sábado, agosto 13, 2005

E AGORA?


Alexandro Gurgel, Nei Leandro de Castro e Volontê, no Bar do Nasi

O Beco da Lama existe,
Ninguém consegue acabá

Qualquer dia eu passo lá
Pois, nunca compareci
Mas, uma coisa eu aprendi
Deve ser um bom lugar

Tem feijão verde com maxixe???
Pra tirar gosto com cachaça???
Encher a cara e "achar graça"???
Eita! coisa boa... vixe...!!!
Vou aparecer por lá...
O Beco da Lama existe
Ninguém consegue acabá

Manoel Bomfim


pra que esse dedo em riste?
deixe logo de nhem-nhem-nhem...
porque para o nosso bem,
o beco da lama existe!
pra tu que nunca me viste,
posso até sê virtuá,
mas o beco, esse é reá,
nem cum bomba de explosão,
nem bin laden, bush ô cão,
ninguém consegue acabá...

Bruxinha Meméia

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Mote
Vou fumando o cigarro da saudade
E a fumaça escrevendo o nome dela...

Glosa

Levo a vida cantando a natureza,
escrevendo feliz, os versos meus.
Entregando minh'alma para Deus,
adorando-o também sem sutileza.
E no amor, você pode ter certeza,
faço versos prá moça da janela.
Vou pintando seu rosto em aquarela,
pico fumo de rolo e com vontade,
Vou fumando o cigarro da saudade.
E a fumaça escrevendo o nome dela...


O MOTE me foi dado para glosar, em 2003, no curso de capacitação de professores da rede pública estadual, no Natal Praia Mar Hotel...

Bob Motta



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O BUGARI

Morreu o bugari,
porque seu cheiro acabou.

A pétala branca
esmaeceu
perdeu a cor
ficou marrom
pálida
quase preta,
o bugari murchou.

Sobre a estante
com cheiro ardente
o caule mergulhado
na água fria
sobre as pedrinhas,
de "alagamar".

A luz ofuscou
e respirou fumaça,
viu os dramas
presenciou felicidade
fez-se forte
e cheirou ardente,
com pétalas brancas
alvejadas pela brisa
que já não existe,
aguentou quanto pôde
sem respirar.

A água fria
estava podre,
as pedrinhas
feriam seu caule,
o bugari sucumbiu
só pra fazer alguém feliz,
a natureza fugiu
e a flor feneceu.

Chagas Lourenço

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de insônia

madrugada de distâncias infinitas
que escorrem liquefeitas à janela
e cintilam no asfalto rua afora
entre cães adormecidos e mendigos.
liquefazem-se as distâncias não o tempo
que este escorre indiferente à madrugada
e branqueia o cabelo enruga a face
num rosário de alegrias e desditas
onde a vida embora vida não é bela
e se bela é de ontem não de agora
que ora alterna-se entre leitos e jazigos
e onde amor é sempre tédio ou contratempo
corpo aqui corpo acolá numa enxurrada
de vazio e solidão por desenlace.

Márcia Maia


rcia:

de insônia não é apenas um poema. É algo divinal. É um sopro de Deus descrevendo, por entre desencontros, a vida que não é bela, sendo, numa perpetuação de um "moto" contínuo, fazendo do nada a grandeza do ser e do ser a sublimação do nada, escorrendo com o tempo no perpassar das madrugadas. Uma beleza. Não pude esconder comigo o entusiasmo interior, daí torná-lo público, com as naturais escusas. Não a conheço nem voce a mim. O fato não impede externar admiração. Quero parabenizar quem disse a blasfêmia (paradoxo?) de fechar o beco. Pois isso proporcionou belíssimos textos poéticos, cada qual o melhor. Inclusive o seu. Sou, integralmente, contra quaisquer tentativas de se violentar o Beco da Lama, que disse uma vez e repito: é um estado de espírito. Inviolável e intocável.

Elder Heronildes

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A SERVENTIA DA PORTA

Ele chegou, digamos, de soslaio. Devagarinho. Carregava um saco de supermercado com alguns livros. Rondou as mesas, quereria vendê-los. Mas, talvez também encontrar algum amigo. Quem sabe, conversar, beber. No palco improvisado, porque palco de verdade tem que ser mais alto do que o chão, Pedrinho Mendes cantava emocionado "Linda Baby". Ele continuava a andar, meio cabisbaixo, livros de poemas nas mãos. Alguns olhavam para ele, outros, nem viam os seus cabelos brancos. Olhar cansado. Queria vender livros. Afinal, era o poeta do coração do autor das "Pelejas de Ojuara". Tinha o seu valor. Não estava sendo chato. Queria vender poesia, coisa que todo mundo devia comprar. Não perturbou ninguém. De longe pude ver. Mas foi obrigado a ir embora por dois seguranças. Saiu cabisbaixo do Shock bar. Triste, como tem que ser os poetas, pois sem a tristeza deles não haveriam poesias. De longe, roguei a Deus por Volontê, que
sumia na escuridão de Petrópolis, lentamente.

