sexta-feira, março 25, 2005

APOCALIPSE



Ouviram-se as trovoadas.
Antes, o clarão tomara o céu noturno.
Luminosidade sombria !
Estrondos terrificantes !
As lavas desceram ao vale;
O calor tornou-se insuportável.
Os animais debandaram;
A terra começou a tremer;
A criança a chorar.

Os velhos tomaram seus terços;
As mães ajoelharam-se;
Impotentes sentiram-se os homens...

Triste história a do homem.
Feliz existência a do ser.
Lamentável verdade a da morte

A morte do homem
A ida sem volta
O chegar definitivo e último.

Desceu do céu a pomba
Pousando no galho ressequido da árvore.
Olhou a solidão em volta
E voou. Voou.
Ouviu o silêncio em todos os cantos
E, em cada canto, o gosto da morte.
Voou. Voou. Não captou outro sinal de vida
Senão os emanados do seu corpo santo.

E voou, compreendendo que era só
Na sua santa paz..
E voou mais ainda sentindo maior a sua solidão
Sua santa solidão
Sua paz.

- Sujeitei-os à prova...
Nenhum resistiu à voz do inferno;
Nenhum soube morrer como o filho;
Nenhum fez do filho semelhança;
Nenhum o entendeu.

Cumpriu-se o que eles mesmos anteviram:
Buscaram a morte.
Morreram...

Voou. Voou.
E cansou de estar só no seu universo
Na sua solidão.
Olhou os homens e chorou,
Chorou.
Sorriu como criança e voltou,
Pousando na mais alta pedra,
Onde ficou.

E pensou por sete dias, findos os quais, falou:

- Por que não fazer disso vales e rios,
Serras, montanhas cobertas de árvores e lagos,
Pássaros por todos os lados, animais ?

- Corra o rio !
Nasçam a planta
e os animais !

E pode voar tranqüila por mais sete dias
Em companhia da vida não assemelhada.

- Mas que triste egoísmo o meu
Que não faço a mim o meu maior prazer ?
Por que não deixar vir o meu semelhante ?

E voou. Voou.
Sentiu-se angustiada e voou.
Viu a beleza em volta
E o perfume
E toda pureza da vida.

- E eu lhes dei tudo isso e eles não viram.
Dei a beleza, destruíram...
Dei uma vida, destruíram...
Não souberam viver como o filho,
Morreram sem ter nascido...



Eduardo Alexandre

por Alma do Beco | 1:58 PM


Hugo Macedo©

Beco da Lama, o maior do mundo, tão grande que parece mais uma rua... Tal qual muçulmano que visite Meca uma vez na vida, todo natalense deve ir ao Beco libertário, Beco pai das ruas do mundo todo.

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