quinta-feira, março 24, 2005

A CARTA




Agora que é de tarde e já é tarde para arrependimentos, pergunto-me em silêncio: quanto de mim se foi naquela tarde? Ônibus lotado, seis e meia, quase noite. Sem lua.

Onde estaria se tivesse cedido, largado casa e filhos e a mãe já velha, doente?

A mãe disse pra eu ir, é verdade. Que amor não se encontra de novo se deixa-se partir. Que amor corre sempre pra frente, como rio. E perde-se na vida.

Mas, fiquei.

E agora, esta carta. Tanto tempo depois.

Caminho até a praça de onde partem os ônibus. (Pra mim, eles sempre partiram.) E dali ao cais, beira de mar bravio.

Novamente é tarde, seis e meia, quase noite. Sem lua. Azul denso. Maresia.

E ao surgir a primeira estrela, pequenina e minha, como tu dizias, deixo que a carta caia entre as ondas nas águas da noite-mar.

Sem abri-la.


Márcia Maia

por Alma do Beco | 8:18 AM


Hugo Macedo©

Beco da Lama, o maior do mundo, tão grande que parece mais uma rua... Tal qual muçulmano que visite Meca uma vez na vida, todo natalense deve ir ao Beco libertário, Beco pai das ruas do mundo todo.

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A imagem de fundo é do artista plástico e poeta Eduardo Alexandre©

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