Tadeu Neri
Robustiano Pimenta era um dos coronéis mais arrochados do interior sergipano.
Certa feita, numa noite no meio da semana, acordou com a zuada de uma zabumba que acompanhava o maior forró. Rolou prum lado, rolou pro outro, mas a zuada não deixava ele dormir. Levantou-se despranaviado e, só de ceroulão, chegou no alpendre da casa e gritou pro paiol de redes onde dormiam os empregados: Bastião! Silvirinu! Logo apareceram dois mulatos fortes levantando as calças e abotoando as camisas.
- Sim, senhor, meu coroné!
- Vão até aquele forró e fure aquela zabumba, que eu quero drumí!
Daí a meia hora voltam os jagunços. O coronel recebe os dois e vai logo perguntando:
- Qué que houve no forró que eu ainda tô ouvindo a zabumba tocar?
- Ora, coroné, o forró tá é animado!
- Vocês são dois frouxos. Voltem pro paiol e me chamem Cria Ruim!
Cria Ruim era o apelido de José Tobias, o jagunço mais forte, mais perverso e de maior confiança do coronel Pimenta. Não demorou muito e Cria Ruim estava no alpendre da casa grande recebendo as ordens do coronel pra furar a zabumba.
E, mais ou menos no mesmo tempo dos anteriores, Cria Ruim volta pra casa grande.
- Qué que foi dessa vez? Por que não furou a zabumba?
- Coroné, a festa tá uma belezura de boa!
Coronel Pimenta ficou arretado dentro do ceroulão. Voltou pra dentro da casa, vestiu a farda de “macaco”, pegou duas pistolas e a peixeira DM (diagonal da mala) e, resmungando, danou-se em direção a friviança:
- Quem quer fazer direito, tem que fazer ele mesmo!
Não demorou muito tempo e o coronel Pimenta estava de volta ao quarto de dormir se desarrumando e deitando na cama, quando é interrogado pela mulher D. Das Dores:
- Ô hômi, tu num foi furar a zabumba? Qué que houve, que ainda oiço ela tocando?
- Mulé, a festa tá uma maravilha! Sabe quem tá tocando a zabumba? Cumpade Lampião...