quarta-feira, junho 15, 2005

O PRIMEIRO BRASILEIRO 13



João Antônio Cícero Sebastião José Silva Fernandes bebeu a água trazida por Jandira com sofreguidão. A sua volta, cinco potiguares armavam a gaiola onde ele ficaria em cativeiro pelos próximos dias. De longe, Potiassu observava o trabalho com os olhos também no horizonte de mar, pois temia a volta das canoas grandes.
Antes que o homem branco fosse fechado na gaiola sem portas concluída naquele mesmo dia, Jandira arrancou suas vestes pesadas, deixando-o completamente nu. Fora recomendação de Potiassu, que recomendara também, por precaução, mantê-lo de pés e mãos atados.
Antes do entardecer, reunida no centro da tapa, a tribo traçou estratégias de proteção e vigia do litoral. A cada ponta da orla, dali a muita distância, grupos de quatro guerreiros estariam atentos, prontos a avisar aos demais caso surgisse algum sinal de embarcações desconhecidas.
Os dias passaram-se sem anormalidades. Jandira cuidava do prisioneiro e estabelecia com ele uma convivência que seria pelo resto dos seus dias. Alimentava-o, dava de beber, jogava água fresca em seu corpo e até revestiu de galhos e folhas a parte superior da gaiola, para protegê-lo do forte calor. João Antônio Cícero Sebastião José Silva Fernandes, apesar do desconforto, não mais sentia o pânico dos primeiros dias em que fora aprisionado.
Jandira procurava mostrar amizade e até ensinava palavras ao homem da canoa grande. Por recomendação do próprio Potiassu, os pés e mãos do prisioneiro foram dessamarrados, aliviando-o das feridas decorrentes e já infectadas. Com ervas, Jandira cuidou das feridas de João Antônio Cícero Sebastião José Silva Fernandes e até já nutria por ele certa simpatia. Sentia falta do filho Japarandiba, mas sabia-o bem cuidado por Itapietá, o que lhe aliviava a saudade.
Antes mesmo do fim do prazo estabelecido pelo chefe, João Antônio Cícero Sebastião José Silva Fernandes ganhou liberdade vigiada. Seus passos, contudo, limitavam-se à taba e sempre acompanhados pela mulher e guerreiros devidamente orientados por Potiassu. Antes do anoitecer, era induzido a voltar à gaiola que ganhara porta e ali permanecia por toda a noite.
Aos poucos, e com a ajuda da silvícola, João Antônio Cícero Sebastião José Silva Fernandes foi vencendo limites da taba e até assumindo funções de trabalho, como a pesca, sempre em companhia do grupo guerreiro indicado por Potiassu. Palavras do idioma nativo foram aos poucos incorporadas ao seu vocabulário, e este aprendizado ajudava-o a fazer amizades, especialmente com as crianças, que tinham nele imensa curiosidade.
Chegado o verão, Homem da Canoa Grande já dispunha de liberdade para caminhar sozinho pelas praias e dunas em volta do marco chantado, sem jamais vencer limites estabelecidos pelo chefe da tribo. Sempre que arriscava passos maiores, distanciando-se, os guerreiros do chefe Potiassu o instigavam a voltar às proximidades da taba, onde Jandira sempre o recebia com a distinção recomendada.
Os meses se passaram e João Antônio Cícero Sebastião José Silva Fernandes já se assemelhava aos nativos, que o iniciaram em técnicas de pesca, a princípio, e, depois, de caça, com zarabatanas e, mais tarde um pouco, arco e flecha. Fugir, ele não tinha para onde. Usar aquelas armas de caça contra os nativos, não seria prudente, pois facilmente seria abatido pelos demais.
Da convivência diária, um novo relacionamento ia surgindo entre Jandira e o homem da canoa grande, agora mais a vontade nas terras desconhecidas.

Eduardo Alexandre

por Alma do Beco | 7:26 AM


Hugo Macedo©

Beco da Lama, o maior do mundo, tão grande que parece mais uma rua... Tal qual muçulmano que visite Meca uma vez na vida, todo natalense deve ir ao Beco libertário, Beco pai das ruas do mundo todo.

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