Passei três meses em Brighton, Inglaterra. Nos fins de semana, costumava viajar de ônibus ou de trem para conhecer cidades próximas. Um dia, chegando às Seven Sisters, como é chamado o conjunto de sete colinas de Eastbourne, encontrei-me com um colega brasileiro e uma japonesinha amiga dele. Ao sermos apresentados, a moça inclinou-se e me cumprimentou em bom Português: "Eu quero te comer"! Retribuí com a mesma delicadeza: "Eu quero te comer também!" A nipônica era bonita e simpática. Conversamos o tanto que meu inglês capenga permitiu. Na despedida, perguntei se ela sabia o significado daquele "cumprimento". Disse-me que sim, "Nice to meet you" (prazer conhecê-lo), e quase enfarta quando traduzi a frase.
Tenho um amigo que adora palavras bonitas. Ele simpatiza com o som, gosta, e pronto. O sentido que se dane. Certa vez estávamos na porta do jornal "O Mossoroense" esperando o vale da sexta-feira e alguém perguntou ao dito-cujo se determinado advogado era bom em causas criminais. As referências foram as melhores (ou seriam piores?): "Quem, Fulano? Fulano é o advogado mais leigo da região: sabe tudo!" E olhe que essa não é a única do meio jornalístico. Tenho vários causos na memória, como aquele que contei recentemente no artigo "De catrevage a pederasta", no qual um colega de faculdade, observando uma jovem belíssima, disparou: "Eu sou um pederasta". Assustei-me de verdade. O maior paquerador da UFRN entregando os pontos? Não era possível. Mas aí veio a explicação: "Adoro meninas de 17 anos".
O grande Carlito Meireles, ex-prefeito de Francisco Dantas, contou-me outra melhor. Uma professora da rede estadual de ensino recorreu ao botox para eliminar os pés-de-galinha, esticar a testa e o pescoço. O negócio ficou excelente e todos perceberam o rejuvenescimento da cinqüentona. O problema é que a mulher trocou as bolas e sempre que alguém comentava acerca de sua boa aparência, inclusive em sala de aula, ela abria logo o jogo: "Foi boquete". A situação se repetiu, provocando risos e comentários maledicentes, até que um sobrinho, percebendo o mal-entendido, resolveu explicar: "Tia, o que a senhora fez foi uma aplicação de botox. Boquete é @*%&#$?@**". Felizmente o coração da professora estava nos trinques. Moral da história: palavras desconhecidas são pior que casca de banana. Use-as com moderação.
Cid Augusto