Léo Sodré

Gosto quando escreve assim, bem do seu jeito, com muita emoção. Pude mesmo fundir o que lia com o que via no cenário que armou minha imaginação.
Vi o poeta, vi o músico, vi você e eram todos um. Vi o público do Shock, ouvi suas falas altas e exaltadas, vi a burguesia, a nossa burguesia, limpinha, cumprindo seu ritual do fim de semana como se estivessem "fugindo da rotina".
Ora, mais uma rotina. Nem sabem. Nem querem saber!
Lá, o poeta seguia a sua genuína falta de rotina _uma rotina_ percebendo pelo movimento das pessoas que aquele, para elas, era um dia diferente_ o dia da diversão, o dia de "fazer o que gosta".
E é tão distante dele a distinção desses dias...
Sua paz e humildade não deliberadas agridem os que sentam e esperam pra sentir o que ele, o poeta, é.
Beijo,

Simone
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E agora, meu Deus?

Instado pelo editor do jornal Voz de Natal, Alex Gurgel, o fotógrafo Hugo Macedo foi obrigado a trabalhar no domingo (17/07), para cobrir a VI Parada Gay de Natal. Alex queria fazer uma ampla reportagem sobre o evento, já que uma grande polêmica tinha surgido diante de declarações do deputado evangélico Joacy Pascoal, que se colocou contra a ajuda financeira do governo municipal.
Hugo já estava de viagem marcada para Parelhas, sua cidade natal, onde iria terminar os últimos capítulos do seu livro sobre alguns personagens do município seridoense e ficou contrariado. Mas, imaginou que seria um experiência inusitada, interessante. Afinal, como Alex tinha dito, seria uma ótima oportunidade para apoiar uma minoria, colaborando com os direitos humanos. No domingo, logo cedo, o editor ligou:
- Vamos? Estou com tudo preparado.
- Agora? - retrucou Hugo, que havia acabado de acordar - Está muito cedo e para enfrentar o evento preciso de um “esquente”, aliás, de uma superesquentada alcoólica!
Quando Alex Gurgel fica contrariado sua voz, que normalmente tem um som similar a de um trator atolado, fica com uma rouquidão estranha que lembra um pato e até mesmo um papagaio fodido. Mas, de índole conciliadora, tossiu para afastar a raiva e ponderou:
-Tudo bem. Nesse caso vou lhe esperar na casa de Leozito, o relojoeiro, tomando umas. Falava e pensava economicamente: “lá é mais barato”.
Depois que Hugo Macedo lhe apanhou, muitos bares foram visitados e somente conseguiram chegar na Parada Gay no início da noite, encharcados de cervejas. O editor de caderneta na mão e o fotógrafo de máquina nova, ultramoderna a tira-colo, partiram em busca de entrevistas e fotos. Alex anotava tudo e Hugo fotografava beijos, peitos, agarramentos e bundas. Muitas bundas.
Vez por outra paravam e tomavam umas cervejas, até que o bloco do editor se esgotou e todo o equipamento do fotógrafo foi furtado por alguém fantasiado de arco-íris, conforme uma testemunha.
Aborrecido, Alex tomou o rumo de casa e Hugo, sem ter mais o que fazer, resolveu descobrir se no meio daquele meio mundo de gente havia alguma mulher que gostasse do bicho homem. Pensou: “Alex é um sacana, como é que ele diz que essa multidão é uma minoria?”.
As cervejas se sucediam e nada de aparecer ninguém. Até que de repente seus olhos se cruzam com dois pares em corpos diferentes. Uma loura e uma morena. Deu seu grito de guerra:
- O quê?
E partiu para o “ataque”. Já havia perdido alguns milhares de reais com o furto do equipamento fotográfico e tudo o que viesse dali para frente seria lucro. Com uma de cada lado, acompanhando um dos trios elétricos da festa, muitas outras cervejas foram tomadas, até que chegaram no seu apartamento.
Ele havia escolhido uma delas para namorar, noivar e até casar, diante da cumplicidade das dezenas de latinhas de cerveja. No apartamento continuaram a beber até, que trôpego, foi ao banheiro. Quando voltou, paredes se movendo, chão que lembrava sua canoa do açude Gargalheiras, apoiou-se na mesa de jantar e olhando para as duas, que estavam sentadas no sofá, disse:
- Qual é a minha? E agora, meu Deus?

Léo Sodré

por Alma do Beco | 12:40 PM


Hugo Macedo©

Beco da Lama, o maior do mundo, tão grande que parece mais uma rua... Tal qual muçulmano que visite Meca uma vez na vida, todo natalense deve ir ao Beco libertário, Beco pai das ruas do mundo todo.

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Praieira
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A imagem de fundo é do artista plástico e poeta Eduardo Alexandre©

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