Olhe a revista municipal
Anuncia-se uma nova revista cultural nesta terra de Poti mais bela. Agora plantada nos leirões da Capitania das Artes. Revista, pois, municipal. Há revistas municipais, estaduais e federais. Deram um título bastante sugestivo à nova revista, batizando-a de Brouhaha. Um nome muito xaria, muito canguleiro. Como se vê, nada mais natalense do que um “Brouhaha”. Quando você entra na barra do Potengi, depois de se livrar da Pedra da Bicuda, olha para as duas margens do Potengi e conclui, feliz da vida, ainda à bordo da nau navegando macia por entre as marolas: Isso aqui é mesmo um Brouhaha! A sensação se repete quando se desce na Praia da Limpa e se vai em direção às dunas de Santos Reis. E passando pela Ribeira, ao cruzar o Beco da Quarentena, repetirá: Isso aqui é um encanto de Brouhaha.
Fiquei sabendo na calçada do Cova da Onça que Brouhaha é uma palavra de origem hebraica, que quer dizer Mocó. Bom, já que a revista cultural estadual chama-se Preá, tem muito sentido o Bruaá (pronuncia-se assim o Brouhaha dos semitas) da Prefeitura. Quando Abraão passeava nos finais das tardes pelos verdes vales da Judéia para se encontrar com Agar, sua escrava predileta, ouviu um barulho vindo de uma grande moita que descia sombras pela aléia. Assustou-se, pensando que era Sara, a esposa. Não era. Era um roedor, meio rato meio preazinho, pequeno e arisco, que vive com permanente coceira no focinho. Aí, Abraão gritou: Bruaá. Quer dizer, Mocó! E aí - está no Gênesis - quem se assustou foi o mocó que disparou por entre as pedras. Refeito, Abraão contornou a moita e caiu nos braços de Agar (falsa cultura).
Pois bem, das moitas municipais surge uma revista para falar e divulgar a cultura da aldeia e, para começo de conversa, se despreza exatamente o traço cultural mais importante de um povo, que é a sua língua. Imagine o que diria o major Policarpo Quaresma no auge de sua indignação cívica. Bom, mas na bruaca potiguar, como se sabe, vale tudo, até mulher dançar com mulher na voz de Tim Maia. É isso, gente. Cada dia que se passa, Natal vai consolidando a condição de capital do festival da besteira que assola o país. Bruaá.
Woden Madruga
Tribuna do Norte, 13/08/05
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Assim sendo, deu mote e glosa:
Contribuição ao Festival de Besteira que assola a brava e invicta Cidade dos Reis Magos
(Glosas de crioulo-doido)
O mocó do Patriarca
chegou à Capitania
Nossa terra é uma fuzarca,
poço fundo da besteira:
- Woden viu, na Ribeira,
o mocó do Patriarca !
Da Judéia, numa barca,
ao sopro da ventania,
coberto de maresia,
todo sujo, amarfanhado,
“Brouhahá”, todo cagado,
chegou à Capitania !
Abraão indo à escrava
tropeçou no mocó-rato
Prá testar se Agar lhe dava
“colher-de-chá” da mais rara
(dando um tempo à velha Sara),
Abraão indo à escrava
com sua vetusta clava
(pensando só no barato)
cutucando moita, mato,
se deu mal com um cabeludo
“brouhahá” grande, troncudo
- tropeçou no mocó-rato !
Cangulo, Praia da Limpa,
preá, mocó, brouhahá
Abraão, cabra supimpa,
foi beber na Quarentena,
Tim Maia comeu verbena,
cangulo – Praia da Limpa !
Vamos ver se agora limpa
de Policarpo o ganzá,
quero ver o bafafá,
lá na Pedra da Bicuda,
“Seu” Woden me acuda:
preá, mocó, brouhahá ...!
Natal - a Poti mais bela
do Bispo Dom Marcolino
- chegou aqui um menino,
da Bahia veio à vela.
Na Cova da Onça u’a tela
pintou de Paulo Balá;
Foi prefeito em Tangará,
de Abraão quebrou a cara,
deu um purgante prá Sara:
- preá, mocó, brouhahá !
Santos Reis, Beco da Lama,
Alecrim, Maria Boa
- glosa agora vira loa,
a viola não quer fama !
Repinica, chora, clama,
pedindo o som de um ganzá...
Cascavel sem maracá
- me acuda, Woden Madruga,
vou gritando em minha fuga:
preá, mocó, brouhahá...!
Bob Mota dando o mote
garanto a glosa ser boa
Pra me livrar do chicote
dos pruridos das “donzelas”,
só farei estrofes belas
Bob Mota dando o mote !
Espero ninguém mais bote
patrulha na minha loa...
Muito mais longe ela ecoa
chula, clara, fescenina,
alegre, justa, supina
- garanto a glosa ser boa !
Vou lamber sabão em pó
para limpar minha língua
Vão me metendo o cipó
por conta da putaria...
Mas, não ligo, qualquer dia
vou lamber sabão em pó !
Nas censuras dou um nó,
nessa estória de má-língua:
manero na cunilíngua,
vou ser fresco em João Pessoa
- lá arranjo coisa boa
para limpar minha língua !
Renato Caldas, Limeira,
vão censurar nossas glosas !
Meu gordo Celso Silveira
por aí faça um conclave
- cá por baixo a coisa é grave
Renato Caldas, Limeira!
Sesiom, é brincadeira ?!
As novas são horrorosas,
por aqui quedam nervosas
as queixas, o preconceito
- já vi tudo, não tem jeito,
vão censurar nossas glosas !
Laélio Ferreira/2005