sábado, agosto 27, 2005

CARO LAÉLIO

Léo Sodré



Caro Laélio,

estava em viagem. Cheguei na noite de ontem. De onde estava não escutei sons de arenga. Imagine que somente hoje ouvi falar nas denúncias do Buratti ao Palocci.De qualquer sorte, sou forçado a reconhecer, arenga é sempre arenga. Em briga, já dizia minha avó, cada contendor leva dois sacos. Um para dar; outro para apanhar. E eu, sendo um pacifista, me ponho a recolher os sacos da pancadaria deixados ao redor da arena. Veja, por exemplo, meu poeta, ter você usado contra a Dra. Clotilde (a quem não lembro de conhecer em pessoa) um argumento esopiano. O irmão da doutora sendo reconhecido como eminente poeta pornográfico. Você pegou pesado, dessa vez, por trazer à rinha galos de terreiros estranhos. Você, filho do doce e como que romântico, quase bucólico, autor da serenata do pescador, que se esmera no gerar versos fesceninos. O problema não é dessa ordem. O problema é de ordem libertária. Melhor dizendo: cada um escreve o que quer e publica no espaço que encontrar disponível. E você encontrou a Alma do Beco para lhe servir de meio. No outro lado da rua, cada um lê o que quer, desde que a leitura se torne possível. Explico: Não leio os textos da Dra. Clotilde, publicados na edição domingueira de um jornal local. Qual a razão? São maus os textos em causa, do ponto de vista de conteúdo, correção gramatical, estilo? Não são. Digo isso por ouvir dizer. Não os leio, simplesmente. Sem razão. Ausência de empatia com a autora, talvez. Nem por isso vou reclamar ao editor, solicitando sua retirada da pauta. Mesmo não gostando que me pautem as leituras. Leio o que quero, quando quero, venha de quem vier, no dizer do Lula. Leio você, por exemplo. Leio as glosas que você faz para os motes que lhe envio (a do bode de Mossoró, por exemplo, estava ótima). Nem por isso me sinto traidor. Ou traído. Menos ainda chulo. E, olhe, não gosto de pornografia. Por nada, não. Simplesmente não gosto. Mas acontece de também não gostar de tantas coisas. Não gosto de Zagalo e de Lula, mesmo assim sou obrigado a engolí-los.
Besteira esse negócio de reuniões, caro poeta. Leve isso a sério, não. Fique onde está. Quem não quiser lhe ler, não lhe leia. E ponto. Não tem que dar satisfação pelos seus escritos. Nem tem que satisfazer a quem quer que seja. Fazer versos não é elaborar manifesto dirigido a um público determinado. Ou seja: fazer versos não é se dirigir a qualquer público. O público é quem procura o poeta. E se dá por feliz (ou infeliz) quando o encontra. É bem o caso. A Dra. Clotilde lhe procurou. Encontrou (tendo recebido, ou não, por spam os seus versos) textos de sua lavra. Andou lendo as loas "fesceninas" de sua produção (nem sei se poeta produz, preferindo dizer que ele gera). E se deu por infeliz. Remédio: não ler mais o que você escreve.
Leitor, meu poeta, não é crítico literário, daqueles que ganham a vida fazendo comentário para jornal ou revista. Leitor é o cara que experimenta um gozo estético quando lê. Se o gozo não vem (Vige! Até parece que estou escrevendo um poema erótico), ele fecha o livro, deleta o arquivo, joga fora a revista e vai.
Por último, uma pergunta: qual é a sua? Já o vi mais briguento. Renunciar? Olhe que nem Zé Dirceu admitiu fazê-lo. Sair, somente se lhe expulsarem. Ou já lhe expulsaram? Pelo amor de Deus, me diga. É quando passarei a me tornar incrédulo. Apostatarei de minha fé no Beco e na sua alma.
Com um pedido de fique (marque o dia do fico, que eu vou lá no bar que o Beco tem por da moda, brindar - água na nossa taça - com Bob Motta. E com você, naturalmente, cuja taça é cheia de outro líquido).

Taumaturgo Rocha


Cavalheiro Taumaturgo
faz jus, sempre, ao próprio nome


Daqui, do modesto burgo,
na minha tosca Fescênia,
saúdo, lhe mando vênia,
Cavalheiro Taumaturgo !
Eu vou tentar, ver se expurgo,
me esforçar, ver se me some
das glosas o tal renome...
- Quanto a você, meu prezado,
posso dizer: - Obrigado,
faz jus, sempre, ao próprio nome !

Laélio/2005


Mote
Marque seu dia do fico,
Que eu também quero brindar


Glosa

Eu não sou contra ninguém,
de todos, sou a favor.
Cultuo a paz e o amor,
sem mais, talvez ou porém.
Laélio, se acaso alguém,
vier a nos maltratar,
é Divino perdoar,
relevar qualquer fuxico,
Marque seu dia do fico,
Que eu também quero brindar

Bob Motta

por Alma do Beco | 7:03 AM


Hugo Macedo©

Beco da Lama, o maior do mundo, tão grande que parece mais uma rua... Tal qual muçulmano que visite Meca uma vez na vida, todo natalense deve ir ao Beco libertário, Beco pai das ruas do mundo todo.

.. .. ..

.. .. ..

Recentes


.. .. ..

Praieira
(Serenata do Pescador)


veja a letra aqui

.. .. ..

A imagem de fundo é do artista plástico e poeta Eduardo Alexandre©

layout by
mariza lourenço

.. .. ..

Powered by Blogger

eXTReMe Tracker