quinta-feira, fevereiro 24, 2005

Três sonetos começando em Para


Exposição de inauguração do espaço Cultural Luiz Carlos Guimarães
Câmara Municipal do Natal

1.

Para escrever grande, comece assim: "em tese".
E lá pras tantas um rotundo "em princípio"
(nem tanto lá pras tantas, pode ser no início).
No final: "ou seja". Mas, veja, não se apresse...

A turma gosta dessa coisa tipo ascese.
Então, aproveite: meta o malho no vício
(no de linguagem, não, irmão. No mais difícil
de encarar: o seu. Mas, e daí? tergiverse!).

Importa é o seu discurso altivo e escorreito,
como faz (copia!) o neófito em Direito
(neófito! e eu quase me esquecia dessa).

Olhe a coisa feita. Se orgulhe do seu texto!
Você é o cara inserido no contexto!
Um Machado temporão —oh!—quiçá um Eça!.



2.

Para escrever um poema bem cabeça,
desses que o leitor faz que entende e não entende
pê ene (aliás, nem você compreende),
escreva com desdém e muito tédio e desça

o verbo (vê lá: com desdém) em quem pareça
só saber escrever com start, middle & end.
Você, não. Você é do tal que não se rende
nunca a qualquer inspiraçãozinha besta.

Cite um poeta esquecido (é mão na roda!).
O leitor vai dizer: rapaz, o cara é foda!
"Eu sou a última Coca-Cola do deserto!",

(você vai se achar). Depois (sempre com desdém),
diga ao leitor: que é isso, meu brother!, nem vem!
Ah! concisão é a palavra. Fique esperto.



3.

Para escrever sobre o que não se conhece,
nada como uma busca básica no Cadê
ou no Google (todo mundo faz!). E você
estará apto pra dizer o que acontece

quando a pressão sobe e a temperatura desce
e o que isso implica no fato de chover
ou fazer sol no seu quintal. E perceber
que, se você não é o tal, tal se parece.

Vale até (vá por mim) pesquisar o latim
e, como quem não quer nada, dizer assim
uma frase ou outra, citando sempre o autor.

O seu conceito vai subir que benzadeus!
O tema é verso grego? busca-se "troqueu".
E dirão (juro!) de você: puta escritor!


Antoniel Campos

por Alma do Beco | 6:39 AM


Hugo Macedo©

Beco da Lama, o maior do mundo, tão grande que parece mais uma rua... Tal qual muçulmano que visite Meca uma vez na vida, todo natalense deve ir ao Beco libertário, Beco pai das ruas do mundo todo.

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A imagem de fundo é do artista plástico e poeta Eduardo Alexandre©

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