Exposição de inauguração do espaço Cultural Luiz Carlos Guimarães
Câmara Municipal do Natal
1.
Para escrever grande, comece assim: "em tese".
E lá pras tantas um rotundo "em princípio"
(nem tanto lá pras tantas, pode ser no início).
No final: "ou seja". Mas, veja, não se apresse...
A turma gosta dessa coisa tipo ascese.
Então, aproveite: meta o malho no vício
(no de linguagem, não, irmão. No mais difícil
de encarar: o seu. Mas, e daí? tergiverse!).
Importa é o seu discurso altivo e escorreito,
como faz (copia!) o neófito em Direito
(neófito! e eu quase me esquecia dessa).
Olhe a coisa feita. Se orgulhe do seu texto!
Você é o cara inserido no contexto!
Um Machado temporão —oh!—quiçá um Eça!.
2.
Para escrever um poema bem cabeça,
desses que o leitor faz que entende e não entende
pê ene (aliás, nem você compreende),
escreva com desdém e muito tédio e desça
o verbo (vê lá: com desdém) em quem pareça
só saber escrever com start, middle & end.
Você, não. Você é do tal que não se rende
nunca a qualquer inspiraçãozinha besta.
Cite um poeta esquecido (é mão na roda!).
O leitor vai dizer: rapaz, o cara é foda!
"Eu sou a última Coca-Cola do deserto!",
(você vai se achar). Depois (sempre com desdém),
diga ao leitor: que é isso, meu brother!, nem vem!
Ah! concisão é a palavra. Fique esperto.
3.
Para escrever sobre o que não se conhece,
nada como uma busca básica no Cadê
ou no Google (todo mundo faz!). E você
estará apto pra dizer o que acontece
quando a pressão sobe e a temperatura desce
e o que isso implica no fato de chover
ou fazer sol no seu quintal. E perceber
que, se você não é o tal, tal se parece.
Vale até (vá por mim) pesquisar o latim
e, como quem não quer nada, dizer assim
uma frase ou outra, citando sempre o autor.
O seu conceito vai subir que benzadeus!
O tema é verso grego? busca-se "troqueu".
E dirão (juro!) de você: puta escritor!
Antoniel Campos