quarta-feira, junho 22, 2005

LIMITES DAS ÁGUAS



Do rio, se diz que não passa duas vezes no mesmo lugar. Pode ser. Tem certa lógica que águas que caminham em uma única e contínua direção, jamais voltem ao lugar onde nasceram, não tornem a passar onde passaram. Mas o mar, não. O mar é sempre o mesmo, abrigo das águas desprovidas de caminhos. Por isso se repete o mar. Monótona e continuamente. Enche, vaza, enche, vaza. Um pouco mais. Um pouco menos. Dependendo dos humores da lua. Calmo ou agitado, conforme os desígnios dos ventos. E não vale falar que revolta de mar é tsunami. Tsunami é revolta de terra. De terra cansada de carregar a imensidão do mar em suas costas.
Pensava nisso ao pensar na vida. Não numa vida em particular. Pois uma vida quer-se rio. Muitas vidas podem rio querer-se, mas quase sempre serão mar. O que ontem iluminou algumas delas, outras em breve iluminará. E o que toldou-as como noite densa e treva, outras também há de toldar. Como houvesse um só pecado, uma só graça, uma só dor. Como apenas mudassem atores e cenário numa peça repetida eternamente e à exaustão. Concebida por um escritor bissexto provido de pouca imaginação e algum talento.
O resto é rio correndo em abandono. O resto é mar cansado de marés desprovido de saída, de opções. O resto é inverno, primavera, verão, outono e novamente inverno. O resto é essa tarde que se esvai sucessiva e calmamente. Mundo afora. Tanto faz se aqui ou no Japão.


Márcia Maia

por Alma do Beco | 2:44 PM


Hugo Macedo©

Beco da Lama, o maior do mundo, tão grande que parece mais uma rua... Tal qual muçulmano que visite Meca uma vez na vida, todo natalense deve ir ao Beco libertário, Beco pai das ruas do mundo todo.

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A imagem de fundo é do artista plástico e poeta Eduardo Alexandre©

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