domingo, maio 01, 2005

PELA CONCISÃO, CONTRA A CONCISÃO




Então, daqui pra frente — quem foi mesmo o guardador dos caminhos e em qual data? —, a poesia será concisa. E ai daquele que ousar a contramão. Ansioso, prolixo e verborrágico ficarão de boa monta aos recalcitrantes. E haja o poeta iniciante ir atrás dos próximos ditames dos “iniciados”, os guardadores dos caminhos. E tolhe aqui, tolhe acolá. A tesoura passa a ser mais importante do que a palavra. Acredita piamente que o seu poema alcança a poesia pretendida pelo guardador, qual seja, A Poesia. Quebra o verso na metade com a rapidez de um “enter” (o poema ficara diminuto demais...), como se isso, por si, agregasse valor ao já concebido. Como se a disposição espacial do verso no poema estivesse divorciada da leitura e do ritmo que ele, autor, gostaria de dar. Mas isso é outra história. Voltemos à concisão. O prejuízo ao entendimento da mensagem é totalmente desprezível, face à canalhice inventada de que tudo o que se pretende poema, há que ser conciso. Ora, o que é concisão? Por ventura algo relacionado à extensão do poema? Lógico que não, dirão os prestimosos teóricos. Tem a ver com a idéia, o insight, o flash, a fagulha poética captada pela lente do poeta, dirão. Ponto pacífico até aí. Mas é aí, justamente, onde quero chegar. Porque esse cânone esdrúxulo que se quer impor na poesia, esse fascismo indefensável, tem sido responsável pelo que vemos por aí, uma proliferação de poemas “angustiados”, com duas vertentes: a primeira, pela confusão entre concisão e extensão, o que leva a poemas microscópicos; a segunda, e a mais grave, pela abordagem apenas de uma idéia, a idéia central, com a pressa, a angústia para dizer de uma vez aquilo que foi captado, aquilo em que reside poesia. Aí é o poeta que se tolhe, não o poema, pois abre mão da possibilidade de surgir outros momentos no poema, igualmente válidos, igualmente poéticos. Por quê? Porque o sentimento de extensão está interligado, no entendimento dele, à abordagem única da idéia captada. Pode-se fazer poesia escrevendo poemas diminutos em extensão e abordando um único tema? Óbvio que sim. O que não se pode dizer é que toda poesia tem que ser assim.

Outras canalhices foram inventadas, como a não-adjetivação do poema e a necessidade imperiosa da substantivação do poema, como se o escritor estivesse fadado a abrir mão de suas ferramentas de trabalho — as classes das palavras —, ou como se um pintor estivesse proibido de usar certo tipo de pincel, ou um entalhador só pudesse usar o buril e nunca a goiva, ou um músico de não visitar certos ritmos. Mas isso, também, é outra história. Escrevamos aquilo que tivermos de escrever, sem nos preocuparmos com extensão ou quantidades de idéias abordadas. Que isso seja conseqüência e não causa do poema. E tenhamos a convicção de que não há guardadores dos caminhos da poesia. Cada poeta constrói o seu.

Antoniel Campos

por Alma do Beco | 8:30 AM


Hugo Macedo©

Beco da Lama, o maior do mundo, tão grande que parece mais uma rua... Tal qual muçulmano que visite Meca uma vez na vida, todo natalense deve ir ao Beco libertário, Beco pai das ruas do mundo todo.

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