Ah, os homens !
Que doença os acomete
Ao sair da infância ?
A posse, o sexo, a sobrevivência ?
Oh, filhos
Por que me fazeis chorar ?
Por que fizésseis cumprir a sentença,
Deixando-me tão só ?
Durante sete dias chorou Deus convulsivamente.
As lágrimas não lhe deixaram de correr
Um só instante.
Ao amanhecer do oitavo dia,
Se fez pomba e voltou a voar.
E durante mais sete dias voou.
Voou. Na sua solidão.
Voou. Voou. Viu os animais e as aves,
Todas as montanhas, todos os vales.
Lembrou a história do homem e chorou,
Chorou...
Quis Deus destruir a si
E ao seu universo,
Mas se conteve.
Pensou na obra de Kierkegaard
E reviu Jung.
Se viu no homem
E, no homem, o eu.
Reviu Freud
E toda História.
Parabenizou Darwin
E brindou ao cinema.
Fez rodar os “sussurros”
E depois Ammaccord.
Bateu palmas a Lukács
E depois à poesia.
Leu um Érico, um Tchecov,
Serviu-se de Lévi-Strauss.
Elogiou Picasso,
Enfim, todo pintor.
Se fez pureza de infância,
Sorriu,
Quase chorou...
- Que o tudo se faça com o homem,
Que o homem se faça senhor !
Disse Deus e recolheu-se.
Descansou por sete dias
E voltou pra ver o homem.
Sentou ao seu lado
E contou de sua solidão.
Disse Deus de suas descobertas
E dos seus conhecimentos.
Disse sois meu semelhante,
E controlo o Universo.
Destruísseis ao vosso universo,
Como quase destruo o meu.
Me recolho mas vós ficais,
Sozinhos com o que é vosso.
Sereis por todo o universo,
Mas não me encontrará
Para se fazer em companhia,
Aquele que não morrer.
Aquele que não fizer como o Filho,
Aquele que em vida não morrer !
Eduardo Alexandre