Edgar Allan Pôla
Quando nas vésperas da realização do "No Beco, pela paz" a produção do evento reuniu-se com o bodegueiro etílico do Beco Sul, o turco Pedro Abech, Ceiça foi incisiva:
- A gente faz a festa aqui, Pedrinho, mas você tem que liberar um dos banheiros lá de dentro para as mulheres.
O bar ainda funcionava com frente para a Gonçalves Ledo, quando um "amigo" chegou com um presente para Pedrinho: uma filhota de dogue alemão.
- Pedrinho, você vai criar a bichinha aqui mesmo no bar? Perguntou Franklin Serrão.
- Vou. Qual é o problema?
- Você sabe o tamanho que essa bichinha vai ficar?
- Sei.
- Você sabe a quantidade de merda que essa bichinha caga (isso não é coprolalia escatológica, ouviu Rocas? É diálogo acontecido) por dia?
- Sei.
Logo a doguezinha ganhou nome famoso: Keith Katarina Zeta Jones. Para dona Ivone Gabriela, Keyla.
Com duas semanas, Zeta, já bem crescidinha, a turma insistia:
- Pedrinho, não dá certo criar um monstro desse aqui no bar. Imagine que a turma bebendo, conversando, comendo esses tiquinhos que você serve, e essa cachorra cagando lá por dentro, os ares fétidos chegando até nossas narinas...
- Não tem problema. Os incomodados que se retirem...
Jones foi crescendo, crescendo, e o quarto onde Pedrinho a alojou se tornando a cada dia menor.
- É, Ivone, essa cachorra tá dando muito problema por aqui, começou a reconhecer.
E levou Katarina para a casa de sua mãe, nas proximidades.
Pedrinho não contava que os latidos noturnos da cachorrinha iria incomodar o amigo e vizinho de fundos, Alex Gurgel, que já não conseguia dormir, apesar de bem acostumado com os badalares dos sinos do Galo e da Matriz de Nossa Senhora da Apresentação.
- Pedro Abech, essa situação é insustentável! Eu tenho que trabalhar e já não consigo devido às noites indormidas por causa dessa sua cadela. Ou você toma providências ou tomo eu.
E ameaçou jogar uma "bola" para a pobre coitada.
Com o bar funcionando agora nos fundos, Pedrinho acata a insatisfação do vizinho e traz Zeta de volta ao bar, agora ocupando a parte do que era propriamente o Pub, onde funcionavam (precariamente, é verdade) dois malcheirosos sanitários.
Depois de um ano inteirinho sem qualquer clientela, o turco vibrava com o sucesso do barzinho de trás, a galera espalhada pelo Beco, e servindo-se de um único e unissex banheiro sem descarga.
Mas, voltando a Ceiça, ela foi fulminante:
- Ou você libera um dos banheiros lá de dentro para as mulheres ou a gente não realiza a festa aqui. Está decidido.
Pedrinho remoeu seus cacoetes por quase meia hora e voltou com decisão:
- Podem realizar a festa que eu dou um jeito na cachorra.
Festa realizada com sucesso, dia seguinte estava Zeta Jones de volta ao seu feudo todo cagado.
Quando a Samba reuniu-se para avaliar o acontecimento, Plínio Sanderson soltou seus pitibus:
- Esse Pedro Abech é um incompetente. Não sei se vocês já repararam, mas em toda festa, no melhor da brincadeira, falta cerveja.
- Pedrinho, tem cachaça?
- Tem mais não. Acabou.
- Montola? Uísque? Tequila? Vódica? Campari?
- Tem não. Acabou tudo.
E toda festa a mesma coisa, a turma se mandando para Naldo, para o Amarelinho, para Aluísio.
Chiquinho não é freqüentador dos mais assíduos, mas, numa noitada dessas, mesmo sem festa e acabada a cerveja, a cachaça, o montola, o campari, o uísque e até o Macieira de Luciano de Almeida, já numa mesa de pista de Aluísio, fez a observação:
- Vocês chamam Pedro Abech de turco, mas essa desgraça não é turco, não. Turco gosta de dinheiro. Pedrinho, não. Se gostasse, não deixava faltar mercadoria em seu estabelecimento.
- É, e tratava bem suas clientes, reservando-lhe um banheiro limpo e cheiroso para elas, endossou Ceiça, depois de uma ida ao Hotel Sol para aliviar-se da bexiga em grande pressão.
Plínio, então, deu sugestão valiosa.
- Na próxima festa, vocês convidam alguém para montar um bar paralelo. O cara traz o frizer, mesas, cadeiras, cobra mais barato que esse turco e aí eu quero ver se ele não toma jeito. O Beco não é dele!
Ouvindo a conversa, Abech se aproxima e ameaça:
- Vou fechar o bar, pronto. Aí eu quero ver quem vai reclamar mais de alguma coisa.
Na mesa ao lado, Dunga dá uma gargalhada sonora e observa:
- É. Pedrinho vai montar uma omeleteria, um selvisservice, um alacarte, um sebo nas canelas... (empreendimentos fracassados do falso turco).