segunda-feira, fevereiro 14, 2005

Nossa cronista do Beco em O Poti

Diário de Natal

Diário de Natal

IMPRESSÕES

O ANTES

Notícias de calamidade e dor.
O mar, berço da vida, sendo algoz sem distinguir etnia, credo, sexo ou posição social. O pesar de muitos se transformando em solidariedade mundial. O planeta sofre e ajuda unido, mas os números continuam a subir. Tanto de mortos como de socorros. Um novo dilúvio sem chuvas onde a Arca de Noé é um colchão flutuante com um Moisés bebê. Que missão terá esse novo Moisés? Não há motivos para festas. Ou estar vivo já não é um?
De saldo, nesse ano findo, apenas tristeza e esperança.
Apesar de tudo, a roupa branca, simpleszinha, porém limpinha, está reservada para depois do banho que foi no escuro, com direito à picada de maribondo, mesmo debaixo do chuveiro ao ar livre. Bom presságio? Quem viver, verá! A calcinha vermelha, a romã e as uvas clamam por paixão, paz e prosperidade. Serão, as duas primeiras, compatíveis? Enquanto há vida, há esperanças. Que se renove nesta passagem.

O DURANTE

Enquadrados, os fogos pipocam em cintilâncias coloridas e dançantes através da janela do quarto e da televisão. O progenitor se entrega ao imobilismo em seu leito de dor. Perante ela – a dor –, não há curiosidade nem preocupações estéticas. Apenas entrega ou resistência. Alívio ou agonia. A família, em volta, vibrando pela melhora, pelo intervalo de bem estar. O sonho de ver aqueles fogos que dançam ao vivo das areias cariocas, e as lágrimas que não param de dançar na face. Alegria e tristeza duelam na garganta. A voz sai entrecortada: Feliz 2005! Uvas, romã e champanhe numa ceia imaginária e desnecessária. Depois, tentar dormir, apesar dos insuportáveis axés e pagodes ambulantes que transitam na primeira madrugada do ano. Apenas a primeira de muitas que podem ser tão barulhentas – ou não –, dependendo do lugar onde nos encontramos. Madrugadas que também podem ser de amor, de sonhos reveladores ou enigmáticos, de puro relax, de viagens interplanetárias ou espirituais. Pode tudo, desde que haja vida e esperança. Que tenhamos, ambas, em alta, com a chama acessa a todo gás. Tim, tim!

O DEPOIS

Uma manhã que, antes de ser, entardeceu. O primeiro dia sem pressa. Transcorrendo preguiçoso e quente, derretendo-se, nesse verão abafado, como os relógios de Salvador Dali. Uma caminhada à beira-mar e a terrível constatação: levaremos muitas décadas, quiçá séculos, para construir uma consciência ecológica coletiva. Papéis de biscoitos, latas de refrigerantes e vasilhames pet se misturam com sargaços e pedras regurgitadas pelo mar. Quanta pobreza de conhecimento! Rostos cansados da noite insone. No carro-discoteca, o espaço é pequeno para braços dançantes que não cabem de tanta alegria. Eta mundo velho, rico em diversidades. Na volta para a cidade, uma segunda-feira com cara de sexta. Passageiros aguardam entediados em paradas de ônibus superlotadas. Carros arrastam-se lerdos como serpentes velhas, na Ponte de Igapó. A vida continua. De novo, só o calendário, a esperança em dias melhores e a fotografia ao lado, produzida sob os efeitos especiais da fadinha Nalva e de Frankie, o paciente fotógrafo desse Diário de Natal.


Natal, 2 de janeiro de 2005
Ana Cristina Cavalcanti Tinôco

por Alma do Beco | 12:15 PM


Hugo Macedo©

Beco da Lama, o maior do mundo, tão grande que parece mais uma rua... Tal qual muçulmano que visite Meca uma vez na vida, todo natalense deve ir ao Beco libertário, Beco pai das ruas do mundo todo.

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A imagem de fundo é do artista plástico e poeta Eduardo Alexandre©

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