,
procuro evitar qualquer lembrança,
mas sinto a tua mão que me alcança
e o afago do passado hoje é açoite.
Soluço... não tem jeito... e desatino.
Vontade de abraçar-te neste instante,
viver de novo o beijo — tão distante...
contigo escrever um só destino.
Pedir perdão por tudo o que eu fiz,
e até do que não fiz pedir também.
Ouvir da tua boca "és meu bem!"
e ser pra sempre o homem mais feliz.
(...)
Preciso me deitar, já amanhece.
Sonhar tendo o teu corpo por regaço,
pois sei que até dormindo, se te abraço,
teu corpo, mesmo em sonho, me aquece.
Antoniel Campos