Para prevenir baixas entre os seus, Potiassu resolveu tolher as ações do inimigo em terras potiguares. Chamou um grupo de guerreiros e ordenou que a cabana do homem da canoa grande fosse invadida enquanto dormia. Queria ver-se livre de todos os apetrechos de que dispunha. Não estava disposto a ver aquela arma para seu povo desconhecida em uso contra nenhum dos seus.
Noite alta, os guerreiros potiguares acercaram-se da cabana de João Antônio Cícero Sebastião José Silva Fernandes que dormia, e fizeram-no prisioneiro. Ataram mãos e pés, passaram uma vara comprida e grossa entre seus membros e levaram o português ao centro da taba, onde uma grande fogueira iluminava a noite.
Ao ver chegar o homem branco, a vontade de Jandira foi de partir para cima com seu tacape e dar fim à vida do homem que tirou seu marido da companhia dos vivos. Potimirim, o pajé que via maus presságios naquela visita, tomou a palavra e instigou os companheiros a matá-lo naquela mesma hora, gerando tumulto na tribo de Potiassu.
O chefe da tribo antecipou-se às reações adversas e, acenando ao grupo de guerreiros que havia feito a captura do português, depositou próximo ao seu corpo estendido na areia todos os seus pertences.
- Homem da Canoa Grande será nosso prisioneiro por duas luas. Depois desse período, quando será cortejado por Jandira, que cuidará de alimentá-lo, será solto e, se quiser, poderá viver entre nós. Seus pertences serão enterrados em lugar secreto, e, sem eles, será igual a qualquer um de nós e em desvantagem, porque não saberá se defender como sabemos, porque não disporá das armas que dispomos.
O pajé Potimirim voltou a fustigar a tribo pedindo sua execução, mas Potiassu, mais uma vez o interpelou.
- Respeito sua ciência e seu zelo para com nossa segurança, Potimirim. Disse Potiassu para toda a tribo. Mas estamos vivendo momentos especiais e precisamos saber do homem da canoa grande o que aquela gente pretende em nossas terras. Se vierem em paz, serão bem recebidos. Se vierem para trazer morte aos nossos, serão recebidos com a fúria do nosso povo.
Diante da valentia mais uma vez ali demonstrada, Potiassu impôs sua liderança e os ânimos dos descontentes arrefeceram-se.
Potiassu chamou Jandira mais uma vez a uma conversa reservada, quando lhe deu por responsabilidade os cuidados do estrangeiro, recomendando o zelo pela sua vida, já que poderia ser de muita utilidade em caso de guerra contra o povo que se apresentara na enseada. No dia seguinte, seus guerreiros construiriam uma gaiola de estacas fortes e nela manteriam por duas luas prisioneiro o homem da canoa grande.
João Antônio Cícero Sebastião José Silva Fernandes não conseguiu dormir naquela noite. As dores nos punhos e tornozelos o incomodavam, maior, no entanto, era o medo de se saber refém daquele povo desconhecido, comedor de carne humana. Imaginava-se devorado e aquilo causava-lhe pânico. Quando, com a retirada dos índios para suas locas, João Antônio Cícero Sebastião José Silva Fernandes percebeu que não seria morto pelo menos naquela noite, ficou mais aliviado, mas o pânico permanecia.
Dois guerreiros fizeram a guarda do prisioneiro, ali, estendido, nas dunas da terra poti, até que o sol aparecesse no horizonte.
Como se nada especial estivesse acontecendo, todos tomaram suas funções normais até que Jandira apareceu, servindo água fresca ao assassino do pai de Japarandiba.
Eduardo Alexandre