Diógenes da Cunha Lima
Leio os originais do Clube dos Inocentes. À cada página, a memória bem me acode trazendo alegria intensa e quase lágrima. Peço licença a Melquíades, meu antigo professor de Inglês, para o verso inarredável nesta hora: “Nothing that we love over much/Is ponderable to our touch”, Yeats. Em verdade, nada do que amamos demais pode ser avaliável pelos sentidos comuns.
O Clube dos Inocentes era um ambiente mágico, privilégio de treze pessoas como que cercadas e aureoladas por um arco-íris reinventado por Câmara Cascudo. O Clube não tinha sede. A sede era a casa, ou o coração, dos reis-vassalos. A norma do Clube era não ter normas. E ainda esta norma era infringida. O galo, símbolo de inspiração nobre, tinha a vulgar origem do número treze do jogo-do-bicho. Tudo isso nos lembra Melquíades, neste seu livro.
O Clube foi um antecessor mais fantasioso que a cinematográfica Sociedade dos Poetas Mortos.
Na noite de iniciação, fui sagrado, ajoelhei-me em almofada vermelha, cabeça baixa sob espada empunhada por Cascudo que me mandou jurar a partir daquele momento ser apenas Rei de todos e vassalo de cada um. Recebi as insígnias e a Comenda que fora conferida pelo Papa ao ora sagrante, dono da casa. A Comenda da Ordem de São Gregório Magno pousou, por uma noite, sobre os meus ombros e tive a sensação alegre da responsabilidade religiosa e, ao mesmo tempo, de estar cometendo um pecado venial.
O acadêmico José Melquíades nos restitui esses encontros de emoção, com seu humor e o Latim de que é mestre.
Este livro tem a delícia da lembrança e marca (quem sabe?), sugestões a outros novos clubes inventados.
Todos os sócios eram perpétuos enquanto bem servissem; tudo seria perpétuo enquanto durasse. Este livro faz o Clube perpétuo.
In Clube dos Inocente, José Melquíades
Centro Senai de Artes Gráficas “Henrique D`Ávila Bertaso”
Porto Alegre/RS, 1992.