Tribuna do Norte, Iano Andrade
O TRADICIONAL Beco da Lama, na Cidade Alta, conta com amigos especiais que lutam para o resgate de sua história e livrá-lo da decadência em que se encontra
11/04/2001
De uns tempos para cá, convencionou-se falar na revitalização da Ribeira como algo de extrema necessidade e viabilidade, que serviria inclusive para alavancar o turismo local. A recuperação das fachadas da rua Chile foi o começo, de um processo que ainda está engatinhando.
A Cidade Alta, como primeiro bairro de Natal, e onde estão localizados vários prédios históricos, também pede uma observação mais apurada sobre sua arquitetura. Além dos exemplares preservados, tais como os palácios Felipe Camarão e Potengi, Instituto Histórico e Geográfico, Museu Café Filho, praça André de Albuquerque e Igrejas Nossa Senhora da Apresentação e Santo Antônio, faz-se necessário preservar casas e fachadas de estabelecimentos comerciais.
No sentido de promover o centro da cidade, nasceu a Sociedade dos Amigos do Beco da Lama e Adjacências (Samba), sob a presidência do médico João Batista de Lima Filho, o Zizinho. A entidade está ultimando os trâmites da oficialização, e tem como principal objetivo o resgate do patrimônio histórico, arquitetônico e cultural da Cidade Alta.
Como não poderia deixar de ser, o grupo se reúne em um dos bares do Beco da Lama (rua José Ivo, paralela à Rio Branco). "Precisamos contar com apoio de órgão ligados à preservação, como o Iphan, e também com a parceria dos comerciantes do bairro", afirma Zizinho.
Marcelo Barroso
CASA DE estilo neoclássica, construída em 1903, foi doada ao Instituto Histórico e Geográfico e abriga anexo da entidade
Os contatos já estão sendo feitos e há também a idéia de projetos sociais voltados para os meninos que vivem nas ruas do centro. Dotando o bairro de vida cultural e noturna, como nos velhos tempos de boêmia, Zizinho acredita que a novidade irá atrair os turistas.
Gestos isolados de pessoas da sociedade civil também podem contribuir para a reorganização da Cidade Alta, como aconteceu recentemente quando a jornalista Angélica Timbó doou um imóvel para o Instituto Histórico e Geográfico do RN.
Ela era proprietária de uma casa de estilo neoclássico, construída em 1903, situada na rua da Conceição, em frente ao Instituto. Inicialmente, ela tentou vendê-la, através de lei de mecenato, à entidade, mas as tramitações estavam demorando muito e Angélica decidiu, com o apoio da família, fazer a boa ação.
"Eu não sou uma pessoa rica, mas como sempre fui ligada à cultura, fiz esse gesto em prol da valorização da cultura do nosso Estado", diz. Ela morou 21 anos no exterior e citou que é muito comum as pessoas tomarem esse tipo de atitude.
Ao instituto, a jornalista, que mantém em Nísia Floresta a Fundação Cultural Teodora Oliveira, fez algumas exigências, como a manutenção da fachada, e ocupação imediata, o que está sendo cumprido.