Tadeu Neri
Laélio Araújo, funcionário de carreira (e, praticamente nascido dentro) da Prefeitura Municipal de Florânia, tinha fama de ser zeloso até demais com a coisa pública. Conhecia todas as leis e, como ninguém, era um autodidata nas burocracias de licitações, compras, vendas, alienações, baixas e outros penduricalhos ligados à máquina administrativa municipal.
Com a chegada do novo prefeito, Laélio foi designado para chefia do Arquivo Municipal:
- Laélio, quero que você dê seu jeito naquela esculhambação.- dizia o prefeito – Todos os processos com mais de cinco anos de arquivamento, bote no lixo.
- Sim, senhor Prefeito. Seu desejo é mais do que uma ordem. – respondeu Laélio.
Tratou logo de criar uma CAAM – Comissão de Arrumação do Arquivo Municipal, tudo dentro da burocracia administrativa, tendo ele como presidente da dita cuja, claro, pois era cargo comissionado.
Demorou um pouco mas ao final de alguns meses de trabalho o arquivo estava nos trinques. Um serviço à altura de Laélio. No pátio ao lado, uma pilha de papel velho, quase tão alta quando o prédio do velho Arquivo.
No dia marcado para queima da velha papelada, depois de jogar álcool e, quando o prefeito se encaminhava com a caixa de fósforos para tocar fogo na pilha, o zeloso Laélio puxa-o pelo braço e confidencia no seu ouvido:
- Prefeito, não é melhor, antes de queimarmos, tirarmos uma xerox desses documentos?