sábado, junho 11, 2005

O PRIMEIRO BRASILEIRO 11


No dia seguinte, Potiassu confabulou com diversos líderes guerreiros; escutou opiniões dos mais velhos e; procurou saber a reação das mulheres. Serenados os ânimos, viu que a tribo ainda reverenciava-o em grande respeito. Era sábia sua decisão de proteger o inimigo. Nem só pelas informações que poderiam dele obter, mas até porque poderia servir de barganha num futuro próximo, a troco de quê não sabiam. Potiassu chamou Jandira a uma conversa, e convenceu-a, a bem da segurança de todos, que aquele homem poderia ser seu marido, e que ela tinha permissão para isso. Que, sem pressa, quando a mágoa não mais fizesse parte de seu espírito, procurasse cortejá-lo, trazendo-o ao convívio dos demais.
Resignada, Jandira prometeu ao chefe que tudo faria pelo bem do seu povo, mas que jamais deixaria de ver aquele homem como inimigo pessoal. Faria o que lhe determinasse o cacique, desde que este tomasse para si o seu filho Japarandiba, Madeira de Fazer Arco, pois a partir daquele momento tinha novas funções: seria guerreira como os homens da tribo, teria que mudar seus hábitos, preparar-se para uma missão de guerra reservada pelo seu Deus Tupã, missão inusitada às mulheres índias, especial, só aceita pelo ódio que possuía seu coração.
A partir daquele dia, Japarandiba passou aos cuidados de Itapietá, Pedra que Descansa, mulher do cacique Potiassu, e todos na tribo prometeram esquecer-se de que aquele não era um filho natural do chefe, inclusive Jandira. Japarandiba, por força de um destino inusitado àqueles filhos de chão potiguar, sob a proteção de Itapietá e iluminação de Tupã, cresceria sem saber-se órfão da primeira vítima de arma de fogo da grande nação Tupi-Guarani, a partir daquele episódio, condenada ao desaparecimento vertiginoso e cruel que lhe seria imposto pelos homens vindos do mar, de terras distantes, para tingir de vermelho o chão onde o pau-brasil crescia na mata, sem despertar o interesse que a ele dava o homem branco, saído da canoa grande.
Jandira, a verdadeira mãe de Japarandiba, agora seria mulher guerreira e atrairia o assassino do pai de sua cria a conviver entre os Comedores de Camarão, índios pacíficos, brincalhões, amantes da dança, de brincadeiras e da terra que nada fazia faltar à felicidade de todo aquele povo temente à natureza. Um povo bom, amante do seu chão, feliz, e sempre pronto à reação quando fustigados pelos Cariris e Tapuias, seus inimigos territoriais. Contra aquele novo invasor, eles já percebiam, seria bem diferente. Eram em menor número, mas dispunham segredos que metiam medo, cuspiam fogo de suas naus gigantescas, e de suas mãos também saía fogo que matava à distância, com estrondo.

Eduardo Alexandre

por Alma do Beco | 6:23 AM


Hugo Macedo©

Beco da Lama, o maior do mundo, tão grande que parece mais uma rua... Tal qual muçulmano que visite Meca uma vez na vida, todo natalense deve ir ao Beco libertário, Beco pai das ruas do mundo todo.

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