domingo, maio 29, 2005

SEMANA PARA LEMBRAR RUBENS


Francisco Welfort, Lula, Rubens, Bruno Maranhão e Dix-Huit Rosado Maia (vice-governador do Estado) no Aeporto Augusto Severo. Rubens, candidato a governador pelo PT, recebe Lula candidato a presidente, em 1982.




Rubens Lemos (1941 - 1999)



Rubens Manoel Lemos nasceu em Santana dos Matos/RN no dia 07 de junho de 1941, filho de José de Lemos e D.Mariquinha Lemos.
Autodidata, fez do jornalismo o seu ofício: trabalhou na Rádio e na Folha de Londrina, 1958. Em 1962, trabalhou na sucursal do jornal Última Hora, no Paraná, ao lado de Samuel Wainer.
Sindicalista, liderou o primeiro movimento grevista do rádio brasileiro no Paraná.Em 1964, assumiu a direção da Rádio Atalaia de Maringá.
Com o golpe de 64, exilou-se no Chile, só retornando ao Brasil no ano de 1973 com a queda do governo de Allende. Com a sua volta foi preso e levado para os porões do DOI-CODI, em Recife. Libertado por falta de provas, passou a escrever no jornal Tribuna do Norte e fazer comentário esportivo na Rádio Cabugi.
Fundador do Partido dos Trabalhadores – PT, disputou o governo do Rio Grande do Norte em 1982. Tempos depois, aceitou o convite para ser Secretário de Comunicação de Cuiabá, assessorando o prefeito Dante de Oliveira.
Em 1978, publicou, pela Editora Clima, o seu primeiro e único livro de poesia - Ciclos da Pedra e do Cão.
Para o crítico Ivan Maciel, “Os poemas de Rubens Lemos são, fundamentalmente, de extrema contenção verbal .As palavras nelas exercem dupla função:sensorial (por sua valorização visual e auditiva) e codificadora (por representarem sempre uma resposta à experiências aparentemente vivenciadas)”.
Faleceu em Natal /RN no dia 04 de junho de 1999, aos 58 anos de idade.


Dois poemas de Rubens Lemos:


ONDE , QUANDO E POR QUÊ?

E de repente, mulher,
Onde aquela face intemporal
tão prometida?

Quando, mulher, parou
O tempo de espaços
conquistados?

Por que, mulher,
Não nos soubemos ser
Abstração de um real sentido?



RETA FINAL


Um gosto sem sabor,
Um mal amargo,
Um justo medo.

Um amor no quase escuro,
Um bem antigo,
Um ódio cedo.

Uma vida
Ávida
De parar
E sem segredo.

E um poema em sua homenagem:



Sua História foi mais que um poema

I

Trago agora das tumbas do passado
A imagem de um homem que foi homem
E que as letras no nome não se somem
Nos escritos do conto mal contado
Do tinteiro burguês, príncipe e fardado
Que transforma bandidos em heróis
Quero dar voz a quem foi voz
De quem não tinha voz, nem vez, nem vida;
De quem viu a liberdade a todos nós!

II

Ele deu sua vida em prol da vida
Dos milhões de sem–vida da nação;
Dos sem- terra, sem–teto, pátria e pão,
Dessa classe explorada e oprimida.
Que os sem classe da classe embrutecida
Nas finezas do lucro e do domínio,
Giroflex, ganância e extermínio
No temor do terror da igualdade
Assombrados com a luz da liberdade
Lhes queriam até sem raciocínio!

III

Rubens Lemos nasceu em Pixoré,
Em Santana dos Matos, nosso estado.
Onde o pai, enfermeiro dedicado
Receitava a ciência junto à fé,
Pra curar, prevenir e para até
Ensinar a saúde espiritual
Junto ao povo, era líder natural
No DNOCS lutando em prol da vida
Ensinando pra massa tão sofrida
Convivência com a seca tropical.

IV

Em quarenta e um, século passado,
Veio ao mundo, pra ser um lutador
Viu criança o sertão, onde o labor
Foi sinônimo de fome e pé-rachado
Onde o fio da vida era farpado,
Sede à solta e o sonho atrás da grade,
A cancela e o mourão sobre a verdade
Demarcando o poder e o acinte
Dos domínios feudais do século vinte
Sufocando o sonhar e a liberdade!

