Num domingo desses, eu li uma bela crônica de Osair Vasconcelos, n’O Poti, onde ele reclamava do barulho que alguns tetéus estavam fazendo, bem de manhãzinha, num terreno baldio ao lado da sua casa. O barulho dos pássaros não deixava o jornalista curtir o último sono e isso o deixava irritado o resto do dia.
Venho sofrendo uma tortura muito parecida. Meu precioso sono noturno está sendo perturbado pela cachorra pertencente ao Pedrinho Abech, cujos latidos não estão me deixando dormir em paz. A cadela é um bicho enorme, da raça “Dog Alemão” e atende pelo sugestivo nome de Katarina Zeta Jones, mas o turco a chama ingenuamente de “Keyla”.
Quando criei uma escola de inglês na minha casa, o Practical Idiomas, tive que fazer algumas reformas no prédio, construindo meu quarto e o escritório nos fundo da escola, aproveitando o quintal da antiga casa. Pedrinho e sua família mora exatamente atrás da minha casa e o quintal dele é ao lado do meu quarto.
Keyla foi criada no bar e por ali mesmo acostumou-se a viver. Nos finais de semana, quando há algum evento naquela espelunca, ele transporta a cadela para seu quintal, o qual é pequeno para um animal desse porte. O pior é que a cadela não cresceu nesse minúsculo ambiente e “estranha” o lugar. Sempre que ela está no quintal fica latindo – um ronco alto e contínuo – de cinco em cinco minutos. Não há diabos que agüente!
Já falei com o bodegueiro várias vezes e sempre recebi a promessa de que a situação seria resolvida. Já se passaram mais de seis meses e até hoje, nada! A falta de respeito de Pedrinho comigo é muito grande e cada vez mais evidente. Ele nunca se preocupou com meu sono, minha individualidade. Durante esse tempo que venho sofrendo e reclamando, ele nunca criou alternativas para aliviar a perturbação que sua cadela promove, durante a noite inteirinha.
Contando esse problema para alguns amigos mais próximos, descobri várias receitas para acabar, de vez, com essa situação. As sugestões são bastante atraentes e variadas: algumas bolas de carne com veneno durante a noite, jogar lixo, mijo e bosta de gente no quintal dele para criar condições insalubres para o animal. Até já teve alguém que se comprometeu em emprestar uma arma de fogo para que fosse dado um tiro de misericórdia nessa situação.
Todas as sugestões foram descartadas por mim, entendendo que a cadela não tem culpa de sofre um castigo que pertence ao seu dono. Quem deve ser punido é Pedro Abech. Portanto, estou tomando algumas providências legais.
Vou entrar na justiça, ainda essa semana, para pedir uma indenização em dinheiro (pelo menos 100 salários mínimos) pelas noites de sono mal dormidas e outras sem conseguir dormir. Já entrei em contato com algumas ONG’s, nacionais e internacionais, as quais se preocupam com a proteção e os bons tratos dados aos animais domésticos.
Com apoio de alguns vizinhos, marquei uma audiência com a promotora do Meio Ambiente, Rosana Sudário, para denunciar o barulho dos latidos da cachorra, os quais configuram um crime contra a Lei do Silêncio.
Se nada disso surtir efeito, começarei uma campanha ferrenha em favor da minha tranqüilidade noturna. Vou contribuir incansavelmente para que o bar não tenha movimento – só assim Kelly poderá dormir por lá, guardando o comércio do turco.
Até hoje, não sei como vai a relação do jornalista com os pássaros, acredito que ele já se livrou do incomodo barulho daquelas aves gasguitas. Sobre todos os aspectos, ele teve mais sorte do que eu. Prefiro o som de mil tetéus de manhã, do que passar uma noite dormindo com a cachorra do Pedrinho.
Para poder acordar de manhã, bem disposto e cheio de astral, eu preciso de um sono qualitativo, sem barulhos. Como o cronista, eu só quero sossego.