segunda-feira, junho 13, 2005

O PRIMEIRO BRASILEIRO 12



Para prevenir baixas entre os seus, Potiassu resolveu tolher as ações do inimigo em terras potiguares. Chamou um grupo de guerreiros e ordenou que a cabana do homem da canoa grande fosse invadida enquanto dormia. Queria ver-se livre de todos os apetrechos de que dispunha. Não estava disposto a ver aquela arma para seu povo desconhecida em uso contra nenhum dos seus.
Noite alta, os guerreiros potiguares acercaram-se da cabana de João Antônio Cícero Sebastião José Silva Fernandes que dormia, e fizeram-no prisioneiro. Ataram mãos e pés, passaram uma vara comprida e grossa entre seus membros e levaram o português ao centro da taba, onde uma grande fogueira iluminava a noite.
Ao ver chegar o homem branco, a vontade de Jandira foi de partir para cima com seu tacape e dar fim à vida do homem que tirou seu marido da companhia dos vivos. Potimirim, o pajé que via maus presságios naquela visita, tomou a palavra e instigou os companheiros a matá-lo naquela mesma hora, gerando tumulto na tribo de Potiassu.
O chefe da tribo antecipou-se às reações adversas e, acenando ao grupo de guerreiros que havia feito a captura do português, depositou próximo ao seu corpo estendido na areia todos os seus pertences.
- Homem da Canoa Grande será nosso prisioneiro por duas luas. Depois desse período, quando será cortejado por Jandira, que cuidará de alimentá-lo, será solto e, se quiser, poderá viver entre nós. Seus pertences serão enterrados em lugar secreto, e, sem eles, será igual a qualquer um de nós e em desvantagem, porque não saberá se defender como sabemos, porque não disporá das armas que dispomos.
O pajé Potimirim voltou a fustigar a tribo pedindo sua execução, mas Potiassu, mais uma vez o interpelou.
- Respeito sua ciência e seu zelo para com nossa segurança, Potimirim. Disse Potiassu para toda a tribo. Mas estamos vivendo momentos especiais e precisamos saber do homem da canoa grande o que aquela gente pretende em nossas terras. Se vierem em paz, serão bem recebidos. Se vierem para trazer morte aos nossos, serão recebidos com a fúria do nosso povo.
Diante da valentia mais uma vez ali demonstrada, Potiassu impôs sua liderança e os ânimos dos descontentes arrefeceram-se.
Potiassu chamou Jandira mais uma vez a uma conversa reservada, quando lhe deu por responsabilidade os cuidados do estrangeiro, recomendando o zelo pela sua vida, já que poderia ser de muita utilidade em caso de guerra contra o povo que se apresentara na enseada. No dia seguinte, seus guerreiros construiriam uma gaiola de estacas fortes e nela manteriam por duas luas prisioneiro o homem da canoa grande.
João Antônio Cícero Sebastião José Silva Fernandes não conseguiu dormir naquela noite. As dores nos punhos e tornozelos o incomodavam, maior, no entanto, era o medo de se saber refém daquele povo desconhecido, comedor de carne humana. Imaginava-se devorado e aquilo causava-lhe pânico. Quando, com a retirada dos índios para suas locas, João Antônio Cícero Sebastião José Silva Fernandes percebeu que não seria morto pelo menos naquela noite, ficou mais aliviado, mas o pânico permanecia.
Dois guerreiros fizeram a guarda do prisioneiro, ali, estendido, nas dunas da terra poti, até que o sol aparecesse no horizonte.
Como se nada especial estivesse acontecendo, todos tomaram suas funções normais até que Jandira apareceu, servindo água fresca ao assassino do pai de Japarandiba.

Eduardo Alexandre

por Alma do Beco | 6:10 AM


Hugo Macedo©

Beco da Lama, o maior do mundo, tão grande que parece mais uma rua... Tal qual muçulmano que visite Meca uma vez na vida, todo natalense deve ir ao Beco libertário, Beco pai das ruas do mundo todo.

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