V

Dali foi pra o País de Mossoró
Respirar sentimento libertário
Resgatando Torquato, o proletário
Que arrastou o garrancho sobre o pó;
Se sentiu sem sentir-se solto e só,
Com Canário e Guilherme achou respaldo
Se somando a Joel, Góis e Vivaldo
Vendo o sangue no cérebro e nas retinas
O vermelho do sol dos Reginaldo!

VI

Em seguida partiu pra Garanhuns
Onde viu o leão pernambucano
Levantar sua pata contra o engano
Desde o mar ao limite e aos Inhamuns,
Onde Castro com gente e goiamuns
Demonstrava para o mundo a aspereza
De uma terra de fome e farta mesa
Do contraste do açúcar e a amargura
Onde o mix dureza com ternura
Forjou o aço da liga camponesa!

VII

Foi então que seguiu pra Paraná;
O seu peito já era comunista.
Em Londrina tornou-se jornalista
Viu também injustiça e dor por lá...
Meia quatro, chegou a rodo e pá,
Com o silêncio da noite longa e escura
A história a sofrer vômito e tontura
A nação sob trevas, tanques, “demos”...
E a prisão do irmão Wilson Lemos
Começando o azar da dita dura!

VIII

Em Natal encontrou normalidade
O emprego, o esporte a família
Sem sentir os rugidos de Brasília,
Cabugi e Tribuna... e ninguém há-de
Conspurcar sua clandestinidade
Partidão, Poti/rádio e O Diário,
O BR e o racha proletário
Mário Alves, Marcelo Mário Melo,
Aparelho estourado, ação, duelo
E o destino revolucionário!

IX

Cai Marcelo em Pium, casa em seu nome;
Inquilino na grade e quem aluga
Com milicos no encalço, sai em fuga;
Odilon, bigodão, força e renome
Ao livrá-lo da “cana”, em cana o some...
Do coiteiro Coutinho quando arriba
Pendurado, pintado pindaíba
Rasga as sombras do ventre do elefante
Vai sumir do coturno escoiceante
No calor do sertão da Paraíba!


X

A prisão, a tortura e o degredo
O exílio nas terras de Allende
Solidão, sofrimento... não se rende
Ao poder cruel general medo.
Retornou ao País, sob segredo
Em missão de resgate a um companheiro
De São Paulo partiu para o terreiro
Pra o abraço à amada e ao novo fruto,
Novamente o canhão do poder bruto
Lhe cortou o vôo livre em seu roteiro.

XI

Presos ele e Isolda, isolados;
A família e amigos sem saber
Era cabra marcado para morrer
No açougue infecto dos fardados
Foi preso pedir a um dos soldados
Que avisasse à família e aos amigos.
Veio a luz com benção dos antigos
Seu padrinho Ramalho a quem dou louvo
Que fez Rubens nascer e nascer de novo
Ao cobrar ele vivo aos inimigos!

XII

Novamente a tortura, a sombra, a dor.
Utopia quebrada, mundo em escombros
Todo o peso do mundo sob os ombros
Depois luz a soprar sobre o horror
Anistia, PT, greve, calor
A campanha ao Governo do Estado
O trabalho com marketing, o esporte amado,
A direta que Lula lá não pôs
O filósofo do mal que não se impôs
Por denúncia do grito ex- torturado!

XIII

Tempos loucos de angútias, não risonhos.
Fleuma e trauma angústia, amor, revolta,
Mesmo livre, a cadeia à sua volta
Lhe impondo limites tão bisonhos;
Morreu lúcido de amor, ébrio de sonhos,
Foi morar nas mansões da liberdade,
Onde tudo é comum, fraternidade,
Igualdade, ingoverno e não poder,
Não-lugar, onde enfim se pode ter
O direito à total felicidade!.

XIV

Nos anais da história da verdade
Sua dor há de ser recompensada
Com a vida por ele projetada
Para a massa sorrir felicidade
No raiar de uma nova sociedade
De igualdade, justiça, luz e calma...
O futuro vai rir-lhe e bater palma
Porque Lemos foi leme,Lênin e lema
Sua história foi mais que um poema...
Foi um texto de sangue, amor e alma!!!



Crispiniano Neto

por Alma do Beco | 11:31 AM


Hugo Macedo©

Beco da Lama, o maior do mundo, tão grande que parece mais uma rua... Tal qual muçulmano que visite Meca uma vez na vida, todo natalense deve ir ao Beco libertário, Beco pai das ruas do mundo todo.

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