Lucas da Costa
Em 1913 quando governava o Rio Grande do Norte o dr. Alberto Maranhão, ancorava no porto de Natal, no dia 31 de Janeiro, ás 6 horas da manhã, o paquete nacional do Lloyde Brasileiro, "Olinda", trazendo ao seu bordo, o capitão José da Penha Alves e Souza.
Ausente do Rio Grande do Norte há muitos annos, mas tendo ligações com o partido opposicionista, a sua vinda era esperada com anciedade pelos innumeros correligionarios, com os quaes tencionava iniciar uma intensa campanha de libertação politica.
Assim, transportando-se á terra o capitão Penha deu festivo desembarque no caes da Estrada de Ferro Central, seguindo para a casa do Coronel Cyrineu de Vasconcelos, á rua da Conceição, onde temporariamente se hospedára. Nessa mesma occasião, o capitão Penha com palavras cheias de ardor e gratidão, agradeceu aos conterraneos a recepção que lhe vinham de fazer, e, saudando-os, concitara-os para a lucta libertadora que se iniciava.
Assim comecára a campanha de salvação politica do Estado, da qual ligeiramente nos vamos occupar, commentando o refalsamento de alguns influentes collaboradores do situacionismo.
Como já dissemos era pelo começo do anno de 1913.
O capitão José da Penha, contando com valiosos elementos politicos, desenvolvia intensa propaganda em beneficio da sua causa; tanto que no mez de Abril já as cousas politicas no Estado se complicavam.
Á proporção que o tempo passava, a opposição ganhava novas adhesões, o que ia preoccupando immensamente o goveno.
O povo pela sua vez, sedento de cousas novas, aguardava com anciedade o epilogo do drama politico que começára.
Parece que não fica mal o qualificativo de drama, porque nunca as ruas de Natal foram theatro de maiores enscenações...
Se de um lado a opposição mandava distribuir boletins espalhafatosos pela cidade, fundava ligas femininas, organizava passeatas e fazia comicios aos estampidos de grandes foguetorios; do outro, o situacionismo creava jornaes, reforçava tropas, comprava munições e até barracas pelas praças armava como se a Capital estivesse ameaçada de alguma invasão extrangeira.
A gente do governo tinha absoluta confiança na victoria do seu candidato que era o dr. Joaquim Ferreira Chaves; no emtanto, depois que o capitão Penha intensificou a sua acção propagadora e conseguiu alistar um elevado numero de eleitores, bem notavel era o descontentamento dos proceres do situacionismo na Capital.
Entretanto, elles dispunham de outros recursos que os animavam. O Estado contava com um effectivo de cerca de quatrocentas praças para a defesa da sua autonomia, não incluindo crescido numero de officiaes ad hoc - dizemos em comissão - que se achavam bem instruidos e disciplinados...
Além disto, como constituindo uma segunda linha, havia ao lado da guarnição estadual diversos individuos chamados de lugares suspeitos de Pernambuco, que eram bem experimentados no serviço do policiamento secreto. Os rapazes filhos de empregados publicos e diversos amigos do goveno tambem organizaram um Batalhão Patriotico para auxiliar a policia no serviço de espionagem aos adversarios.
Todos esses elementos faziam com que os amigos da situação não perdessem a esperança da sua victoria.
Já que fallámos no Batalhão Patriotico, lembremos uma occasião em que estavamos detidos por um acto arbitrario do immortal chefe de policia, Oscar Brandão e vimos entrar um grupo de seis patriotas no quartel da policia conduzindo um homem do povo, aos solavancos, porque ás nove horas da noite havia dado imprudentemente um viva ao capitão Penha!
Assim eram tambem as medidas tomadas pela policia para garantia da ordem e do socêgo das familias...
Desta maneira, emquanto o partido dominante tomava as sua precauções para garantia do regimen, a opposição cheia de confiança na sua causa tambem empregava os mais acertados meios para vencer.
In Disfarçados..., Lucas da Costa. Fortunato Aranha (Editor)
7. Travessa Quintino Bocayuva Nº 7. Natal, 1924