quarta-feira, fevereiro 23, 2005

A Zabumba




Tadeu Neri

Robustiano Pimenta era um dos coronéis mais arrochados do interior sergipano.
Certa feita, numa noite no meio da semana, acordou com a zuada de uma zabumba que acompanhava o maior forró. Rolou prum lado, rolou pro outro, mas a zuada não deixava ele dormir. Levantou-se despranaviado e, só de ceroulão, chegou no alpendre da casa e gritou pro paiol de redes onde dormiam os empregados: Bastião! Silvirinu! Logo apareceram dois mulatos fortes levantando as calças e abotoando as camisas.
- Sim, senhor, meu coroné!
- Vão até aquele forró e fure aquela zabumba, que eu quero drumí!
Daí a meia hora voltam os jagunços. O coronel recebe os dois e vai logo perguntando:
- Qué que houve no forró que eu ainda tô ouvindo a zabumba tocar?
- Ora, coroné, o forró tá é animado!
- Vocês são dois frouxos. Voltem pro paiol e me chamem Cria Ruim!
Cria Ruim era o apelido de José Tobias, o jagunço mais forte, mais perverso e de maior confiança do coronel Pimenta. Não demorou muito e Cria Ruim estava no alpendre da casa grande recebendo as ordens do coronel pra furar a zabumba.
E, mais ou menos no mesmo tempo dos anteriores, Cria Ruim volta pra casa grande.
- Qué que foi dessa vez? Por que não furou a zabumba?
- Coroné, a festa tá uma belezura de boa!
Coronel Pimenta ficou arretado dentro do ceroulão. Voltou pra dentro da casa, vestiu a farda de “macaco”, pegou duas pistolas e a peixeira DM (diagonal da mala) e, resmungando, danou-se em direção a friviança:
- Quem quer fazer direito, tem que fazer ele mesmo!
Não demorou muito tempo e o coronel Pimenta estava de volta ao quarto de dormir se desarrumando e deitando na cama, quando é interrogado pela mulher D. Das Dores:
- Ô hômi, tu num foi furar a zabumba? Qué que houve, que ainda oiço ela tocando?
- Mulé, a festa tá uma maravilha! Sabe quem tá tocando a zabumba? Cumpade Lampião...

por Alma do Beco | 12:20 PM


Hugo Macedo©

Beco da Lama, o maior do mundo, tão grande que parece mais uma rua... Tal qual muçulmano que visite Meca uma vez na vida, todo natalense deve ir ao Beco libertário, Beco pai das ruas do mundo todo.

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A imagem de fundo é do artista plástico e poeta Eduardo Alexandre©

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