TN - 19/04/02
O nome do filme bem que poderia ser ‘os embalos do sábado à tarde’, para a parcela da sociedade que guarda o sétimo dia da semana, aquele em que o Criador escolheu para descansar, para se confraternizar com amigos em uma mesa de bar. Quem prefere tomar sua cervejinha ou uísque no sábado encontra opções bem interessantes em Natal, com direito a boa música e delícias gastronômicas.
Música ao vivo, com músicos profissionais ou amadores, é mesmo a melhor pedida para o sábado. No fim da manhã, a velha boêmia do Beco da Lama (na Cidade Alta) se encontra para a tradicional ‘meladinha’ no Bar do Nasi, esquina da travessa Cel. Cascudo com a rua José Gonçalves, o famoso beco. A bebida, feita à base de aguardente de cana, mel e limão, caracteriza os cinqüenta anos do boteco.
Em ambiente eternamente improvisado, os freqüentadores se esbarram para disputar o drinque enquanto os músicos da casa brindam o público com canjinhas de música popular brasileira e da genuína canção potiguar. O dono do bar, Nasi Adoniran Fernandes Canan, conserva a receita original da meladinha, criada por seu pai, o ‘seu’ Nasi, falecido este ano.
O atual administrador informa à reportagem os melhores dias do bar: sexta à noitinha e sábado à tarde. "Com é centro de cidade, o pessoal fica mais à vontade quando o comércio fecha e podemos colocar um bancos na calçada", explica. Para acompanhar a bebida, só há uma opção: caldo de feijão, formando o que os clientes chamam de a dobradinha Ele&Ela. Nasi também servia queijo de coalho assado, e tão logo encontrar um bom fornecedor, incluirá novamente a iguaria no menu da casa.
Também no mesmo circuito do Beco da Lama encontra-se o Bar da Nazaré, na Cel. Cascudo, número 130. O apelo é a cerveja sempre gelada e os diversos tira-gostos, servidos ao estilo de refeição ou de petisco. Geralmente os freqüentadores dos botecos do centro da cidade não têm preferência por este ou aquele estabelecimento, escolhem onde estão os amigos.
O artista plástico Marcelus Bob afirmou que no sábado passado estava circulando pelos bares em busca de leituras urbanas para novos trabalhos. "A boa pedida do sábado à tarde é ouvir Carlança no Bar do Nasi. Por que hoje é sábado, já dizia Vinícius de Morais", diz.
O médico Francisco de Assis Lima, conhecido simplesmente como Dr. Chiquinho, é freqüentador do Beco desde 1964, e entre um e outro dia da semana, o sábado é sagrado. "Neste dia, o Beco reúne os maiores ‘bandidos’ da cidade, na verdade, os artistas marginais. A cultura oficial não circula por aqui, somente a não-oficial e extra-oficial encontra lugar".
Outro artista plástico, Fábio Eduardo, empolga-se com o mote da reportagem e enseja um poeminha. "Sexta à noite me dá agonia. Sábado 9h da manhã eu tenho azia. 11h da manhã de sábado me dá alegria: estou bebendo no Beco a minha meladinha. É a rima pobre de um papudinho".
MAIS ALINHADO — Lá pelo final da tarde, depois de cumpridos os compromissos matinais de sábado, que tanto podem ser feira ou Iate Clube, uma turma fiel se dirige ao restaurante e bar Kazarão, situado à rua Mossoró, em Petrópolis. O proprietário da casa, Temístocles Amador Silva, confessa que não tem a menor modéstia ao afirmar que é o "Pelé da tarde".
No ramo desde 1973, ele conta que começou a investir no horário vespertino há uns cinco anos, mas faz dois anos que o movimento se consolidou. "Fui um aventureiro e agora colho os frutos", diz. Na casa, as bebidas uísque e cerveja são as mais pedidas. O cardápio oferece várias opções de petiscos e os mais pedidos são casquinho de caranguejo, língua e espetinhos.
Os comes e bebes do cardápio não atrairiam ninguém, na opinião de Temístocles, se não fossem as atrações musicais da casa. O grupo GMP Trio, mais os cantores Fátima e Gilvan, e a Confraria da Música, formada pelos músicos Neco, Rafael, Jussier, Bosco e Neném, compõem a carta musical do Kazarão. "A vantagem do sábado aqui no restaurante é porque funciona como um karaokê ao vivo. A turma se diverte mesmo, cantando e dançando com os músicos".
O advogado Luís Carlos Moreira freqüenta o restaurante há cinco anos, é fã da língua, a qual se refere como ‘a famosa’ e inova ao sugerir ao barman que lhe traga um drinque à base de strega, menta e água tônica, para mudar de vem em quando a opção de sempre, o uísque. "Acho o Kazarão extraordinário. Relaxo mesmo quando estou por aqui. Mesmo vindo sozinho não me sinto solitário", afirma.
O professor universitário Valdir Guerreiro de Melo, que figura entre os clientes especiais da casa retratados pelo desenhista Tarcísio Motta (os quadro estão dispostos na parede), cita que a confraternização entre os amigos é indispensável aos sábados. Ele começa pelo Iate Clube, vai em casa para relaxar um pouco, e sai novamente. "Geralmente gosto de ir para lugares que têm música ao vivo, é mais animado".