quarta-feira, fevereiro 09, 2005

O falso turco

Léo Sodré

Edgar Allan Pôla


Quando nas vésperas da realização do "No Beco, pela paz" a produção do evento reuniu-se com o bodegueiro etílico do Beco Sul, o turco Pedro Abech, Ceiça foi incisiva:

- A gente faz a festa aqui, Pedrinho, mas você tem que liberar um dos banheiros lá de dentro para as mulheres.

O bar ainda funcionava com frente para a Gonçalves Ledo, quando um "amigo" chegou com um presente para Pedrinho: uma filhota de dogue alemão.

- Pedrinho, você vai criar a bichinha aqui mesmo no bar? Perguntou Franklin Serrão.

- Vou. Qual é o problema?

- Você sabe o tamanho que essa bichinha vai ficar?

- Sei.

- Você sabe a quantidade de merda que essa bichinha caga (isso não é coprolalia escatológica, ouviu Rocas? É diálogo acontecido) por dia?

- Sei.

Logo a doguezinha ganhou nome famoso: Keith Katarina Zeta Jones. Para dona Ivone Gabriela, Keyla.

Com duas semanas, Zeta, já bem crescidinha, a turma insistia:

- Pedrinho, não dá certo criar um monstro desse aqui no bar. Imagine que a turma bebendo, conversando, comendo esses tiquinhos que você serve, e essa cachorra cagando lá por dentro, os ares fétidos chegando até nossas narinas...

- Não tem problema. Os incomodados que se retirem...

Jones foi crescendo, crescendo, e o quarto onde Pedrinho a alojou se tornando a cada dia menor.

- É, Ivone, essa cachorra tá dando muito problema por aqui, começou a reconhecer.

E levou Katarina para a casa de sua mãe, nas proximidades.

Pedrinho não contava que os latidos noturnos da cachorrinha iria incomodar o amigo e vizinho de fundos, Alex Gurgel, que já não conseguia dormir, apesar de bem acostumado com os badalares dos sinos do Galo e da Matriz de Nossa Senhora da Apresentação.

- Pedro Abech, essa situação é insustentável! Eu tenho que trabalhar e já não consigo devido às noites indormidas por causa dessa sua cadela. Ou você toma providências ou tomo eu.

E ameaçou jogar uma "bola" para a pobre coitada.

Com o bar funcionando agora nos fundos, Pedrinho acata a insatisfação do vizinho e traz Zeta de volta ao bar, agora ocupando a parte do que era propriamente o Pub, onde funcionavam (precariamente, é verdade) dois malcheirosos sanitários.

Depois de um ano inteirinho sem qualquer clientela, o turco vibrava com o sucesso do barzinho de trás, a galera espalhada pelo Beco, e servindo-se de um único e unissex banheiro sem descarga.

Mas, voltando a Ceiça, ela foi fulminante:

- Ou você libera um dos banheiros lá de dentro para as mulheres ou a gente não realiza a festa aqui. Está decidido.

Pedrinho remoeu seus cacoetes por quase meia hora e voltou com decisão:

- Podem realizar a festa que eu dou um jeito na cachorra.

Festa realizada com sucesso, dia seguinte estava Zeta Jones de volta ao seu feudo todo cagado.

Quando a Samba reuniu-se para avaliar o acontecimento, Plínio Sanderson soltou seus pitibus:

- Esse Pedro Abech é um incompetente. Não sei se vocês já repararam, mas em toda festa, no melhor da brincadeira, falta cerveja.

- Pedrinho, tem cachaça?

- Tem mais não. Acabou.

- Montola? Uísque? Tequila? Vódica? Campari?

- Tem não. Acabou tudo.

E toda festa a mesma coisa, a turma se mandando para Naldo, para o Amarelinho, para Aluísio.

Chiquinho não é freqüentador dos mais assíduos, mas, numa noitada dessas, mesmo sem festa e acabada a cerveja, a cachaça, o montola, o campari, o uísque e até o Macieira de Luciano de Almeida, já numa mesa de pista de Aluísio, fez a observação:

- Vocês chamam Pedro Abech de turco, mas essa desgraça não é turco, não. Turco gosta de dinheiro. Pedrinho, não. Se gostasse, não deixava faltar mercadoria em seu estabelecimento.

- É, e tratava bem suas clientes, reservando-lhe um banheiro limpo e cheiroso para elas, endossou Ceiça, depois de uma ida ao Hotel Sol para aliviar-se da bexiga em grande pressão.

Plínio, então, deu sugestão valiosa.

- Na próxima festa, vocês convidam alguém para montar um bar paralelo. O cara traz o frizer, mesas, cadeiras, cobra mais barato que esse turco e aí eu quero ver se ele não toma jeito. O Beco não é dele!

Ouvindo a conversa, Abech se aproxima e ameaça:

- Vou fechar o bar, pronto. Aí eu quero ver quem vai reclamar mais de alguma coisa.

Na mesa ao lado, Dunga dá uma gargalhada sonora e observa:

- É. Pedrinho vai montar uma omeleteria, um selvisservice, um alacarte, um sebo nas canelas... (empreendimentos fracassados do falso turco).

por Alma do Beco | 3:11 PM


Hugo Macedo©

Beco da Lama, o maior do mundo, tão grande que parece mais uma rua... Tal qual muçulmano que visite Meca uma vez na vida, todo natalense deve ir ao Beco libertário, Beco pai das ruas do mundo todo.

.. .. ..

.. .. ..

Recentes


.. .. ..

Praieira
(Serenata do Pescador)


veja a letra aqui

.. .. ..

A imagem de fundo é do artista plástico e poeta Eduardo Alexandre©

layout by
mariza lourenço

.. .. ..

Powered by Blogger

eXTReMe Tracker