A perpetuação de grupos familiares na política é danosa, principalmente por reforçar na população a idéia de que a política é uma atividade reservada a poucos e que os demais estão privados de se ocuparem de tudo o que diz respeito à coisa pública, ao bem comum.
Anos atrás, indagado sobre a política na primeira Republica, Dinarte Mariz afirmou: “no Rio Grande do Norte, durante a Primeira República, mudavam apenas os prenomes os sobrenomes continuavam os mesmos”. Naquele período, a trajetória política de maior êxito foi a de Café Filho.
Contudo, sua origem fora das famílias tradicionais e o fato de ter surgido na cena pública ancorado na ligação com os trabalhadores, lhe causaram muitos percalços. Embora por injuções políticas peculiares tenha sido eleito vice presidente e exercido a presidência do país, Café‚ Filho jamais gozou da confiança das elites políticas locais, o que dá bem a medida das dificuldades que teve de enfrentar na sua carreira política de final melancólico.
Passados mais de 70 anos, constata-se a permanência do esquema político familiar em nosso estado. Em cada eleição acrescentam-se às listas de candidatos novos nomes, de sobrenomes iguais. Veja o executivo estadual e municipal, veja a bancada federal, estadual e municipal, e liste os sobrenomes. Consulte as projeções para a disputa eleitoral de 2002, e liste os sobrenomes.
Como explicar tais sobrevivências do passado em plena era virtual? Esse quadro monótono é fruto da cultura política que caracteriza a sociedade brasileira e que tem na exclusão social e na dominação política os principais elementos constitutivos. As peculiaridades dessa cultura política concorrem para que a construção da cidadania e da democracia em nosso país, seja marcada por descontinuidades e rupturas.
A política não pode ser propriedade de famílias e dos seus interesses privados. A patrimonialização torna a política uma espécie de “reserva de mercado”, com graves conseqüências para a sociedade. Muitas das mazelas que corroem à sociedade brasileira, como a corrupção, têm origem na promiscuidade que caracteriza a intercessão dos espaços público e privado, a partir do que se confunde o que é meu por direito de propriedade, do que é da esfera do bem comum, porque é de todos, da coletividade.
É na disputa entre propostas políticas que se elabora o pacto social que rege a vida em sociedade. Todos os grupos têm direito de apresentar suas propostas e de debatê-las, com vistas à definição da sociedade que se deseja. Uma sociedade democrática não pode conviver com privatização do espaço público, pela predominância de grupos políticos familiares. A medida de democracia acaba por ser a pluralidade de grupos de representação que participam da cena pública.
O continuísmo de grupos familiares, de seus feudos políticos e de suas práticas clientelísticas e fisiológicas é uma forma de fazer política que tende a se extinguir. A história vem emitindo sinais do esgotamento dessa forma excludente de se fazer política em nosso país. No curto espaço de 20 anos, a política brasileira vem se modificando pela introdução de novos atores que questionam velhas praticas e poderes.
Para o bem ou para o mal, a política é a atividade mais importante que homens e mulheres podem exercer no mundo e deve estar aberta à participação de todos. A medida da democracia é essa pluralidade. E fora da política não há salvação.