O maior enigma da atual crise política, a localização de milhares de fios de cabelo do publicitário Marcos Valério, está longe de ser decifrado pelas CPIs. O assunto é uma espécie de tabu e nem mesmo os piores adversários do Partido dos Trabalhadores (PT) ousam abordá-lo, temendo repercussões trágicas. Lulla, segundo fontes do Planalto, pretendia revelar, durante o último encontro de cúpula do governo, o segredo da calvície do marketeiro, mas desistiu, limitando-se a pedir desculpa ao povo e a afirmar que presidente, como reza a lenda, é quase sempre o último a saber.
O ex-deputado federal Waldemar Costa Neto, comandante-em-chefe do PL, confessa haver recebido um pequeno tufo contendo algo em torno de 10 milhões de fios para implante e afirma que Lulla sabia tudo, desde o tempo em que Valério caminhava pelas ruas de Belo Horizonte ostentando uma crina vastíssima. Waldemar, que após a renúncia resolveu sacudir a lama do próprio corpo, ainda não apresentou provas. Sabe-se, contudo, graças a criptogramas de Fernanda Karina Sommagio recém-decifrados por peritos da Interpol, que o careca nasceu com idéias cabeludas.
Os cachos de Valério, cujas qualidades naturais foram realçadas por um xampu especial feito à base de mamão transgênico suíço e abacate hidropônica chinesa, tornaram-se valiosos e disputados no mundo inteiro. Ele resistiu à primeira oferta, não desejava vender parte de seu tesouro a Steven Spielberg, para uma montagem pós-modernista de Rapunzel, dos irmãos Grimm, pois considera os contos de fada alienantes. Recusou-se, ainda, a subsidiar perucas para os metaleiros do Kiss, convicto de que os pêlos que Deus lhe dera deveriam ser usados em prol da humanidade.
No início do Terceiro Milênio, quando a estrela brilhou anunciando a queda do império tucano, o bom rapaz percebeu que chegara o tempo de contribuir com as mudanças. Procurou então os três reis magos - Genuíno, Delúbio e Silvinho - que, orientados por Deus em pele de Dirceu, propuseram ao samaritano a doação da juba milionária ao Fome Zero, sugestão prontamente atendida. Valério submeteu-se à tosa e, ao contrário do que muitos imaginavam, ficou alegre com o resultado, pois, além da caridade, conquistara uma careca parecida com a de seu ídolo, são PC Farias.
O publicitário jamais pensou em compensações pelo gesto de altruísmo, pediu apenas para acompanhar a distribuição de seus fios de cabelo com os pobres e que as operações fossem intermediadas por instituições filantrópicas. Daí, a entrada do BMG, do Banco Rural, do Banco do Brasil e do Bank of Boston na história. Conforme relatam testemunhas, os olhos do marketeiro brilhavam a cada milhão entregue a assessores parlamentares, tesoureiros de partidos e deputados carentes, afinal, o fortalecimento dessas camadas é necessário ao sucesso dos programas beneficentes.
Tudo caminhava bem até um tal Rouberto detonar o esquema, com inveja por haver concluído que é dos carecas que elas gostam mais. Não antes, como se sabe, de receber quatro milhões em títulos capilares ao portador. Para complicar, uma quadrilha misteriosa furtou o restante dos pêlos da caridade, transportando-os em cuecas, malas e barbas postiças até uma agência bancária das Bahamas. Ao descobrir o esquema, Valério reagiu: "Que é isso, companheiro!". Agora, o coitado tenta recuperar as madeixas, embora esteja careca de saber que o cabelo desviado está perdido.
Cid Augusto