Tribuna do Norte 16/12/2001
Carlos de Souza
Estou com os originais do livro Areia Branca - A Terra e a Gente, de Deífilo Gurgel. É o trabalho mais extenso e mais completo sobre Areia Branca que já tive a oportunidade de ler. O livro já foi aprovado pela Lei Câmara Cascudo de Incentivo à Cultura, mas o autor ainda não tem um patrocinador.
Vou dar uma de ignorante aqui e explicar mais uma vez o que é essa lei. O artista escreve um livro, no caso de Deífilo Gurgel, apresenta a um conselho que decide se o trabalho merece ou não o auxílio da lei. Depois, o artista sai com o pires na mão, à procura de um patrocinador. Esse cidadão, que geralmente é um empresário de grande poder e riqueza, pode utilizar a lei para abater o montante do patrocínio no imposto de sua empresa.
Mas não tem sido muito fácil encontrar o empresário que compreenda direito o alcance dessa lei. Geralmente, o sujeito acha que está prestando um grande favor ao artista, ou até lhe dando uma esmola. Não entende que sua empresa sai ganhando com o incentivo direto da lei, com a imagem vinculada a um trabalho cultural de qualidade e com o serviço que estará prestando à cultura do lugar onde sua empresa está operando.
Este livro de Deífilo Gurgel tem urgência de ser publicado. É de grande importância para a cultura do Estado, de um modo geral, e para o município de Areia Branca, em particular. As grandes empresas ligadas à extração de sal e petróleo que operam em Areia Branca poderiam muito bem participar deste grande empreendimento cultural (incluindo-se aí a própria Petrobras). Não estariam fazendo favor a ninguém a não ser a si mesmas.
Agora vamos ao livro. Deífilo Gurgel fez um apanhado de tudo que diz respeito à geografia, história, economia, transportes, política, educação, cultura, religião e até a genealogia de algumas famílias importantes do município em estudo. Ficou um livro denso, cheio de informações, definitivo para a época atual, mas também abrindo veredas para futuros estudos. Quem for ler esse livro, não se espante de não encontrar um daqueles sisudos compêndios históricos sobre uma cidade. Nada disso.
O autor recheou o livro com uma série de artigos, poemas, depoimentos, anedotas, lembranças, "causos" e tudo que torna deliciosamente fascinante a cultura daquele povo da região salineira. É um manancial formidável de informação. O escritor passou nada menos que 13 anos pesquisando, ouvindo pessoas, selecionando material, anotando tudo que considerava interessante em suas múltiplas viagens à Areia Branca e até mesmo aqui em Natal junto à comunidade areiabranquense.
O resultado é esse trabalho que li com emoção, às vezes com alegria, outras com tristeza, ao comparar o passado com a realidade atual. Espero que um dia esse livro de Deífilo Gurgel figure nas estantes das bibliotecas escolares e sejam ensinadas aos jovens as coisas de sua gente que estão ficando esquecidas. E que Areia Branca não seja para sempre apenas um melancólico porto, a meio caminho de Fortaleza, no fundo do quintal de Mossoró.